4 - As três filhas à casa tornam

Yo recuerdo una casa de he dejado.

Ahora está vacía.

Las cortinas se mecen con el viento,

golpean las maderas tercamente

contra los muros viejos.

En el jardín, donde la hierba empieza

a derramar su imperio,

en las salas de muebles enfundados,

en espejos desiertos

camina, se desliza la soledad calzada

de silencioso y blando terciopelo.

Aquí donde su pie marca la huella,

en este corredor profundo y apagado

crecía una muchacha, levantaba

su cuerpo de ciprés esbelto y triste.

(A su espalda crecían sus dos trenzas

igual que dos gemelos ángeles de la guarda.

Sus manos nuca hicieron otra cosa

más que cerrar ventanas.)

Adolescencia gris con vocación de sombra,

con destino de muerte:

las escaleras duermen, se derrumba

la casa que no supo detenerte.

La casa vacía – Rosario Castellanos


23 de março, segunda-feira

Luiza e Fernanda se encontraram na porta do bloco da Letras às 7:30 da manhã da segunda-feira. Não tinham se falado muito no final de semana — porque Luiza estava processando seu bloqueio criativo que tirou sua inspiração na mesma velocidade que a recebeu e Fernanda não teve paz para processar o que sentiu ao entrar outra vez na casa da avó materna. Sua avó paterna a infernizou todos os segundos em que esteve presente por ela ter chegado em casa tão tarde na sexta-feira. Mesmo assim, as duas já tinham combinado de tentar tomar café juntas às segundas-feiras, já que nesse dia Luiza dava algumas aulas em uma escola próxima dali, nos últimos horários, e podia passar ali no começo da manhã.

— Como passou? — Fernanda perguntou antes que Luiza perguntasse. Era algo que ela não queria responder.

— Não muito bem. Dormi mal as duas noites e ainda caí no bloqueio outra vez. Só consegui mesmo aquilo que escrevi lá dentro da casa. Acredita que eu anotei o começo de uma ideia, minha mãe me chamou, quando voltei não sabia mais o que tava escrevendo?

— Quer ir lá outra vez, mais cedo dessa vez, olhar mais? Já ouvi meu pai dizer que tem coisas nos armários, fotos, documentos. Pode ser que coisas velhas que te inspirem.

— Mas... Cê tá bem com isso? Não pareceu bem na sexta à noite, nem agora falando disso. Sua voz muda, sabe?

Fernanda sentiu algo no peito com aquela percepção de Luiza, mas o que sentia ao falar da casa e do que sentiu na sexta-feira era um pouco maior. Precisava processar uma sensação de cada vez. Se concentrou apenas em ajudar a nova amiga.

— Ah. Acho que sim. Tá tranquilo — tentou transmitir o máximo de firmeza.

Luiza confiou, mesmo que a tentativa da outra em transmitir certeza fora em vão, então as duas combinaram de ir outra vez até a casa velha depois do almoço, naquele mesmo dia.


-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-


A aula passou correndo, o almoço pareceu nem acontecer para Fernanda — ela sequer comeu, sua cabeça rodava em pensamentos demais. Ela tinha uma decisão a tomar e simplesmente não conseguia pensar muito nela. Sua cabeça ia de sentir que não queria voltar, mas sem saber por que não queria, para o querer voltar lá para se conectar outra vez com a mãe. A decisão veio mesmo de súbito quando se encontrou com Luiza no ponto de ônibus. Entregou as chaves à amiga e saiu antes que perguntas pudessem ser feitas.

Ainda que quisesse saber o que estava acontecendo e como Fernanda estava, Luiza não foi atrás nem mandou mensagem por enquanto. Deu um espaço à outra. Mandaria algo depois. Então, foi para a casa velha sozinha. Ficou nervosa ao se imaginar explorando a casa sozinha, como no seu sonho. Sabia que não veria suas ideias materializadas ali, encarando-a e jogando sua incapacidade em ser escritora na sua cara. Mas, ao menos, era dia e a casa estaria mais iluminada que na visita anterior.

