Dia 13 • Aniversário dos gêmeos
O PIOR DE UMA SEGUNDA-FEIRA era, acima de tudo, escolher a combinação de roupa que você vestir-se-ia para a escola. Eu poderia até escolher as roupas de grife e bonitas, que faziam o meu estilo, mas isso mudaria a personalidade da Steph, e poderia dar "bandeira" e as pessoas se aperceberiam que ela não era ela, mas sim, eu, a miúda morta com mais confusões na cabeça do que alguém que ainda tinha a certeza que estaria vivo no dia seguinte.
Me olhei no espelho depois de vestir um macacão jeans roxo e uma blusa branca com borboletas da mesma cor que o macacão. Prendi o cabelo num rabo de cavalo e coloquei os All Star nos meus pés.
As vezes eu me sentia muito criança vestida dessa forma e queria puder ser a style icon da escola novamente, arrasando os corações e tendo todo mundo emplorando pela minha atenção.
Me lembrei das palavras do Parker no parque, no dia da maratona das bicicletas.
"A Molly era a pessoa mais amável que eu conhecia, mas ela também conseguia ser muito irritante"
Tipo, eu não era nada irritante. Eu nunca tinha escutado ninguém falar assim de mim, talvez nas escondidas, porque sempre existe um hater, afinal eu era uma digital influencer se formos pelo número de seguidores que eu tinha só no Instagram e era filha de um casal que fazia parte da hierarquia da moda. Todo queriam ser como eu, até eu se não fosse eu, ia querer estar no meu lugar. Mas não havia razão alguma para ele dizer que eu era irritante, apenas queria atenção, e era muito selectiva com as pessoas.
"Ela era muito insegura, chateava por tudo e por nada. Céus, há coisa que não conseguimos dizer para alguém quando estamos apaixonados, mas depois temos que tirar do peito. Nunca tive coragem de dizer a Molly, porque fazia parte da sua personalidade, mas ela devia mudar um pouco. Deixar de ser pic me girl por algum tempo"
Eu estava longe de ser pic me girl. Porque eu não tinha aquele sotaque estranho e tipo, eu não era egocêntrica, as vezes eu era egoísta, tenho que admitir, mas, eu não era daquele jeito negativo. Eu só vivia a minha maneira, nada de errado por sinal.
E se eu era uma pic me girl irritante, por que ele ainda estava comigo? Não há justificativas para isso! Talvez, sublinhe bem, talvez, ele só quisesse a minha fama. Já que ele tinha a perfeição, a miúda mais bonita, mas também a nerd patética da sala que ficava atrás dele sempre o observando, mas ele sempre preferiu a popular estilosa e gostosa, e seremos honestos, Parker ficou popular depois que começou a namorar comigo.
— Stephanie! Stephanie! — Dylan chamou alto, me assustando de volta à realidade.
Estávamos estacionados em frente a escola dos gêmeos e eu me distrai com isso tudo. Encarei Dylan que estava com um sorriso no rosto.
— E você, qual presente vai dar aos gêmeos? — Dylan perguntou e eu arregalei os olhos.
— Presente? Por que eu daria um presente a eles? — Indaguei e Dylan balançou a cabeça negativamente.
— Não acredito que você esqueceu o aniversário dos seus irmãos.
Era aniversário deles? Acho que foi por isso que Dylan deu a cada um deles um queque com uma velinha pequena e cantou os parabéns. Aí meu Deus! Estava tão pensativa que nem isso me fez ficar atenta a qualquer outra coisa que não fosse Parker, Molly e as coisas que estavam a desandar na minha vida.
— Você achou mesmo que eu me esqueci? — Você acertou, eu nem sabia que era aniversário deles! — Eu vou dar-lhes um presente surpresa, nem você poderá saber.
Dylan assentiu com a cabeça e continuou o caminho até a escola. E mais um problema para adicionar a lista: um presente de última hora para gêmeos iguais, mas com comportamento totalmente distinto.
