❦| you're just like her



[🌳]

Se acordar de ressaca já era péssimo, imagine acordar triste e relembrando péssimos acontecimentos do dia anterior? Certamente, a gente logo deseja que o problema fosse somente a maldita ressaca destruindo o corpo e mente.

Abrir os olhos naquela manhã, quase tarde, pareceu um esforço monstruoso para Jimin. Principalmente quando flashbacks voltaram em sua mente, e a frustração total vinha à tona.

Sinceramente? Mal conseguia acreditar em algumas lembranças da noite passada. Parecia irreal, só um maldito pesadelo confuso e inconveniente que ocorreu. Mas lembrar que cada cena que voltava em sua mente era verdade, lhe deixava com uma mistura de chateação e raiva.

Achava que Yoongi já tinha passado dos limites antes desde que chegou, mas ontem, ele se superou de maneiras inexplicáveis. Nem com a maior loucura do mundo em mente, conseguiria ter metade daquelas atitudes infantis e babacas. Como algum dia gostou daquele cara, francamente?

A vontade de chorar logo cedo era inevitável, mas Jimin sentia seus olhos inchados demais o suficiente para segurar a onda um pouquinho. Mesmo com o coração na mão.

— Tem certeza que vai ficar bem sozinho? — Taehyung já tinha tomado um banho e estava se despedindo. Sua mãe lhe ligava incansavelmente pois ele esqueceu de avisar que dormiria em Jimin. Precisava ir para casa, infelizmente.

— Claro que sim, Tae. Já falei pra não se preocupar comigo. — Jimin encontrava-se sentado na cadeira em frente ao seu computador, abraçando as próprias pernas. Também tinha se banhado, para se sentir minimamente melhor, claro que não fazia grandes diferenças mas foi o que conseguiu pôr em prática para não se sentir tão imundo assim depois de ontem.

— Pedir pra eu não me preocupar com você depois da merda que aconteceu ontem é um pouquinho difícil, Park Jimin. — Tae até deu uma risada seca. Como não se preocuparia?

— Fazer o quê... Eu tenho um ex de merda que destruiu o meu relacionamento. — foi tudo o que Jimin conseguiu dizer com tom amargo, organizando algumas coisas da sua mesinha como forma de distrair sua mente da gritaria interior que seus pensamentos acumulavam.

— Eu já falei pra você... Yoongi não merece nem mesmo ser estopim pra término de relacionamento de tão irrelevante que ele é. Se é pra terminarem, acredite, seria por um motivo muito mais viável do que Min Yoongi! — essa era a maneira de Taehyung dizer que não achava que aquilo estava acabado. — Qual é, Jimin... — se aproximou, sentando-se na beirada da cama, próximo ao amigo. — Eu não quero ver você se humilhando, ou coisa desse tipo. Independente do quão chata é a situação.

— Eu devia saber quando aquele idiota colocou as mãos nos meus olhos que não era Jungkook, Tae. Eu devia saber, e eu me sinto um burro.

— Que legal... E como, gatão? Você já me explicou que Jungkook tinha feito simplesmente a mesma coisa com você na mesma noite. É isso! Já conversamos. Aquele idiota deve ter visto e replicado essas ações bêbado porque sabia que te teria, nem que fosse por breves e enganosos segundos! — só de pensar nisso, Taehyung se sentia possesso. — Eu entendo que foi uma cena estranha de assistir, mas mesmo assim...

— Taehyung... Posso te perguntar uma coisa e você promete ser sincero comigo? Que não vai passar pano pra mim?

— Jimin, desde quando eu passo pano pra você entre quatro paredes? Beleza, posso até passar pano pra você na rua e na frente dos outros. Mas quando está só nós dois, eu te esculhambo, troço! Cê sabe disso. — Tae jogou uma verdade. — Esqueceu da época que eu comecei a jogar todos os dias na sua cara que Mun Yoongi ter saído da cidade foi a melhor coisa que te aconteceu? E tcharam! Adivinha quem estava certo? — sua expressão era convencida.

Jimin um sorriso fraco, quase imperceptível. Aquilo era pura verdade. Não é à toa que levava muito em consideração as opiniões do amigo, não porque ele era perfeito, mas porque pessoas como ele tem essa tendência de querer o bem de quem ama. Nem que tenha que magoar momentaneamente com uma verdade que dói.

A verdade sempre dói, mas ela é o que te protege de não cometer erros que machucam muito mais no futuro. E você só vai entender, quando acontece.

— Eu... — Jimin pensou bem como perguntaria aquilo, mas droga, que se dane! Não existia maneira menos dolorosa de perguntar isso. — Eu traí o Jungkook?

— O quê? Puff, não! Não, não, não, não mesmo. — Taehyung muito claro em sua resposta e percepção. — Meu caro Jimin, entenda que pra você trair alguém, você tem que querer o ato, e não achar que está sendo acariciado pelo próprio namorado! Isso não faz nem sentido.

— M-Mas o Jungkook-

— Ele se sente traído, e é diferente. — foi direto. — É complicado explicar... É muito além de ser sobre suas ações. Você sabe melhor do que eu, Jimin. Você conhece ele na palma da sua mão.

Refletindo um pouco além, Jimin soube que entendia. Entendia completamente, e não fazia nem questão que algo fosse dito em voz alta. Jungkook tinha traumas muito feios e rancorosos. Aquele tipo de trauma que você não quer sentir novamente de maneira nenhuma, e qualquer coisa que se assemelhe à isso, assustava.

Assustava porque confundia, e quando conheceu Jungkook, esse era o motivo que o mais novo não queria namorar mesmo rendidamente apaixonado. Ele não queria correr riscos, mas de repente, com Jimin ele decidiu correr.