Logo ao entrar sentiu a mesma sensação da outra vez, uma onda de ideias, como imagens clara, como se fossem lembranças de um filme, algo que nunca tinha sentido na vida. Às vezes elas pareciam claras como um filme. Se esqueceu completamente dos sonhos estranhos, da sensação de fracasso. Foi direto aos quartos, criou personagens. Desceu para a sala de estar, abriu a cortina, tirou o pano de um dos sofás, se sentou. Observou ao redor. Escreveu. Criou histórias. Sentiu que ali as coisas fluíam de uma forma até estranha, mas ela estava gostando. Se pudesse, voltaria ali sempre. O lugar só precisava de uma limpeza.

Horas se passaram.

Ela foi tirada de dentro de seu caderno pelo celular vibrando. Julieta chamava no grupo que fizeram para as três.


Julieta

oi gente podemos nos reunir hoje de novo?


Luiza

Acho que a Fer não vem, mas eu tô aqui na casa escrevendo. Trouxe lanche. Se quiser vir...


Julieta

oks


Cerca de uma hora depois Julieta chegou.

— Cê veio sozinha? — Perguntou assim que Luiza abriu o portão para ela.

— Sim. Ela me entregou as chaves, não quis vir.

— Será que é algo sobre a avó ou a mãe dela, ou o que a gente sentiu aquele dia? — Tocou nos assuntos pela primeira vez.

— Algo assim, eu acho. De manhã ela disse que vinha comigo, mas depois me entregou as chaves e saiu praticamente correndo.

Julieta se sentou ao lado dela e olhou seu caderno, principalmente a quantidade de folhas escritas. Na sexta anterior Luiza o tirou da mochila com cerca de duas páginas usadas.

— Já escreveu tudo isso de história ou são outras coisas?

— São ideias, personagens, histórias de fundo. Estava embalada, mas o texto mesmo ainda não comecei.

— Ah, vou te deixar criar então — disse Julieta e se levantou.

Pensou um momento e decidiu explorar a casa. Não era escritora nem estava exatamente leitora — a desculpa que usou para que se reunissem outra vez. Subiu ao segundo andar e entrou no primeiro quarto. Ali havia uma cama de solteiro antiga, dois armarinhos de canto vazios, um guarda-roupas grande, uma escrivaninha antiga, de onde ela levantou o pano para olhar melhor. Ali havia um exemplar antigo e gasto de algum livro que ela não conseguiu ler o nome da capa, mas não abriu para olhar naquele momento, alguns papéis em branco — amarelados — jogados, lápis preto e, por baixo de tudo, uma única folha desenhada. Julieta pôde ver um pedaço do desenho por baixo das folhas limpas e isso lhe chamou atenção. Com um pouco de cuidado, puxou essa folha por uma ponta. Ali, foi revelado o desenho feito a lápis de uma bailarina em tutu delicado, fazendo um Cambré back — as costas arqueadas, um dos braços levantado um pouco à frente da cabeça, que estava inclinada também; a outra mão estava abaixada, uma perna reta, sustentando-a, e a outra esticada seguindo a direção do braço e da cabeça, um pouco para trás. Estava assinado por "Cecília", sem data.

Julieta segurou a folha em uma mão e jogou o pano de volta sobre a escrivaninha com a outra, depois se virou para sair do quarto. Então viu, atrás da porta, um cabideiro e, nele, pendurado um par de sapatilhas de bailarina, brancas e sujas, mas como se fossem usadas, não como se tivessem pegado anos de poeira. Estava intacta ao tempo. Julieta tinha quase certeza que, quando entrou, olhou para aquele canto também e não havia nada. De qualquer forma, decidiu que tinha se enganado, deixou a impressão de lado, saiu daquele quarto e entrou no próximo.

Ele tinha o mesmo tamanho do outro, a mesma sujeira, a mesma cama de solteiro e a mesma escrivaninha. Dessa vez, ela olhou bem atrás da porta. Depois, levantou o pano da escrivaninha. Porém, ali não havia nada, mas era um móvel diferente. Esse tinha gavetas, uma de cada lado. Julieta abriu a primeira, estava vazia. Fechou, abriu a segunda. Ali, havia uma boneca de pano, claramente feita por um adulto e customizada por uma criança. Fechou a gaveta e saiu do quarto com a boneca na mão, junto do desenho.