Fui para a sala de detenção. Não uma cadeia ou uma cela, mas uma sala em que ficamos de castigo. E por que eu fiquei de castigo? Bom, o professor de física estava dando a sua aula chata que nem mesmo na minha verdadeira vida eu cheguei a entender no ano passado e não seria dessa que eu ia aprender. Adormeci e quando ele me acordou aos berros, dizendo que eu estava indo de mal a pior como o imbecil do meu irmão mais velho que só sabia cantar nas aulas dele, eu revirei os olhos e o respondi: "Ao invés de ficar insultando toda a geração da minha família e importunar o meu sono, por que não calcula a massa da sua estupidez?"
Agora, enquanto encarava as paredes bege, onde só tinha carteiras espalhadas e uma secretária onde está sentado o barrigudo e velho professor de educação física, eu me questionei o porquê de não ter mantido o bico fechado.
Dois minutos depois, Parker também entrou na sala de detenção carrancudo, mas quando o seu olhar se prendeu ao meu, ele sorriu e se aproximou da carteira ao lado da minha.
— Você não cansa de se meter em encrencas, Thompson? — Perguntou o professor de educação física e Parker sorriu nervoso, sentando-se na carteira. — Saiba que só restaram duas vidas, se não ganhará a expulsão.
E assim, o professor voltou a encarar o seu celular, que no momento em que eu entrei, estava numa página adulta de mulheres e eu me senti enjoada com aquilo, mas era o habitual de um professor que reparava muito em alunas de uma forma suspeita.
— Eu não imaginava encontrar você aqui — Parker disse, os seus olhos atentos a mim.
— Por que? — Tive curiosidade em saber. — Você acha que não sou do tipo de meninas que se metem em encrencas?
— Sim? — Respondeu com uma expressão no rosto que dizia: óbvio!
— Que pena que estraguei a boa reputação que criei na sua mente — zombei e Parker sorriu para mim. — E você, o que o trouxe aqui?
— A minha ficha criminal de hoje é grande, mas posso dizer que dei um soco num machista da minha turma. Acredita que ele disse que mulheres não podiam dirigir carros e sim, apenas abrir as pernas aos homens? Isso me irritou bastante — senti a fúria na sua voz. — Você concorda comigo, não é?
— Claro que concordo, até porque mulheres têm um intelecto as vezes superior aos dos homens. Os dois géneros conseguem ser estúpido as vezes, mas sempre têm os sensatos, como eu — falei e Parker riu baixinho.
— Deixemos de falar sobre a minha razão de vir parar a detenção. Agora me conte, por que você veio parar aqui?
— Digamos que mandei o professor de física se lixar, resumindo a história — contei e Parker riu alto, ao ponto do professor de educação física nos lançar um olhar mortal.
— Espero que ele te perdoe um dia — Parker falou e eu dei de ombros.
— Não me importo se ele perdoe ou não. Tem dias que não suporto o blablablá de pessoas como ele, que só sabem nos diminuir e humilhar em frente dos outros, misturando familiares e etecetra.
Parker abanou a cabeça em concordância e virou-se para mim.
— Espero não conhecer esse seu lado, então — ele brincou com um sorriso nos lábios e eu bati o seu ombro.
— Sabia que você está acordando ele? — Provoquei e ele riu.
— Então me deixa mudar de assunto urgentemente. Hum, como está o seu namorado?
Namorado? Que namorado ele está falando?
— Namorado? — Questionei com as sobrancelhas franzidas.
— O cantorzinho. O Gregory.
Espera aí? Ele acabou de chamar o Gregory de meu namorado? Eu e o Shrek Peterson estávamos longe de ser namorados!
— Acho que você se confundiu, mas eu e o Gregory somos apenas bons amigos — eu disse a ele, que negou com a cabeça.
— Sabia que é esse o pretexto que usam quando querem ocultar a relação?
— Você acha mesmo que eu ia namorar com o Gregory?
Aquilo estava me tirando do sério. Eu queria namorar com ele e ter um final feliz, não o Greg. Ele era o rapaz da minha vida e acho que Greg estava longe de ser.
— A Morley até disse que vocês formam um casal bonito.
Aquela diaba em pessoa! O que ela tinha a ver com eu e o Greg? Respirei fundo e me recompus.
— Parker Thompson, eu, Stephanie Walker estou longe de ser namorada do Gregory Peterson. Ele é um rapaz legal, bonito e canta bem, mas está longe de ser o meu tipo. E como vocês chegaram a essa conclusão?