Lembrar dessas coisas não era uma maneira de justificar atitude de um ou de outro, era apenas uma maneira de entender. Jimin só estava procurando compreender, e caramba, e como ele compreendia... Não é como se nunca soubesse o quanto ser enganado doía.

— Vai ficar bem mesmo? — novamente Tae fez a pergunta, já de pé. Seu tom era um tanto preocupado e desconfiado enquanto tocava no ombro do amigo.

— Já disse que sim, Tae. Sério. Vai despreocupado. — Jimin tentou demonstrar a expressão mais tranquila possível. — Não congela a sua vida por causa que um mal entendido terrível aconteceu comigo ontem. Eu tô triste, mas não é nada que tenha direito de parar a sua rotina.

— Se você diz... — murmurou. — Bom, te ligo mais tarde. Por favor, não faz bobeira, tá bom? Não acredito que estou falando nisso, mas que droga! Pior momento para a casa dele ser aqui do lado. É uma tentação monstruosa para você, com toda certeza.

— Essa sensação de não saber como vou ser recebido é simplesmente a pior. — Jimin admitiu, refletivo. Respirou fundo. — Bom, até então não se preocupa. Nem eu sei se é mesmo a melhor ideia do mundo ir até lá, vai tudo depender do que meu coração mandar.

— Certo... Vamos ver o que o coração teimoso do Jimin vai fazer. Mal posso esperar pra saber. — Taehyubg tentou colocar um tom cômico para disfarçar o nervosismo sobre o assunto.

Esperava muito que eles se resolvessem, mas sabia bem que o que uma pessoa magoada era capaz. O ser humano é um bicho estranho, pode-se esperar de tudo.

Depois de um beijo na testa do amigo, Taehyung finalmente foi contragosto. E sozinho no quarto, Jimin percebeu que aquela frase tão popular era verdadeira: mente vazia, oficina do diabo.

Estar sozinho com os próprios pensamentos após o episódio da noite passada, era angustiante. Não resistiu a tentação e chegou a pegar o celular várias vezes, abrindo na conversa de Jungkook. Mas ao ver que seu visto por último apontava para a madrugada, desistia e largava o aparelho de lado.

A vontade de chorar voltou, e fechou os olhos por um momento tentando se concentrar no que sentia. Quase que cedeu e deixava o desabafo em formas de lágrimas vir, se não tivesse ouvido de repente três batidas na porta do seu quarto.

Filho? Posso entrar...? — era a voz da sua mãe. Imediatamente tentou se recompor.

— Claro, mãe. Entra! — respondeu alto.

Então a mulher entrou, com uma bandeja de café da manhã nas mãos. Tinha de tudo um pouco, e aquele seu sorriso acolhedor presente no rosto dela. Em silêncio até então, ela se aproximou e deixou a bandeja na mesa do computador, em frente à Jimin, logo em seguida se acomodou próxima.

— Não precisa ficar chateado com ele, mas antes de sair, Taehyung me contou o que aconteceu ontem. — ela confessou, e apesar do silêncio de Jimin, ele não parecia incomodado de sua mãe saber.

De alguma forma, internamente até se sentia aliviado de não precisar fingir felicidade naquele momento ou até mesmo contar detalhadamente cada segundo terrível da situação. Taehyung lhe poupou de alguma forma.

— Poxa, meu filho... Te ver triste assim dói meu coração. — senhora Park lamentou. — Eu ainda não acredito que Yoongi fez aquilo, ele parecia ser um bom menino.

Uma risada seca saiu da garganta de Jimin, nada muito exagerado.

— É, a sua surpresa é culpa minha. Digamos que o Yoongi não é exatamente aquele bom moço que ele interpretava pra você e para o meu pai na época, mãe. Essa é a verdade crua e nua.

Ela tinha uma expressão franzida no rosto, um tanto curiosa de alguma maneira.

— Bom, então sendo assim... Que bom que vocês não estão mais juntos! Devia me contar essas coisas, Jimin. Sou sua mãe, e sempre me esforcei pela nossa confiança e cumplicidade. Fiz até um curso de inteligência emocional materna! Você sabe disso. — senhora Park realmente sempre foi muito esforçava quando o assunto era maternidade. Teve uma péssima mãe, e quis fazer diferente com o seu Jimin, principalmente ao ter casado com um cara legal que estava disposto a ser um ótimo pai também.

— Eu sei, mãe... Me desculpa, tá? Eu só... — respirou fundo. — Você sabe, o meu pai. Ele sempre foi muito protetor, quando terminei com Yoongi, preferi não contar sobre a verdadeira cara dele. Papai iria ficar muito enfurecido, magoado e arrependido de ter deixado Yoongi sequer pisar aqui em casa. Principalmente de assistirem vários jogos de basquete juntos.

— Bom... Isso é verdade. Seu pai não gosta de saber que alguém te magoou. — ela deu os ombros, precisando concordar. — Mas ainda sim, se esse menino já te machucou e agora está tentando estragar seu novo relacionamento, a raiva do seu pai não seria em vão. É o que eu acho!

— De qualquer forma, não tem importância. Eu não tô nem aí pro Yoongi agora, eu só queria apagar aquela noite de ontem. Quero saber que Jungkook acordou e que entendeu completamente o meu lado, mesmo que as circunstâncias sejam chatas e eu tenha sido um burro desatento.

— Park Jimin, não quero ver você se chamando dessas coisas, tá ouvindo? Está proibido de se maltratar dessa maneira. As coisas vão se resolver, meu filho, Jungkook é um bom garoto!

— Ai, mãe... — negou algumas vezes. — Queria muito que as coisas se resolvessem fácil só por sermos "bons garotos". Infelizmente o buraco é mais embaixo em um relacionamento.

Senhora Park torceu os lábios por um instante, e então se lembrou de algo.

— Uma vez eu fiquei magoada com o seu pai, foi uma situaçãozinha bem chata. Eu achei que ele tivesse me traindo.

