❦| What i didn't expect
[🌳]
Ponto de Vista.
PARK JIMIN.
De todas as coisas que poderiam sair da minha boca naquele momento, as mais sentimentais saíram. Eu me perguntava se isso era bom ou ruim.
Talvez um pouquinho dos dois, eu não faço ideia. De qualquer forma, tudo o que eu esperava agora era sua resposta, pois ele não parava de me encarar. Então nervosamente, decidi apressar as coisas:
— Jungkook, diz alguma coisa porque eu estou começando a ficar constrangido e apavorado, sabe? — e pelo menos quebrar o clima eu consegui, porque ele saiu então de sua seriedade e lançou um sorriso fraco em minha direção.
— Isso foi... — levou o olhar para suas próprias mãos, e então compartilhou sua conclusão soando impressionado: — É, parece que somos amadores nisso de amizade colorida. Transformamos em algo muito maior, não acha? — ele tentou soar descontraído.
— Você acha? Porque eu tenho certeza. Pelo menos dá minha parte... — cocei a nuca e dei uma risada nervosa.
— Desculpe demorar pra dizer algo que preste. — e então, ele se adiantou em dizer, realmente parecendo sincero sobre as desculpas. — Mas você deve entender o quanto isso está sendo confuso pra mim. Sabe, a impressão que eu tenho é que minha mente lerda tem que consumir muito conteúdo em pouco tempo. A morte de Anny, a culpa que senti, como me sinto perto de você, os modelos de relacionamento merda que sempre acompanhei e tive na minha vida. Mas principalmente... — ele suspirou profundo, e contou o que parecia ser o principal da lista: — O medo de te afastar de mim só por ainda não ter respostas prontas e estar com a cabeça mais perdida que tudo.
Engraçado...
Eu estranhamente entendia ele. E coloquei estranho nisso por várias razões. Passei por um último relacionamento super merda também, o qual eu me doei por inteiro e era o que mais amava da relação.
Fui muito machucado por simplesmente ser seduzido por um egocêntrico e que valorizava zero tudo o que fazia por ele. Eu dava o meu melhor, e não recebia nem a metade de volta.
Tudo o que mais evito desde então é incertezas, problemas e pessoas confusas. Prometi para mim mesmo que se fosse me envolver com alguém de novo, eu seria aquele criterioso à nível chato.
Mas aí, Jungkook apareceu na minha vida...
Com uma relação maluca e amigável, e eu como um bobo fui caindo no conto que montei para mim mesmo que era: ele é apenas um garoto mais novo que eu que é engraçado, divertido, além de ser um ótimo amigo vizinho. Quem sabe não seja tão ruim assim deixar esse moleque adentrar na minha vida, não é mesmo? Nunca fui próximo de um vizinho, e isso pode animar a minha rotina.
Era o plano perfeito, principalmente com o fator que eu curtia me envolver com garotos mais velhos que eu, em geral. Então tinha a plena certeza que o veria mais como um irmãozinho mais novo que nunca tive. Não é?
Mais uma vez, foi bobo. Me apaixonei por ele, mesmo prometendo à mim mesmo que não me colocaria mais nessa posição de romance arriscado para sair machucado. Mas Jungkook era um moleque bom, puramente bom.
Até mesmo depois que nos relacionamos pela primeira vez, seu olhar nunca mudou para mim. Continuei sendo o Jimin que ele se agrava pela personalidade, e não porque eu era uma foda prática e fácil na vida dele. Fiquei com medo diversas vezes disso acontecer conforme meus sentimentos foram tomando força dentro de mim, mas sua presença sempre me trazia segurança. Especialmente hoje, que ele provou e falou com todas as palavras que eu de longe era a sua foda fácil.
E nesse momento, eu consigo sentir seu medo de perder minha companhia. Porque acima dos beijos, amassos e atrações... éramos fascinamos um pelo outro por quem éramos por dentro. E droga, eu odeio estar na posição de ceder novamente, mas era impossível deixar de dizer que eu o entendia.
