— Como assim jantar com os vizinhos do lado, mãe? Por que?!

Jimin queria muito saber porque as vezes parece que o destino gosta muito de nos ver em uma situação que nos deixe sem jeito. Parece proposital da vida, como quem diz "Quero ver como você se comporta".

— Jimin, meu amor de mamãe, pare de reclamar e vá logo se arrumar. — senhora Park tratava seu filho único como um neném crescido, e o pai de Jimin também.

— Mãe, vocês nunca foram próximos dos vizinhos do lado, só falavam "oi" e "tchau". E agora um jantar? Que aproximação é essa que de repente tivemos e eu não lembro? — Jimin estava quase para contar para a mulher o que tinha acontecido há uns dias atrás. Invasão, o nome.

— Ah filhote... — ela não parava de se arrumar no espelho da sala, em seguida passando um batom nos lábios. — A vizinha passou o dia conversando comigo hoje e então nos convidou para jantar lá, se arrume e vamos logo.

Jimin bufou, tentando aceitar aquele acontecimento. Nada contra os Jeon, mas a verdade é que ainda não sabia como se comportar na frente de Jungkook e de todos sem apontar o dedo e dizer: vocês não fazem ideia!

— Vamos lá, filhote! Vai ser legal. — a mulher incentivou, animada. — A vizinha tem um filho da sua idade. Jungkook, conhece?

"Não."

— Ele não é da minha idade, eu sou dois anos mais velho que ele! — precisou ressaltar tal fato. Jungkook ainda estava na escola, ele não.

— Uau. Dois anos, Jimin. Grandes diferenças. — ela estava realmente sendo irônica?

— Por que eu não posso ficar aqui, mãezinha? — precisava conquista-la com um pouco de manha. — Tenho 19 anos.

— Tem 19 anos mas ainda mora na minha casa, então vamos!

— Me dê um motivo pra ir. — desafiou.

— É isso mesmo que eu ouvi, Park Jimin? Vamos lá. Um, dois, três... — ela iniciou a sua contagem tão conhecida pelo filho desde a infância, enquanto ficava com os braços cruzados.

— Eu estava brincando! Como eu negaria algo para a senhora? — não conseguia ir contra os avisos de sua mãe, e provavelmente seria assim mesmo que tivesse trinta anos.

Vontade de ir para esse jantar era algo que passava longe de seus pensamentos, preferia realmente ir para a casa do seu melhor amigo Taehyung, ou até mesmo refazer sua playlist de músicas da semana em seu quarto. Bom, pelo visto hoje isso não seria possível.

Tudo o que lhe restou foi ceder ao aviso de sua mãe e ir se arrumar. Com uma blusa grande branca, calça jeans e um tênis qualquer, ele já estava pronto.

Quando você não conseguir fugir: apenas aceite e siga o baile.

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Quando Jimin finalmente saiu de casa junto aos pais e chegaram em frente à casa ao lado, Jimin percebeu que Jeon Jungkook estava ali pela rua, um tanto distante, enquanto conversava com dois garotos e uma garota. Provavelmente de sua escola.

Foi impossível para Jimin não perceber o quanto ele parecia ser uma pessoa engraçada e legal de papear, apesar do primeiro contato um tanto diferenciado que tiveram. Talvez se um dia parasse para de fato ter uma conversa prolongada com ele, poderia ser até divertido.

Mas voltando ao fato de estar acompanhando seus pais em um jantar com os vizinhos, essa situação deixava o Park mais novo um tanto tímido. Parecia até que tinha doze anos e os pais estavam o levando para dizer aos outros "olha meu bebê!". Mas claro, poderia ser uma grande besteira de sua cabeça. Afinal, ficava muito feliz que os pais gostavam de lhe exibir por orgulho.

Amava seus pais.

— Ah, vocês vieram! — uma mulher com cabelos escuros, a qual com certeza era a mãe de Jungkook, foi quem abriu a porta. — Olá! Boa noite, senhor Park e senhora Park. Jimin! Ouvi falar muito de você pela sua mãe, viu? — cumprimentou sorridente.

— Viemos cerrar a boia! — essa era a maneira do pai de Jimin dizer que veio praticamente acabar o rancho de tanto comer. Era um homem engraçado. Em seguida, Jimin e sua mãe apenas cumprimentaram educadamente.

— Opa! Vieram no lugar certo. Podem entrar! Vou apenas chamar Jungkook e já volto, mas fiquem à vontade. — a mulher falou, dando espaço para a família Park entrar em sua residência.

Jimin como um bom observador que é, começa a fitar cada detalhe daquele ambiente. A casa era bonita e bem decorada.

