47 | Hora de Fogo
Segunda / 08:10h
Barcelona || SPAIN
Lexus
Depois de mandar uma mensagem para Heloísa avisando que não iria à escola porque não estava me sentindo bem às 6h40 da manhã, voltei a dormir profundamente. Quando acordei de novo, já passava um bom tempo e Matheus já tinha saído. Sempre atencioso, ele deixou uma carta explicando onde estava. Ele era realmente perfeito.
Depois de fazer minha higiene, fui para a cozinha tentar preparar algo para comer. Mas logo percebi que alcançar os pratos na gaveta de cima era impossível e eu estava proibida de fazer esforços. Resultado? Teria que passar fome até Matheus voltar. Devia ter pedido para ele deixar um prato ao meu alcance antes de sair.
Por conta do esquecimento, agora
teria que esperar....
Revirei o frigorífico na esperança de encontrar algo e meus olhos brilharam ao ver uma caixa cheia de morangos. Pelo menos, eu tinha algo para matar a fome até ele chegar. E, na verdade, não me importava: eu amava morangos, e o moreno sabia muito bem disso.
Sentei-me no sofá, coloquei um filme para assistir e me acomodei. Zeus, sempre companheiro, se juntou a mim e dividiu os morangos. Ele tinha o meu jeito, sem dúvida um pequeno reflexo do que eu mais gostava na vida.
-Moranguinho? - a voz de Matheus preencheu o ambiente. -Ei! Lexus?
-Oi! Bom dia. - Respondi, levantando-me com um sorriso.
Fui ao encontro dele e o ajudei a empurrar os carrinhos. Pelo menos isso eu conseguia fazer, já que não exigia tanto esforço quanto o restante das tarefas.
-Ficou tudo bem sem mim? - ele perguntou, enquanto depositava um beijo suave na minha testa. -Não aconteceu nada, certo?
-Não, tudo tranquilo! - respondi, mas com um toque de frustração. -Só não consegui alcançar um prato e um copo... estão muito altos.
-Erro meu! Antes de sair, até pensei em deixar à mão, mas imaginei que fosses dormir até eu voltar.
-Não fiques triste, Torres. Além disso, como foi a visita? Todo mundo se comportou?
-Meus pais adoraram tê-los lá - ele explicou, sorrindo. -Mas precisei inventar uma desculpa para justificar por que eu os fui buscar.
-S/n vai desconfiar, sabias? Ela sempre descobre tudo quando ela quer e se não veio atrás de ti foi até um milagre.
-Eu sei! - ele riu, resignado. -Bem... agora vem. Vamos preparar um belo café da manhã para a minha pessoa favorita!
-Finalmente!
-Nem demorei tanto assim. - Matheus piscou, com um ar divertido.
Matheus conseguia me fazer rir sem o menor esforço. Mesmo em meio ao turbilhão de pensamentos, ele trazia leveza. Mas a realidade ainda era difícil de encarar, não sei por que não esperei mais tempo para tentar resolver tudo antes de ter que apresentar queixa contra Lando à polícia.
Eu e Matheus conversamos sobre isso antes de dormir. Doía saber que tudo viria à tona, mas sabíamos que era o certo a se fazer.
-Vem, senta aqui. Eu já trago as tuas coisinhas, moranguinho. - ele disse com carinho, guiando-me até uma cadeira em frente à bancada.
O moreno, sempre atencioso, ajeitou-me com cuidado, e logo o vi movimentando-se pela cozinha com um sorriso no rosto, tirando tudo que precisava. Ele parecia genuinamente feliz em me ter ali.
Na mente dele, talvez ainda houvesse um espaço onde nós dois podíamos existir de novo, juntos. No fundo, eu também queria acreditar nisso. Mas as feridas ainda precisavam de tempo para cicatrizar.
-Comeste todos os morangos! - Matheus exclamou, ao abrir o frigorífico. -Eram para o lanche também.
-Ei, não fui só eu, não. Temos um certo senhor de quatro patas que também ama morangos -respondi, tentando parecer inocente.
