Dia 05 • Bolo de chocolate

A TEMPESTADE AINDA ASSOLAVA A CIDADE e castigava os tetos e janelas com a intensidade que caia do céu. Depois de falar com a Stephanie, eu dormi e acordei pelas três da manhã pensando em como ia falar com o Matthew e tentar fazê-lo não contar a ninguém.

Mil coisas passaram pela minha mente, mas as dispensei, pois algumas não faziam sentido.

Tomei um banho quente demorado, na tentativa de relaxar e pensar noutra coisa, por exemplo, na terceira atividade do calendário que era: Visitar o Parker e tentar fortalecer a ligação.

A única ligação que eu tinha com ele até aquele momento era da menina da bolada, e só de pensar nisso sentia um nó na garganta.

Eu desci as escadas até a sala e sentei-me a mesa para tomar o pequeno-almoço. Todos estavam sentados a mesa e o Greg já não estava mais na casa.

— Bom dia — eu disse amargamente, evitando o olhar do Matthew que estava sobre mim.

— Oi, Steph. Nem cheguei a perguntar ontem, mas como foi o ensaio noturno da banda? — A Sra. Walker perguntou e eu olhei para ela confusa.

— Ensaio noturno? — Indaguei.

Dylan pisou o meu pé e eu o fuzilei com o meu olhar.

— Foi bom demais, ela divertiu-se imenso na sexta a noite, não é, Steph? — Dylan sorriu para mim nervoso.

E só então percebi que aquela poderia ser a desculpa inventada que nos salvou na manhã do sábado.

— Foi sim… Muito divertido — eu falei e levei uma chávena de café até os meus lábios.

— Você está bem, Stephanie? — Matthew perguntou e eu cuspi o café que estava na minha boca por susto.

O Mason ficou com a camisa branca manchada e levantou-se carrancudo da mesa.

— Me desculpa, Mason! — Gritei para o mesmo que subia as escadas furioso.

— Você realmente está bem, Steph? — A avó Gretta quis saber e eu abri o maior sorriso de todos.

— Por que eu não estaria? — Mordisquei o meu lábio inferior e levantei-me da mesa. — Matthew me acompanhe até ao meu quarto, por favor — eu pedi.

Subi as escadas até ao meu quarto e Matthew me acompanhou. Eu tranquei a porta e mandei-o sentar na cama e eu sentei-me na cadeira da penteadeira.

— Matthew, por favor, não conte a ninguém sobre isso. Eu faço tudo que você quiser…

— Ninguém compra o meu silêncio. E Molly, você, cá entre nós, é muito melhor do que a Steph no quesito irmã mais velha. E melhor que o Dylan até, mesmo que ele seja o mais velho — Matthew levantou-se da cama, com um sorriso nos lábios. — Eu não contarei a ninguém quem você é.

Eu não me aguentei e o abracei de felicidade.

— Obrigada, Matthew, você não imagina o quão feliz estou.

Ele soltou-se do abraço e saiu do quarto.

Matthew silenciado, então tinha que voltar a pensar no calendário já que tinha perdido um dia por causa da tempestade, e poderia somar com esse por causa do tempo.

Peguei o celular e liguei por Face Time para a Emily.

Ela atendeu o celular no tripe, enquanto ela procurava algo no quarto.

— Oi, Molly! Tá tudo bem? — Emy gritou, caçando sabe-se sei lá o que era no guarda-roupas.

— Tudo e você? — Eu perguntei. Ela olhou para mim e só assim notei o quão bonita ela estava.

Estava vestindo um cropped preto e uma saia curta de pregas preta com detalhes dourado. Um casaco da mesma um pouco grande com os mesmos detalhes da saia. Nos seus pés umas botas compridas escuras até os joelhos com uma plataforma enorme nas solas e meias compridas do mesmo tom até acima dos joelhos.

— Para onde você vai assim tão bonita?

— Eu vou para um compromisso simples, nada de importante.

— Emily nós não temos segredos uma com a outra. Onde você vai?