— Boa noite. É ótimo recebê-los aqui. — quem apareceu falando tal coisa foi um homem que parecia bastante com Jungkook de aparência, e por isso Jimin não custou muito para saber quem é.

— Falou de comida, a gente vem! — senhor Park disse, logo sendo repreendido pelo filho e pela mulher. — Eu tô brincando. Vocês são sem graça demais!

Senhor Jeon não resistir em rir, logo entrando em um papo sobre a segurança do bairro com o outro homem. Esse foi o tempo que senhora Jeon retorna ao ambiente junto com o próprio filho agora.

Jeon Jungkook se comportou da forma mais educada possível, para os olhos abismados de Jimin. Cumprimentou o casal que estava em sua casa, e quando chega até um rostinho já conhecido por si, lhe lança um sorriso torto à primeiro momento.

— Oi, Jimin. — é o que diz, agora bem em sua frente. — Prazer em te conhecer finalmente.

Meu Deus, que cara de pau!

E como previsto para qualquer jantar de vizinhos, os adultos logo engatam em várias conversas completamente diferentes umas das outras, deixando assim os dois garotos um tanto perdidos em alguns tópicos. Eles apenas comiam tranquilamente, até que foram incluídos no papo repentinamente:

— Então Jimin... — a mãe de Jeon começa, fitando o citado. — Como está indo o curso de fotografia? Sua mãe comentou que você faz e adora.

— Ah, está ótimo. — sorriu, verdadeiramente feliz por não receber críticas por não estar fazendo cursos super renovados na visão de pais. — Estou gostando muito.

— Que bom! Jeon está no último ano da escola, mas ele também gosta muito de fotografia. Na verdade, eu suponho isso. Ele ainda está pensando no que fazer, sabe? O que me alivia é que ele é bom em muita coisa! – a mulher sorriu, contando orgulhosamente. — Mas ele tem que se apressar um pouquinho para pensar, né filho?

— Mãe, até ano que vem eu decido o que fazer... — Jungkook resmunga, aparentemente tentando cortar aquele assunto que chegou nele.

— Acho bom.

— Aliás, Jimin. — o Jeon mais novo levanta-se repentinamente, fazendo o que foi chamado encara-lo surpreso. — Vamos lá pra fora um pouco?

— E-eu? – aponta para si mesmo, vendo o outro assentir. — Huh, está bem.

Mesmo sem entender o que o outro queria consigo, sair daquela mesa que tinha altos papos que o faziam ficar boiando era o melhor para si, mesmo que tenha evitado com todas as formas qualquer situação constrangedora com aquele garoto.

Após o pedido do moreno, os dois garotos se retiraram da residência e no exato momento em que a porta se fecha, Jungkook se permite demonstrar uma rápida alegria e comemora.

— O que foi? — Jimin questionou, com os braços cruzados.

— Eles iam começar aquele assunto chato de faculdade. E iam começar a mandar eu decidir o que fazer e blá blá blá... — comentou por alto, chutando uma folha que passava voando junto ao vento.

— Ah. — agora estava entendendo. — Bem, sua mãe disse que você gosta um pouco de fotografia, isso é verdade?

— É sim. Mas sei lá, eu realmente ainda não tenho nada fixo em mente. — deu os ombros.

— As vezes decidimos nosso futuro com coisas bobas que gostamos, sabia?

— É, mas não sei. Ainda não falo muito disso. Preciso de mais tempo, de qualquer forma.

— Está bem, vou parar de falar nisso. Mas você me trouxe aqui pra fora, quer que eu fique fazendo o que?

— Vem comigo.

— Deixa eu adivinhar, vamos entrar no quarto dos vizinhos pela janela? – perguntou irônico, fazendo o outro dar uma risada sarcástica.

— Muito engraçado você. Claro que não.

— Menos mal.

— Só se for na sua janela. — implicou.

Jimin automaticamente revirou os olhos.

— Deixa eu te perguntar, quando entrou no meu quarto, não pensou na possibilidade de eu poder gritar ou chamar alguém?

— Mas você não gritou e nem chamou ninguém, não é mesmo? — rebateu com um sorriso cínico.

— Não tente bancar o místico comigo! — Jimin avisou, olhando o garoto apenas andar em círculos por ali.

— Sem mais nem menos. Você não chamou, isso que importa.

— O que? Mas... Ah, quer saber? Esquece. Continue bancando o interessante, eu não me importo. — cruzou os braços, decidido. Ele nunca lhe responderia direito, então por que continuar tentando?

Foi possível ouvir uma risada fraca vindo de Jungkook.

— Você é fofo, Jimin.

— Hã?

— Dá até vontade de apertar suas bochechas.