— E ele estava...? — Jimin arqueou a sobrancelha, até com medo de uma resposta positiva. Nunca pareceu ser a índole de seu pai.

Ela riu.

— Claro que não, você conhece seu pai. Tem mil defeitos, mas fazer isso comigo ou ser um péssimo pai pra você passa longe. Eu é quem me enganei, e depois fiquei muito envergonhada. Não sabia onde enterrar minha cara.

— Por que achou isso?

— Ah, já estávamos casado há uns anos. Eu estava com os hormônios à mil, grávida de você, e seu pai começou a treinar uma nova funcionária na empresa em que ele trabalhava. Eu acabei descobrindo através de alguns amigos nossos que ela era afim do dele, e de repente, ver eles juntos se tornou algo meio paranóico pra mim. — ela até riu envergonhada enquanto contava. — Bom, uma vez jurei que ia flagrar algo. Cheguei até onde soube que seu pai estava, e flagrei ele encomendando rosas pra mim. Estraguei a surpresa dele.

— Mãe... Que embaraçoso!

— Pois é. E piora: nesse mesmo dia ele tinha demitido a funcionária porque ela era incompetente e muito inconveniente, segundo as palavras dele. — pela primeira vez no dia, Jimin deu um sorriso sincero.

— Nossa, mãe...

— O que estou querendo dizer, Jimin, é que Jungkook está magoado por causa da cena que viu. Ele é novo, vocês são garotos novos, sentem tudo com mais intensidade porque ainda estão amadurecendo as emoções. Principalmente ele, que é mais novo que você. Mas talvez no futuro, ele até lembre disso como uma grande bobagem comparado ao sentimento de vocês. Entende?

— Eu espero... Espero mesmo. — Jimin suspirou. — Tudo o que me resta é torcer e tentar reverter as coisas o máximo que eu posso.

— Vai ficar tudo bem, meu amor. Vem dar um abraço na mamãe!

— Eu vou chorar no seu ombro isso, isso sim.

— Então vem, meu menino apaixonado!

     [🌳]

Um banho bem gelado, justamente para ter um choque térmico, foi o que Jimin sentia que precisava e deu uma aliviada em seus músculos. Sentia-se tenso, e com motivo. Parecia que tinha dormido em uma pedra de tão doído que seus músculos pareciam, mas sabia que tudo aquilo era tensão.

Quis chorar algumas vezes, principalmente quando viu que não tinha nenhuma mensagem de Jeon dizendo "vou te ouvir direito hoje", mas seu lado sensato respirou fundo e sabia que também não adiantava mofar no quarto. Depois de vestir algo confortável, aproveitou que seus pais estavam no quarto assistindo um filme juntos e aproveitou esse momento na sala de estar sozinho, tomava um suco natural de laranja (o peso do álcool da noite passava ainda percorria o seu corpo).

Era em torno de meio dia e vinte quando a campainha dos Park tocou repentinamente, e um arrepio percorreu o corpo todo de Jimin. Chegou a travar por um momento, nem acreditando.

Ansioso, levantou-se do sofá.

— Deve ser pra mim! Deixa que eu atendo! — foi próximo das escadas do andar em que o quarto de seus pais ficavam, apenas para avisar. Isso porque se estivesse certo, não queria interrupções agora.

Jimin saiu correndo em direção a porta, e quando finalmente abre, sua expressão esperançosa de repente se torna um misto de raiva e decepção.

Não era Jungkook, e sim Yoongi.

— Jimin... — Yoongi ficou feliz ao ver a figura do outro, estava com medo de ter sido visto pelo olho mágico e sequer poder estar cara a cara com ele.

Não, não, não... Saia daqui agora! Rápido, pra longe! — foram as palavras imediatas que saíram da boca de Jimin, enquanto este negava várias vezes. Não estava acreditando naquilo.

Olha, eu imaginei que você não quisesse me ver nem pintado de ouro. Mas me dá um minutinho pra explicar, vai? Não vai demorar.

— Perdeu o juízo de vez? Eu tô te expulsando, Yoongi. Expulsando! — enfatizou. — Vai embora agora, você fodeu a minha vida, cara! Eu não quero te ver nem agora, nem nunca mais. Vai!

A porta estava prestes a fechar, e Yoongi logo se adiantou em impedir com o braço e perna.

Jimin, eu soube o que aconteceu ontem! Meus amigos me disseram depois, eu só vim pedir desculpas! Você não sabe o quanto eu fiquei puto comigo mesmo quando acordei essa manhã e soube.

Eu não quero ouvir suas desculpas, para de segurar a porta! Se meus pais te verem aqui, eu vou te tratar como um louco invasor. Sai!

Jimin, eu juro que quando fui até você naquela boate eu queria me desculpar de verdade! Só que aí você me tratou daquele jeito, eu fui bebendo e fui bebendo, chegou uma hora em que eu não lembro mais de nada o que aconteceu. Eu literalmente não lembrava de nada!

Por favor, Min Yoongi... Por favor, se você tem pelo menos um pouquinho de consideração por mim... Vai embora. — em nenhum momento Jimin parou de tentar fechar a porta, mas de repente, ficou sem força e suplicou. Talvez movido a decepção de não ser Jungkook ali, ficou sensível e com raiva, só queria ver o jogador bem longe dali.

Yoongi repentinamente riu seco, ao entender algo.

Você não quer mesmo correr o risco do seu playboyzinho me veja aqui, né?

Jimin franziu o cenho, se controlando para não explodir bem ali e agora. Se existia um motivo que estava se controlando, era seus pais. Não gostaria que eles presenciassem alguma cena constrangedora, em frente à sua casa.

— Vai embora. Agora. É a última vez que eu vou falar, e sim! É isso mesmo. Dá no pé antes que ele veja, e...