— Eu vou a cerimônia de… Um ano do seu funeral, Molly — Emily deixou o gloss na sua penteadeira e voltou a me encarar.

— Já faz um ano, né… Eu… Quero ir com você, Emily. Passe daqui quando…

— Você não vai a lugar nenhum, miúda. Isso pode causar gatilhos na sua mente.

— Eu estou morta, não existe maior gatilho do que este na minha vida — Emily revirou os seus olhos.

— Está bem, Molly. Passarei dai quando eu estiver de saída. Prepara-te, beijos e até mais logo.

Emily desligou e eu lancei o celular na cama.

Abri o guarda-roupa e procurei as melhores roupas possíveis. Só que a situação era estranha, eu estaria presente no meu próprio funeral…

Um ano depois, mas mesmo assim veria as pessoas derramarem lagrimas – umas até bem falsas – enquanto escutam as mensagens de condolências.

Chacoalhei a cabeça e vesti um vestido preto de alças finas justo e calcei mocassins pretos que Emily me deu de presente. Me olhei no espelho e me visualizei com o meu corpo e o meu rosto vestindo aquelas roupas. O meu rosto ficou marcado por duas lagrimas que escorreram dos meus olhos.

Não fiz nada com o cabelo, apenas o deixei solto e coloquei óculos escuros para esconder o mar que se formava em meus olhos.

— Aonde você vai, Molly? — Stephanie perguntou.

— Vou ver se ainda sou corajosa e forte como antes — peguei o celular na cama, saí do quarto e desci as escadas até o rés-do-chão.

Ouvi risadas na sala e fui até a entrada da mesma. Me encostei na porta e vi Dylan jogando videogame com os seus irmãos na TV e a avó Gretta com um exemplar de Orgulho e Preconceito.

— Pra onde você vai assim de preto, Steph? — A senhora Walker quis saber, entrando na sala com uma bandeja repleta de doces e bolos frescos.

— Hum…Eu vou ao funeral de uma amiga da escola. Molly Mackenzie é o nome dela — eu respondi.

Ela deixou a bandeja na mesa de centro e me encarou. Depois de algum ela sorriu para mim, mas rapidamente desmanchou o seu sorriso.

— A menina do baile de finalistas… Oh meu Deus, eu não sabia que ela era a tua amiga.

Eu dei de ombros, pois ela não era a minha amiga. Era eu mesma.

— Diga aos pais dela que eu sinto muito. Ela era muito novinha. Tome cuidado, Steph, viste como a vida lhe foi curta, não é? Cuide-se minha filha.

Eu assenti e saí às pressas da casa.

Sentei-me no último degrau e suspirei tão alto que umas crianças que estavam pedalando me encararam com caretas nos seus rostos.

Emily me mandou uma mensagem avisando que estava chegando e acabei entrando no Instagram.

Entrei no meu perfil, os seguidores aumentaram, antes eu tinha mais de duzentos mil, mas naquele momento já havia ultrapassado os quinhentos mil, e o ultimo post era uma foto minha no dia do baile em preto branco. Já havia ultrapassado as setecentas mil curtidas e os comentários eram imenso.

A nova estrela que o céu acomodou na sua infinidade. Brilhe sempre como um diamante.

Descanse em paz, Molly Mackenzie.

Fechei a tela do celular e voltei a olhar para as crianças que brincavam alegres na rua. Aproveitando todo o mísero tempo de vida que as restavam. Muitas vezes pensamos que a vida é eterna e que a morte é apenas um dilema, mas nunca sabemos como aproveitar melhor cada segundo que nos resta.

Emily estacionou o carro rosa-choque dela em frente a casa da Stephanie e baixou o vidro.

Eu me levantei das escadas e caminhei até a porta ao lado da sua e entrei no carro.

— Você não me parece bem, Molly. Se você quiser, podemos ir a outro lugar melhor — Emily sugeriu, mas eu abanei a cabeça negativamente.