Jimin não deixou de pensar uma coisa: eu sou mais velho, eu é quem deveria acha-lo fofo ou algo do tipo. Como forma de protesto, colocou as mãos nas próprias bochechas esperando que o outro entendesse o recado, mas aquilo somente fez o mais novo soltar outra risada desinibida.

— Vem, me acompanha em um lugar. — Jungkook convidou, e bom, o que mais o outro poderia fazer enquanto esperava seus pais naquele resto de noite?

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— Vamos ficar na sua casa na árvore?

— Sim, vem logo, sobe primeiro!

Com uma vontade monstra de entrar naquela casinha da árvore mais uma vez, Jimin não perdeu tempo em subir pelas escadas ali disponíveis, sendo acompanhado pelo próprio dono da casinha.

E nos primeiros minutos adentro, Jimin gastou admirando mais um pouco aquele lugarzinho que já esteve, porém que lhe cativava bastante por alguma razão inexplicável. Era acolhedor, confortável e trazia uma paz de outro mundo.

É, agora Jimin entendia completamente o porquê o outro gosta de ficar tanto ali.

— Jungkook, o que vamos ficar fazendo aqui? — decidiu perguntar.

— Você pergunta demais, Jimin. — enquanto isso, o moreno ligava sua pequena caixa de som e escolhia algo de seu gosto.

Música. Isso tinha feito Jimin lembrar de algo muito interessante para se comentar nesse momento.

— Você sabia que teve vezes que eu tentei estudar e você colocava música alto?

— Eu sei. — e assim riu.

— Eu sabia que você aumentava de propósito depois que eu aparecia na janela! — acusou, desacreditado.

— Ei, você já está em um lugar que quase ninguém vem, então não reclame. — Jungkook lhe lançou uma piscadinha brincalhona.

Jimin ia lhe rebater, mas algo foi mais forte dentro de si para ser dito:

— Realmente... Nunca vi ninguém por aqui.

— Você me vigia, por acaso? — Jeon implicou, sem dar importância de fato à própria acusação.

— Claro que não! Por que eu iria vigiar você?

— Não se preocupe, Jimin. Não te julgo por ficar me observando.

— Nossa, que abusado você é, né?

De alguma forma eles teriam que gastar aquele tempo enquanto seus pais jantavam, e simplesmente deitar ao lado um do outro e conversar foi o que calhou de acontecer naturalmente.

Coisas bobas, para variar.

Ali deitados na casinha, com a luz principal apagada e apenas as luzes pequenas e coloridas ligadas ao redor do local, um assunto foi puxando o outro da mesma forma que aconteceu com os seus pais na mesa de jantar da residência dos Jeon.

Assim como Jimin já imaginava, Jungkook era de fato divertido.

Por incrível que pareça, ele não ficava falando papos super toscos e sem nexo como Jimin fantasiou. E por isso se sentiu mal de tê-lo julgado tão errado.

Jungkook era simplesmente... ele.
Engraçado e idiota, mas claro, idiota da melhor forma possível.

— Eu gosto quando você liga essas luzes coloridinhas ao redor de sua árvore. — durante um papo sobre comidas que mais detestam, quando o assunto morreu, Jimin decidiu contar.

Jungkook sorriu.

— Bom, e eu gosto quando você liga seu abajur dentro do seu quarto.

— Você nota? — riu surpreso.

— O quarto fica igual uma discoteca, é meio difícil estar ao lado e não prestar atenção.

Jimin apenas devolveu um outro sorriso, em seguida ouvindo um suspiro profundo do moreno ao lado.

— Park Jimin, como nós nunca nos falamos antes? — ele perguntou, com um tom de voz um tanto divertido.

— Pra ser sincero, não sei.

— Eu chutaria que é pelo seu jeito isolado da vizinhança, você só saía pra ir pra outros lugares provavelmente bem longe daqui. — o mais novo apontou.

— Ou era porque você já era cercado de pessoas! Já pensou nisso?

Jeon deu um sorriso torto, parecendo ter algumas lembranças em mente que logo compartilhou:

— Tá falando das garotas que sempre vem por aqui?

— Não especificamente.

Claro que Jimin estava falando delas pois era bem constante, mas ele preferiu fingir que não. Mas Jungkook não era besta, raramente seus amigos lhe procuravam em casa, mas algumas amigas faziam bastante isso.

— São amigas. — contou, e naquele momento Jimin se sentiu estranho por ele ter que explicar isso. Ele não precisava realmente se explicar.

— Amigas?

— Sim. Algumas ficantes, mas em geral são amigas.

— Você tem cara de ser bem popular entre as mulheres.

— Não sei. — o moreno espreguiçou-se, cansado. — Eu não me importo muito com isso. Talvez seja por isso que nunca entrei em um relacionamento sério com ninguém.