Seus exemplos de amor foram sempre vagabundos e sem credibilidade, além de mesmo sendo muito novo, já ter sido amargamente magoado como eu. A diferença, é que o babaca do meu ex está bem e vivo por aí. Ainda bem, pois nunca quis ao contrário disso. Já o passado de Jungkook... tinha acabado de se tornar um tanto mórbido, e devia ser muito confuso juntar todas essas informações em um curto período.
— Está tudo bem. Eu te entendo. — foi o que meus lábios deixaram soar, atraindo sua atenção envergonhada para mim. — De verdade, não estou falando por falar. Eu realmente te entendo.
— Não precisa ser compreensivo comigo, Jimin. Ninguém gostaria de se declarar pra alguém e não ouvir uma resposta tão apaixonada quanto. — Jungkook me retrucou, parecendo insatisfeito consigo mesmo. — Na verdade, ninguém merece dialogar com alguém perdido e confuso. Parece que a conversa roda em círculos...
— Você acha? — tombei a cabeça levemente para o lado e dei os ombros, vendo-o de cabeça razoavelmente baixa cutucando os próprios dedos. — Porque eu não acho que essa conversa esteja rodando em círculos.
— O que você quer dizer com isso? Que gostou das minhas respostas? Porque nem mesmo eu gostei.
— Você não disse que não gostava de mim em nenhum momento. — atrai sua atenção. — Você só quis dizer que ainda não sabia, e compreensível. Por que isso nos afastaria? Mesmo que eu tivesse um ego frágil e admito que as vezes eu tenho, normal, sou humano. Não teria sentido, não levei um fora de você. Não concorda?
Observei sua feição reflexiva e desconfiava me fitando por uns instantes. Tenho quase certeza que ele está procurando em meu rosto algum sinal de deboche ou falsidade em minhas falas, mas não encontraria. Eu estava sendo cem por cento sincero.
— Eu posso acreditar em você e ficar tranquilo que amanhã você não vai passar reto por mim, com ódio da minha cara e não querendo me ver nem pintado do ouro? — até dei risada da sua pergunta.
— Sabe, você é muito criativo nas suas narrativas. — cruzei as minhas pernas na cadeira e abracei meu corpo pelo frio.
— Criativo nada, você sabe que isso perfeitamente poderia acontecer. Não me faça ser o louco, Park Jimin. — ele é uma graça.
— Concordo, mas não é o que vai acontecer. — minha expressão estava tranquila, e isso fez com que seus ombros ficassem menos tensos. — Me coloco no lugar dos outros, por isso digo que te entendo, Jungkook. Ainda somos amigos, e até mesmo nos envolver, eu estou tranquilo de fazer. Não quero você distante nem nada do tipo. — um sorriso foi brotando em seu rosto aos poucos. — Eu só tenho um pedido pra fazer.
— Qualquer coisa, Jimin.
— Tenha o tempo que você precisar, mas assim que você tiver uma resposta para o que eu disse, eu quero saber. Não quero que deixe pra lá.
— Eu jamais deixaria pra lá... Eu só, preciso me entender melhor. Sabe, um cenário de uma relação bem sucedida é algo bem distante da minha realidade. — desabafou, sincero. — E você é bom demais pra ser só um sim passageiro meu, Jimin. Prefiro ser seu amigo pra sempre, do que ser seu namorado com data de validade e que você ainda vai odiar mais que tudo depois do término.
Naquele momento pensei: estou sendo muito idiota por estar mais lisonjeado com essas palavras, do que se ele tivesse dito um eu gosto de você na pressa. Sem ao menos se dar o tempo de refletir se era o certo. Eu nunca tive isso. Sempre fui o sim rápido, mas que no final dava uma merda e o relacionamento não prosperava. Sendo assim, Jungkook mal sabe, mas o que ele disse mexeu mais comigo do que imaginaria.