— Ele não parava de olhar para você no jantar e ontem, meu, estava muito óbvio que ele gosta de você, a maneira que te olhava e deixava escapar um sorriso perdido, a maneira que vocês interagiam. Até cego sentiria a vossa química.
Urgh! Meu ex-namorado me shippando com alguém?! E ninguém mais que o Ursinho? Por favor.
— Você e a Morley seriam ótimos fanfiqueiros, mas infelizmente não há nada entre mim e o Gregory. Desculpa desfazer as vossas fantasias — apertei os lábios num sorriso forçado.
E daí não puxei mais nenhum assunto com Parker Thompson.
Quando saí da detenção, a primeira coisa que eu fiz foi procurar Emily para me ajudar com o presente que eu disse que era surpresa, e sabem de uma novidade evolutiva da espécie surpresa? É que até eu, que pretendia surpreender, também seria surpreendida! Eba!
Encontrei minha amiga no corredor dos cacifos do terceiro ano e ela estava com o Luke em altas gargalhadas e quando me notaram, me chamaram com as mãos.
— Oi, casal do ano — zombei e eles riram, Luke beijando a bochecha da minha amiga.
— Que humor péssimo, Steph. Aconteceu alguma coisa? — Luke perguntou e eu revirei os olhos.
— Fui parar a detenção — contei e eles se olharam confusos e voltaram a atenção para mim.
— Você? — Luke parecia não acreditar pelo seu tom de voz.
— Amor, eu preciso ter uma conversinha com ela, nos falamos mais tarde, ok? — Emy disse ao namorado, que confirmou com a cabeça e beijou uma última vez os seus lábios.
Quando nos afastamos o suficiente de Luke e qualquer outra pessoa que pudesse nos ouvir, pude sentir o olhar pesado de Emily até mim.
— Nunca pensei que você um dia fosse parar de castigo — minha amiga comentou com uma risada forçada. — Molly, o que está acontecendo com você?
— Eu apenas respondi de uma forma que ele não fosse mais me importunar — me defendi e então minha amiga arqueou uma sobrancelha.
— E quem seria ele?
— O... Professor de física? — a minha voz foi baixando enquanto eu respondia e Emily soltou um suspiro alto.
— Você o conhece bastante para saber que agora o seu inferno vai começar — Emy disse e parecia estar chateada.
— Nem sei o porquê de você ficar desse jeito, Emy. Você e eu sabemos muito bem que eu irei desaparecer daqui em menos de dezassete dias! — Contestei.
— Correção, você desaparecerá daqui em menos de dezassete dias com um final feliz alcançado. E o Parker? Você não devia estar a falar com ele agora?
— Estávamos juntos na detenção — contei e minha amiga revirou os olhos. — E ele acha que eu e o Gregory somos um casal.
— Como?! — Emy quase berrou e eu dei de ombros. — Você ao menos negou isso?
— Claro que neguei, mas ele parece não mudar de opiniões. E até disse que eu e o Greg formamos um belo casal — expliquei e Emy negou com a cabeça.
— Molly, o final feliz é com o Parker, não é? — Minha amiga perguntou e eu abanei a cabeça positivamente.
— Deve ser, por que quem seria a não ser ele? — Questionei.
— A Stephanie disse para você que ele era o rapaz da sua vida? — Emily quis saber e eu parei para pensar e ela nunca me disse isso.
— Ela só disse que errou comigo e que eu deveria viver um amor curto, mas capaz de sarrar as minhas feridas — contei.
— E se estivermos desperdiçando o nosso tempo com o Parker? E Se o final feliz não for com ele? — Minha amiga sugeriu, mas eu prontamente neguei.
— Eu nunca tive qualquer interesse amoroso com outro rapaz a não ser Parker. Não tem como não ser ele.
Minha amiga assentiu e abriu as portas do seu carro. Eu entrei no banco ao seu lado e ela não demorou a ligar a viatura.
— Ah, ia me esquecendo. Eu preciso que você me ajude com presentes de aniversário — eu disse a Emily, que me olhou de relance.