-Ah, nesse caso, já não julgo mais nada - ele disse com um sorriso, abanando a cabeça com divertimento.
-Vem cá. Vamos cuidar do teu maravilhoso e divino café da manhã, moranguinho. - ele se aproximou e me beijou suavemente. -Volto já, alguém está me chamando.
-Não podes fazer tudo sozinho! - falei, erguendo um pouco a voz, tentando segurá-lo por mais um instante. -Matheus!
-Fica tranquila, está tudo sob controle aqui.
-Matheus! -chamei mais uma vez.
Ele voltou a cabeça com um sorriso brincalhão.
-Diga, amor da minha vida? Kaiser já estava se agitando no bebê conforto.
-Se ele for irritado como o pai, vou ter trabalho.
-Nós teremos, anjinho. Lembras que prometemos ir até o fim do mundo para voltar? Pois é, nós vamos.
-Tu és um chato, Torres.
-Eu sei. - respondeu, rindo, com aquele jeito que me fazia querer que o tempo parasse ali mesmo.
Peguei minha comida e me dirigi à sala. Ele estava se esforçando ao máximo para lidar com todos ao mesmo tempo, e, devo admitir, achei aquilo um tanto engraçado. Quatro pequenos seres, todos demandando atenção, estavam claramente testando os limites dele.
-Vamos depois de comeres, certo? - perguntou, tentando esconder o riso.
-Sim...aparecer lá assim não estava nos meus planos, mas fazer o quê! - respondi, resignada.
-Podes fazer uma maquilhagem simples, só para disfarçar. Depois tiras quando voltares.
-É...talvez. - dei um gole no meu sumo de uva antes de continuar. -Queres um pouco? Não estou com muita fome.
-Comerei no carro! Vá, vou ajeitar tudo para te sentires confortável.
Ele saiu apressado, mas, ao ouvir minha voz chamando seu nome, parou de repente, como se fosse movido por um botão automático. Essa atitude dele estava mexendo comigo. Era algo importante para mim, vê-lo ser tão prestativo, especialmente considerando o meu estado.
-Obrigada! - murmurei, com sinceridade.
-Nada! Martín vai te ajudar a descer as escadas.
Sorri para ele, agradecida, e alguns minutos depois já estávamos a caminho da esquadra. No fundo, eu estava receosa. Não sabia ao certo como abordar a situação sem temer as consequências, mas era algo que precisava ser feito.
O clima estava surpreendentemente agradável para o mês de dezembro. A luz suave do sol e o ar tranquilo eram um bálsamo para mim, especialmente depois de tudo o que tinha acontecido nos últimos tempos.
...
-Chegamos! - Matheus anunciou com um sorriso tranquilo. -Vou te ajudar a sair.
-Não sou uma criança, Matheus. Ainda sei sair de um carro sozinha.
-Thomas disse que era pra te ajudar, então estou apenas cumprindo ordens. - ele ergueu as mãos em sinal de rendição.
-És um chato, senhor Torres.
-Quer que eu chame o Steve primeiro? Assim ele pode vir buscar vocês? - perguntou Martín enquanto fechava a porta do carro. -Assim não terão muitos curiosos quando entrarem!
-Claro. Obrigada.
Por mais que tentasse manter a calma, um aperto no peito me traiu. Eu estava com medo da reação dele. Na verdade, estava com medo de tudo. Lidar com isso era mais difícil do que imaginava, e, agora que o carro finalmente havia estacionado, a realidade caiu sobre mim como um raio.
Acariciei a cabeça de Hope, que estava tranquila no colo de Matheus, buscando conforto no gesto. Foi quando vi Steve, o moreno vinha correndo em nossa direção.
"Eu não estava pronta..."
Respirei fundo.
Isso era mais difícil do que pensei que seria.
-Tudo bem aqui? - ele me encarou, claramente surpreso. -O que aconteceu?
-Violência foi o que aconteceu... - Matheus respondeu antes que eu pudesse. Sua indignação era evidente. -E não olhes para mim, não fui eu!