— Legal da sua parte, invasor de janelas. — lhe respondi, com um tom leve. — Relacionamentos são complexos mesmo. Nem eu saberia defender nesse momento uma tese pra você de que namoros bem sucedidos são mega possíveis. Como você sabe vagamente, minha experiência também não foi uma das melhores. Meu ex era um jogador de basquete egocêntrico, que teve o namorado mais parceiro do mundo e ainda me tratava de forma muito insuficiente. — compartilhei com ele. — Só espero que seja lá em que cidade ele esteja, não magoe outra pessoa da forma que fez comigo.
— Sei que o que eu vou falar agora pode soar muito clichê vindo de alguém que se atrai por você, mas juro que estou falando isso com o lado Jungkook amigo também: azar o dele. — Jeon fez questão de dizer, super firme no que dizia. — Perder alguém tão incrível como você... Eu particularmente ficaria mal.
Ao ouvir isso, eu apenas torci os lábios em um sorriso fraco. Quase imperceptível e um tanto lisonjeado.
— Fazer o quê? Experiências. Por isso que é ruim você entrar em um relacionamento e ajudar tanto o seu parceiro nos sonhos dele, à ponto de se esquecer... — contei, um tanto refletivo sobre essa lição valiosa que aprendi: — No final das contas quando chegar onde precisava, é ele quem decide se você ainda é válido na vida dele ou não.
Jungkook não me respondeu nada, apenas continuou me escutando atentamente. Isso me deu espaço para complementar o desabafo que eu já estava fazendo:
— É, talvez seja até bom que você não tenha me dado uma resposta rápida e momentânea. Também preciso me acostumar com a ideia de estar sentindo paixão por alguém de novo, e não ficar aterrorizado. — ri, nervoso.
— Está aterrorizado sobre gostar de mim?
— Um pouco. Mas tudo bem, você também está. Eu só não tive capacidade de mentir pra você, quando me perguntou. — olhei para os meus próprios dedos.
— É engraçado... — ele riu seco e levou seu olhar para o lado de fora, especificamente, para o céu estrelado da noite. — As coisas interessantes que você me falou. Me fez pensar como algumas pessoas passam a vida inteira procurando uma parte delas nos outros. Procuram tanto, que a primeira que aparece com reciprocidade, já pensam que é a ideal pra si. No final de tudo, somos bem carentes, não acha? Vivemos de migalhas.
Nunca ouvi tanta verdade na minha vida, principalmente eu, que já vivi muito de migalhas. Só conseguir assentir, concordando.
— Somos carentes e imaturos. Eu mesmo ainda me sinto bem imaturo as vezes...
— Obrigado, Jimin. Mesmo.
Ele disse isso tornando a olhar em meus olhos, nem sabia pelo o quê especificamente ele estava agradecendo. Mas pela intensidade da fala, tenho certeza que era um pouquinho de tudo. Por compreender, por gostar dele e especialmente por não o afastar de mim. Depois de uma despedida descontraída sobre atrapalhar meu sono de beleza e minha carinha sonolenta, ele se despediu e foi embora.
Fui dormir satisfeito. Curioso para saber o que essa minha confissão de sentimentos resultaria na nossa relação, mas satisfeito. O importante era: eu não estava arrependido de nada que disse.
[🌳]
[5 dias depois...]
É a terceira vez que alguém passa aqui comigo dizendo que Taehyung estava me procurando, mas esse ser hiperativo sequer respondia minhas mensagens. Nesse momento, eu estava na arquibancada de uma quadra de esportes próximo ao meu curso.
Decidi faltar aula porque tinha prometido para alguns amigos que os veria jogar uma partida de basquete a qual eu pedi pra não participar porque estava enferrujado e iria passar vergonha. E agora mesmo que o jogo deles já tenha finalizado há uns bons minutos, eu não estava com cabeça sequer para pegar o finalzinho da aula. Então decidi ficar pela quadra que era super bem frequentava pela faculdade que eu realizava meu curso, e esperar Taehyung que prometeu me encontrar para espairecermos um pouco a mente depois que a aula acabasse. Estou à espera.
