Dia 11 • Pesadelos

ERA FIM DE TARDE e estava um calor imenso. Era verão, e eu estava namorando com o Parker na época.

Marcamos de nos encontrar na sua casa para "assistir" um filme romântico na Netflix e eu acho que todos sabem como poderia terminar.

Eu não queria perder a minha virgindade naquele dia, mas queria perder com o Parker, mas não naquele dia.

Quando cheguei na sua casa naquele dia, ele não elogiou o meu vestido preto florido e nem as minhas sandálias da Gucci que recebi de presente pelas notas altas que eu tinha conseguido nas últimas provas que eu tinha realizado na escola.

O seu olhar estava vago, até melhor, sombrio. Parker não era de ficar daquele jeito, nunca tinha conhecido esse lado dele.

Nos sentamos na sua cama de casal que estava no centro do seu quarto com paredes azul-escuro e tinha posters de filmes de acção, algumas imagens de miúdas de biquíni e várias figuras de Lego pelo quarto.

Acho que desperdiçamos mais de trinta minutos rejeitando cada filme que aparecia na TV enquanto rolavamos as opções na Netflix.

Ele já tinha preparado pipocas com manteiga diet e Coca-Cola zero pois já sabia dos meus gostos e hábitos.

Parker acabou selecionando 365 Dias e durante o filme todo, a cada cena de sexo, ele procurava me atiçar ou algo do gênero. Chegou até a sussurar no meu ouvido de uma maneira nada normal:

— Queres mais alguma coisa?

Num primeiro momento me arrepiei com aquilo, mas já tínhamos tido uma conversa em quem eu não faria sexo com ele sem ser o momento perfeito.

— Sim, eu quero — respondi friamente. — Quero que você tire a porra desse filme e coloque uma animação no Disney+.

O loiro arregalou os olhos e me olhou confuso, mas eu não mudei o meu semblante e ele acabou por trocar de Streaming.

Colocou uma produção animada do Tim Burton e saiu do seu quarto. Assisti o filme sozinha e quando acabou, eu fui procurá-lo no andar de baixo.

Ao chegar a cozinha, que só era separada da sala por um balcão de madeira-escura, encontrei-o de costas para mim, ouvindo uma música do One Direction e tirando a pizza do forno.

— Por que me deixou sozinha, Thompson? — Eu perguntei e ele olhou pra trás, com uma expressão nada boa.

— Nada — disse rispidamente e colocou um prato com uma fatia de pizza na minha frente, juntamente com o refrigerante.

— Não foi o que me pareceu — eu rebati e ouvi deixar cair o garfo no chão e ao invés de apanha-lo, ele chutou pra longe.

— Podes parar de falar?! — Gritou e eu dei três passos pra trás assustada.

O seu rosto estava vermelho e o lábio inferior estava sangrando na ponta. Aquela sua versão me deixou assustada.

— Desculpa, eu... Me...

— Cala-te! — Parker gritou, e por um momento vi o prato ser lançado no chão e despedaçar-se aos mil bocadinhos.

Aí eu tive certeza que eu deveria ir embora para casa.

— Acho melhor eu ir embora — falei nervosa e ele abanou a cabeça positivamente.

— É melhor mesmo. Suma daqui! — Parker gritou, apontando pra a porta e eu baixei a minha cabeça, mas me lembrei que não deixava ninguém de deixar pra baixo.

— Porra, quem você acha que é para falar comigo dessa forma?! — Eu gritei, cansada da sua indelicadeza, mas ele me ignorou e deu um gole da sua Coca possivelmente cheia de açúcar que poderia lhe causar uma diabetes.

Bem que poderia causar mesmo!

— Não vai me responder? Porque merda, você só sabe gritar e ficar zangado por motivos mesquinhos. Esse espetáculo todo porque eu não quis transar com você? — Eu estava furiosa e o meu corpo todo fervia de raiva.