Steve semicerrrou os olhos, visivelmente tenso.
-Quem foi? Quem te fez isso? Quem te magoou?!
Minha garganta apertou, as palavras não queriam sair, mas, enfim, consegui murmurar: - Lando...
Ele franziu o cenho, confuso.
-Lando Norris? Ele? O piloto de Fórmula 1?
A incredulidade em sua voz era evidente, mas logo sua expressão começou a mudar enquanto processava o que tinha acabado de ouvir.
Eu assenti, tentando manter o pouco controle que ainda tinha sobre minhas emoções. Ele respirou fundo, o olhar passando de mim para Matheus, como se buscasse uma confirmação silenciosa.
-Venham. - sua voz soou mais firme. -Vamos para o escritório. Contem tudo com calma lá.
O caminho até ao prédio parecia mais longo do que o habitual, cada passo ecoando no peso do silêncio. A sensação de vulnerabilidade me invadia, mas ao mesmo tempo, havia um alívio sutil: finalmente, alguém estava disposto a ouvir e ajudar.
Quando entramos no escritório, o ambiente estava mais movimentado do que eu esperava. Kaio, Alejandra, Christian e Paul estavam lá, conversando em voz baixa, mas todos se calaram ao nos ver. Seus olhares rapidamente pousaram em mim, e senti o peso da atenção deles.
Kaio foi o primeiro a se levantar, a
preocupação evidente em seu rosto.
-O que aconteceu? - perguntou, direto, olhando de mim para Steve, como se esperasse que ele tivesse as respostas.
Alejandra cruzou os braços, encarando-me
com um misto de preocupação e curiosidade.
-É sério? - murmurou ela, os olhos avaliando meu rosto como se quisesse encontrar algo que eu estivesse escondendo.
Christian e Paul ficaram mais reservados, mas era evidente que estavam atentos a cada palavra.
-Ela veio aqui porque precisa de ajuda, não interrogatórios. -Matheus, sempre protetor, se posicionou ao meu lado, o tom mais ríspido do que o habitual.
Steve ergueu a mão, pedindo calma.
-Vamos ouvir primeiro. Todos se acalmem.
Ele puxou uma cadeira para mim, e Matheus segurou meu cotovelo levemente enquanto eu me sentava. A tensão no ambiente era palpável, como uma corda esticada ao máximo.
-Certo. - Steve apoiou as mãos na mesa, inclinando-se ligeiramente para a frente. -Agora, nos contem tudo.
Engoli em seco. Sentia os olhos de todos sobre mim, mas Steve foi quem quebrou o silêncio
-Isso tem a ver com o que você disse lá fora? Lando...? - ele ainda parecia incrédulo.
Assenti lentamente, olhando para baixo.
-Sim...foi ele.
-O piloto? - Christian finalmente se manifestou, cruzando os braços. -Isso é sério?
-Acham que eu inventaria algo assim? - minha voz soou mais firme do que eu esperava, surpreendendo até a mim mesma.
-Ninguém está dizendo isso. - Paul respondeu, a voz calma. -Mas precisamos de detalhes. O que exatamente aconteceu?
Olhei para Steve diante de mim, buscando algum apoio silencioso, e ele me deu um leve aceno, encorajando-me a continuar.
-Ele me magoou. - minha voz tremeu um pouco. -Aqui a gravação!
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Alejandra apertou os lábios, como se estivesse lutando contra uma enxurrada de perguntas. Kaio balançou a cabeça, a mandíbula tensa.
-Ele fez isso e achou que ficaria por isso mesmo? - murmurou Kaio, a raiva evidente. -Porque não relataram na hora? Ele já pode ter fugido para outro país....deviam ter pensado antes!
-Não importa o que eles pensaram ou deixaram de pensar, Kaio. O bom é que eles vieram resolver este assunto. - Steve disse, cortando o murmúrio. -O que importa é que ela está aqui, e vamos resolver isso.
Matheus colocou uma mão leve no meu ombro, como para me lembrar que eu não estava sozinha.
