Dia 16 • Chuva

AVÓ GRETTA FALECEU DURANTE A MADRUGADA. A agitação no andar do hospital era constante. Os enfermeiros saíam de um lado para outro e eu continuava tremelicando no mesmo banco do hospital desde que chegara no edifício.

Avó Gretta morreu por excesso de carboidratos no seu corpo segundo o relatório médico e tentaram ao máximo a salvar, mas não conseguiram.

Avó Gretta não inseria mais insulina dentro dela. Não se cuidava mais. Ela não podia com carboidratos. Ela tomou mel, e na sua prescrição médica ela não podia. Tinha que reduzir o número possível de carboidratos em acumulação e ela comeu abacate, comeu pão integral e... E eu não fiz nada para a impedir, mas eu não sabia que ela não podia!

Quando ela disse sobre o tempo ser curto, acho que ela sabia que um dia outro iria morrer. Mas eu não sabia que seria na madrugada.

— A culpa é tua! — Gritou a sra. Walker, quando saiu furiosa do quarto onde a avó Gretta se encontrava.

Ela estava com os fios de cabelo totalmente desorganizados. Os lábios ressecados e olheiras profundas. No seu roupão tinha manchas de café e as suas pantufas eram tão cafonas para se estar fora de casa com elas.

Eu engoli em seco e não consegui olha-la nos olhos. As lágrimas caiam dos meus olhos sem minha permissão.

— Você poderia ter travado ela! Você viu a minha mãe acabar com a vida dela! — Gritou novamente e o meu choro intensificou-se.

— Não é culpa dela! — Dylan rebateu e eu olhei pra cima. — Não é culpa da Stephanie. Se a avó comeu o que não podia e fez o que fora proibido, você não acha que ela estava ciente disso? Não acha mesmo que ela quis descansar? — Dylan soltou uma risada forçada. — Mas como você poderia notar? Fica todo mundo trancada no quarto, mais focada no seu trabalho do que com a sua família. Se fosse para eleger um culpado, esse sim, seria você — Dylan disse e me pegou pelo braço direito. — Vamos esparecer na cantina do hospital, talvez consigamos relaxar.

Eu levantei-me e olhei para a sra. Walker que estava estática, nos olhando com os olhos marejados e rosto avermelhado. Eu me senti mal por ela.

Caminhamos lentamente até a cantina do hospital, em silêncio e eu concentrada nos fiapos soltos da camisola roxa que eu estava vestindo.

Avó Gretta queria que eu soubesse do seu segredo antes da morte dela. Ela determinou sozinha a sua morte. Mas porquê? Será que ela estava feliz? Será que contando o seu segredo ela sentiu-se melhor?

Sentamo-nos numa mesa em frente a parede de vidro que tinha e eu olhei para o lado de fora do hospital, onde a chuva caía impiedosa.

— Você está se sentindo bem, Steph? — Dylan me perguntou, tirando-me dos meus devaneios.

Eu o olhei confusa e assenti com a cabeça.

— Só... — suspirei. — Se eu a tivesse parado talvez...

— Não. A culpa não foi tua, a avó Gretta é a pessoa mais sábia que eu conheci, portanto, ela sabia que estava proibida de comer isso, e segundo o médico, ela já vinha comendo a época. ela fez isso com a sua consciência limpa — Dylan segurou a minha mão direita e a acarinhou.

Eu forcei um sorriso para ele me retrai novamente na cadeira. 

— Mas qual foi o motivo dela parar com o tratamento dessa forma? — Dylan indagou e eu engoli em seco. Ele olhou-me nos olhos. — Quando vocês ficaram a conversar, ela contou-te alguma coisa que justifique?

Senti as minhas pernas tremerem e o meu peito doeu com a ansiedade crescente dentro de mim. Será que eu podia contar-lhe?

— Stephanie, você sabe de alguma coisa? — Dylan insistiu e eu fechei os meus olhos, soltando longos suspiros num exércicio de relaxamento. — Se você tem conhecimento de alguma coisa, por favor, me conte.

— A avó Gretta... — parei ao sentir o meu peito fechar e a respiração pesar. Vamos lá, Molly! — Ela...

— Morreu! — Gregory gritou, o que me assustou e o olhei incrédula.