Eu não acredito que eu estou vendo isso.aquela voz que Jimin tanto gostaria de ouvir na porta de sua casa, há minutos atrás, de repente se tornou um pesadelo de ser escutada naquele instante. No cantinho da varanda dos Park, Jungkook estava parado e se aproximava subitamente com cara de poucos amigos. Ele vestia um moletom todo preto, e seu olhar afiado estava começando a ser novidade para Jimin desde ontem. — Ele disse pra você ir embora, não escutou?

Jimin passou as mãos pelo rosto por um momento, sentindo a sua frequência cardíaca aumentar por puro nervosismo. Yoongi deu uma risada baixa e incrédula para aquela cena.

— Você sempre aparece assim, do nada? Maravilha. Olha, cara, eu só-

Antes que Yoongi pudesse concluir o seu raciocínio, Jungkook teve uma atitude que nem Jimin esperava. Enfurecido, ele deixou-se levar o suficiente para partir para cima do jogador e agarrá-lo pela gola da camisa, sem cautela. Como um animal descontrolado. De repente, estavam cara-a-cara, e Jeon não tinha um pingo de cuidado no que estava fazendo.

Você está louco, garoto?! — Yoongi exclamou, tentando se soltar de todas as maneiras do aperto do outro. E quando estava conseguindo, Jungkook só conseguiu pensar que não poderia deixá-lo se livrar tão fácil. Quando percebeu, já tinha fechado seu punho e acertado o rosto do jogador de basquete, completamente enraivado.

— Jungkook! — Jimin só conseguiu gritar o nome do outro, entrando em um estado de choque total com a cena. Veja bem, isso não seria de todo incomum se estivéssemos falando de um cara que facilmente entres em brigas e tudo mais. No entanto, para Jimin, o que de fato tornava a cena estranha era simplesmente ser Jungkook ali.

O Jungkook que conhecia não era um santo, mas não se metia em brigas, não saía socando as pessoas por aí sem pensar, e principalmente, o Jungkook que conhecia até para falar de um assunto pesado, exalava aquela energia de garoto iluminado e cheio de brilho. Naquele instante, Jimin não via brilho nenhum.

E se culpava. Se culpava porque só conseguia pensar que era o causador disso tudo, inclusive desse caos que estava acontecendo em frente a casa de seus pais. Chegou a olhar para dentro da residência algumas vezes, conferindo se tinha algum sinal deles. E ao perceber que nada, saiu e fechou a porta principal com a esperança dessa situação não chegar nos ouvidos deles. Seria constrangedor, com toda certeza, e seu pai não gostaria nada.

Ainda raciocinando que tinha acabado de levar um soco daquele garoto metido à besta, Yoongi tocou onde ardia na sua bochecha. E ao ver sangue em seus dedos, negou algumas vezes.

Respirou fundo, e disse apontando para o moreno irritado em sua frente:

— Eu poderia fazer várias coisas contigo, playboyzinho. Poderia resolver isso na delegacia, poderia resolver punho a punho do jeitinho que você merece...

— Então vem!

— Jungkook, o que é isso? Pelo amor de Deus. — Jimin exclamou, só querendo que aquele problema acabasse logo. De repente, sentia como se fossem três animais descontrolados, ainda que não estivesse fazendo nada como eles.

Por mais que muita gente fantasiasse caras brigando por si, esse não é um tipo de cenário que Jimin amava. Podia até ser extrovertido para algumas coisas, mas tumultos em público? Definitivamente não era a sua praia, e caramba, se enterraria no chão para não passar por aquilo. O que lhe impedia de ficar completamente puto com Jungkook naquele momento, era simplesmente o fato de se culpar por ontem. Se não fosse isso, certamente fecharia a porta na cara dos dois.

— Não vou! Bem que eu queria pra caralho, mas eu não vou. — Yoongi continuou, mesmo que sua linguagem corporal demonstrasse ao contrário do que dizia. — Porque pra sua sorte, eu tô devendo essa sossegada de facho pro Jimin, e um pouco pra você também, garanhão. Eu mereci, admito. E é por causa disso, que eu não vou levar isso aqui adiante. Mas ainda sim, se liga e deixa de ser louco!

O único louco aqui é você de vir até aqui! Achou que ia ser legal pra mim ver vocês dois juntos depois de ontem? Heim?! — Jeon estava tão irritado que estava se contendo para não socá-lo de novo. Não era e nunca foi o tipo de atitude que gostaria de ter, principalmente na frente de Jimin, mas era delicado. Não saía da sua cabeça o quanto estava magoado e que merecia mais respeito, principalmente pra algo tão recente.

"Eu não merecia ver aquela cena, independente de qualquer coisa!" Era o que sua mente mais lhe atormentava desde ontem.

Estava na casinha da árvore quando o viu ali na porta de Jimin. E assistir aquilo foi como se cutucassem uma ferida ainda muito inflamada e dolorida. E uma cutucada sem dó, com a intenção de machucar. Não resistiu e quando percebeu, já tinha se aproximado de onde ocorria aquela conversa a qual escutou apenas o final, que era Jimin mandando-o ir embora.

— Sei que você não dá a mínima pro que eu vou falar, mas fica com raivinha só de mim. Deixa o Jimin fora disso que ele não fez nada.

— Não preciso que você me defenda. — a voz rígida de Jimin se fez presente. — Eu só preciso que você vá embora. Isso não resolveria as coisas, mas seria um problema a menos, com certeza.

Yoongi lhe fitou por um tempo e acabou apenas suspirando. Por fim deu os ombros, em sua mente, fez o que pôde.

— Bom, não tem como dizer que eu não fiz minha parte de vir até aqui. Espero que o seu problema aqui do lado se resolva. — apontou para o moreno.