Seu nariz coçava, mas ela queria seguir.

O quarto seguinte era igual, e sobre sua escrivaninha não havia nada. Nem em suas gavetas. Porém, além do guarda-roupas, ali havia uma cômoda e, sobre ela, algo como um porta-retratos grande sob um pano. Ela abriu as gavetas e estavam vazias. Depois tirou o pano do porta-retratos. Descobriu que era uma pintura no lugar de uma foto. Era uma paisagem escura, essencialmente preta e branca, com alguns detalhes em um vermelho muito vivo, que ela não conseguia distinguir bem na pouca luz que entrava pelas frestas da cortina. Pegou o quadro também e foi para o próximo quarto.

Neste, não encontrou nada.

O último quarto era maior que os outros e tinha uma cama de casal. Os armarinhos de canto também estavam ali, o guarda-roupas era o mesmo e a escrivaninha também. Havia também um sofá e uma mesinha de centro, e um cabideiro atrás da porta. A princípio, ela não encontrou nada além de roupas não tão antigas no guarda-roupas. Era o único guarda-roupas daqueles que estava ocupado. Depois, na última gaveta da mesinha de centro que abriu, havia um lenço. Ela teria nojo de pegar se parecesse sujo, mas ele parecia incrivelmente limpo. O desenho do primeiro quarto tinha sua folha bem amarelada, a pintura estava um pouco empoeirada e a boneca claramente estava havia muitos anos esquecida dentro de uma gaveta. Aquele lenço, porém, parecia recém comprado. Não era nem recém lavado nem usado. Era recém comprado, intocado.

Imaculado.

Então, apesar da hesitação em tocá-lo por tão intocado, Julieta o pegou e saiu para o corredor. Não se interessou em entrar nos banheiros, então pensou em descer e mostrar para Luiza aqueles objetos, como se fossem relíquias cheias de histórias. Se lembrou que eram quatro objetos, cinco quartos. Entrou no primeiro quarto e pegou, também, o livro velho sobre a escrivaninha e pensou em pegar a sapatilha atrás da porta. Mas essa sapatilha não estava mais lá. O cabideiro estava vazio. Nenhuma sapatilha branca outra vez.

Desceu para junto de Luiza pensando como sua mente podia enganá-la assim ou se já era ela quem estava se enganando para não sentir med.

— Onde encontrou essas coisas? — Perguntou Luiza, instantaneamente interessada assim que a viu, fechando seu caderno e colocando de lado no sofá.

— Nos quartos, em gavetas e debaixo dos panos.

— Nossa, eu nem olhei nada disso mais cedo. Estava anotando tantas ideias que mal mexi nas coisas.

Luiza tirou o pano de cima da mesinha de centro e Julieta colocou os objetos ali.

— O desenho e o livro estavam no mesmo quarto, a pintura em outro, a boneca em outro e o lenço no último. Um dos quartos estava vazio.

— Olha esse lenço! — Luiza exclamou com admiração, sem coragem de tocá-lo. Era como se nem Julieta o tivesse pegado.

— Não abri o livro ainda.

Com isso, Luiza tirou sua atenção do lenço e pegou o livro. O observou por um momento. Depois se levantou, foi até a janela e tentou abri-la. Não conseguiu. Julieta tentou ajudar, mas também em vão. Assim, Luiza assoprou o livro ali mesmo para tirar um pouco da poeira que tinha, ainda que o livro estivesse por baixo do pano. Voltaram para a mesinha. O título da capa havia sumido com o tempo, estava ilegível.

Luiza abriu o livro. Folhas amareladas, Alice no país das maravilhas.

— Alice — disse.

Passou a folha.

Outra folha.

Folheou todo o livro, tirando um pouco mais de poeira, e viu que havia algumas páginas arrancadas. A princípio, pareceram páginas aleatórias.

— Tá rasgado. Não parece que era de uma criança, mas tá faltando umas páginas.