— Eu já disse para você ir embora — Parker disse mais uma vez, mas eu cruzei os meus braços e respondi:

— Só saio de você me tirar daqui — bati o meu pé com força no chão e ele revirou os olhos.

Vi ele se aproximar de mim e apertar as suas mãos nos meus braços e eu quis me soltar, mas ele me impediu.

— Vai pra a puta merda da tua casa! — Gritou tão alto que lágrimas surgiram nos meus olhos.

— Por que você está agindo dessa forma, Parker? Por que está me machucando? — Reclamei, sentindo os seus dedos apertarem ainda mais os meus braços, mas ele não me soltou.

— Me diz o por que, senhorita Perfeitinha, de termos que fazer tudo o que você quer? Por que? — Parker retornou a gritar e eu fechei os meus olhos, querendo dar um jeito de fugir daí.

Eu até cogitei na possibilidade do seu pai aparecer do nada e me soltar, mas isso estava longe de acontecer.

— Me solta! Me deixei em paz, seu psicopata! — Gritei com todos os meus pulmões e senti as suas mãos soltarem-me e algumas marcas de dedo ficaram no meu braço.

Eu estava chorando imenso e sentia muita dor na área dos meus braços onde ele estava apertando.

— Por que fizeste isto, Parker? — Questionei-o.

— Eu já disse pra você ir embora — Parker disse e eu virei-me e estava a ir pra porta, até começar a ouvir como se fosse um eco o nome da Stephanie sendo gritado no cômodo.

— Stephanie, Stephanie!

Abri os meus olhos e quase pulei da cama. A minha cabeça estava ardendo, os meus olhos pesados e eu estava suando. Suspirei em alívio ao descobrir que tudo não passou de um sonho e foi tão realista que os meus braços ainda tinham a dor que senti enquanto dormia.

Matthew estava de pijama e me olhava visualmente preocupado.

— Uau, o que esse Parker estava fazendo contigo? — A sua pergunta me pegou de surpresa e ele sorriu fraco. — Eu ouvi você do corredor — Eu arregalei os meus olhos e tapei o meu rosto visualmente envergonhada, mas ainda estava assustada. — Calma, fui o único que ouvi você. Talvez o senhor Rupert, mas nada que ele não ache um disparate. Mas vai, me conte, o que se passou?

— Nada! — Eu gritei, pulando da cama e colocando as pantufas nos meus pés de uma forma desajeitada.

A minha cabeça doeu pela forma repentina que eu me levantei e Matthew negou com a cabeça, levantando-se da minha cama.

— Eu estou preocupado com você, Molly. De verdade — falou e eu assenti, com um sorriso nervoso. — Bem, então, bom dia.

Matthew saiu do quarto e eu respirei fundo, levando a toalha de banho e outra pro cabelo e entrei na casa de banho do quarto.

No banho, fiquei me martelando mentalmente pensando imenso naquele sonho. Ele foi tão real e tão doloroso que deixou algumas marcas visíveis nos meus braços. Quis chorar de novo, de medo, nunca tinha visto aquela versão do Parker, apenas no dia do acidente mas nunca mais vi aquele jeito dele.

E teve um dia parecido com aquele, igual até, mas não houve discussão, comemos pizza, nos beijamos e assistimos Cinderela de mil novecentos e cinquenta no Disney+ com dois baldes de pipocas e um batido com duas palinhas. Foi um dia romântico, não um dia catastrófico. E nem cogitamos em fazer sexo naquele dia, facto que eu ainda era virgem.

Quando saí do banho, vi as horas e percebi que já era meio-dia. Me apressei a vestir um vestido azul-escuro curto até a cima dos joelhos e coloquei um casaco jeans mesmo estando uma temperatura meio-quente, mas dava para aguentar e calcei os All Star. Tinha o jogo que o Parker me convidou, e eu queria ir, mas ao mesmo tempo estava com medo de o encontrar.