— Que tipo de presente? E para quem?
— Para os gêmeos.
— Ok. Por isso o Dylan encheu as suas story's de fotos deles quando bebé. Portanto, o que você quer dar a eles? — Emily perguntou.
— Eu não sei. Eles são muito diferentes. Se fossem os dois como o Matthew, eu diria para comprarmos um conjunto de Lego de Star Wars ou Harry Potter, mas eles são muito diferentes. E eu não conheço muito bem o Mason, ele é mais ativo, mas também é muito reservado — expliquei a minha amiga.
— Eu tive uma ideia! — Emily exclamou, quando o semáforo abriu. — Podemos oferecer um bolo de aniversário, daqueles bem gostoso e com cobertura de natas.
— Não é uma má ideia. E considerando as outras opções que eu tinha em mente, está é a melhor. E a tua irmã ainda está aqui, não é?
— Infelizmente a Mayline foi embora ontem mesmo, no vôo das vinte e duas. Mas, nós as duas podemos fazer o bolo, até porque aquelas tias do YouTube fazem parecer fácil.
— Sim, se é um presente, devemos fazer nós mesmas o bolo. Afinal, o que pode dar errado?
Tudo deu errado. Nem sei como começar a lista das coisas que nós lançamos na lata de lixo. Talvez comece com o bolo de chocolate do livro de receitas da Peggy que dizia: um pocadinho de sal. E adivinha? Colocamos três colheres de sal e quando o bolo cozeu sentimos o tão famoso sabor agridoce e nem foi tão bom assim de se provar.
O segundo fracasso foi o bolo de cenoura. Tipo, como nós íamos saber que devíamos ralar a cenoura e não corta-lá aos bocadinhos?
A cozinha enorme e espaçosa com paredes brancas e chão cinza da casa da Emily estava um caos. E os empregados só nos olhavam com cara feia, talvez estivessem furiosos pela quantidade de trabalho que deixamos a eles.
— Se não for dessa, nós vamos a pastelaria mais próxima daqui — Emily resmungou, tirando as formas do forno e as colocou no balcão.
Eu me aproximei para ver o red velvet que preparamos, o chiffon de chocolate e a base de banana para o nosso bolo de aniversário surpresa.
Cortamos leves bocados de cada e não é que acertamos em cheio? Um conselho, tentem e persistam, o final as vezes pode ser melhor do que o primeiro resultado.
— Sabia que podemos abrir um canal de confeitaria no YouTube e no Patreon? — Eu sugeri a minha amiga, que riu e revirou os olhos.
— Molly, nós só fizemos um bolo, não cozinhamos para o Gordan Ramsay e nem ganhamos o Masterchef — minha amiga disse. — Vamos passar a cobertura e o Rick já trouxe as peças de Lego para enfeitarmos.
Usamos creme de leite com corantes para pintar o bolo. Fizemos num azul-escuro bonito. Onde dava para colocar um homem forte no cimo e um mini Harry Potter também. Escrevemos com a cobertura no cimo do bolo: Feliz Aniversário M e M ;-)
O nosso bolo estava perfeito, bonito e digno de ser publicado no Pinterest ou na página oficial de uma escola de doces e confeitaria.
— Nos esquecemos das velas — falei para a minha amiga, quando me lembrei de um dos detalhes mais importante nos bolos de aniversário.
— Não é problema, aqui tem várias — Emily disse, puxando uma gaveta onde tinha várias velas em forma de números ou aquelas simples coloridas, em espirais e até aquelas que pareciam aquelas chamas dos espetáculos.
— Qual é a necessidade de ter isso tudo em casa?
— Mayline acha necessário termos isso em caso de emergências. E antes que você me questionei que tipo de emergências, elas são festas aqui em casa, seja de aniversário de casamento, de carros, até dos funcionários que ela considera como família.
— Ok.
Depois de fuçar as redes do Dylan, descobrimos que os gêmeos completaram catorze anos. Então colocamos as velas um e quatro.
— Vou pedir para o Rick deixar-te em casa. Tenho uma maratona de Miraculous essa noite — Emily falou, conferindo as horas no celular. Já eram quase oito da noite.