Eu não posso aparentar estar cabisbaixo, de modo algum. Mas ficar aqui com cara de bunda sozinho só vai expor mais ainda a minha frustração. Mas fazer o quê? É muito nítido às vezes.
— Jimin! — e finalmente escuto a voz tão esperada por mim se aproximar. Parecia ofegante pela pressa, então de forma cansada, ele atirou-se ao meu lado e retirou o casaco por cima da camiseta que usava. Estava calor, realmente. — Eu jurava que você ia me esperar lá, quando vi suas mensagens, vim correndo. E que lindo, hein? Faltando aula pra ficar fazendo porra nenhuma aqui...
— Perdi alguma coisa importante?
— A minha companhia, só isso.
— Não tem problema, essa eu desfruto agora. — pisquei para ele, vendo-o rir.
— Mas enfim... Por que veio aqui?
— Julian e os meninos jogaram mais cedo. Só vim assistir, tava sem cabeça pra aula hoje. Não ia me concentrar. — eram nossos amigos do curso de logística.
— Justo aqui? — ele arqueou a sobrancelha na minha direção. — Aqui é legal, mas esse lugar só falta ter escrito "Yoongi" no chão de tanto que lembra ele.
Bom, sim... Quase esqueci disso. Meu ex costumava jogar basquete nessa quadra antes de mudar de cidade, em outras épocas estar aqui provavelmente me faria muito mal. Mas foi até bom para eu perceber isso: eu sequer lembrei dessa informação.
— Verdade, mas te juro que não tem mais nada a ver com ele... Quer dizer, estou com minha cara de bunda por outra coisa. — bufei, e apoiei minha mão no queixo emburrado.
— Desembucha, Park Jimin.
É pra isso que serve encontrar o melhor amigo, para desabafar tudo o que está nos corroendo por dentro e a gente não pode falar com qualquer um. Deixei sair o que tava preso dentro de mim nos últimos dias:
— Desde o dia em que eu decidi me confessar para o Jungkook e que até então estava tudo bem, ele sumiu. E hoje faz cinco dias, cara! — estava indignado. — Ele não me mandou mensagem, e eu quem não iria mandar! Principalmente depois de me confessar daquele jeito. Ele não aparece fora de casa, só ontem que eu vi ele chegar tarde da noite, mas sei lá, nem olha pra minha casa. Zero contato comigo. Nossa, eu abri meu coração, e não estava me sentindo um otário porque o papo foi muito gostoso... Mas agora estou começando a repensar.
— Jimin, calma. Sei que é chato, mas relaxa um pouco. Você está aos nervos! — me avisou, até preocupado. E eu neguei com a cabeça.
— Não dá pra relaxar. Eu sei que ele não tem obrigação nenhuma, mas é tão idiota da parte dele. Sabe, eu falei tudo aquilo e não foi fácil...
— Eu sei, está bem? Acredite, eu te entendo. — ele tocou em meu ombro, e tentou transmitir tranquilidade mesmo não sendo muito sua praia. — Você está certo. Mas alguma hora ele vai ter que aparecer, é só questão de tempo. Vocês vão conversar.
— Você não acha ridículo isso dele fugir de mim? Digo, e se ele só decidiu nunca mais falar comigo? Depois de todo aquele discurso de ter medo de perder minha amizade. Aí quem some é ele! — se eu soubesse que ele faria isso, eu teria sumido primeiro como ele tanto temia há cinco dias atrás.
— "Nunca mais" é algo muito forte e exagerado pra colocar nessa situação. — Tae contrapôs.
Será? Porque poderia muito bem ser.
— Quer saber? — pensei melhor, tentando tirar conclusões sobre isso. — Acho que fui idiota de ter dito tudo aquilo pra ele. Eu devia imaginar que ele fosse fazer isso... Merda, merda!
Apesar de ainda gostar dele, eu estava mais ferido pelo ego que outra coisa. Digo, eu sou um monstro por me confessar depois DELE perguntar se eu estava apaixonado por ele? Essa conta não fecha.