Ele estava próximo a nós, com uma camisa de mangas compridas preta e calças xadrez preta-cinza, juntamente com pantufas da mesma cor que a camisa nos pés. Tinha os fios de cabelo molhados e era engraçado vê-lo de cabelo liso.

— O que você está fazendo aqui, Gregory? — Dylan quis saber e ele afastou uma cadeira da mesa e sentou-se conosco.

— Quantas vezes eu vou ter que dizer que a avó Gretta era uma avó pra mim? — Gregory reclamou, se acomodando no assento. — E eu não podia dormir sabendo que os meus melhores amigos perderam a avó nessa madrugada.

— Obrigado, meu — Dylan disse a ele. — Mas não precisava. São duas da manhã, você devia estar dormindo, mais tarde tem as aulas e...

— Você acha mesmo que eu vou a escola hoje? Dylan, você é meu irmão e eu vou estar contigo hoje, eu juro — Gregory falou, segurando as mãos do amigo. — E você, Stephanie — Greg olhou para mim e sorriu com os lábios. — Eu também estarei aqui para você hoje.

Eu assenti e continuei no mesmo estado. Tirei o celular do bolso e digitei várias mensagens para Emily, dentre delas, duas a pedir ajuda, cinco  me culpando sobre a morte e três com emojis de choro.

Sim, eu me senti culpada. Eu devia ter percebido os sinais de despedida que ela me deu durante à noite toda, mas como uma egoísta, só foquei em mim e nos meus problemas e nem senti que ela estava se despedindo de mim ontem, de várias formas ela deixou explícito que estava indo embora, que era seu último dia.

Entrei numa playlist totalmente aleatória (coisa que eu nunca fazia, pois tudo para mim deveria ser organizado e eu não era a porra de uma protagonista de Fanfic) com a foto da Billie Eilish na capa e eu sabia que estaria acolhida.

Ao som de What Was I Made For, senti os meus olhos pesarem, tanto de lágrimas, quanto de sono e dor, que não me aguentei, e senti que ia dormir a qualquer momento. Deitei-me sobre a mesa e olhei a chuva cair, o céu escuro e nublado, poucos carros passando e os brinquedos do hospital se mexendo por causa do vento.

Me lembrei das crianças do hospital, da amiga do Liam, a Jullie e a sua luta contra doença, quanto outras que ainda lutavam para sobreviver. A morte era tenebrosa. Inesperada e as vezes, calha no momento errado. Nunca calha num bom momento.

— Stephanie? — Dylan chamou-me quando tirou um airPods do meu ouvido. — Estou ir ter com a mãe para saber como será o enterro está tarde. Fique com o Gregory, eu já venho.

Concordei com a cabeça e Dylan levantou-se e despediu-se do amigo.

Quando estava prestes a fechar os meus olhos novamente, senti o meu corpo ser erguido e a minha cabeça enconstar-se num peito forte que subia e descia num belo intervalo de tempo e que tinha um perfume muito bom.

— Você está bem, Steph? — Greg perguntou, passando os dedos nos meus fios de cabelo e eu permiti desabar no seu peito várias lágrimas. — Isso, tira tudo para aqui fora.

— Ninguém me avisou que a morte de alguém poderia ser tão dolorosa, Greg — reclamei em meio a soluços. — A vida é curta, Greg. Nós sempre fazemos ene planos, para uma vida tão pequena — tentei me conter. — Mas sabe? Nunca conseguimos chegar nem na metade. E quando o tempo acaba nos achamos os piores covardes do mundo todo! Porque não consiguimos realizar as nossas metas! E nunca seremos lembrados por aquilo que desejávamos tanto em vida — fechei os meus olhos com força e senti os seus braços me envolverem com força. — Devo estar te chateando com as bobagens dentro de mim!

— Está tudo bem, Steph, estou aqui para te ouvir — Greg disse. — Se quiseres, podes continuar a falar, se não, podes descansar apenas.

Sem mais nada a dizer, fechei os meus olhos e aos poucos fui caindo no sono.

Quando acordei, ouvi um ronco alto e ao erguer o meu olhar, observei Gregory dormindo. Ele estava tão bonito, os lábios entreabertos e os fios de cabelo já secos, caindo sobre o seu rosto. Sorri e me aconcheguei no seu peito, onde eu me sentia segura.