— O único problema aqui é você. E sempre foi, desde que voltou pra cidade. — Jungkook rebateu, friamente. — Eu quem demorei pra perceber. — espontaneamente, após a última fala do moreno, estava trocando olhares frígidos com Jimin.

— Tanto faz. Vou indo, não quero estar aqui para ouvir o surtinho que ele vai dar em cima de você, Jimin. E espero mesmo que me desculpe um dia.

Jungkook riu seco, murmurando um "eu não acredito que tô ouvindo isso..." totalmente chocado, enquanto desviava o olhar e negava algumas vezes. Se soubesse que aquele cara se tornaria um grande problema, não teria tido vergonha do ciúmes que sentiu no dia em que o viu pela primeira vez na quadra de basquete do parque, reencontrando Jimin.

Jimin nem deu importância, se manteve calado vendo Yoongi se distanciar deles e pegar seu rumo. De repente, estar sozinho com Jungkook era um misto de emoções. Existia um lado esperançoso, e outro completamente pesado.

Levou uns instantes, mas logo levantou seu olhar para Jungkook novamente. Este demorou um tempo para querer lhe olhar de volta, parecia relutante de todo modo.

Jimin não gostou do jeito que aquele olhar lhe recebeu.

— Não. — o mais velho negou algumas vezes, tentando não vacilar a voz. — Não, você não vai me olhar desse jeito, Jungkook. Desse jeito decepcionado, eu me recuso a receber esse seu olhar...

— Eu não devia ter vindo aqui. Vou indo.

— Jungkook, por favor, entra. Vamos conversar no meu quarto, por favor! — Jimin o segurou pelo braço, mesmo que lhe sentisse todo rígido perante seus toques. — Por favor, eu te dei seu tempo. Agora a gente precisa conversar.

— Jimin, eu não tô pronto, tá legal? — rebateu, um tanto grosso. — Se eu passar mais um minuto perto de você, eu vou dizer coisas que nem você e nem eu vamos gostar.

— Por que? Que tipo de coisas você quer tanto dizer pra mim? Se isso for te fazer conversar comigo, então fala de uma vez! Desabafa.

— O que quer que eu pense vendo aquele idiota na frente da sua casa depois de ontem? Sério, me responde. — cobrou algum tipo de consideração, porque era desse jeito que via as coisas.

— O que eu quero que você pense? Eu vou te falar o que eu quero que você pense. Quero que você puxe lá no fundo da sua memória e lembre que justamente ele é um idiota! Já não é o suficiente pra você?

— Você vai ficar dizendo coisa óbvia ou vai falar direito sobre a gente? Porque se for continuar se fazendo de desentendido, eu vou embora. As coisas não são tão fáceis assim, Jimin.

— Eu não tô me fazendo de desentendido, Jeon Jungkook. — tentava manter a paciência. — Eu só tô te lembrando o único motivo de que ele estava aqui na minha porta. Fala sério! Mesmo que eu tivesse com intenções no que aconteceu ontem, acha mesmo que eu seria burro de chamar ele aqui?

— Não sei, me diz você. — deu os ombros. Jimin estava reunindo todas as forças de seu corpo para manter a calma. Estava sendo muito difícil, mas tentava levar em consideração que a cena que Jungkook viu não foi uma das melhores. Foi humilhante.

— Olha só, eu vou fingir que não ouvi isso, tá legal? — Jimin prosseguiu a conversa. — Porque no fundo, você pode até estar com raiva pela cena que viu, mas você sabe sim o que aconteceu. Você sabe. Só está se deixando consumir por outras coisas, mas eu me recuso a acreditar que você não acredita em mim.

— Você que insistiu em uma conversa em um momento que eu nitidamente não tô pronto. Me dá um tempo, tá legal?

— Tá bom, Jungkook. Pode deixar, dou o seu tempo indefinido sim, pode deixar... — concordou, com um tom de voz contraditório. — Enquanto isso eu fico aqui, me consumindo por uma coisa que eu sequer fiz! Tá certo.

— Será que você ainda não entendeu que aquela cena infernal e estranha ainda não saiu da minha cabeça?! Como eu posso ser mais claro que isso? Caramba, você mesmo disse! Não me faz explicar. — o mais velho o sentia incomunicável naquele momento, mas ainda sim, o desespero de Jimin o fazia continuar.

— Então temos um grande problema, porque não é como se você fosse esquecer daquilo do dia pra noite, não tô certo? — Jimin contrapôs. — Se nem eu vou esquecer do que aquele idiota fez do dia pra noite, imagine você.

— Jimin, faz um seguinte... — Jeon respirou fundo. — Me deixa um pouco, tá legal? E não vem atrás de mim. — sequer esperou qualquer confirmação, seus passos seguiram para o caminho de sua casa. E Jimin ficou ali, acabando por dar uma risada incrédula.

Então é isso?perguntou em voz alta, o suficiente pra Jeon escutar mesmo com a distância. — Você vem aqui na frente da minha casa, começa uma briga, ataca alguém e vira as costas indo embora? É isso mesmo? Olha, eu não te julgo por atacar aquele sem noção, mas o resto?

Mesmo de longe, Jimin pôde ouvir uma batida forte na porta assim que o moreno adentrou a residência. Fechou os punhos com raiva, sem controle de um bico enorme que apareceu em seus lábios.

Ótimo! Bate essa porta mais forte! Quebra essa merda na próxima, espero que sua mãe puxe sua orelha!

Fez a mesma coisa e adentrou em sua casa, se esforçando ao máximo para não fechar a porta tão forte quanto o outro fez ao lhe deixar ali e se retirar.

— Só não faço isso porque minha mãe viria aqui na hora... Briga na frente de casa? Tudo bem. Agora fechar a porta com força? Mancada. Pelo menos é assim que funciona na cabeça dela.

Se sentiu pirando completamente por estar falando sozinho, mas sabia que era uma forma de amenizar a raiva e insatisfação que estava sentindo naquele momento.