— Você já foi na casa dele? — ouvi Taehyung me questionar.
— Claro que não, e eu não vou. — Tae curvou os lábios, deixando nítida sua preocupação comigo por aquela situação. — Isso que dá ser otário... — murmurei para mim mesmo, porque era isso que eu era. Um grande otário!
— Amigo, você só falou o que seu coração dizia. E foi ele quem perguntou! Por que seria otário? Deixa disso. — ele me repreendeu, provavelmente detestando ver eu me xingar.
— É ruim quando a pessoa foge de você, isso quer dizer que ele não sente o mesmo e eu ainda o assustei de brinde nessa história toda. Devia ter ficado calado.
— Ele saiu da sua casa estranho naquela noite?
— Nem um pouco, Tae. Quando eu digo que nossa conversa foi ótima, ela foi ótima mesmo. Foi muito legal, compreensiva e confortável. Estou completamente perdido do porquê ele sumiu. — ele falou tanto sobre estar perdido e confuso naquele dia, mas quem se encontrava assim agora, era eu.
Sim, eu estava machucado pelo seu sumiço. Não queria estar tão à flor da pele assim, mas não poderia deixar de me sentir dessa forma depois daquela conversa tão boa que tivemos. É de enlouquecer, você fica pensando: estamos bem ou não estamos bem?
— Quer saber? Esquece Tae, que bom que está aqui comigo agora. — eu estava decidido a parar de queimar neurônios por causa dele, como fiz algumas vezes durante esses últimos dias. — Vamos falar de qualquer outra coisa, vai.
— Ehhh... Jimin, eu acho que não vai ser possível. — olhei para o meu amigo, confuso.
— Por que não?
E então, ele apontou para um lugar específico. Com um medo de ser o que eu estava pensando, olhei nessa direção da quadra lentamente e travei. O quanto as coincidências da vida querem me foder? Pelo visto muito, muito mesmo.
Mas que merda... Era realmente Jungkook ali.
Ele estava chegando com um grupo de amigos, adentrando a quadra com vestimentas despojadas para treinos. E antes que pergunte, ele não estava nada desanimado, viu? Muito pelo contrário. Ria e se divertia próximo deles.
Meus olhos estavam arregalados, iguais os do meu melhor amigo ao meu lado.
— P-por que ele está aqui? C-como assim?
— Olha Jimin, vou te falar... você tem uma tara em garotos que jogam basquete, hein? — ele apontou tal fato, batendo em meu ombro e assentindo algumas vezes, impressionado.
— Taehyung, eu vou lá saber o que ele fica fazendo quando não está comigo? — eu não tinha tara em jogadores de basquete, eu sequer sabia que ele jogava basquete.
Naquele momento, eu não sabia se queria sumir para ele não me ver, ou se queria ficar diante seus olhos e dizer corajosamente: E aí, o que você tem pra me falar? Sumido, hein. Eu estava muito confuso.
— Por que você está assim, Jimin? Deveria estar feliz, agora que ele está aqui pode falar. — Taehyung tentou me mostrar outra perspectiva.
Mas eu não via dessa forma, infelizmente.
— Eu... não sei de nada agora. — foi tudo o que eu disse.
Jungkook precisou de uns bons cinco minutos ainda naquele ambiente, conversando despojadamente com os amigos no final da arquibancada um tanto distante, até finalmente por os olhos em mim por uma grande coincidência. Sua expressão tranquila morreu na hora, e ele ficou me encarando de longe.
E eu? Apenas lhe olhei por instantes o suficiente para ele entender que eu sabia de sua presença, mas não perdi tanto tempo nisso. Logo desviei como se estivesse seguindo uma conversa com Taehyung normalmente independente dele estar ali ou não.
De qualquer forma, antes de desviar o olhar eu notei, ele definitivamente estava sem jeito e surpreso com a minha presença.