— Stephanie, Gregory — ouvi Dylan nos chamar e eu abri os meus olhos, vendo um Dylan com roupas totalmente formais, uma camisa social preta e calças da mesma cor. — Acordem, por favor, temos que ir ao funeral.

— Ao funeral? — Eu indaguei me espreguiçando. — Mas já? Que horas são?

— São nove horas e o funeral é as onze. Você tem que tomar banho, o Greg também, enfim — Dylan disse. — Então, por favor, acordem.

Senti Gregory se espreguiçar e disse um bom dia nada audível para nós os dois.

— Podes deixar a Stephanie em casa? — Dylan perguntou ao amigo, que afirmou com a cabeça e pescou as chaves do carro na mesa. — Nos encontraremos na igreja pelas dez e meia.

Eu e Gregory nos levantamos e saímos do hospital, deixando o Dylan para trás.

Quando entramos no carro de Andrea, e Gregory ligou o aquecedor, as lembranças da noite anterior voltaram a minha mente e eu só conseguia encarar a cidade que seguia sendo encharcada pela chuva e pensar em Avó Gretta.

Ela morreu feliz. Disso eu tinha mais que certeza. Mas era tão doloroso saber que mais alguém se foi.

Quando ele parou em frente a casa dos Walker, agradeci pela boleia e ele apenas sorriu para mim e disse que me buscaria para irmos juntos para a igreja.

— Não precisas. Vou com a Emy — eu disse a ele, mesmo sem ter falado com a minha melhor amiga sobre isso.

— Está bem. Então até mais logo.

— Até mais logo — falei e ele abanou a cabeça em um sim e subiu os vidros.

Esperei ele ir embora para puder subir os míseros degraus e quando parei em frente a porta, abri a minha mochila e fiquei procurando as chaves quando ouvi passos atrás de mim.

Ao virar-me para trás, me deparei com o sr. Rupert mancando até mim, os olhos marejados e o rosto pálido.

— Molly! Molly! — Gritou ele o meu nome verdadeiro e eu o olhei confusa. — Por favor, pare! Quero falar contigo! — Pediu ele com certa dificuldade na voz e eu parei.

Ele subiu os degraus soltando gemidos de dor e quando chegou na varanda, suspirou e segurou no meu ombro esquerdo para puder se apoiar.

— Molly — o sr. Rupert repetiu o meu nome. — Se a Gretta faleceu, acho que ela contou-te toda a verdade — sr. Rupert me disse. — E eu espero que você não seja covarde como nós e guarde isso consigo. Você é a menina mais genuína de todas, eu sinto, por favor, eu peço que seja você a contar o segredo da Gretta para a Lindsay. 

— Como assim segredo, Molly, o que tenho haver com isso? — Me fingi de despercebida.

— Você sabe o meu segredo, acha mesmo que eu não saberia o teu? — Instigou o Sr. Rupert e eu suspirei fundo.

— Está bem. Presumo que a avó Gretta o tenha contado. Mas por que eu devo contar? Por que não o senhor? — Perguntei e ele abriu um sorriso fraco.

— Ela não iria acreditar em mim mesmo que eu tivesse um vídeo na última resolução dos dias de hoje. Não ia enxergar nenhuma veracidade nas minhas palavras. Mas nas tuas, ela verá. Pois você teve uma conversa com a Gretta antes mesmo dela partir, e isso seria o álibi perfeito para comprovar o segredo — explicou e eu assenti levemente com a cabeça.

— Isso é muita informação para uma pessoa só, mas, está bem. Eu darei um jeito de contar tudo para ela, eu... eu prometo — falei-lhe e ele abraçou-me todo animado.

Dei duas batidinhas nas suas costas e o afastei de mim.

— Tenho que me arrumar para o funeral. Acho que o senhor devia fazer o mesmo — apontei e ele concordou. — Até mais logo, sr. Rupert.

Abri a porta e entrei, tranquei-a e olhei para a casa que estava escura, silenciosa. Sem vida.

Subi as escadas e procurei o que tinha de melhor pra vestir para ir ao funeral, mesmo que roupa bonita alguma a traria de volta a vida.