— Nunca namorou? — Jimin arqueou a sobrancelha, surpreso.

— Bom, tecnicamente sim pra falar a verdade. Apenas um mês conta como namoro? Porque se contar, então sim.

— Bom, depende se você considera. Acredito que conte sim. Foi uma experiência no final das contas, não?

- Bom, de qualquer forma hoje em dia eu prefiro só ficar, entende? — contou, realmente sincero no que estava dizendo. — Eu não quero dar esperança pra ninguém, já que me considero uma pessoa meio difícil de lidar.

— Eu também.

— Também para "prefere só ficar" ou para o "ser difícil de gostar de alguém de verdade"? — Jeon ficou curioso.

— Difícil de gostar de alguém de verdade. Sabe, a última pessoa que gostei me machucou muito. — já que estavam falando sobre isso, o mais velho decidiu compartilhar.

E pela forma que ele ficou pensativo e fitando o teto da casinha, aquilo atiçou ainda mais a curiosidade do mais novo.

— O que ela fez?

— Ela? — Jimin tentou ignorar essa parte e não entrar em detalhes. —  Bom, essa pessoa não gostava de mim de verdade, apenas brincou comigo e me dava esperança. Nossa! Iludir com certeza é mil vezes pior que um "não gosto de você", na minha opinião.

— Hum... O que ela fez?

— Essa pessoa ficava com todos, mas não queria me perder pois sabia que eu ajudava quando ela precisasse. Enfim, me fez de bobo. Eu ia em seus jogos de escola para torcer, e essa pessoa não ligava.

— Você falando assim até parece que estamos falando de um cara.

Jimin foi tão pego de surpresa pela dedução rápida e direta do outro que de repente, não teve uma resposta.

Ao fitar a expressão um tanto sem jeito do mais velho, Jeon entendeu tudo.

— Nós estamos de fato falando de um cara, não é? — mesmo sem resposta, ele levou como uma afirmação. — Não precisa ficar sem jeito por isso.

— Eu só não quero que pense que só porque gosto de homens, eu necessariamente vou dar em cima de você ou algo de tipo. — foi direto.

— Claro que eu não vou pensar assim. É um pensamento idiota.

— É que existem muitos caras héteros que infelizmente ainda pensam assim.

— Bom, agora você sabe que eu não sou esses caras. — ainda vendo o outro perdido em pensamentos, Jungkook apertou sua bochecha e de brinde, atraiu sua atenção novamente. — Viu? Eu disse que apertaria suas bochechas.

— É... você falou. — e após rir da ação do outro, Jimin chegou à conclusão que apesar da invasão, talvez definitivamente tivesse julgado Jungkook errado.

Ele era apenas um garoto bobo e divertido terminando a escola, simples assim.

Chegando naquela conclusão, resolveu pegar o seu celular e se surpreendeu por ser mais tarde do que imaginava. Por ter curso no dia seguinte, independente de seus pais ainda estarem nos Jeon ou não, era a hora de se recolher.

— Eu já vou indo, tenho que acordar cedo. — o mais velho levantou-se. — A gente se fala, então?

— Claro que sim. Agora você tem um vizinho amigo, não mais desconhecido.

— É. Isso é algo bom. — acabou rindo. — Tchau, ô da casinha na árvore.

E então, Jimin desceu do local especial e foi pegando o rumo de sua casa. Jungkook simplesmente continuou ali, largado no chão e de olhos fechados aproveitando o silêncio e o bom clima da noite.

Mas ao abrir os olhos minutos depois, percebeu uma luz ligada em uma direção um tanto interessante. Rapidamente levantou-se, indo até uma única gaveta que tinha largada por ali e pegou seu binóculo preto que tinha guardado. Com isso em mãos, focou na direção agora iluminada que era o quarto de Jimin.

Conseguiu ver perfeitamente Jimin jogado em sua própria cama, com os braços abertos. Ele parecia tão cansado que era capaz de dormir daquele mesmo jeito, e isso fez o garoto mais novo rir.

Quando quase foi pego por notar Jimin abrindo os olhos e se levantando, Jungkook foi rápido ao jogar seu binóculo em qualquer canto da casinha.

Enquanto isso, em seu quarto, Jimin estava prestes a trocar de roupa para pôr seu pijama, quando notou o lugarzinho ao seu lado se apagar, ficando totalmente escuro. Já era tão familiarizado com isso, e saber que agora o dono daquela casinha especial era como um amigo, Jimin sorriu.

É, talvez ele devesse ter se esforçado um pouco mais muito antes, para ter algum contato com a vizinhança.

Treehouse em: Agora finalmente amigos, ou alguma coisa parecida.