— Ele te viu. — Tae avisou-me, também tentando agir naturalmente nessa situação.
— Acredite, eu percebi.
Quando pude colocar os olhos nele novamente de forma discreta, apenas acompanhei a cena de seus amigos lançando a bola de basquete para si e o desprendendo de me olhar. Ele se aproximou razoavelmente da quadra apenas para lançar a bola na direção da cesta, fazendo alguns de seus amigos que já estavam se aquecendo ir atrás.
Não quero demonstrar que preciso da resposta dele, mesmo querendo muito. Que merda de situação, sinceramente. É boba, mas é chata.
Eu tinha esquecido do quanto era estressante as vezes gostar de alguém. Não necessariamente por causa da pessoa, mas é que sozinhos, sempre fantasiamos muita coisa antes de fazer o que devemos: perguntar e conversar.
Fico revoltado a ponto de pensar que ele se acha no direito de ser o único a ter "medo de se apaixonar". Olha pra mim, e eu? O meu coração também está com medo, moleque. Não é só você, eu só tive mais coragem de me declarar. Isso não muda minhas incertezas também.
Não preciso que ele chegue em mim e diga um "preciso de você", e sim, pelo menos ter a consideração de conversar comigo com sinceridade, e não fugir.
Depois de uns minutos papeando, percebi que ele avisa algo para os amigos e assim vai se afastando. Vindo de cabeça baixa, em minha direção.
— Ai, caralho... — não me contenho em exclamar, nem conseguindo imaginar como irá ser essa interação.
— Eita, é agora. — Tae murmurou ao meu lado.
Sem mais delongas, a figura de Jungkook se põe subitamente em nossa frente. O que será disso, pelo amor de Deus? Estávamos super sem jeito perto um do outro, qualquer um que prestasse atenção aqui perceberia.
— Jimin, Taehyung... Oi. — ele cumprimentou Taehyung com um soquinho de mãos após ouvir uma resposta simpática vindo do meu amigo, e depois tornou o seu olhar timidamente para mim. — Oi pra você também, Jimin
— Oi, Jungkook.
— Então amigos, eu quase esqueci que eu marquei de ligar pra minha avó agora. Ela deve estar esperando, um momento! — achando que estava sendo discreto, essa foi a maneira que Taehyung se retirou para nos deixar conversar sozinhos.
Preciso lembrar de qualquer hora ensinar meu amigo a disfarçar melhor. As vezes ele consegue, mas outras, se torna completamente um desastre como foi nesse momento.
— Então... como você está? — Jungkook quem iniciou o papo, depois de um silêncio chato pairar.
— Estou bem, não esperava te encontrar aqui.
— É a primeira vez que venho nessa quadra, e também não esperava te encontrar aqui. Uns amigos meus marcaram de jogar e me convidaram. Apesar de eu ser mais do futebol na escola, decidi vir mesmo assim. — ele sorriu fraco, provavelmente tentando descontrair. O sorriso simpático, droga.
Não vou ceder fácil.
— É, talvez nos encontrarmos por coincidência em algum lugar seja a única forma de você não conseguir me evitar. — acabei falando, sem medo. Afinal, ele não poderia achar que viria aqui e eu não tocaria no assunto que está me incomodando. E vendo pela sua expressão, ele sabia que isso provavelmente teria me incomodado.
— Olha Jimin, não é exatamente isso.
— Então vai dizer que não estava me evitando?
— Eu sinto muito, não foi minha intenção te magoar nem nada do tipo. Mas não é como se eu tivesse feito algo de ruim, eu apenas... sabe, tirei um tempo pra pensar. Como conversamos, eu precisava muito colocar minha cabeça em ordem. — ele justificou, e apesar de agoniado para me fazer entender, estava tranquilo no tom que usava.
— Caramba... — uma expressão impressionada da minha parte foi inevitável. — Espero que tenha pensado na sua vida inteira nesses cinco dias. Porque, né? — ri, nervoso.
— Eu já disse que sinto muito...