— Não sei o que fazer, ele não quer que eu vá atrás dele. E eu não vou, pelo menos por hoje. Pra quê ir? Pra ser tratado mal de novo? Não! — refletiu. — E merdaaa! Eu tô falando sozinho de novo. Que raiva.

Com coração apertado, resolveu subir para o seu quarto. É meio chato para Jimin demonstrar que estava assim por causa de um cara, mas fazer o quê? Era exatamente o que estava acontecendo.


     [🌳]

[8:00 p.m.]

E ele foi pra cima do Yoongi, assim, do nada? — Tae indagava incrédulo através da chamada com o seu melhor amigo.

Acredite se quiser, eu fiquei desesperado. E por favor, não fale nada relacionado à "dois caras brigando por você". Eu não acho isso romântico. — avisou ao amigo enquanto terminava de editar algumas fotos em seu notebook. O resultado não estava sendo um dos melhores, e culpava sua mente avoada por isso.

Você pensa muito mal de mim, talvez isso só tenha passado vagamente pela minha cabeça, mas não quer dizer que eu ia falar em voz alta, tá? — Tae rebateu. — Mas cara, que tenso. Os vizinhos viram?

Acho que o pessoal do outro lado da rua viu, mas tudo bem. Eu quase não falo com eles mesmo. — deu os ombros, jogando o seu projeto no lixo do programa de edição. Iria recomeçar de novo.

Você não pode deixar eles fazerem isso, Jimin. Na frente de sua casa, e se seus pais tivessem visto? Teria sido ridículo pra cara desses dois. — alertou.

Eu sei. — esfregou o rosto. — O Yoongi não me surpreende, e eu não dou a mínima. Mas o Jungkook... A história é outra. Fiquei surpreso.

Sabemos que o Jungkook está magoado, mas esse negócio dele ser teimoso e nem conseguir pensar no seu lado direito... Dificulta, hein? Sei nem o que falar pra você.

Ao mesmo tempo que eu fico chateado com ele, me sinto um idiota. Eu não deveria ter deixado aquilo acontecer ontem, Taehyung. Não devia.

Jimin, o idiota se aproveitou de você. Eu sei que a cena foi estranha, beleza, qualquer namorado ficaria meio cismado principalmente te vendo corresponder à primeiro momento. Mas não se culpa, Yoongi fingiu ser o Jungkook de propósito, você conhece o ex que tem.

Talvez Jungkook não estivesse completamente errado.

Jimin só conseguia pensar que desde que Yoongi voltou a cidade, de fato, sua vida tem sido afetada de alguma maneira. E não por existir sentimentos, e sim porque Yoongi não conseguia aceitar o fato de que ele não tinha mais poder naquela relação.

Jimin seguiu em frente, e o ego de Yoongi o fez não lidar bem com isso em muitos momentos.

Vamos esquecer isso por enquanto, tá? Se não, você vai pirar. — Taehyung sugeriu através da ligação. — Enfim, o que está fazendo?

Tentando tirar sua mente do acontecimento de hoje à tarde, Jimin se esforçou para se concentrar na pergunta do amigo:

Nada demais. Só tentando focar um pouco em outras coisas, mas não conseguindo. E também...

Estava prestes a continuar sua explicação, se não fosse por... pedras sendo jogadas em sua janela? Jimin achou que estivesse vendo coisa, mas não. Quando o vandalismo continuou, ele sabia que tinha mesmo pedras sendo arremessadas em sua janela.

— Tae, depois eu te retorno. Preciso matar alguém. — foi o que avisou para o amigo, por mais que ainda não soubesse com certeza do que de tratava, sua intuição nunca falhava.

Aquilo era infantil e combinava perfeitamente com alguém que conhecia.

Desligou e largou o aparelho de mão, correndo para a sua janela e abrindo o vidro. Olhou enfurecido para a casinha da árvore, mas não tinha nenhum cara irritante ali. Ao receber mais uma pedra pequenininha em sua direção e desviar, pôde ver que o vandalismo vinha ali debaixo.

Lá estava Jungkook, com várias pedrinhas em mãos e uma expressão de poucos amigos. Jimin riu desacreditado, negando com a cabeça.

— Você é idiota, por acaso? O que diabos tá fazendo? Para de jogar essa porcaria na minha janela! — avisou, apontando para o meliante.

Acha que manda em mim, vizinho? — novamente mais um pedra que acaba adentrando o quarto do mais velho, fazendo-o desviar.

Aquilo deixou o Park boquiaberto. Quem ele pensa que é?

A sua raiva por mim te deixou louco, só pode! Perdeu completamente o juízo. Seu esquisito! Você costuma encher o saco de quem tá magoado?

Eu quero que você devolva o urso branco que eu te dei de aniversário... agora! — foi o que Jungkook gritou de volta, falando o contexto que arrumou de última hora antes de decidir ir até ali.

Eu não acredito nisso... — Jimin murmurou.

Agora!

Sério mesmo que você veio até a minha janela pra pedir o urso de volta? Você me deu! Presente é presente, não pode mais pegar de volta!

Seja rápido, e devolva!

Eu vou jogar um tijolo em você, saia já daqui!

Pelo visto você realmente gosta de pedras, quer que eu jogue mais?

Eu vou chamar os seus pais, seu moleque! Isso é perturbação, eu posso te denunciar por isso! Fora que eu tenho mais uma denunciar para a lista, de todas as vezes que você invadiu meu quarto. Principalmente a primeira vez! — jogou em sua cara.

Jungkook riu, cínico.

Denuncie então, quero ver!