-Vamos com calma. Ela já passou por muito. Não precisamos de um tribunal aqui. - Alejandra olhou para Steve. -Qual o plano?
Steve suspirou, passando a mão pelos cabelos.
-Primeiro, precisamos formalizar tudo. Um depoimento. - ele me encarou com seriedade. -Mas, acima de tudo, garantir que estejas segura.
O calor do ambiente pareceu aumentar, e eu apenas assenti. A ideia de reviver tudo em palavras me assustava, mas sabia que era necessário.
-Estou aqui! - a voz de Lando cortou o ar enquanto ele entrava apressado na sala. -Me prendam. Eu mereço.
Todos pararam, chocados com
sua entrada abrupta.
-Desculpem, ele entrou quando viu a porta aberta. - Bruno veio logo atrás, claramente aflito e sem fôlego.
Paul ergueu a mão, pedindo calma, mas manteve a firmeza em seu tom: - Tudo bem, Bruno. Podes ir agora. - ele voltou-se para Lando, o olhar sério. -E você, senhor Norris, vai direto para a sala de interrogatórios. Vamos.
Lando parecia pronto para um confronto, mas seguiu as ordens, sem questionar. Quando Steve se levantou para acompanhá-lo, meu coração disparou.
-Steve... - murmurei, hesitante. - Terei que ir?
Ele parou, olhando para mim com um misto de compreensão e firmeza.
-Sei que te custa, Lexus. Mas precisamos que ele olhe para ti e confesse. Sei que não te sentes à vontade, mas lembra: todos estaremos ali contigo.
-Esperarei aqui fora, moranguinho. - Matheus aproximou-se, segurando meu rosto entre as mãos antes de beijar levemente meus lábios. -Vai ficar tudo bem depois. Confia.
Tentei sorrir, mesmo com o aperto no peito. Respirei fundo, forçando meu corpo a se mover, e entrei na sala de interrogatórios. Cada passo parecia uma batalha contra minhas próprias emoções.
Assim que o vi, o peso do trauma voltou com força total. Minhas mãos tremiam incontrolavelmente, meu coração disparado. O olhar de Lando sobre mim era cheio de uma raiva que parecia querer me consumir.
-Confesse tudo! - Kaio, posicionado atrás dele, apertou com força os ombros do moreno. -Não adianta mentir. Não vamos fingir que não sabemos.
Lando arqueou uma sobrancelha, mas logo desviou os olhos para mim.
-Mostraste o vídeo, não foi? - sua voz saiu amarga. -E aquela cena de Matheus? Ah, essa aposto que não mostraste. Aquela onde ele também devia pagar por destruir propriedade privada!
A raiva em meu peito explodiu como um vulcão.
-Cala a boca! - bati o punho na mesa, minha voz ecoando pelo espaço.
Ele soltou uma risada seca, carregada de desprezo.
-Sério, Lexus? Não achas que estás a ser hipócrita? Sim, eu fiz isso. Faria de novo. E faria ainda mais vezes se tivesse chance.
Minha visão escureceu por um momento. Antes que eu pudesse reagir, Steve segurou-me e me afastou da mesa, pressionando-me contra a parede.
-Não deixes ele te desestabilizar. É isso que ele mais deseja.- sussurrou, tentando me acalmar.
Mas Lando continuava a falar, cada palavra
como uma faca cravando mais fundo.
-Talvez ontem nem devias ter saído de lá.
A raiva de Steve finalmente transbordou. Ele avançou, agarrando a camisola de Lando com força, seu rosto a poucos centímetros do dele.
-Repete isso! - rugiu, a fúria evidente em sua voz.
Kaio e Paul correram para separá-los, tentando conter a situação antes que saísse ainda mais do controle.
-MEU CORPO! MINHA MALDITA ESCOLHA! -gritei, minha voz ecoando pela sala enquanto o encarei com tudo o que restava de força. - Entendeste isso, Lando?
-Será? - ele sorriu de canto, um sorriso venenoso que parecia testar até onde eu aguentaria.