Era isso que chamavam de trauma?

O meu celular tocou e quando vi o nome da minha amiga atendi e coloquei-o no ouvido, enquanto terminava o meu delineado.

— Oi, Molly. Tudo bem?

— Oi, tudo sim — eu falei, mas logo cocei a garganta e continuei: — Queres saber? Não, eu não estou bem, mas prefiro falar pessoalmente.

— Está bem. Espero que não seja nada grave. Vemo-nos daqui a nada quando eu for passar daí para buscar-te pro jogo. Adeus.

— Adeus — eu disse e encerrei a chamada.

A Stephanie não apareceu em nenhum momento, o que foi estranho, já que conversávamos sempre uma hora ou outra pela manhã, mas não dei muita importância e resolvi comer alguma coisa e tentar me concentrar numa coisa diferente que não fosse aquilo.

Ao chegar a sala, precisamente na sala de jantar, encontrei todo mundo sentado a mesa, prontos a almoçar e Timothee estava num assunto com o Matthew que parecia muito bom pela empolgação do rapaz.

Sentei-me ao lado do Dylan e cumprimentei todo mundo. Servi a comida no meu prato e comi ouvindo o papo de todo o mundo. Enquanto Dylan contava do show de ontem à noite, sobre o Tio George e Timmy falando sobre Harry Potter com Matt.

— Você me parece muito fora daqui, Stephanie — Avó Gretta constatou e eu sorri nervosa, dando um gole demorado de água.

— Estou só pensando na maravilhosa noite de ontem — menti, mas pelo seu sorriso entendi que ela sabia que era mentira.

Continuei a comer, enquanto ouvia o papear dos rapazes e quando eles terminaram, eu quis ter uma conversa com Timmy. Porque de uma forma ou outra, meio que eu fiquei a pensar a noite inteira no que ele falou sobre o Parker e a Morley.

Não precisava de ciência para comprovar que os poucos dias que eu vivi até aquele momento, eram os mais loucos da minha vida toda. E eu estava morta.

— Podemos conversar lá fora? — Perguntei ao Timmy, que estava saindo da cozinha após ajudar o Dylan a lavar a louça.

— Claro — ele respondeu e eu fiz um sinal para que me seguisse.

Timothee me acompanhou até ao gramado verde de frente e nos sentamos nos degraus da escada. O dia estava maravilhoso, não tão quente, mas longe de estar frio. O céu azul estava com nuvens tão fofas como algodão doce e o sol não estava lá tão brilhante.

— Ontem você tocou no assunto do Parker e a Morley. Você sabe se está acontecendo algo entre os dois? — Olhei nos seus olhos e ele sorriu nervoso.

— Stephanie, o Parker e a Morley meio que sempre foram próximos um do outro. Mesmo na época que ele e a Molly namoravam. Eu em particular, sempre senti uma química entre eles.

— Você acha? — A minha voz falhou e ele afirmou com a cabeça.

— Achar é pouco, tenho certeza. Você tinha que ver como eles interagiam, como se comportavam um com o outro. As vezes eu sinto que o Parker só ficou com a Molly por popularidade, se você me entende.

Nunca tinha pensado dessa forma na minha vida, mas para mim, Parker estava longe de ser esse tipo de pessoa. Até porque ficamos populares quando começamos a namorar e ele ainda conversava realmente com a Morley, mas isso não significa que ele apenas me usou.

— Talvez ele e a Molly realmente amavam um ao outro — eu sugeri, mas pude ouvir uma risada fraca do ruivo ao meu lado.

— Uau, acho que você não conhece realmente o Parker. Boa sorte com ele, já percebi o teu interesse nele — Timmy falou e eu arregalei os meus olhos com a sua constatação.

— Eu não estou interessada no Parker. Somos só bons amigos — eu disse ao Timmy, que riu e me bateu com o cotovelo no braço.