— Você não vai comigo? — Questionei e ela negou com a cabeça. — Achei que íamos as duas, porque fizemos o bolo juntas.
— Molly, eu já tinha agendando um tempo para mim com essa maratona. Sabia que são os últimos episódios dessa temporada? — Emily contestou e eu assenti em silêncio, me virando para trás com a caixa do bolo nas minhas mãos.
— Pensei que as melhores amigas sempre estivessem conosco em todos os momentos — fingi uma voz chorosa e pude ouvir um suspiro pesado de Emily. Boa, Consegui!
— Me espere no meu carro, estou a ir tomar um banho bem rápido e mudar de roupas.
— Está bem — respondi com um sorriso largo e saí da sua casa.
Depois de dez minutos esperando a minha amiga dentro do seu carro, ela saiu da sua casa, vestindo uma jaqueta enorme preta que eu conhecia por ver o Luke com ela e uma saia quadriculada amarela simples.
Não sei o porquê dos óculos escuro naquela noite, mas Emy sempre teve presença.
Emily entrou no seu carro e ligou o rádio, que ecoou a voz do Conan Gray em Maniac e cantou durante o percurso que fizemos até a casa da Stephanie quase todas as músicas que tocavam no seu carro.
Quando chegamos, ouvimos sons de risadas altas, não era só de Dylan e dos gêmeos, pude ouvir mais três vozes que eram distintas. Luke, Timothee. E Gregory.
Ao entrarmos dentro de casa, com o bolo nas minhas mãos, os rapazes nos olharam confusos e eu e Emily começamos a cantar a canção dos parabéns. Quem parecia estar mais é o Matthew, que levantou-se do sofá e começou a cantar conosco. Mason também levantou-se, mas apenas ficou nos encarando com as sobrancelhas franzidas até acabarmos a canção.
Dylan foi a cozinha levar um isqueiro e acendeu as velas. Eu deixei o bolo sobre a mesinha de centro e os gêmeos foram até lá, ajoelhando-se no tapete felpudo que forra o chão.
— Peçam um desejo — Gregory falou aos gêmeos. Matthew foi o único que soprou as velas e fechou os olhos.
Enquanto Matthew dizia de uma forma silenciosa o seu desejo, Mason encarava o bolo, e eu e a Emily.
— Por que? — Mason perguntou-nos.
— "Por que" o que? — Questionei-o e ele bufou, revirando os olhos.
— Você sabe muito bem que eu não gosto disso. De atenção desnecessária! — Gritou ele, levantando-se do chão e quase derrubou o bolo.
— Mason! — Dylan bradou, mas seu irmão não deu ouvidos e foi embora até as escadas chutando tudo que ele via a sua frente.
— O que deu nele? — Perguntei a Dylan, que deu de ombros confuso e eu olhei pro alto das escadas, enquanto vários brinquedos caiam das escadas.
Matthew nem pareceu se importar com o mal estar do irmão, e pegou logo a faca para cortar o bolo, mas eu o parei.
— Espera, eu vou falar com ele primeiro — pedi a Matthew, que soltou um suspiro e abanou a cabeça num sim.
Subi as escadas até o primeiro e único andar e fui até a porta que ficava ao lado da porta do quarto do Dylan. Encostei a minha orelha e pude ouvir um choro fraco. Respirei fundo e dei três batidinhas na porta.
— Vai embora! — Mason gritou e eu fechei os olhos, contendo a minha vontade de o mandar se lixar e ver se cresce.
— Mason, abre a porta. Por favor! — Eu insisti batendo com mais força a porta.
E quando decidi bater com o meu próprio corpo, Mason abriu a porta e eu quase caí de cara no chão. Mas isso não me salvou de cair de bunda no cômodo.
— Aí! — Gemi de dor, passando as minhas mãos nas minhas nádegas e ouvi a porta ser fechada.
Mason estava com linhas de lágrimas no rosto e os lábios estavam numa linha reta.
— O que você quer? — Perguntou rispidamente e eu ergui-me do chão, ainda sentindo a dor do baque forte que o meu rabo sofreu.
— Eu só quero conversar, ok? — Mason assentiu e sentou-se na sua cama.
