2018

Conheci o Caio no primeiro dia de aula do ensino médio. Eu estava confusa e literalmente perdida, então ele apareceu como um anjo e me ajudou a encontrar a minha sala, que por acaso era a mesma que a dele. Ele se sentou na carteira ao lado da minha, mas não falamos um "A" até eu tirar meu caderno do One Direction da mochila e colocar na mesa.

Me lembro como se fosse ontem, seus olhos castanhos se arregalando e me encarando e depois dividido entre eu e meu caderno. Ele ficou chocado e disse de imediato que era super fã da banda.

Foi ali que ele virou meu melhor amigo.

Quando ele ainda se vestia com roupas largas na maioria das vezes e tinha começado a usar baider para esconder os seios. Quando ele ainda tinha a voz fina e se incomodava constantemente, a ponto de às vezes tentar engrossá-la.

Também me lembro da nossa formatura, no terceiro ano, quando ainda não sabíamos direito o que fazer, apesar de termos nos inscrito em todos os vestibulares possíveis. A escola liberou metade de um copo de plástico com champanhe para cada formando e convidado, mas a gente já tinha bebido mais cedo, enquanto nos arrumavamos na minha casa.

Estávamos alegres por conta da bebida e eufóricos para o novo ano, para o próximo passo das nossas vidas. Eu ainda sofria uma leve desilusão amorosa, então quando ele se virou para mim, que tinha comentado que queria ligar para meu ex, e me segurou pelos ombros com determinação, eu me assustei.

- Me prometa que não vai fazer essa besteira - ele pediu olhando no fundo dos meus olhos. Ele estava muito sério. Ele não era tão sério assim, só quando era necessário como a prova final ou o Enem.

- Mas eu ainda gosto dele... - Resmunguei.

Na época ele já tinha certeza de seu nome há um tempo. Sua família estava ciente e o apoiava, mesmo depois de várias discussões. Só faltava retificar e oficializar em sua identidade.

- Mas ele não gosta de você, Giselle! - Caio continuava com os olhos castanhos grudados em mim, ignorando todos em volta.
Já eu focava em qualquer outro canto, tentando evitar seu olhar cortante.

- Ele gosta do fato de você gostar dele e ficar correndo atrás como uma cachorrinha - completou, o que fez meu coração dar um salto.

Era verdade. Puramente e totalmente verdade. Caio nunca mentia, pelo menos não para mim, e ouvir essa verdade vindo dele doeu. Apesar de tudo, doeu demais.

- Mas e se ele mudar...

- Não! - Ele me sacudiu, o que me fez o encarar com a testa franzida. - Ele não vai mudar e ele não vai te amar, não da maneira como você merece. Nem da maneira como eu te amo.

Meu coração vacilou nesse momento e eu engoli em seco. Precisava de ar, de água ou, na pior das hipóteses, de um vaso para vomitar toda a bebida e os três cachorros quentes que estavam borbulhando no meu estômago.

No fundo eu sabia que esse "eu te amo" era diferente de todos os que já me disse, mas eu resolvi ignorar. Eu o abracei apertado e prometi não ligar para meu ex que tentava um relacionamento ioiô comigo desde o meio do ano.

E foi então que eu tive a ideia. Dei um passo para trás e o encarei profundamente, assim como tinha feito comigo minutos atrás.

- Você sabe que eu sou azarada com esse negócio de amor e, apesar de acreditar em almas gêmeas, eu sei que vou ficar para titia.

Ele balançou a cabeça, fazendo seus cachos, que na época eram azul bebê, balançarem em cima de seus ombros. Ele abriu a boca para argumentar, mas eu não deixei, continuando a explicação.

- Caio, você sabe que eu te amo também e que da mesma forma que, eu sei, você é a única pessoa no mundo que me trataria como uma rainha, eu também te trataria como um rei, se ficássemos juntos. Porque como amigos já nos tratamos como príncipe e princesa.

- Aonde você quer chegar, Giselle?

- Calma! - bati o pé como um bebê, o que o calou o bastante para me deixar terminar. - Então, já que nos amamos, porque não nos casamos? Não agora, mas no futuro, caso a gente não encontre nossas almas gêmeas. - Vi algo passar por seu olhar que não identifiquei na época, mas que logo passou e deu lugar a uma testa franzida de confusão. Tentei explicar melhor: - Se a gente não encontrar nossos pares, os amores de nossas vidas, a metade da laranja, nossas almas gêmeas... Você se casa comigo?

Eu realmente achei que ele discordaria ou faria um discurso, principalmente porque ele era contra clichês e esse em especial era um dos melhores, ou piores pelo ponto de vista de Caio. Melhores amigos prometerem se casar no futuro... Não estamos em De Repente Trinta, era o que eu pensava que ele ia falar.

Mas o que ele disse foi apenas:

- Quando?

Meu coração deu outro salto, mas eu pensei que fosse por conta da batida da música. Sorri, feliz por ele aceitar sem discordar. Realmente foi fácil demais para os parâmetros da nossa amizade.

- Quando fizermos trinta. Se até lá não encontrarmos ninguém, nós nos casamos. Vamos ter os quatro filhos que você sempre quis, um cachorro e um gato também. Vamos morar perto da praia, como eu sempre quis, e viajar aos finais de semana com a família. Vamos realizar nossos sonhos juntos, porque não é justo perdermos isso sendo que temos um ao outro.

Aquele olhar esquisito passou novamente por seu rosto, mas quando ele sorriu e a covinha em sua bochecha direita apareceu, meu coração se aqueceu e, naquele momento, eu tive certeza que tudo ficaria bem. Que qualquer coisa poderia acontecer, poderíamos parar cada um de um lado do globo, mas no fim ficaríamos juntos para sempre e felizes. Principalmente felizes.

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