— Amigos não olham um para o outro daquela forma.

— Vai a merda, Timothee — resmunguei e ele riu.

— Vá, levante-se, temos que ir ao meu jogo — Timmy disse, puxando os meus braços e eu me levantei.

— E ver a tua derrota? — Alfinetei, erguendo uma sobrancelha e ele mostrou-me a língua.

— Você sabe que está rogando praga ao seu affair também, não é? — Timmy zombou e eu dei um tapa na sua cabeça e ele riu, entrelaçando as nossas mãos.

— Ele não é o meu affair! — reclamei, mas Timothee continuou a rir e entramos dentro de casa.

Eu me sentei no sofá e fiquei rolando as queridas páginas de fofoca no Instagram até os rapazes estarem prontos pro jogo. Timmy disse que ia vestir o seu uniforme na escola, já que mantiam lá mesmo nos vestiários dos jogadores.

Minha amiga, Emy, já havia chegado também e estava a minha espera no seu carro.

Timmy e Dylan foram no Jeep e eu entrei no carro da Emy.

Minha amiga estava vestindo a jaqueta do time e o seu cabelo estava ondulado, o que era estranho, pois aquela versão era a que ela tanto tentava apagar. Os seus pés tinham coturnos e ela vestia uma saia quadriculada preta.

— Como vai, Molly? — Emily questinou, ligando o rádio e a voz da Ariana Grande se fez ouvir no carro.

— Eu estou com medo. Eu tive um pesadelo — contei e minha amiga franziu as sobrancelhas.

— E? — Emy indagou e eu arregalei os olhos.

E? Miúda, foi um pesadelo dos piores! — Contestei e minha amiga assentiu.

— Conte-me tudo então — disse ela, ligando o carro e eu suspirei antes de contar-lhe tudo.

Falei tudo o que aconteceu no sonho e mostrei-lhe as marcas de dedo que me fizeram usar a jaqueta para as ocultar.

— Eu me lembro desse dia. Mas isso não aconteceu assim — Emily disse, parando no semáforo que estava vermelho.

— E é o que mais me assusta. Por que eu tinha que ter um sonho desses? Por que? A memória foi totalmente distorcida, os factos já não os mesmos. Eu estou com o medo do Parker — ergui o meu rosto para conter as lágrimas e minha amiga teve que estacionar perto a uma casa para puder me abraçar.

— Foi só um sonho, Molly. Isso acontece a todo mundo — minha amiga sussurou, passando as mãos nas minhas costas. — Talvez você ficou a pensar tanto no Parker que a tua mente entregou uma resposta negativa a tudo isso. Você sabe muito bem que ele não é desse jeito, não?

Eu abanei a cabeça concordando e me encolhi mais no abraço caloroso da minha amiga.

— Portanto, tens que ficar calma e focares-te no final feliz ou seja lá o que a Stephanie quis dizer com isso, está bem? — Emily me olhou apreensiva e eu concordei com a cabeça, me recompondo. — Isso mesmo, até porque sempre fui eu a ser consolada contigo, miúda. Não conheço ninguém mais forte que você e não será um pesadelo a apagar essa versão tua que eu tenho na mente. Anima-te.

Sorri com aquilo e me recompus totalmente. Minha amiga tinha razão, eu não era muito emotiva, as vezes agia pela emoção, mas sem demonstrar vulnerabilidade. E dessa vez eu estava falhando ao meu propósito.

Ao chegarmos na escola, já dava para sentir a agitação das pessoas. A nossa escola ia jogar contra os Touros de Chicago e tipo, todo mundo estava eufórico porque no ano passado a nossa escola perdeu o campeonato pela mesma equipe e esse seria o confronto dos reis, como o professor de educação física e o treinador diziam sempre nas aulas de educação sexual que sempre virava um debate de futebol.

Fomos rápidos até as bancadas, agora num lugar bem alto para não correr risco de passar a vergonha que tive na abertura do campeonato e nos sentamos na mesma fileira que Gregory e Luke.