Após vestir um vestido branco florido e sandálias rasteiras, eu vesti um sobretudo preto que chegava até os meus joelhos e prendi os fios de cabelo num rabo de cavalo pomposo.

Ao ligar o visor do celular para ver as horas, eu encontrei uma mensagem do Parker.

Parker: Meus sentimentos :-\

Revirei os olhos e senti lágrimas nos cantos dos olhos. Parker sabia quem eu era e sabia que fui eu quem pinchou o seu carro, então qual era a razão dessa mensagem?

Ignorei-a e liguei para a Emily, que não tardou a me atender.

— Molly, oi?

— Emily — minha voz falhou. — Ela morreu, Emily — senti o meu coração apertar e sentei-me no sofá. — Ela se foi!

O meu rosto foi tomado por uma tempestade de lágrimas e o meu coração estava muito acelerado.

— Molly, por favor, acalme-se, eu estou chegando aí daqui a dois minutos — Emily disse e ouvi buzinar.

— Está bem, Emy — tentei me recompor, mas eu não conseguia. — Só venha mais rápido, por favor.

Encerrei a ligação e ao olhar para a janela, vi a mesinha, com as taças de abacate e as torradas intocadas no mesmo lugar. Levantei-me do sofá e derrubei a mesa.

O abacate derramou-se no chão, juntamente com o bule de chá que partiu-se e todo líquido espalhou-se pelo parqué do chão.

Encolhi-me no chão e me permiti tirar tudo que ainda restava de dentro de mim. A culpa, a tristeza, a fúria, a ansiedade crescente, o remorso, tudo de mal que pairava sobre as minhas emoções.

— Molly! Molly! — Emily gritou, e eu olhei pra cima, a observando parada na porta.

Minha amiga correu até mim e me abraçou com força. Eu me apertei no seu abraço e me senti em casa.

— Está tudo bem, Molly. Eu estou aqui. Podes te acalmar, por favor? — Emily pediu, mas eu seguia tremendo e sentindo o meu peito apertar-se ainda mais.

Minha amiga me ajudou a levantar-me do chão e me fez sentar de volta no sofá. Foi a cozinha e voltou de lá com um copo de água com açúcar e me fez beber tudo.

— Você tem certeza de que quer ir lá? — Emily indagou e eu afirmei abanando a cabeça. — Você não me parece bem, Molly.

— Já tive dias melhores, Emily — falei e a encarei. — Mas hoje eu preciso ir. Por mim e pela avó Gretta.

— Mas qual foi o motivo dela parar com o tratamento? — Emily quis saber.

—Eu não sei. Talvez ela tivesse suas razões. Mas eu sei algo dela que não é nada certo — eu disse a minha amiga.

— O que ela podia ter feito de tão errado?

— Ela mentiu sobre a paternidade da mãe da Stephanie — contei a Emily. — O sr. Rupert é o pai da mãe da Stephanie e... E ela simplesmente escondeu isso de todos.

Senti como se tivesse tirado um fardo enorme de mim e Emy estava perplexa, com a boca entreaberta.

— Eu não acredito nisso. Ela não parece esse tipo de pessoa — Emily contestou e eu ri fraca.

— Ninguém nessa vida é perfeito, Emily. E eu descobri da pior forma possível.

— E você não tem reagido nada bem a isso tudo — minha amiga observou e eu me forcei a abrir um sorriso.

— Avó Gretta de uma forma indireta me fez perceber que não tenho culpa em muitas coisas que eu me culpava, que ninguém tinha culpa em nada, e me ajudou muito a pensar de uma forma melhor. E mesmo que eu tenha convivido com ela apenas em quinze dias e termos conversado em menos tempo do que  cinco dias, ela me fez perceber coisas que ninguém poderia me explicar — eu disse a Emily. — Ela me fez perceber que ninguém é perfeito e nem precisa ser, é só viver e saber estar de bem com as pessoas e já está.

— Uau, isso foi... Profundo, Molly.

— É. Agora podemos ir, por favor?

Minha amiga assentiu e levantou-se do sofá. Eu também levantei-me e juntas saímos da casa dos Walker e entramos no seu carro.

Liguei o rádio com urgência e deixei que a voz da Lana Del Rey abafasse todo o automóvel, enquanto que a minha amiga dirigia o mais breve possível.