-Tirem-nos daqui! -Alejandra interveio, sua voz cortante. -Eu e Christian resolveremos isso. Vá, agora!
Paul e Kaio levaram Steve para fora, enquanto Alejandra e Christian permaneceram. Eu saí logo depois, o coração disparado, o corpo em alerta. Assim que cheguei ao corredor, encostei-me na parede, tentando recuperar o fôlego.
Matheus se aproximou quase imediatamente, mas eu o detive com um gesto antes que ele perguntasse algo.
-Matheus precisa saber disto? - perguntei a Steve, que acabará de beber um gole de água.
Ela suspirou, cruzando os braços.
-Para criar mais confusão? Não, muito obrigado. Vamos resolver isso aqui, Lexus. Ele não precisa carregar mais esse peso.
Balancei a cabeça, ainda sem saber se concordava ou não. Mas, naquele momento, a única coisa que eu realmente queria era paz e parecia que ela estava cada vez mais longe.
🍓
Terça / 17:10h
Girona || SPAIN
Sophia
Estava em frente à casa de Valverde, aguardando a sua chegada. Eu havia descoberto a verdade, mas, se ele soubesse que eu sabia, seria, sem dúvida, o fim para ele... Ele se arrependeria de todo o mal que causou a todos ao seu redor.
A espera era insuportável, e o som de um carro vindo ao longe me fez levantar os olhos. O moreno apareceu, ainda rindo, com um sorriso cínico estampado no rosto. Ele conseguia ser hipócrita até nos momentos mais tensos. Quando se aproximou de mim, cruzei os braços, encarando-o com a mesma firmeza de uma leoa que encara o perigo.
-Podias ter avisado, Sophia! Assim, eu teria preparado um jantar para nós conversarmos...
Meus limites estavam sendo testados.
-Não vamos começar com provocações, já que sabes muito bem o motivo pelo qual estou aqui! - respondi, a voz firme e cheia de veneno.
-Sei?! Talvez, mas diz-me uma coisa... essa descoberta fez-te sentir mais mulher?
Avancei em sua direção, mas parei assim que ele colocou a mão sobre a mesa, lançando sua arma para longe.
-Um dia, tu irás pagar bem caro por todos os teus crimes, e eu ficarei feliz em ver-te apodrecendo na prisão.
Ele riu, como se não se importasse.
— Será? Cometi tantas coisas que nem sequer imaginas... ainda nem sequer tinhas nascido, e eu já estava fazendo loucuras, loirinha!
Furiosa, quase sem conseguir controlar os impulsos, gritei: — TIRA OS TEUS OLHOS DA MINHA BOCA!!! - e ele se manteve ali, inabalável, mas eu sabia que algo tinha mudado entre nós. Eu não voltaria atrás.
-Teu corpo, minha escolha! - a fala de Valverde soou como uma provocação, carregada de arrogância.
-Ainda vais dizer isso quando for tua mãe, irmã, esposa ou filha? - rebati, avançando um passo, o olhar fixo no dele, cada palavra cortando o ar como lâminas afiadas.
Valverde continuou imóvel, mas seus olhos traíam a raiva contida. O que o enfurecia ainda mais era a certeza de sua impotência. Ele não podia me tocar.
Não havia poder suficiente em suas mãos para me calar ou me submeter, porque Steve jamais permitiria. Steve, com sua fúria contida e lealdade feroz, acabaria com Valverde sem pensar duas vezes.
E ele sabia disso...
Valverde apertou os lábios, tentando esconder o ódio que faiscava em seus olhos, mas era inútil. Ele deu um passo à frente, desafiador, enquanto o silêncio parecia pesado ao nosso redor.
-Tu não sabes com quem estás a brincar - sibilou, a voz baixa e ameaçadora, mas eu senti o veneno em cada palavra. -Não és intocável.
Eu me aproximei mais, tão perto que podia sentir o cheiro da farsa que ele exalava, do medo mascarado de autoridade.