Dylan estava ao meu lado direito e no meu lado esquerdo o Gregory. Emy e Luke se beijaram e começaram a conversar sobre assuntos que eu achava chatos: Os novos episódios de um anime qualquer que eu desconhecia. Eu não era uma hater, por favor.

O jogo começou e a emoção de todos estava ao máximo. O jogo estava prestes acabar e só faltava mais um ponto para a nossa escola e como um milagre, Timothee conseguir realizar o último ponto, garantindo passe livre para a próxima fase do campeonato a nossa escola.

Todo mundo foi ao rubro e não sei como acabei abraçando Gregory e gritando palavrões com ele, mas quando me dei conta, eu me retrai e sentei novamente no banco.

Descemos do alto das bancadas e fomos ter com o Timmy que estava a ser muito elogiado e pelos olheiros das universidades eu pude sentir que estavam de olho no próximo Quarterback de um time bem preparado.

— Parabéns, cara — Dylan foi o primeiro a abraçar Timmy que sorria como se não houvesse o amanhã. — Uau, como pode alguém ter tanto talento como você?

— O Dylan tem razão, Timothee, você amassou — Greg comentou com um sorriso no rosto e Timmy acenou com a cabeça em agradecimento.

Por um momento senti o meu semblante mudar e a minha cabeça latejou com muita força quando vi o Parker aproximar-se de nós. Ele estava bonito, bem, Parker sempre estava bonito.

Mas a jaqueta do time estava justa e o deixava sexy e a calça de moletom combinando com as cores da parte de cima caiu-lhe. Só que as imagens do sonho voltaram e eu só quis fugir, eu não ia conseguir falar com ele daquela forma.

— Olá pessoal. Parabéns, Timothee — Parker disse quando chegou perto de nós e olhou atentamente para mim. — Ainda bem quê vieste, Stephanie, foi graças a tua jogada que ganhamos — Parker sorriu para mim e eu forcei um sorriso.

— Eu preciso ir a casa de banho — falei rápido e corri daí até o banheiro da escola.

Atravessei os corredores como se fosse uma louca e quase caí no chão em frente a porta do banheiro, o que arrancou algumas risadas da garota gótica e suas amigas. O que me irritou, porque sempre elas eram as primeiras a rirem-se de mim.

As imagens do sonho voltaram a minha mente, com uma dor de cabeça insuportável. Os meus olhos doíam e só então me sentei no chão, forçando os meus olhos para não visualizar aquela barbaridade. As lágrimas escorriam dos meus olhos sem permissão e eu só queria que aquele pesadelo acabasse.

— Stephanie! Stephanie, abre a porta! — Ouvi Gregory gritar do lado de fora. — Por favor, Stephanie! O que se passa?!

A minha voz parecia estar presa na garganta e não saia por motivo algum. Tentei parar de chorar e controlar a minha respiração com um daqueles exercícios que ensinam no Tik Tok. E olha que estava dando certo.

Me levantei e me olhei no espelho. Eu estava destruída, o rímel borrou-se no meu rosto e batom foi-se embora. Puxei uma toalhita húmida da minha bolsa e limpei todo o resquício de maquiagem e e desprendi o meu cabelo. Lavei o meu rosto e novamente inspirei e expirei três vezes pensando em como ia esconder as minhas olheiras e o vermilhidão nos meus olhos.

Quando abri a porta, encontrei Gregory parado na porta, com os braços cruzados e uma expressão séria. Ele estava vestindo uma calça de costura xadrez preta-cinza e uma camisa branca que estava sendo coberta por uma jaqueta de couro preta.

— Você não está bem e nem adianta me mandar "esquecer" — Greg falou e eu engoli em seco, pensando em como ia mudar de assunto.

