Emo.Ray.exe parou de funcionar

     Já faziam aproximadamente três semanas desde o dia que conversei com Norman pela última vez.

     Era a última aula do dia, Sexta-feira. Sociologia com a Musica. O Casal de Ouro não estava presente, mesmo que tivessem comparecido às outras aulas do dia.

     Foi quando Don, um dos nossos amigos do 9° ano, abriu a porta. Segurava um envelope bege nas mãos.

— Professora, pediram p'ra entregar isso aqui pro Ray. Posso?

— Pode, Don.

     O olhar que trocaram pareceu cúmplice demais para o meu gosto.

     Recebi o envelope, notando o adesivo de coração com o qual estava "selada". Franzi as sombrancelhas, confuso.

— Não vai abrir? — questionou a professora, curiosa.

Agora?

— Agora, Ray.

— No meio da sua aula?

— É. Fiquei curiosa.

     Muito. Estranho. Mesmo.

     Desconfiado, abri o envelope. Tinha um papel dobrado. Desdobrei, notando a letra caprichada de Norman e a folha decorada que apenas Emma possuía.

     "O ser humano tem a inevitável tendência de querer mais do que já possui. Mais dinheiro, mais fama, mais conhecimento, mais amor.

     Nós achamos que é egoísmo. E talvez possa realmente sê-lo, não vamos mentir. E não queremos ser hipócritas: nós queremos sucumbir a esta tendência desta vez.

     Em determinado momento, grande parte dos jovens adquirem o desejo de acharem a 'outra metade da laranja' que lhes pertence. Emma e eu sucumbimos a tal desejo.

     Nos amamos, encaixamos e fazêmos bem um para o outro. Todos que nos conhecem dizem como somos feitos um para o outro.

     Mas nos sentimos incompletos. E o problema não é nem comigo e nem com ela. É você, Ray.

     Não nos entenda mal. Você não fez nada de errado. Pelo contrário: fez tudo o que estava ao seu alcance quando precisamos. Desejou-nos o melhor.

     E depois de muitas conversas entre nós e uma intriga com você, podemos dizer com todas as letras qual o assunto delicado que tratávamos. Perdão pela demora. Perdão por não termos falado logo.

     Ray, nossa laranja não está dividida na metade. Há três pedaços. E um deles é seu.

     Nós dois te amamos, e não como amigo. Só não tínhamos percebido ainda. Desculpa pela demora e pelo mistério. Somos uns idiotas. Esperamos que isso não afete demasiado sua decisão, mas entenderemos se o fizer."

     Eu paralizei. Virei uma perfeita estátua de tomate maduro.

     Dois pares de passos se aproximaram de mim. Quando finalmente consegui olhar para cima, vi que Emma e Norman seguravam uma rosa cada, as bochechas em chamas.

— Namora com a gente, Ray?

     Se eu fosse um computador, eu teria dado tela azul. Meu cérebro foi ligando os pontos lentamente.

     Ficamos em silêncio por dois minutos inteiros. O clima estava deveras constrangedor.

     E eu saí correndo da sala sem dizer uma palavra sequer.

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