Deixou o livro sobre a mesinha e pegou o desenho. Passou, de leve, o dedo sobre o grafite. Talvez pelo desenho ser tão delicado o grafite sequer sujou seu dedo. Era como se não fosse grafite, fosse outra coisa, ou talvez o desenho não fosse tão material assim. Tudo insólito demais. Depois, ela deu uma assoprada na pintura também, então elas conseguiram perceber que os pontos vermelhos eram como pétalas voando perdidas no meio da paisagem escura. Pegou a boneca, observou as costuras adultas e as infantis, a roupa colorida e remendada. Então, pegou o lenço.

Tocando-o, sentiu como era intocado. Colocou-o no lugar no segundo seguinte.

Observou os objetos por um momento, sendo observada por Julieta que já não estava ali somente pelo poema, porque elas tinham conseguido terminar tudo na sexta-feira. Havia vários elementos escondidos dentro dela que a trouxeram ali naquele momento, mas nem todos ela conseguia identificar. Naquela manhã, viu Fernanda e Luiza tomando café juntas, e depois pensou que estariam juntas à tarde também. No fundo, queria estar junto. Na superfície, não queria estar de fora, para o caso de precisar de ajuda com o clube do livro. Comentou com Paloma, que riu e mandou que procurasse as meninas.

Naquele momento, naquela tarde fresca, Julieta estava curiosa com o processo de Luiza de olhar para cada objeto como se já tivesse uma história para cada um deles em sua mente. Julieta olhava para ela como uma criança que espera ouvir uma boa história.

— Esse desenho está assinado por Cecília, e acho que é um autorretrato, mas não fiel à realidade. Acho que era como ela se via — disse Luiza. — Na vida real ela tinha alguma coisa de diferente.

Julieta tirou o pano do outro sofá e se sentou, atenta. Ouviu Luiza criar em voz alta durante o que pareceram alguns minutos, mas que se mostraram horas quando o sol se foi e o cômodo foi entrando na escuridão. Como se planejado, assim que elas decidiram ligar as lanternas dos celulares, receberam uma mensagem no grupo:


Fernanda

to aqui no portão. destranca pra mim?


Luiza pegou as chaves e foi até o portão. Voltou com uma Fernanda cabisbaixa e que carregava uma lanterna grande de bateria.

— Também trouxe velas, porque não sei quanto essa bateria dura — explicou Fernanda. — Trouxe um lanche também.

— A gente nem comeu! — Lembrou Luiza.

— Por isso meu estômago está tentando falar comigo — disse Julieta.

Fernanda tirou da mochila um aspirador portátil e aspirou os três sofás enquanto Luiza e Julieta encontravam um lugar para colocar a lanterna que iluminasse todo o cômodo. Quando encontraram um jeito de ela não cair de cima da lareira, se sentaram, e Fernanda ia aspirar a mesinha de centro. Porém, parou por causa dos objetos que ainda não tinha notado. Estava com a cabeça em outra lugar.

— Essas coisas são da casa? — Supôs.

— São. Encontrei nos quartos — respondeu Julieta. — Desculpa se não era pra fuçar e tal.

— Não, não tem problema.

— A boneca era da sua mãe? — Perguntou Luiza. Essa era a história que ela tinha imaginado para a boneca.

— Acho que sim...

As três tiraram os objetos da mesa — Julieta e Luiza os pegaram lentamente, sem saber ainda se Fernanda faria alguma coisa com eles, como analisar, mas Fernanda as ajudou a colocá-los de lado —, Fernanda aspirou a mesinha e elas colocaram os lanches ali. Ela queria colocar uma música para ocupar a cabeça com alguma coisa, mas resolveu poupar a bateria do celular. Conversaram sobre os objetos, sobre as histórias que eles traziam para Luiza, e Fernanda, pouco a pouco, parecia menos triste que quando chegou ali, agora com a cabeça presente.

— Sobre esse lenço... — disse Luiza. — Não sei.

— Estava onde? — Perguntou Fernanda.

— No último quarto, o maior — respondeu Julieta.

Fernanda pensou por um momento.

— Parece novo, então... Talvez seja da minha avó. Ela tinha uma coleção de lenços. Era carpideira, então usava bastante...

— Carpideira? — Julieta perguntou.

— É. As pessoas pagavam pra ela ir chorar num velório pra, sei lá... contagiar com o choro, o luto. Às vezes pra parecer que era alguém mais importante que realmente era.