Ao chegarmos na igreja, fomos nos sentar na primeira fileira, onde se encontravam os gêmeos vestindo ternos pretos iguais e com os cabelos todos lambidos por gel e o Dylan que vestia uma camisa xadrez e calça de costura preta. A sra. Walker estava vestindo um modelo Gucci preto muito chique e saltos incrivelmente altos. Me perguntei mentalmente ontem ela se arrumou assim tão bonita, até olhar para o lado dela e encontrar Andrea também num vestido preto chique e sapatos prateados de dar inveja.

A cerimônia foi maravilhosa, e após a missa, seguimos para o cemitério, onde tinha cadeiras organizadas em frente a lápide que tinha o nome da avó Gretta gravado e eu ainda me questionava sobre tudo estar pronto, mas provavelmente fora preparado na madrugada.

— Gostaria de chamar um dos netos para dizer algo sobre as memórias com a sua avó — Andrea pediu parada ao lado da lápide e eu olhei para os gêmeos e o Dylan que seguiam amuados.

Então, decidi me levantar e ir até aonde ela estava e cumprimentei todo mundo que estava presente.

— Bem, falar sobre a avó Gretta, é falar sobre uma mulher forte, persuasiva e doce — comecei. — Mas sabe, ela era tão boa e tão humana que as pessoas só enxergavam um exemplo a seguir nela. E isso era o que ela era. Um exemplo a seguir. Como todo mundo, ela cometeu erros e alguns deles podem ter sido fortes — olhei para o sr. Rupert que se encontrava no fundo com lágrimas no rosto. — E ela me ensinou que nem sempre devemos contar porque devem ser contados, pois alguns poderão ferir a felicidade que já se encontra estabelecida. E quando abrirmo-nos para o mundo, seremos julgados e apontarão-nos dedos sem se importar com o que de bom tínhamos feito em vida — funguei. — ela me disse uma vez: "Tem segredos que mudam totalmente o nosso caráter na visão das outras pessoas. E eu prefiro guardar o meu segredo para não ferir a felicidade de outrém" e ela tinha razão — os meus olhos começaram a ferver e as minhas pernas a tremer. — Ela... Ela — senti que ia desabar a chorar e antes disso acontecer, Gregory levantou-se da sua cadeira e veio até mim.

Me envolveu num abraço e me puxou para um canto. Eu me deixei levar pelas minhas emoções e abracei com força ele, pensando em tudo que acabara de falar.

— Olha para mim — Greg pediu e eu ergui o meu rosto. Ele tinha um sorriso nos lábios e estava muito bonito com o cabelo preso num mini rabo de cavalo. — Estamos de penteados parecido, que coincidência, e estamos incrivelmente bonitos — ri com o seu comentário e ele também riu. — Se você chorar, estragará essa beleza toda e assim já não estaremos mais parecidos.

Eu assenti, limpando as minhas lágrimas com o lenço que ele me deu e eu assuei o meu nariz com o mesmo.

— Agora, vamos sair daqui e passear pra você espairar tudo. Sinto que há muita coisa dentro de você — Greg disse, entrelaçando os nossos dedos e quando ele estava para começar a caminhar, eu continuei parada. — Vamos?

— Por que? Por que não ficamos aqui? — Eu quis saber.

— Você claramente não está tendo um bom efeito com isso tudo e eu não gosto de ver-te deste jeito — Greg falou. — Dói em mim ver-te em lágrimas.

Minhas bochechas coraram e concordei com Greg, permitindo que ele nos guiasse até fora do cemitério.

Ao chegarmos fora, Greg envolveu o seu braço direito nos meus ombros e eu encostei a minha cabeça no seu ombro e caminhamos juntos pela cidade. O frio nos envolvendo e a paisagem bonita que nos rodeava abrilhantando o nosso passeio.

Entramos no parque do centro da cidade e fomos até ao lago, onde tinha bancos de madeira e estava deserto. Não seria comum também encontrar pessoas num dia chuvoso por essa área.

Greg tirou o seu casaco jeans e colocou-o sobre o banco e me fez sentar por cima da sua roupa.

— O que você vai vestir se esfriar? — Questionei-lhe e ele deu de ombros.