— Eu... Não posso falar sobre isso com você, Greg — despejei e ele ficou me encarando apreensivo durante alguns segundos, mas depois assentiu com a cabeça.

— Não irei insistir, mas eu estou mesmo preocupado contigo. Tem coisas que não podemos guardar connosco apenas. Temos que soltar para nos sentirmos soltos — Greg falou, com um breve sorriso e eu abanei a cabeça em afirmação.

— Se um dia eu puder — funguei. — Eu juro que irei contar-te.

Senti Greg envolver-me num abraço e eu me permiti encostar a minha cabeça no seu peito e sentir o seu peito subir e descer. Greg cheirava muito bem, um aroma forte e com leve fragrância de côco.

— Queres passear para relaxar? — Greg questionou e eu murmurei um sim, ainda no seu abraço.

Greg ergueu o meu rosto e beijou a minha testa, o que me deixou um pouco sem jeito e com as bochechas vermelhas.

Ele sorriu e entrelaçou os nossos dedos. Ainda sentia dor de cabeça, mas caminhei com o Greg até fora da escola tentando esquecer qualquer coisa que tinha naquele maldito sonho e graças a Deus não me esbarrei com o Parker Thompson em nenhum momento.

Quando chegamos no parque eu a olhei confusa e ele abriu um sorriso mostrando os seus dentes alinhados e brancos de uma forma que eu nunca tinha visto. Quando diziam que existem dentes bonitos eu não pensei que fosse real, mas após isso, eu tive certeza.

— O que estamos a fazer no parque? — Eu quis saber e Greg rolou os seus olhos.

— Viemos relaxar — ele deu de ombros e me puxou até uma área que tinha placas que avisavam que era proibido entrar.

— Cara, isso está interdito a humanos — eu contestei, e Greg riu, retirando as barreiras que tinham em frente.

— Falaste bem, a humanos. Nós somos especiais demais para nos reduzirmos a espécie humana — eu franzi o cenho com o seu comentário totalmente desnecessário.

O lugar tinha muitas árvores e arbustos vivos. Parecia sómbrio por causa das folhas que cobriam o lugar e por incrível que pareça, vimos alguns esquilos e alguns pássaros sobrevoando pelo local.

— Assim você vai me dizer que este é o teu lugar favorito? — Provoquei e Greg ergueu uma sobrancelha em indignação.

— Desculpa minha senhorita, mas definitivamente não é o meu lugar favorito e por que você perguntou desse jeito? Tem algo contra aos lugares favoritos? — Greg questionou ainda mantendo o sorriso no rosto e eu revirei os olhos, chutando um galho que estava no chão.

— Não, claro que não tenho nada contra. Só que as vezes é pouco monótono isso, sabe. Tipo, o boy leva a miúda para um lugar bonito, aberto e com potencial para um bosque e diz que é um lugar bonito. Principalmente nos romances adolescentes — eu disse.

— Você acha que isso é um romance adolescente?

A sua pergunta me pegou de surpresa, o que me fez engasgar com a minha própria saliva.

— Você está bem?

— Claro que estou — falei, me recompondo. — E claro que eu acho que não estamos num romance adolescente. Até porque não gostamos um do outro e nem nos achamos bonitos e... Argh! O meu foco é outro, não um romance adolescente.

Greg riu e passou o braço ao redor dos meus ombros e eu olhei para ele confusa.

— Bem, para mim não tem problema algum rolar um romance adolescente entre nós, mas pelos vistos sou a última pessoa possível na lista dos crush's da senhora em questão — Greg brincou e eu ri.

— E olha que o cachorro do senhor Rupert está acima de você nessa lista — zombei e Greg riu.

Quando chegamos ao que parecia o fim do local, vimos um lago bonito, com a água limpa e dava para ver alguns peixes nadando. O ar estava fresco e cheirava a a humidade. Provavelmente das últimas chuvas que assolaram a cidade.