— Além de ir ao funeral, eu ia querer fazer mais um item do calendário, e bem, indo lá eu creio que conseguirei. O Parker de certeza estará lá.

— Você tem razão. O pai do Parker estava lá ontem quando eu fui visitar a tua mãe. Ele parece sentir mais dor que o próprio filho.

— O pai do Parker é um ótimo senhor — tive que admitir.

Emily cruzou a rua e estacionou na minha casa, a mansão dos Mackenzie. Não estava diferente do dia em que eu sai e nunca mais voltei…

A casa ainda era a construção enorme de dois andares, que ocuparia toda a rua da casa da Stephanie. As paredes envidraçadas e brancas, com uma ótima vista para o mar do outro lado da casa.

Descemos do carro e Emily trancou as portas.

Os enormes portões abriram-se entramos no meu antigo lar. O jardim ainda estava com flores magníficas e cheirava sempre a limão e rosas (como as flores que vendiam nas floriculturas).

No fundo do jardim, em frente a fonte chique com a estatueta de um anjo jorrando água da sua flecha, tinha varias cadeiras enormes brancas. O espaço estava ornamentado com flores brancas e algumas artificialmente pretas.

Tinha um enorme palco montado, com um telão que rolava vários vídeos e fotos minhas, e no canto direito, uma orquestra tocava músicas clássicas – e eu nem gostava de Beethoven ou Mozart – e algumas pessoas já estavam aos prantos.

Não estava cheio, dava para reconhecer alguns tios e primos, mas o resto não era do meu convívio. Os meus amigos não estavam, com exceção da Emily, e do Parker que estava na fila de frente ao lado do seu pai.

Parker tentava não olhar para a tela, mas o seu pai estava mais atento do que todos nas imagens que mostravam.

— Molly, então, estás bem? — Emily perguntou-me.

Tentei sorrir — mas é claro que sim! — Menti.

Não queria fazê-la arrepender-se e nem queria arrepender-me de ir até lá.

Nos sentamos em frente, no lado direito, uma ao lado da outra. Enquanto ainda tocavam a sonata tempest do Beethoven, eu estava vidrada no Parker. O seu semblante estava indecifrável, não havia resquícios de dor e nem de alegria, era como se fosse uma folha limpa, sem marcas de dedo ou rabiscos.

Mas ele não era assim, e isso me fazia pensar que talvez ele tivesse carregado um trauma enorme ao ver-me morta e ensanguentada após o acidente.

— Bom dia a todos — minha mãe disse ao microfone que estava no centro do palco. — Muito obrigada pela presença de todos aqui… Er — ela deu uma pausa, a sua voz embaçada de dor. — A Molly era muito especial para mim. Quando ela nasceu, eu senti que finalmente eu tinha achado a minha melhor amiga. Ela era totalmente igual a mim e as vezes se esforçava demais para ser igual a mim. Lembro-me da primeira vez que ela me apresentou um dos seus desenhos e meu Deus, aquilo era muito conceito — sorri. — Com apenas oito anos, ela havia se revelado uma designer fantástica. Ela era muito preciosa, mas não era delicada — riu fraca. — Ela era forte e decidida, ninguém lhe contrariava, ninguém a humilhava e se caso isso acontecesse, ela revidava de uma forma que só ela sabia fazer.

Minha mãe afastou-se do microfone e suspirou, limpando algumas lágrimas. Meu pai subiu ao palco e abraçou-a.
Ele acarinhava a cabeça dela, olhando pro alto, enquanto que ela molhava a sua camisa branca de tanto chorar.

— Hum… Bom dia novamente a todos — meu pai cumprimentou-nos. —Bem, dando continuidade, a MACKENZIE irá lançar uma coleção de verão toda ela inspirada nos modelitos da minha filha Molly, em sua homenagem. Obrigado.

Os meus pais desceram do palco e sentaram-se do lado da Emily. Eu não consegui não chorar, finalmente iam lançar uma coleção toda ela sobre os meus desenhos.