— Tanto faz, você vem em primeiro lugar hoje — Greg explicou, sentando-se ao meu lado.

— Obrigada, por tudo — eu o agradeci.

Greg aumentou o seu sorriso e beijou a minha testa.

— Não precisa agradecer, eu faria muito mais por você — declarou ele. — Você prefere gansos ou cisnes?

A sua pergunta repentina me fez arregalar os olhos.

— Eu acho que prefiro os cisnes — respondi a sua questão e ele franziu os olhos, aceitando a minha ideia.

— Eu prefiro os gansos. Eles são tão superestimados pelas pessoas. Tipo, os cisnes têm todo aquele ar de donos do lago e os gansos são furtivos, são fortes e decisivos, atacam quando há perigo, diferente de um cisne, que na hora do perigo, estaria preocupado com o rímel que falta nas suas pestanas — a sua explicação me fez gargalhar o mais alto possível.

— De onde você tira essas ideias, Greg? — Eu questionei entre as gargalhadas. — Você sabe que cisnes são cem por cento superiores e não quer admitir. Você não está preparado para essa conversa.

— Apresente os seus argumentos, por favor — Greg pediu, aproximando o seu rosto do meu e eu senti algo subir pela minha medula óssea.

— Comecemos com fato de serem graciosos, os cisnes não perdem a pose, e segundo, cisnes são fortes e sempre conseguem o que querem e outra, eles até têm um número de ballet — protestei e Greg riu.

— Ok.

Gotas de chuva começaram a cair e nas pressas, nos levantamos do banco e nos escondemos sob o meu sobretudo e o casaco do Gregory.

Corremos em direção a uma cabana estragada no parque e quando entramos nela, suspiramos de alívio.

Greg estava completamente encharcado, já que tentou me proteger dos pingos o máximo que pode (e isso envolvia em ficar a molha). Lentamente ele tirou a camisa e deixou os seus músculos a vista.

Engoli em seco quando me perdi sobre os seus braços musculosos e o seu peito que não era tão musculado, mas dava pro gasto.

— Gostou da visão? — Greg provocou-me e eu senti as minhas bochechas esquentarem, enquanto virava o meu olhar para o parque que era tomado pela chuva.

— Pare de se achar, Peterson! — rebati e ouvi a sua risada gostosa.

Greg parou atrás de mim e colocou a sua cabeça sobre o meu ombro esquerdo. Eu virei a minha cabeça para o olhar e ficamos com os rostos a centímetros de distância. Senti a sua respiração bater contra o meu rosto, o seu hálito a menta e os seus olhos estavam brilhando.

Eu fechei os olhos e senti ele aproximar-se de mim, quando escutamos um barulho vindo da porta e nos afastamos assustados.

Greg foi até a porta e ao abrir, era só um galho da árvore próxima a cabana que tinha caído e batido na porta.

— Ufa — soltei, e Greg olhou para mim sorrindo.

— Você achou que fosse alguém? — Ele interrogou e eu abanei a cabeça confirmando.

— Óbvio! Poderia ser um serial killer — expliquei e ele riu e fechou a porta novamente.

— Alguém já disse-te que tens futuro como escritora de fanfics? — Greg indagou. — Porque você tem cada ideia.

Greg sentou-se no chão da cabana e eu o imitei. Estamos um em frente a outro, o silêncio tenebroso se instalou no local e apenas se ouvia a chuva, as folhas das árvores que eram movimentadas pelo vento e o trânsito insuportável da cidade.

— Qual é a memória mais triste que você tem? — Perguntei para Greg que me olhou confuso.

— A mais triste? — Ele repetiu e eu afirmei. — A de hoje conta?

— Claro que não — rebati e então ele suspirou.