Pude notar que o quarto tinha uma divisão no centro. O lado do Mason não tinha quase nada, a não ser os posters dos seus lutadores favoritos do WWE e cartazes de filmes de animação. Já no lado de Dylan tinha muitas coisas, como por exemplo uma tabela periódica em A2, adesivos do Harry Potter, capas de revistas geek coladas a parede e várias luzes led's decorando o seu lado.
— O que se passa, Mason? — Perguntei, me sentando ao lado dele.
— Eu não devia reagir daquela forma, mas... Eu não gosto de ser o centro das atenções — a sua voz estava fraca e chorosa.
— Eu não sabia disso — murmurei, sentindo pena do seu estado. — Você é...
— Distante dos outros? — Sugeriu e eu murmurei um "hum hum". — A culpa não é tua e nem de ninguém, pelo menos aqui de casa. Só que... Por ser gêmeo de Matthew, o rapaz mais inteligente da escola, as pessoas cobram muito mais de mim. Você acredita que me chamam do gêmeo gostoso e burro? Concordo no gostoso — ri baixo com isso. — Mas burro? As pessoas acham que eu não me importo, pois não demonstro, mas... Eu só queria que vissem que eu sou diferente dele, não inteligente e um grande geek.
Comparação. Isso dói, e dói muito ser comprado com pessoas que você está longe de ser.
— Mas você não precisa se sentir mal por isso, Mason. Sei que por justa causa você prefere se manter oculto, mas, se você continua assim, as pessoas nunca vão conhecer-te, nunca vão saber quem é Mason Walker além do gêmeo gostoso e burro. Eu sei que você tem muito mais dentro de você, que talvez precise ser explorado. E não tenha medo de ser o centro das atenções, as vezes, devemos brilhar. E também eu me matei fazendo aquele bolo, então é melhor o senhor levantar esse rabo e ir cortar com o seu irmão! — Mason deixou escapar uma risada e me abraçou.
— Obrigado, Stephanie. De verdade — Mason sussurou e eu sorri, apertando ele no abraço. — E tenho uma certa vontade em provar o que você fez. Talvez eu fique com dor de estômago e não vá a escola manhã.
— Ei! — Reclamei e ele riu. — Eu me esforcei imenso para esse bolo.
— Ok. Ok. Eu espero que esteja bom! — Mason falou, ao levantar-se da cama.
Eu também me levantei e caminhei com ele até a porta. Senti o meu coração aquecer e era como se uma nova coisa estivesse dentro dele: amor de irmã. Era isso que chamavam ser irmã mais velha?
Ao sairmos do quarto e descermos as escadas até o rés-do-chão, encontramos todo mundo comendo pizza que estavam em duas caixas na mesinha de centro e se conversando sobre os desastres dos primeiros bolos.
— Mason! Vem aqui, mano! — Matthew o chamou e Mason foi até ao lado do sofá onde o irmão estava e o abraçou com força. — Bem, acho que você queria mesmo um abraço, ein?
— Não conte a ninguém, especialmente a Stacy sobre isso — ouvi o Mason dizer ao irmão e ri com aquilo.
Quando os dois cortaram o bolo e nós dividimos para todo mundo, ficamos batendo papo sobre o que nós fizemos quando completamos quatorze anos.
— A coisa mais embaraçosa que eu fiz ao completar os quatorze, foi uma apresentação de Single Ladies que fiz para os meus pais. Eles falaram que fui boa, mas ninguém chega aos pés da Beyoncé naquela coreografia — Emily disse, soltando risadas e eu me lembrei disso, pois eu dancei com ela.
Era no dia das mães e nós as duas pretendíamos surpreender as nossas mães com uma dança a altura. E nesse mesmo domingo, era o aniversário da minha melhor amiga. Foi um dia muito engraçado.
— Você dança? — Luke perguntou, olhando a namorada com um sorriso nos lábios.
— Tentei dançar. Sou um desastre — Emy disse e olhou para mim. — Mas a Stephanie pode saber.
— Eu também não sei dançar — me apressei a dizer, rindo nervosa.
— Ah, por favor, mostre-nos como você dança — Greg pediu, e eu mostrei-lhe a língua.