Encarei os meus pais, que estavam com rosto destruído, mesmo que fosse apenas a minha mãe que estava chorando, o meu pai esforçava-se ao máximo para não derramar lagrimas.

Eles estavam diferentes. A minha mãe agora tinha um corte Chanel como o da Emily, o que lhe deixava mais bonita e dava destaque aos seus olhos amendoados azul-escuro. Já o meu pai deixara a barba crescer e alguns fios brancos salpicavam a cascata negra de cabelo que ele tinha.

Um padre subiu ao palco e dirigiu a missa toda, mesmo que eu estivesse atordoada com aquilo tudo, eu queria ver como acabaria, eu queria estar lá e ver o quanto as pessoas se importavam comigo depois da minha morte. Seria isso um privilégio? Puder estar no seu próprio funeral e chorar mais do que todos?

Eu e Emily fomos até ao jardim para refrescar as ideias. O que nem foi lá tão assim, já que aquele mar de rosas e lírios me traziam uma descarga de lembranças e deja vu bem mais que interessante.

No mesmo verão do início do ensino medio, chegara o dia do meu aniversário de quinze anos e eu estava mega ansiosa pois tinha chamado quase toda a malta popular que dizia serem meus amigos.

Passei várias noites na sala enorme branca com móveis rústicos da minha casa com a minha mãe olhando os variados catálogos de ideias de aniversário. Mesmo com a existência do maravilhoso e prático Pinterest, minha mãe queria algo a moda antiga.

O vestido foi costurado e bordado todo a mão, por uma estilista profissional, que era amiga da mãe. Era enorme, parecia de uma noiva com uma cauda que se alguém pisasse na China, eu só tropeçaria em Moçambique.

A parte de cima era tomara-que-caia com varias borboletas rosa-choques feitas a mão costuradas no tecido rosa-bebé. A saia nem preciso destacar tanto, pois da pra imaginar o quão aberta e longa era ela, com borboletas bordadas nos acabamentos e varias joias ao longo dos vincos.

Todas as meninas pediam aos crush’s, os seus amados e queridos rapazes que elas tanto sonhavam em namorar para ser o seu príncipe. Eu não amava-o ainda, mas de tanto flertarmos na sala de aula, no ginásio e até nas festas em que frequentávamos, eu queria que o meu par fosse o Parker Thompson.

Segundo os sites de namoro, as meninas mandavam cartas escritas a mão, numa folha castanho-café com um textão enorme, enumerando as qualidades do rapaz e usando o seu melhor perfume para dar o seu charme antes de entregá-la ao rapaz dos sonhos. Mas eu não fiz isso, mandei-lhe um torpedo no Instagram — mas não digo que não cheguei a escrever a carta — e ele aceitou o meu convite de imediato.

Em menos de dois dias já ensaiávamos juntos para a valsa de debutante e tenho que contar um segredo para quem ainda vai fazer a sua festa, meu Deus, aquilo era deveras doloroso e esgotante. Eu pratiquei ballet quando criança e era sim mais doloroso que valsa, só que para alguém que estava sedentária em longos três anos, dançar não era tão prazeroso.

Parker fazia aquilo parecer engraçado, misturava os passos com alguns de Hip-Hop bem desajeitados que me deixava vermelha de tão rir.
Dois dias antes da festa, Parker trouxe um bolo de chocolate e dois sumos em caixinhas de limão para lancharmos, só que havia um problema: a estilista tinha me proibido de ingerir qualquer que fosse a guloseima gordurenta na minha boca, pois eu poderia não caber no vestido.

-— Um pedaço de bolo de chocolate não matará ninguém — foi a sua justificativa.

Então, naquele final de tarde, estávamos sentados nesse mesmo jardim, comendo o bolo e rindo das piadas secas e algumas até sem graça que Parker esforçava-se a contar para mim. Ai tive certeza que começara a sentir algo por ele.

Abri os meus olhos após a lufada de lembranças miúdas da minha vida. Quando olhei para trás de mim, dei de caras com um Gregory bonito vestindo um terno preto um pouco justo nele e os fios de cabelos bem colados a cabeça como se fosse o casamento dele. Mas o que ele estava fazendo ai?