— Respondendo a sua primeira questão, Stephanie, aqui não é o meu lugar favorito. Está longe de ser. Foi cá onde eu escrevi a música mais crua e rancorosa do álbum — Greg contou-me e eu olhei curiosa.

— Espera, isso quer dizer que Jogo Suicida não é a mais, sei lá, ex eu quero distância de você e dane-se a sua vida? — O meu sorrisinho balançava nos meus lábios e Greg negou com a cabeça. — Uau, você se lembra dela?

— Claro que lembro. Ainda sei a letra e a melodia, até gravamos o instrumental e tudo, mas decidimos tirá-la da tracklist pois traição já bastava Jogo Suicida e Cartas Para Um Amor Perdido — Greg esclareceu e eu assenti.

— Mas você vai ter que cantar para mim. Agora se for possível — falei-lhe e ele riu, sentando-se na grama e eu o imitei, mas colocando a jaqueta por baixo e eu sentei-me por cima do tecido jeans.

— Nem fudendo. Avança e Me Esqueça me lembra demais a Tiffany. Lembrar dela me faz sentir mal e... Já viste como os peixes nadam bem no lago? — Greg mudou de assunto e eu revirei os olhos carrancuda.

— Cante, Shrek. Olha, eu só quero ouvir a música, não quero que você me conte factos da tua ex. Por favor, Super Ursinho — eu fiz beicinho e Greg assentiu, após soltar um breve suspiro.

— Que essa seja a última vez que você peça para eu cantar essa música — resmungou e tirou o celular do bolso.

Abrindo o gestor de ficheiros, ele entrou numa pasta chamada: Lixão da banda e colocou a reproduzir o primeiro áudio da lista.

— Um, dois, três e...

♪ Você disse que o futuro é incerto
Mas só porque eu te beijei
Era só uma ficada, mas você desenvolveu
Eu não te forcei
Admito que curtimos muito juntos
Mas não me apaixonei
Olha, avança e me esqueça
Estar longe de ti foi melhor do que esperei ♪

Greg soltou mais um suspiro longo e eu pausei o áudio.

— Você não quer ouvir mais? — Ele perguntou confuso, mas eu abanei a cabeça em negação.

— Quero, mais, se isso é verdade, o canalha da história não deveria ser você? — Indaguei e Greg negou com a cabeça.

— Escute até o fim e você perceberá o motivo de tanta raiva.

Ele tirou do pausa o som e continuou a cantar.

Não fomos feitos um para o outro
Acho que te expliquei
Que aos beijos contigo
Eu nunca mais estarei
As borboletas no meu estômago
Eu mesmo matei
Olha, avança e me esqueça
Estar longe de ti foi melhor do que esperei ♪

Greg pausou o som e eu inspirei fundo e ele me olhou esperando alguma reação minha.

— Você descartou a melhor do álbum, meu menino? Aqui você está muito cru! Você está hablando mesmo — Eu contestei. — E meu Deus, essa miúda mesmo fez um estrago, até ao ponto que eu saiba são sempre as pessoas que amamos que matam as nossas borboletas.

— Só para veres que o primeiro amor pode ser tóxico as vezes — Greg comentou. — Deixa-me terminar de uma vez por todas isto.

Novamente clicou no play e a melodia continuou.

Foste tóxica, tu sabes
Mas acompanhei-te nesta dança até tarde
Dei-te amassos, não esperança
E nem prometi levar-te a França
Juravas que eu era do tipo que não cansa
Até eu encontrar-te com o Mike sem calças
Olha, avança e me esqueça
Estar longe de ti foi melhor do que esperei.

Uau — foi tudo o que eu disse. — Essa parte do Mike realmente aconteceu?

— Pior que sim — Gregory afirmou com uma risada fraca. — E o nome do rapaz é mesmo Mike. Talvez você o conheça, estava no último ano, no ano passado e tinha aquela fama de pegador gostosão.