Os olhos do Park fecharam, suspirando impaciente. Se não conhecesse Jungkook o suficiente para saber que pegar o urso de volta era apenas o seu contexto perfeito para discutirem e se verem, com certeza estaria verdadeiramente magoado. Mas como aquilo era apenas uma desculpa, Jimin não sabia se ria ou o puxava pelos cabelos para deixar de ser um orgulhoso imaturo.

Jungkook, para de testar minha paciência.

Vai devolver ou não?

Após mostrar uma expressão irritada, Jimin foi até sua cama pegar o maldito urso e, sem pensar muito, apenas o atirou com ódio pela janela. A pelúcia caiu na grama, centímetros próximo dos pés do moreno.

Pega, toma esse urso e faça com ele a merda que quiser! Vá se foder!

Jungkook apertou os lábios, insatisfeito.

Por que você jogou?! Deixou ele cair e sujou! — implicante como estava fazendo questão de ser desde que pisou naquele jardim, reclamou. — Quem você pensa que é pra fazer isso?

Ah, você já ouviu falar em lavar? Pois é, faça isso. — acenou para o garoto, cínico.

Desça dessa sua torre da princesa que você chama de quarto e venha juntar o urso! — exigiu, apontando para a pelúcia no chão.

Pra quê eu vou descer? Pra você gritar comigo? Você não me escuta quando eu quero conversar! — retrucou. — Eu até quero falar com você, mas precisa deixar um pouco de lado o seu instinto revoltado e me escutar um pouco!

Conversar sobre o quê, Jimin? O que diabos você quer conversar? Das mil formas que você usou sua língua pra beijar o Yoongi? — afiado, o mais novo cutucou. Claro que aquilo magoou Jimin.

Deixa de ser ridículo!

Você pegar o urso ou não?

Jimin apertou seus lábios, totalmente chateado. Mas de repente, soube que precisava fazer aquela criança tomar do próprio veneno.

Você quer o urso, Jungkook? É isso mesmo que você quer? Certo, então espera só um pouco, docinho. Vamos resolver isso! — o docinho soou de maneira mais irônica impossível, e assim Jimin sumiu da janela.

Jungkook por um momento ficou até se questionando se ele apenas sumiu, como um covarde. Mas não demorou muito para a figura de Jimin sair da casa dos Park e aparecer na mesma área que Jungkook, próximo a casinha da árvore. Sua expressão certamente não era a das melhores, principalmente quando juntou aquele urso do chão.

É isso que você quer? Então pega! — não dosou revolta quando lançou aquela pelúcia contra Jungkook, fazendo-o até mesmo se desequilibrar e quase cair no chão. Novamente, o pobre urso encontrava-se no chão após o impacto, e mesmo que Jungkook mostrasse uma expressão desacreditada, Jimin sorria cínico e zero arrependido.

Qual é? Ele mereceu só pela infantilidade!

Só pode estar zoando comigo, Jimin... — ajeitou seus cabelos, que tinham ficado uma bagunça com o impacto.

Não, quem está brincando é você agindo dessa forma. — apontou para o garoto, chateado.

O que você quer? Que eu fique feliz pelo o que aconteceu ontem? Isso literalmente acabou com tudo de bom que estava rolando! E espera que eu fique bem com isso? Se ponha no meu lugar! — o mais novo não conseguiu mais esconder sobre tudo o que estava sentindo.

Senhoras e senhoras, eu vos apresento... o Jungkook mais irritante da terra! O magoado.
Mas também conhecido como ser que eu ainda sou tão apaixonado.

Era o que passava pela cabeça de Jimin, enquanto este fitava com uma expressão triste o moreno desabafar suas revoltas desde a noite passada.

Olha, Jungkook... Me desculpa, tá bom? Eu sei que não foi fácil a cena que você viu, mas eu tô te explicando desde ontem o que realmente aconteceu. Até o idiota do Yoongi veio aqui explicar! O que diabos você quer que eu faça? — Jungkook permaneceu calado, com sua expressão magoada e irredutível. — Está vendo! Nem você sabe o que quer que eu faça pra você me desculpar! Você só está se deixando consumir pela cena que você viu.

O jeito que Jungkook virou-se de lado e cruzou os braços, fez Jimin precisar de uns instantes para perceber através do brilho melancólico em seus olhos, algo que lhe despedaçou: Jungkook estava chorando, mesmo contra sua própria vontade.

Jungkook, não precisa conter seu choro... Me dói te ver assim, mas eu tô aqui com você. se aproximou um pouco mais dele.

E se eu te contar que o motivo do choro é você? E aí, como é que fica a situação? — acabou murmurando, ainda meio arisco sobre aproximações com o outro. Até limpou a lágrima que quis cair de seus olhos, tentando manter alguma mínima postura.

Bom, aí mesmo que eu fico aqui com você. Porque se o projeto está entre a gente, precisamos resolver juntos. Precisamos estar aqui um pelo outro.

Apesar de ter ficado sem resposta, Jimin conseguiu se aproximar o suficiente para apertar seus corpos um no outro em um abraço repleto de sentimentos de sua parte. Isso mesmo, de sua parte... Pois não foi correspondido. Mas entendia, entendia o tempo que Jungkook precisasse para organizar seus medos e confusões mentais.

Por que você está me abraçando? Não faça isso, eu não quero isso agora. — sua voz saiu quase como um choramingo, e Jimin apertou os olhos com aquilo.

Você quer sim, merda! Por favor, deixe de ser bobo.

— Eu só não queria estar sentindo essa droga que eu tô sentindo, eu só não queria estar reprisando tantas vezes na minha mente aquela maldita cena de você nos braços dele. Porra, você era meu! Você era pra estar só nos meus braços... Eu finalmente me abri pra uma relação de novo, não era pra droga do seu ex se intrometer! — seu desabafo tinha muita revolta. E Jimin não conseguia fazer muito, se não, deixá-lo falar tudo o que sentia. — Eu tinha prometido pra mim mesmo antes de você que jamais ia sentir de novo esse sentimento... Essa sensação de que tô perdendo alguém que eu amo.