— E eu já ouvi.
— Jimin, tenta me entender um pouco. Por favor.
— Te entender? É Jungkook, eu tento. Eu juro que tento, mas posso te contar um segredo? Você não pode machucar o coração dos outros, por medo de machucar o seu. Eu te dei espaço, não me afastei como você tinha tanto medo há cinco dias atrás... Mas quem fez isso foi você.
— Não fale como se meu objetivo tivesse sido te machucar, porque não foi. Como eu posso te explicar que eu não me afastei, e sim só tirei um tempo pra mim? Eu mal sai de casa sem ser ir pra escola. Ontem a noite foi a primeira vez nesses dias que sai pra descontrair com meus amigos. Acredite, não estou inventando quando disse que tirei esses dias pra pensar. — ele continuou a se justificar. E por um momento eu me senti mal, porque:
— Jungkook, não fale como se a minha satisfação fosse saber que você estava pensativo e trancado em casa. Eu não quis dizer isso, você podia sair quantas vezes você quisesse. Não mando em você. — esclareci. — Eu só estou chateado por você simplesmente sumir depois daquela conversa, e sem ao menos me mandar uma mensagem de conforto. Sei lá! Qualquer coisa, explica que quer ficar sozinho. Só de você falar, eu entenderia e teria ficado menos preocupado de ter falado merda, ou algo assim.
— Eu sei que você não está cobrando pra eu me isolar, não se preocupe quanto à isso. Eu só tô te contando porque foi verdade, eu precisei desse tempo pra mim. — respondeu, apoiando seu pé no degrau que eu estava sentado da arquibanca apenas para ficar mais próximo de mim. — E me desculpa, está bem? Mesmo. Eu não queria te deixar preocupado, e você não falou nada de errado. Eu quem resolvi tirar esse tempo pra mim mesmo, não tem nada a ver com você.
Agora que ele pediu desculpas e reconhecia, não era como se as coisas estivessem resolvidas e com certeza ainda faltava um esclarecimento melhor entre nós dois. Mas meus ombros ficaram menos tensos.
— Olha, agora você está com o Tae, e eu vou jogar um tempo com meus amigos. Podemos conversar depois, por favor? — seus olhos imploravam. — Quero poder te explicar tudo o que estou sentindo, mesmo sendo ainda um pouco confuso pra mim.
— Não sei se vou ficar aqui até depois... — balbuciei, ainda relutante.
— Fica, por favor? Eu sou o idiota assustado dessa história toda, não você. Só quero ter a oportunidade de te explicar, e te mostrar que eu não sumi por maldade... — ele, sem vergonha alguma, segurou minha mão.
Eu achava adorável como de longe o seu problema envolvia vergonha de estar se relacionando com outro homem, mesmo que eu tenha sido aparentemente o primeiro que lhe atraiu.
Isso que me fazia ceder um pouco para ele, por ver que seus comportamentos reclusos não pareciam ser com intenção maldosa ou algo assim. Posso estar muito enganado, mas é como se ele errasse, tentando acertar.
— Se você ficar pra me assistir jogar, juro que vou me esforçar e fazer ser interessante. — ele brincou.
Queria manter minha postura fria e calculista, um homem que jamais dava seu perdão ao próximo. Um coração de gelo. Mas no fim, eu não era.
— Só se você prometer jogar bem. — acabei dizendo, entrando no seu papo mesmo que ainda relutante no tom de voz.
E ele mostrou seu sorriso fofo.
— Pode deixar. — disfarçou um suspiro aliviado, até relaxando a postura ao colocar as mãos na cintura. — Ainda vamos conversar, está bem? Te devo todas as explicações do mundo.
— Tudo bem. Até depois, pirralho.
Ele riu e foi se afastando, até focar a atenção completamente para o seu caminho. O vejo dando um corridinha até seus amigos, e aproveitei sua distância para suspirar profundamente.
— E aí, como foi? Se resolveram?— repentinamente, Taehyung estava ao meu lado novamente. Curioso, claro.