Eu me lembrava do Mike Randy, o rapaz que queria pegar todas as meninas da escola. Eu acho que o que ele mais pegou foi uma doença ou qualquer outra coisa nada boa nisso.

— Mas você também é bonito, não sei o que ela foi procurar lá — soltei e me arrependi quando vi o sorriso do Greg crescer.

— Bonito, é? — Greg questinou, com um sorriso maroto no rosto e eu neguei.

— Foi só para você se sentir bem, porque perto de você até o Shrek chega a ser o próprio Michael B. Jordan — retruquei e ouvi a risada do Greg.

— Eu acho que é só você que pensa dessa forma. As meninas do primeiro ano gostam muito de mim — Greg fez questão de demorar no muito e eu arregalei os olhos.

— Você sabe muito bem como elas podem ser emocionadas e irritantes. É o começo do inferno delas, tipo, literalmente — eu disse, me lembrando que eu fui uma dessas meninas uma vez na vida. — E pelos vistos o senhor se mantém solteiro.

— Você acha mesmo que eu ia namorar alguém que só olha para o meu maxilar bem esculpido, os meus lindos olhos, o meu meu cabelo cacheado e até os ombros e os meus músculos? — Greg fez questão de numerar com os dedos.

— Você as vezes é tão convecido, meu menino.

Ficamos em silêncio alguns minutos depois, até entrar uma mensagem da Emily no meu celular e eu me tocar que eram quase dezanove horas.

Emy: Onde você está maluca?!!!!! Não te encontro em nenhum lugar da escola!!!!

Eu: Com o Greg, mas já estamos a caminho de lá!!!

— Temos que voltar para a escola — falei, me levantando do chão e ele fez o mesmo.

Percorremos o mesmo percurso e ao chegar a escola, encontramos os nossos amigos juntos e o Parker estava com eles. Pelos vistos, eu não teria como fugir dele.

Ao sentir o meu nervosismo, Greg envolveu o seu braço direito na minha cintura e me aproximou dele.

— Prontos para a festa na minha casa? — Parker perguntou animado e eu olhei para a minha amiga que também estava agitada e pela sua expressão facial dava para sentir que ela queria ir.

— Eu não estou afim de ir. Vou voltar para casa, com o Gregory — eu disse e pude sentir o olhar do cacheado até mim.

— Mas, Stephanie... — Emy tentou falar, mas eu a impedi.

— Não, Emily. Eu prefiro ficar em casa e quero descansar mesmo — falei e eles assentiram. — Vamos, Greg? — Olhei pra cima e ele concordou com a cabeça.

— Vemo-nos amanhã, pessoal — Greg disse acenando para cada membro da banda e todos retribuíram o gesto.

Caminhamos até o carro da Andrea, o mesmo que ele conduziu para me deixar em casa no dia que era suposto nós os dois compor uma canção. O ar gelado do ar-condicionado atingiu o meu corpo quando ele ligou o carro e eu me encostei no banco.

— Você e o Parker não têm se dado bem? — Gregory perguntou depois de alguns minutos de silêncio.

Olhei para o seu rosto que não transmitia nenhuma emoção.

— É... É complicado de se dizer, mas eu não me sinto bem na presença dele. É só isso — Expliquei e Greg me olhou de relance.

— Ontem, durante o concerto vocês os dois estavam muito próximos. Como que as coisas podem mudar de uma hora para outra?

— Eu não sei, Greg. Também estou tentando entender.

Notas do Sérgio:

Olá pessoal! Tudo bem?
E aí? Gostando de Trinta Dias Para Amar Você?
Já que estamos na outra fase né, na segunda dezena da história, eu queria saber o que está achando e o que poderá acontecer futuramente. E a composição? Eu amei compor essa música, é muito divertida e espero que tenham gostado. Concordam por ter sido tirada do álbum? Bem, me respondam e me alegrem com o vosso voto.

Vemo-nos no próximo capítulo 💗

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