— Está bem — ele aceitou. — A memória mais triste que eu tenho é de quando o meu pai abandonou a mim e a minha mãe — Greg tentou esforçar um sorriso. — Ele me disse que estaria a viajar em serviço, e eu como uma criança tola acreditei. Minha mãe começou a ocupar-se mais no trabalho e por meses eu vivi apenas com o meu avô e sempre perguntava a ele sobre o paradeiro dos meus pais, até porque nas festas da escola, em aniversário de amigos sempre me perguntavam sobre eles e eu respondia que eles estavam viajando, até que um dia eu estava passando do parque e vi o meu pai e Uau — Greg abanou a cabeça em negação. — Eu fiquei boquiaberto. Lembro-me de ter gritado: "Pai! Pai! O senhor voltou!" — ele estalou a língua no céu da boca. — O meu pai sorriu nervoso e fez um sinal para o meu avô me segurar. Ele estava na companhia de outra pessoa, uma loira que eu já tinha visto antes. A sua secretária.

— Espere! A mãe do Liam era a secretária do teu pai? — Eu questinei surpresa.

— De excelência, que sempre ajudava o meu pai em tudo em que podia — falou com certa ironia na sua voz. — Mas continuando, o meu avô me levou pra casa e explicou-me que meu pai nunca mais voltaria para casa. Que não pertencia mais a nossa casa e que aquela mulher que estava com ele era a sua nova esposa. Acredite, aquilo foi muita informação para rapaz de apenas sete anos. E foi assim que descobri que o canalha do meu pai nos trocou pela loira peituda e em dia que trabalhava para ele — Greg cuspiu as palavras com certa fúria.

— E você ainda tem mantido contato com o seu pai? — Perguntei.

— Sim, infelizmente ou felizmente, sim. Todos os meses eu vou visitá-lo pelo menos uma vez numa sexta-feira ou num sábado. É uma tradição que minha mãe obrigou-me a ter — explicou ele. — Mas às vezes não me sinto confortável com ele. Ele exige demais de mim, odeia música e argh! É tão doloroso tudo isso vir do seu antigo herói — Greg limpou algumas lágrimas dos seus olhos.

Eu levantei-me e fui sentar-me ao lado dele. Envolvi o seu corpo num abraço e enconstei a minha cabeça no seu ombro.

— Ele mal sabe que está perdendo a chance de curtir o seu filho antes dele virar uma sensação do pop punk e rock'n'roll — eu falei para Gregory.

— Obrigado, Stephanie.

Ouvimos novamente um barulho vindo da porta. Eu em particular ignorei pensando que era mais um galho de árvore, mas quando a porta foi escancarada e um velho barrigudo entrou com uma pá na mão e o com o rosto fechado, eu saltei do chão e Greg levantou-se do chão.

— O que vocês estão fazendo aqui?! — Gritou o senhor e eu me escondi atrás do Gregory. — E você rapaz porquê está sem a camiseta? Vocês estavam fazendo sexo aqui?!

— Não, senhor! — Greg apressou-se a responder. — Apenas queríamos nos abrigar da chuva.

— Que desculpa mais esfarrapada! Eu sei muito bem que vocês jovens de hoje em dia gostam de vir aqui e cometer atos obscenos! Vazem agora!

Eu corri para fora da cabana e Greg veio logo atrás de mim. Ainda estava chovendo imenso, Greg estava sem camisa e o seu casaco ainda estava muito molhado.

A sorte era do parque ser perto da casa da Steph e não tardamos a chegar lá, mas já estávamos completamente encharcados. Abri a porta para Greg vestir algumas roupas de Dylan e quando ele já estava totalmente seco e bem vestido, nós saímos de casa.

Paramos na varanda, eu tremelicando de frio e Greg com os fios de cabelo todos presos ao seu rosto ainda molhados.

— Muito obrigada por tudo, Gregory — eu agradeci a ele.

— Não precisas agradecer, eu faria muito mais por você — Greg aproximou o seu rosto do meu e beijou a minha testa. — Vemo-nos por aí, Stephanie.

Senti as minhas bochechas esquentarem e o meu coração dar pulinhos de felicidade.


Notas do Sérgio:

ANTES DE TUDO! Eu queria dizer por meio dessas notas que eu não estou incentivando o suicídio nesse capítulo, e nem escrevi sobre suicídio, espero que não tenham essa percepção errada do capítulo. Eu espero mesmo.

Hum, que clima entre esses dois, não é?

Nós já estamos na metade da história, eu queria saber o que vocês estão achando disso tudo, das emoções, de Molly e Gregory, do Parker, da banda, tudo o que vocês estão amando ler a cada capítulo.

No mais, vemo-nos no próximo capítulo 💗

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