Respostas melosas para assuntos melosos
Leslie tocava seu bandolim no sofá, naquela mesma melodia que ele e minha mãe tanto amavam. Ela terminava de cozinhar o jantar, murmurando ao mesmo ritmo.
Mesmo num ato tão banal, o amor que tinham um para o outro era palpável.
— Cheguei. — anunciei, indo pegar um vaso com àgua para minhas duas rosas.
— Quem deu essas flores p'ra você? — questionou minha progenitora.
— ... Posso fazer uma pergunta? — fugi da indagação, enchendo um recipiente e mergulhando os caules verdes nele.
— Aconteceu alguma coisa hoje na escola? — Leslie largou o instrumento, aproximando-se de mim com a preocupação estampada no rosto.
Engoli saliva com dificuldade, sentindo-a descer como cacos de vidro.
Talvez, apenas naquele momento, eu pudesse ser sincero. Os dois mais velhos também tiveram uma história de amor complicada. Talvez entendessem.
E, se não o fizessem, eu teria – pela primeira vez – lutado um pouco mais pela minha felicidade. Por algo que tinha um valor inestimável para mim. E não fugido ou me escondido e me dado por vencido.
— O Norman e a Emma me pediram em namoro na frente de todo mundo. E eu quero aceitar ... porra, eu quero mesmo! — apertei o vaso com as flores, fervilhando de medo e raiva e frustração — Mas ... não vai ser fácil. E talvez eu não tenha garra o suficiente p'ra fazer aquilo dar certo.
Não ousei olhar para nenhum dos dois.
Eu falei.
Eu admiti o que sentia.
Eu expus minha vulnerabilidade.
Eu enfrentei a possibilidade de ser expulso de casa e humilhado e quebrado em pedacinhos.
Por mais idiota que pareça, senti-me vitorioso apenas por ter ido até ali.
— Você ama eles? — perguntou Mamãe com a voz branda, iniciando um cafuné em mim.
Se eu tentasse falar, minha voz quebraria-se, então apenas assenti com a cabeça.
— Então aceita o pedido. — sorriu-me meu padrasto.
Pisquei de surpresa, e finalmente percebi como meus olhos ardiam por causa das lágrimas que queriam cair.
— Q-quê!? — soltei com a voz dois oitavos mais alta.
— Aceita, ué. Isso vai te fazer feliz, não vai? — "repetiu" Leslie, bagunçando meu cabelo carinhosamente.
— M-mas ... a gen-te v-vai ser um- ...
— Filho, eu sei que você tem problemas com relacionamentos porquê eu e o seu pai nos divorciamos e ... eu definitivamente não fui uma boa mãe naquela época. — interrompeu-me Mamãe, séria — Mas eles te amam e nunca fariam nada na intenção de te machucar. E se o medo é de que a gente não te aceite, fique tranquilo. Nessas paredes e conosco, você não vai sofrer por amar os dois ao mesmo tempo.
Eu estava completamente mudo.
Nunca imaginei que ela ainda se culpasse por aquela época. Muito menos que desse um discurso estilo fanfic yaoi fluffy se eu confessasse como sentia-me. Aquela merda toda era melosa por demais.
Isso não quer dizer que não chorei de alívio nos braços dos dois.
Na verdade, foi a primeira vez que chorei na frente de qualquer um deles. É estranho, mas ... acolhedor.
Talvez eu devesse parar de fugir de tudo por medo urgentemente.
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