-Tenta!!! - desafiei, o queixo erguido. AVem, mostra-me o que podes fazer, Valverde. Porque, no fim, é sempre assim, não é? Só consegues impor tua vontade com gritos, ameaças e medo. Mas comigo... tu não tens nada.
Ele recuou por um instante, mas se forçou a manter a compostura, tentando resgatar a máscara de poder que já não colava mais.
-Continuas a brincar com fogo, Sophia! - ele disse, a voz falhando levemente, revelando a incerteza que tanto tentava esconder.
-E tu já estás queimado! - cuspi com desprezo. -Pensa bem, Valverde, porque cada palavra que proferes, cada tentativa de me ameaçar só te afundarás mais. E não esqueças... Steve está sempre à espreita. Um passo em falso e ele terminará o que já deveria ter começado faz tempo.
Ele ficou em silêncio, os olhos sem vida, mas o rosto retorcido de fúria contida. Eu virei de costas, sentindo a tensão como um peso, mas não cederia. O medo, se existia, seria meu último segredo.
Valverde cerrou os punhos até os nós dos dedos ficarem brancos, tremendo com a fúria que ele mal conseguia conter. Ele respirou fundo, tentando dominar a raiva que o consumia, mas seus olhos estavam tomados de uma escuridão ameaçadora.
-Achas que uma ameaça velada vai salvar-te para sempre? - rugiu, a voz subindo, carregada de um ódio que ecoou pelo ambiente. -Steve não vai estar sempre por perto. E quando ele não estiver, quem te protegerá de mim?
O fogo que ardia em seus olhos agora se transformava em algo ainda mais sombrio, um poço profundo de ressentimento e obsessão. Ele deu mais um passo, tão perto que quase senti o calor da sua raiva se derramando sobre mim.
-Tu és um problema, sempre foste!! - continuou, cada palavra carregada de veneno. -Não passas de uma maldita pedra no meu caminho. Mas pedras podem ser esmagadas.
Eu segurei o olhar, mesmo quando senti a tensão no ar aumentar. Ele se aproximava com a fúria de alguém que sabia que seus limites estavam sendo testados. Mas eu não cederia.
-Experimenta! - desafiei com um tom firme, sem desviar os olhos. -Porque sei que no fundo... toda essa raiva não passa de medo. Tu sabes que já perdeste.
A última provocação foi demais.
Valverde se moveu como se fosse explodir de raiva.
-És uma tola! - berrou, o som reverberando como um trovão. -Eu não perco! Eu faço as regras, eu decido quem vive e quem morre. E tu...
Ele parou, respirando pesadamente, o peito subindo e descendo enquanto tentava reunir o controle que lhe escapava. A máscara quase havia caído, revelando o monstro que ele tentava esconder sob a fachada de poder.
-Então foste tu... foste tu que mataste os pais do Steve! - minha voz saiu rouca, carregada de choque e repulsa.
Era como se o ar tivesse sido arrancado dos meus pulmões, mas eu não deixaria que ele visse a fraqueza.
-Não me julgues! - disse, com uma calma perturbadora que mascarava a insanidade atrás de cada palavra. -Sei que no fundo tu sempre o soubeste, não era? Sabias que ninguém mais teria coragem, ninguém mais ousaria.
Eu o encarei, a náusea crescendo em meu estômago. Cada palavra dele confirmava o horror que eu sempre quis enterrar, mas que agora voltava com força total, arrastando-se como uma ferida exposta.
-Tu és um monstro - cuspi, o ódio vibrando em cada sílaba. -Fizeste isso para quebrá-lo... e agora achas que podes me usar para completar o serviço?
-Eu fiz o que era necessário... - disse com frieza. -O mundo não é feito para os fracos, e Steve precisava aprender isso. E tu... ah, tu foste apenas um bônus. Ver como ele se contorce para te proteger? Não há prazer maior.
-E é isso que pensas? Que tudo pode ser controlado pela tua vontade podre? - perguntei, o desprezo na minha voz escorrendo como ácido. -Vais pagar por cada gota de sangue que derramaste, Valverde. O fim para ti já começou, e sabes disso.