— Oi Stephanie — ele sorriu para mim.

— O que você está fazendo aqui? _ Saiu de uma forma seca que até me surpreendi.

— Eu estou com o Luke. A Emily o chamou para fazer-lhe companhia e ele chamou-me. E você, o que está fazendo aqui?

— A Molly era uma amiga minha — esforcei-me para falar isto.

— Cada vez mais você me surpreende, Steph.

— Como assim surpreendo-te? — Olhei-o confusa.

Gregory deu de ombros, e deu as costas para mim.

— Você não tinha amigas, além da Eliana e agora dizes que a Molly era tua amiga — Greg riu forçadamente. — Eu não percebo-te.

— E não é para perceberes — rebati nervosa.

Gregory foi-se embora e eu continuei ai parada, ainda absorta com as minhas lembranças e com a mini-conversa que tive com o Gregory.

As coisas com ele eram estranhas. Num dia sorriamos um para o outro e descobríamos que tínhamos algo em comum e noutro nos respondíamos com acidez.

Emily entrou no jardim um tempo depois acompanhada do Luke e vieram até onde eu estava.

— Vamos ajudar a Sra. Mackenzie com o buffet, se você quiser pode ir conosco —  minha amiga disse e eu assenti.

— Claro que quero.

A mansão Mackenzie era enorme e a cozinha era um dos lugares mais bonitos da enorme construção. O chão repleto de mosaico xadrez branco e cinza-claro, a parede preenchida com a mesma combinação. Um balcão enorme de mármore cinza-escuro, onde se encontrava alguns eletrodomésticos e o fogão enorme de balcão.

Um lustre chique estava preso ao teto com uma iluminação muito forte e bonita de vários tons de dourado.

— Podes ajudar-me com algumas coisas lá no andar de cima? — Minha mãe perguntou-me na cozinha, depois de termos ajudado a equipe de garçom.

— Sim, posso –—respondi prontamente.

Subimos as longas escadas com uma faixa de vidro como proteção até ao meu quarto e a minha mãe entrou primeiro no cómodo e depois eu entrei.

As paredes ainda eram roxas, com os posters da Olivia Rodrigo e do Conan Gray, a minha cama enorme no centro do comodo, enorme e ainda com os mesmos lençóis do dia em que aconteceu o acidente. Senti uma pontada de dor no peito e suspirei muitas vezes para conter as minhas lagrimas.

— Eu tenho tantas saudades dela — minha mãe choramingou, levando a moldura do criado-mudo que tinha uma foto de nós duas na minha festa de quinze anos. — Eu queria que ela fosse embora depois de ter certeza absoluta que eu a amo com todas minhas forças.

— A senhora é muito simpática, Sra. Mackenzie. Tenho certeza que ela foi-se embora sabendo do seu amor por ela — minha voz falhou.

— Você que é simpática, Stephanie. Nós amamos muito a Molly, mas acho que cometemos alguns erros com ela nos últimos dias da sua vida. Ela queria ser uma estilista conceituosa, você tinha que ver como ela falava animadamente sobre as suas criações — minha mãe sorriu. — Molly trazia alegria para essa casa.

Ela voltou a chorar e eu a abracei, deixando algumas lágrimas rolarem dos meus olhos. Eu também a amava com todas as forças que me restavam.

— Muito obrigada por vires hoje, Stephanie.

Minha mãe acariciou a minha bochecha direita e isso me fez visualizar-me com seis anos de idade, quando ela sempre fazia o mesmo gesto antes de eu dormir.

Meu celular vibrou na bolsa e quando li a mensagem, me despedi apressadamente da minha mãe e sai do quarto a todo vapor.

S.O.S: O Parker está prestes a ir embora!!!

E eu nem tinha concluído a missão do calendário que era tentar criar uma ligação emotiva com ele.