— Jungkook, eu ainda sou seu. Você precisa entender isso... Caramba, você não está perdendo ninguém! Não deixa sua mente e seus traumas te sabotarem desse jeito. — Jimin exclamou, se afastando apenas para tentar olhar em seus olhos informados. — Você está deixando sua cabeça te impedir de ver ontem como um terrível engano. Aquele desgraçado do Min Yoongi me beijou sem consentimento, pelo amor de Deus! Eu jamais voltaria pra ele.

— Quando te conheci, você ainda tinha fotos com ele no seu celular. — acusou, trazendo à tona um assunto antigo.

— De novo isso? Eu tinha esquecido de apagar! E sequer tínhamos algo sério ainda. — retrucou. — Jungkook, antes de te conhecer eu nunca cogitei ficar com alguém mais novo que eu por medo de infantilidade. Mas aí o Yoongi, sendo mais velho, foi lá e se comportou como um moleque comigo. Eu abri mais a mente porque você simplesmente me deixou completamente apaixonado. A última coisa que me passa pela cabeça é voltar com esse babaca! Acredite em mim.

Não obteve resposta do moreno, apenas lhe viu desviar o olhar e limpar as lágrimas novamente.

Feche os olhos. — repentinamente, Jimin pediu.

O quê?

Feche os olhos agora, Jungkook. Me obedeça pelo menos uma vez na vida depois dessa merda toda!

Não foi obedecido, mas tudo bem, porque pelo menos lhe deu oportunidade de ter iniciativa e colocar suas próprias mãos em frente aos olhos do moreno. Não foi impedido, muito menos afastado.

Eu vou ser verdadeiro com você. — o mais velho anunciou.

O que tem em mente com essas mãos nos meus olhos?

Porque foi isso que o Yoongi fez comigo, mas pra mim, era você. Ele me puxou, e então, isso aconteceu... — mesmo nervoso, Jimin teve a coragem de se aproximar e colar seus lábios sutilmente. Sentiu as mãos de Jungkook em seu peito, preparado para lhe empurrar, mas se segurou ali.

Aproveitou aquele contato cheio de carga emocional por uns instantes e finalmente teve forças para se afastar, tirando as mãos da frente dos olhos do moreno.

— E então, eu escuto sua voz e abro os olhos. Só sinto nojo, repulsa... E raiva. Raiva dele. Se eu não estivesse tão preocupado com sua reação naquele instante e com seus sentimentos, teria ficado muito mais tempo sentindo aqueles sentimentos ruins à respeito dele. Mas... você era mais importante e eu só queria correr para você desesperadamente, amor. Desesperadamente.

Jungkook o encarou por uns instantes, aproveitando aquela proximidade. Doía, porque também acreditava ardentemente em Jimin. Doía, porque se sentia sabotado por si próprio.

Mas principalmente, queria ser o homem maduro que certamente combinaria perfeitamente com Jimin. E aqueles malditos ressentimentos, paranóias... lhe diziam coisas. Lhe impediam de ser aquilo naquele momento.

Eu queria não ter medo.finalmente falou algo. Eu queria não ter tanto medo assim de uma segunda Anny na minha vida.

Não me compare com sua ex namorada. — retrucou chateado, apesar de saber desde o início que as reações de Jungkook desde ontem tinham a ver com isso. Conhecia ele bem demais para não ser tão nítido. — Que Deus a tenha! Jesus, estamos falando de alguém que nem está mais aqui para se defender, o que é mais melancólico ainda, mas... Eu não te abandonei pra ficar com ninguém! Eu não quebrei seu coração propositalmente como ela fez, então não faça isso.

— Quer falar de problemas com ex justo agora? Depois de ontem?

— Você sabe muito bem que, o que aconteceu ontem,  não tem a mínima semelhança com as sacanagens que ela fez com você. — Jimin pontuou. — Você realmente está deixando aquela cena do beijo confundir sua cabeça! E tudo bem, eu entendo a chateação. Mas não misture as memórias!

— Relaxa, não estou misturando. — garantiu, mas seu tom era sombrio. — São memórias diferentes. Dores antigas, dores novas... É diferente, não concorda?

Jungkook...

Descansa, Jimin. Por favor, preciso ir. Se eu ficar aqui mais um segundo, eu vou te magoar mais do que eu já estou fazendo. — avisou, conturbado. — Eu tô... fodido demais pra conseguir ser o cara que você merece agora. Por favor, vai descansar.

Ele não esperou mais nem um segundo, só foi em passos rápidos para longe dali. E Jimin sequer conseguiu impedir.

Não conseguiu impedir, porque seu coração apertou com o fato de que, mesmo magoado e agindo de forma completamente rancorosa, Jeon só queria lhe manter longe das suas palavras afiadas.

É Jungkook... Você tem o dom de fazer a minha cabeça girar de todas as maneiras, por todos os lados, até conseguir entender a sua.

Treehouse em:
Afinal, por que traumas falam tão alto?

[N/A]:

Aguentem só mais um pouco do Jeon agindo assim, sei que dói coração e pode até dar uma raivinha (concordo)... Mas infelizmente é uma situação necessária para esse personagem sair de garoto para homem. E vai ser muitooo importante ele se comportar como um homem no futuro da história.

Lembram do medo dele de se apaixonar? Pois é, de fato foi tipo uma armadura que ele adquiriu depois de se machucar da última vez. Está na hora de destruir de vez essa armadura para ele perceber que não está mais precisando dela. ❤️

Como uma autora que usa experiências da vida para escrever, vos digo... Mexer com personagens novos (idade) tem dessas ao menos pra mim, precisamos amadurecer eles para dar certo muita coisa.

Até o próximo cap. 🫶🏻

(posto amanhã)

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top