Por um momento, vi um lampejo de incerteza passar pelo seu rosto, um reflexo da verdade que ele tentava ignorar.
-O fim só chega para aqueles que não lutam. - ele rosnou. -E eu ainda estou aqui.
Valverde avançou mais um passo, o rosto agora deformado pelo ódio, cada palavra impregnada de ameaça.
-Sabes, nunca me impressionei com as tuas intimidações. - disse ele, com um sorriso frio. -Por mais que lutes, por mais que resistas... tu tens um ponto fraco. Todos têm. E eu sei qual é o teu.
Eu o encarei, sem piscar, mesmo que o sangue parecesse gelar em minhas veias. Ele percebeu, claro, e se deliciou com isso.
-A tua filha.... - sussurrou, como se fosse um segredo mortal. -Tão pequena, tão... indefesa. Achas que Steve pode protegê-la de tudo? Achas que podes? Quando menos esperares, um acidente pode acontecer. Uma tragédia que mudará tudo. E tu só vais poder chorar... como todos os outros.
Minha respiração ficou presa no peito. A raiva, o medo e a dor se misturaram em um turbilhão sufocante. Avancei um passo, mas ele levantou uma mão, ainda com aquele sorriso cruel.
-Não te atrevas!... - ele disse, seu tom mais sombrio do que nunca. - Eu não tenho paciência para ameaças vazias. Já destruí vidas antes, e se for preciso, farei de novo.
Antes que eu pudesse reagir, ele se inclinou para a frente e, com um movimento rápido, sua mão atravessou o espaço entre nós, atingindo meu rosto com um estalo que ecoou pela sala. Meu mundo girou por um instante, o gosto metálico do sangue em minha boca.
-Considera isso um lembrete - disse ele, a voz carregada de desprezo. - Não há limites para o que eu possa fazer.
Recuperei o equilíbrio, o rosto ardendo com o impacto, mas levantei a cabeça, encarando Valverde com todo o desprezo e determinação que ainda fervilhavam dentro de mim.
Respirei fundo, limpando o sangue do canto dos lábios com um gesto lento e deliberado. O silêncio entre nós era cortante, carregado de ódio e promessas de vingança.
-Achas que esse golpe vai me deter? - minha voz saiu baixa, mas carregada de uma fúria que tremia em cada palavra. -Tu cometeste o pior erro de tua vida, Valverde. Tocaste naquilo que mais importa para mim.
-E vou fazer questão de que te lembre disso. - murmurei, fria como gelo. -Cada segundo da tua miséria será pago com juros. Não haverá lugar onde possas esconder-te da queda que tu mesmo provocaste.
Valverde ficou em silêncio, sem palavras por um momento. Então, virei-me e saí, sem olhar para trás. Ele ainda não sabia, mas a guerra tinha acabado de começar e ele já estava perdendo.
O caminho de volta foi uma mistura de dor e raiva, cada segundo pulsando em minha mente como um tambor incessante. Mas agora, tudo parecia mais claro, mais sombrio. Minha respiração era pesada quando estacionei em frente ao meu prédio, os músculos tensos, como se meu corpo soubesse o que viria antes de minha mente aceitar.
Desci do carro, cada passo ecoando na calçada fria. Por um instante, senti um silêncio estranho pairar no ar. As luzes do apartamento estavam acesas, tudo parecia normal, mas havia algo errado. Um pressentimento, uma sombra que dançava na periferia da minha mente, me deixando alerta.
"E então, aconteceu..."
Um estrondo ensurdecedor rasgou o ar, uma explosão que sacudiu o chão sob meus pés. O calor me atingiu com força, o clarão iluminando a noite enquanto uma onda de fogo e destroços se ergueu, engolindo o apartamento que, até segundos atrás, era minha casa.
A pressão me lançou para trás, batendo com força contra o asfalto, a cabeça zunindo enquanto os ouvidos só captavam um som abafado e contínuo, como um grito distante que não cessava.