— Ele pediu para conversarmos depois. Só isso. — falei, sem ter muito o que dizer. — E está bem, ele se desculpou. Não vou ocultar fatos.
— Pelo menos vocês vão conversar direito. Tenho certeza que vai ser muito bom pra vocês.
— É o mínimo que ele deveria fazer, mas tudo bem.
— Não fica assim. Vem, quero te mostrar o trabalho que apresentei hoje na aula. — ele pegou seu celular do bolso e o desbloqueou, despertando meu interesse com o que falou já que faltei a aula. — O tema foi clima de Outono através da edição. Eu transformei clicks totalmente verdes do campus em uma coisa extraordinária! — fiz uma expressão interessada.
— Me mostra agora.
¸.*☆*¸.*♡*.¸ ¸.*☆*.¸ ¸.*♡*.¸¸.
Fiquei extremamente satisfeito pelo interesse artístico fotográfico meu e de Taehyung ter me distraído por um tempo. Apesar de Jungkook ter pedido docemente para eu vê-lo jogar, eu não queria ficar olhando igual um fã dele que babava da arquibancada, algo do tipo. Olhava uma vez ou outra, lhe flagrando se divertindo com os amigos na quadra. Aquele moleque ficava malditamente lindo suado, e isso era um pecado.
O espaço esportivo em que estávamos não estava lotado, mas também não podia ser considerado quase vazio. Não tardando em pegar a vez antes de qualquer outro grupo, Jungkook e seus amigos quem dominavam a quadra. Mas ao redor e inclusive próximos da gente na arquibancada, tinha alguns grupinhos por ali espairecendo e conversando nessa tarde tranquila.
E assim, Taehyung continuava a tagarelar sobre um livro super exótico que Hoseok lhe apresentou recentemente. Estava prestando atenção para não ser estraga prazer e apoiar meu amigo, mas definitivamente o que ele me contava soava muito chato e tedioso. E olha que gosto de ler.
— Você tem certeza que gostou desse estilo? Você sempre detestou livros cheios de metáforas difíceis de entender. — questionei meu amigo com uma expressão encabulada, e lhe relembrando tal fato.
— Jimin, Jimin... — ele negou algumas vezes e sorriu. — Eu sei que é clichê, mas o amor é repleto de surpresas. — revirei os olhos e deixei um sorriso escapar.
— Quem eu sou pra te ajudar? Boa sorte terminando de entender isso aí. — apontei para as páginas recheadas que ele tinha em mãos, mas que logo guardou novamente em sua bolsa de faculdade para não perder aquele presente de Hoseok.
— Obrigado, e eu vou conseguir. Você vai ver.
Estávamos tão distraídos na nossa própria conversa, que demoramos para perceber um grupinho recheado de gente reunido na entrada do ambiente esportivo. Como dois bons comentaristas, nossos olhares fofoqueiros logo se voltaram para aquela galera aglomerada.
— Será que algum time profissional está por aqui? Tem alguns uniformizados naquele pessoal. — Taehyung pensou por alto, curioso.
— Não faço ideia...
Durante esse tempo que estávamos encarando e não víamos de forma clara quem era aquele povo que algumas garotas conversavam, eu continuei curioso. No entanto, meu olhar bisbilhoteiro foi morrendo aos poucos assim que aquela roda abriu mais, nos permitindo ver nitidamente uma figura em específico que estava naquele meio.
Meus olhos estavam arregalados, e por causa da seguinte frase do meu melhor amigo, tive certeza que ele apresentava a mesma feição que eu:
— Não acredito...
— O-o que ele...
Não tem o momento em que eu insinuei que provavelmente a vida está aprontando pra cima de mim só pela coincidência de Jungkook na quadra? Pois é, aquilo era fichinha. Algo muito pior foi lançado pra cima do meu dia que estava tão calmo.
Min Yoongi... meu ex estava ali!
Treehouse em:
Quando o passado volta, não tem pra onde correr.
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