Ele riu, revelando duas covinhas e os seus olhos fecharam-se. Era como se todo o seu rosto sorrise enquanto ele soltava a sua gargalhada. Senti o meu estômago dar voltas e não conseguia parar de o encarar.
— Bem, a Stephanie, estava comigo e com a Molly quando ensaiamos a coreografia. Ela sabe, podemos dançar juntas — Emily disse e eu saí do meu transe, procurando ela com o meu olhar.
Lancei-lhe um olhar mortal e ela mandou-me um beijo, com um sorriso enorme no seu rosto. Ela sabia que eu tinha vergonha daquela dança.
— Nem fodendo — eu disse, cruzando os meus braços.
— Rainha do Gelo, dance, por favor — Greg pediu. — Queremos ver como você se sairá.
— Eu não sei dançar — protestei.
— Como poderemos ter certeza se ainda não vimos você dançando? — Greg questinou com uma expressão provocativa no seu rosto. Os seus lábios bem esticados em um sorriso e as sombracelhas quase juntas.
— Está bem. Eu danço, mas só porque é o aniversário dos gêmeos — falei em rendição. — Mas nada de filmarem e publicarem em redes sociais. Não quero ser viral novamente.
— Ninguém vai filmar, fique calma — Dylan me tranquilizou e eu levantei-me do sofá.
Ouvi os gritos de comemoração dos rapazes e em poucos minutos, afastamos a mesinha de centro e nos posicionamos em frente a TV, uma ao lado da outra.
Quando a música começou, nós iniciamos a nossa coreografia. Fazia tempo que não dançávamos aquilo, mas estava a me lembrar de todos os passos ao som da música.
— Mano, vocês estão indo bem! — Timothee falou, imitando os nossos passos.
Continuamos, eu me sentindo a própria Beyoncé, cantando a música e me divertindo com a alegria dos rapazes que nos assistiam e pareciam empolgados a cada passo que nós fazíamos. Quando chegou a minha parte favorita, a de usar as mãos e e esticar os joelhos, eu fechei os olhos e me imaginei num espetáculo da Queen B, ao lado dela, dançando com maestria e soltei um sorriso com aquilo.
— Oh, oh, oh — gritei, quando a música acabou e todo aplaudiram.
Eu estava eufórica, mas feliz por ter reativado uma memória da minha vida. Emily me abraçou e eu a apertei, saltitando de alegria.
— Acho que já temos as dançarinas oficiais dos Ratos de Academia — Dylan zombou e eu lancei uma almofada para ele, que riu alto.
— Você foi maravilhoso, Steph — Greg elogiou-me com um certo brilho no olhar. Eu senti as minhas bochechas esquentarem. — E Emily, você também estava ótima.
— Obrigada — eu respondi e sentei-me novamente no meu lugar.
Mas Emily ao invés de sentar ao lado de mim, foi sentar-se no colo do namorado e Greg afastou-se, chegando perto de mim ao ponto de eu sentir o seu perfume bem forte nas minhas narinas. Olhei pro lado e pude ver ele sorrindo para mim. Os seus cachos de cabelos tapando a sua testa como se fosse uma franja. Eu afastei o seu cabelo e vi o seu rosto tomar a cor vermelha também.
— Já falaram para você, o quanto você é maravilhosa? Porque você é — Gregory indagou e eu senti novamente aquela sensação estranha no estômago. O que era aquilo?
— Não seja tão bajulador, Sr. Ursinho — brinquei e ele revirou os olhos. — Mas, obrigada.
Ele passou o seu braço direito sobre os meus ombros e me puxou para um abraço. Eu afundei a minha cabeça no seu peito, sentindo aquele perfume bom e o seu coração bater forte e descompassado.
Notas do Sérgio:
Que capítulo, meu Deus! Para quem pensou que eu criei um personagem fantasma, sem vida, chamado Mason, está aí a razão da sua opacidade na história e isso acontece com muitas pessoas na vida real também. Evitem fazer comparações, mesmo que sejam bobas, isso pode fazer alguém se sentir mal. E esse abraço no fim? Nem falo nada, apenas agradecer por chegar até aqui nessa história e me alegre com o seu voto e comentários.
Vemo-nos no próximo capítulo 💗
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