Quando cheguei novamente ao jardim, encontrei o Parker olhando intensamente par o pequeno lago que tinha no centro (os meus pais exageraram sim) e parecia não se importar com as coisas a sua volta.

— Você está bem? — Perguntei, parando ao lado dele.

O sol já estava a se por e o céu parecia uma pintura cinza com vários feixes de luz laranja tentando quebrar a barreira que existia.

Parker olhou para mim assustado e forçou um sorriso, chutando uma pedrinha pro lago.

— Ela era a minha namorada… — Suspirou alto. — Sabe quando nós nos arrependemos de ter feito uma coisa muito pesada? — Eu assenti com a cabeça. — Isso é muito pouco comparando com o que eu sinto. Molly era cheia de vida e… e eu tirei-lhe a melhor coisa que ela tinha — Ele enrijeceu o seu rosto e catou uma outra pedra no chão, atirando-a ao lago com mais força.

— Mas foi um acidente, você não sabia do mal que vos esperava — eu disse, tocando o seu ombro direito com os meus dedos trémulos.

— Você não estava lá pra saber, miúda da bolada! — Parker exaltou-se, atraindo a atenção de algumas pessoas. — Você não acordou de um desmaio e viu a tua namorada toda ensanguentada, as tuas pernas sem reação e ferimentos que nem doíam, pois a maior dor estava no seu peito, no nervosismo, querendo saber o que aconteceu com ela e se aqueles gritos antes do camião bater seriam as suas últimas falas.

Parker deu me as costas e estava para ir embora, mas eu o chamei.

— Parker, eu sei como dói! — Gritei o suficiente para apenas ele me escutar. Porque eu sou a Molly quis gritar, mas cocei a garganta e disse: — Você pode pensar que eu não sei como é, mas dói que eu sei.

Ele deu de ombros e foi-se embora. Eu também queria ir me embora.

Procurei a Emily e a encontrei aos beijos na área da piscina com o Luke. Desde quando a Emily ficou assim?

— Vamos embora — eu disse para ela, que me olhou assustada e se recompôs.

Ajustou a saia no lugar — não estavam fazendo o que pensaste mente poluída —, e Luke a sua gravata borboleta preta que estava se destacando na camisa de mangas compridas branca.

— O que aconteceu, Molly? — Emily perguntou-me, acompanhando-me até aos enormes portões da casa.

— Nada, Emily — resmunguei, dando passos firmes e demorados.

As pessoas me olhavam com caras de desprezo, outras nem notaram a minha presença e outras estapafúrdias qualquer que se formavam nos seus rostos. Mas eu estava nem ai, só queria chegar na casa da Stephanie, trancar a porta do quarto e gritar com todas as forças tudo o que estava dentro de mim.

—  Deixa-me pelo menos despedir-me da tua mã… da senhora Mackenzie _ corrigiu-se ao notar a presença do Luke ao nosso lado.

— Nem pensar, você vai mandar uma mensagem de texto, de vídeo ou um áudio. O que tu quiseres, mas eu já não quero ficar aqui — eu disse para ela.

Saímos da mansão e eu segui o caminho até o carro da Emily. Ela e o Luke se abraçaram e beijaram-se novamente, antes do moreno subir na sua moto e ir embora tão rápido quanto o flash.

— Agora vais dizer-me o que se passa? — Emily perguntou-me quando estávamos dentro do seu carro.

— Eu… acho que não irei conseguir criar uma conexão com o Parker. — Olhei de relance para a azulinha a meu lado, que conduzia com o semblante sério. — E se eu não conseguir, Emy?

— Molly nem penses em desistir. Primeiro ponto, ele sofreu uma perda considerável há pouco tempo e outro, você queria reconquistar ele em cinco dias? Isso não é uma novela de fast burn onde as coisas acontecem rápido. A tua cupido disse para arranjares um final feliz com o rapaz da tua vida, e ele é o Parker, pois? — Emy olhou para mim e um nó formou-se na minha garganta. — Porque se não for ele, quem será o rapaz da tua vida?

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