As três conversaram durante mais algum tempo sobre a avó, a casa, os objetos, então Julieta decidiu ir embora.

— Tenho umas coisas pra fazer pra aula amanhã — disse.

— Acho que eu também vou — disse Luiza.

Julieta se despediu das duas no portão e foi para o ponto de ônibus do outro lado da avenida, deixando as outras duas sozinhas.

— Vai ficar mais? — Luiza perguntou a Fernanda.

— Na verdade, vou passar a noite aqui.

— Por quê?

— Tive um problema em casa. Não quero voltar hoje — respondeu encostando a cabeça no batente do portão.

— Quer conversar sobre o que aconteceu?

— Depois. Pode ir descansar. Amanhã eu conto.

— Mas não vai ficar com frio? Como vai dormir bem? E a aula amanhã? — Fernanda deu de ombros. Não teve tempo de pensar em muita coisa quando saiu correndo de casa. — Ok, vamos fazer assim... — Olhou para o nada e pensou por um momento. — Posso ir para casa e pegar uma coberta, um travesseiro. Eu te chamaria para dormir lá em casa, mas não temos colchão e minha cama de solteiro mataria as duas pra amanhã. Acha que aquele sofá é confortável?

— Dá pro gasto. Mas não precisa voltar aqui de ônibus com essas coisas.

— Meu tio mora perto, eu sei dirigir. Pego o carro emprestado por alguns minutos. Ele não se importa.

Luiza estava realmente disposta a ouvir Sandra Rosa Madalena para ajudar a amiga.

Fernanda pensou por um momento.

— Vou aceitar então. Saí correndo de casa, não pensei em nada, não peguei quase nada. Peguei a lanterna pra não ficar no escuro, mas esqueci que frio dói mais.

— Combinado então. E amanhã cedo você pode ir tomar um banho e tomar café na minha casa, ou a gente toma no terminal de ônibus, não sei. Mas pode ir tomar banho lá.

Fernanda assentiu. Era bom ser cuidada depois de tanto tempo cuidando de si mesma e fugindo do controle disfarçado de cuidado da avó. As duas se despediram com um beijo no rosto e Luiza foi para o ponto de ônibus que ia na direção da sua casa. Fernanda trancou o portão e voltou para a sala. Tentou abrir a janela até que conseguiu, dando um ar no lugar, mesmo que precisasse fechar mais tarde para diminuir um pouco o frio.

Pensava que aquele lugar esquecido, sujo e frio ainda lhe era mais confortável que sua própria casa. 


-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-


Luiza chegou em casa correndo e já foi saindo outra vez, carregando travesseiro e coberta.

— Que isso? Vai pra onde? — Sua mãe perguntou.

— Levar pra uma amiga.

— Amiga. Hum. Uma daquelas novas, né? Ela mora na rua, por acaso?

— Não, ela tem casa, mas não tem nada na casa nova. É só por essa noite pra ela se reorganizar amanhã.

— E vai levar isso como?

— Vou pedir o carro do tio emprestado... — foi interrompida.

— Emprestado? Pra que vai se dar esse trabalho todo? Larga disso.

— Não mãe, oxe. Ela vai dormir sem nada?

— Acontece, é a vida. Eu já dormi... — dessa vez, foi Luiza quem interrompeu.

— Eu sei que já dormiu pior, mãe. Mas as pessoas não precisam passar por isso também quando tem alguém com elas, não? Ela super me ajudou em troca de nada.

— Ajudou no que?

Luiza hesitou por um momento.

— Ela não voltava nessa casa desde que a mãe dela morreu, e voltou só pra eu me inspirar pra minha história de terror.

— História de terror — disse, dando uma risadinha. — Não vai inventar de dormir lá também não, né?

— Não — respondeu calmamente — mesmo querendo responder sim —, triste pela falta de apoio da mãe com a sua escrita.

Ela sentia que isso era uma parte bem grande de nunca ter conseguido escrever nada que realmente gostasse.

Como a mãe não disse mais nada, ela seguiu seu caminho até a casa do tio e depois até a casa de Fernanda, um pouco menos inspirada, um pouco mais de saco cheio de Sandra Rosa Madalena, mas sentindo que foi bom estar com Fernanda por mais alguns minutos. 

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