A visão turva me mostrou chamas consumindo tudo, estilhaços caindo como chuva mortal. O cheiro de fumaça e queimado invadiu minhas narinas. Um grito escapou da minha garganta, rouco, desesperado. Tudo que eu tinha, cada memória, cada pedaço de segurança, tudo estava em chamas.
Levantei-me, cambaleando, enquanto o calor e a fumaça me envolviam. Valverde! Sabia que isso tinha a assinatura dele. E, naquele momento, com o corpo machucado e o coração esmagado pelo horror, uma certeza se cravou em mim com mais força do que nunca.
"Eu o destruiria. Não importava o custo..."
A fumaça ainda pairava no ar quando ouvi os motores das viaturas. Olhei para trás, e foi quando os vi viaturas de polícia surgirem, os faróis cortando a escuridão. O som das portas batendo ecoou na calçada, seguido por passos rápidos.
Eu mal conseguia acreditar no que via quando Paul, Kaio, Alejandra e Christian, apareceram primeiro, seguidos de Steve, com um olhar frenético ao me ver caída no chão, ainda ofegante da explosão.
Steve correu até mim, seu rosto pálido e os olhos inquietos. Ele se agachou ao meu lado, pegando minha mão, a preocupação visível em cada linha de seu rosto.
-Sophia, estás bem? - ele perguntou, sua voz grave e tensa, mas cheia de aflição.
Eu tentei responder, mas o choque ainda me paralisava. Olhei para o apartamento que agora era um monte de escombros e chamas, sentindo o pânico se espalhar por meu corpo.
-Nossa casa... - balbuciei, ainda sem conseguir processar o que tinha acontecido.
Paul e Alejandra estavam rapidamente se movendo, avaliando a cena com a precisão de quem lida com esse tipo de caos. Kaio estava no rádio, pedindo reforços, suas mãos ágeis enquanto ele comandava a operação.
-Fica calma, Sophia! - disse, apertando minha mão com força, seus olhos queimando de preocupação e raiva. –Tudo irá ficar bem agora, sei que quiseste que Reed e Esperanza ficassem com o teu irmão hoje... Ainda bem que isso aconteceu, loirinha.
Eu apenas acenei com a cabeça, as palavras me falhando enquanto o terror ainda se agarrava ao meu peito. A explosão, o fogo, o medo de perder tudo...meu corpo estava à beira do colapso.
-Foi o Valverde! Foi ele ele, ele explodiu para me dar um aviso. Eu sei....foi ele.
-Sophia para!
-Ele matou os teus pais e agora fez isto! Eu sei Steve! Foi ele!!!
-CHEGA! - me olhou chateado. -Valverde não é um assassino de polícias.
Steve respirou fundo, o olhar agora dividido entre a fúria contida e a determinação que parecia surgir aos poucos. Ele largou minha mão, mas não com raiva parecia estar tentando se recompor, pensando rápido.
-Está bem, Sophia...está bem. - sua voz saiu baixa, mas firme, como se ele estivesse tentando convencer a si mesmo tanto quanto a mim. -Vamos à esquadra.
Franzi o cenho, confusa.
-O quê?
-Se tens tanta certeza, vamos levar essa rua loucura até ao fim. - ele ergueu os olhos para me encarar, a intensidade neles quase me fazendo recuar. -Quero que me mostres tudo o que tens. Tudo o que sabes sobre Valverde. Provas, pistas, qualquer coisa.
-Steve, eu...eu não posso fazer isso!
-Vamos agora! Não me faças perder a paciência agora. Não aqui!! - interrompeu, passando a mão pelo cabelo de forma nervosa. -Eu não posso continuar assim, Sophia. Não posso... não quero duvidar de ti. Mas se estás a dizer que ele fez isso, precisamos fazer algo. Não só falar.
Eu fiquei ali, paralisada por um momento, tentando processar suas palavras. Ele estava me dando uma chance, uma oportunidade de provar o que eu sabia, mas eu simplesmente não podia dizer-lhe a verdade pela qual eu estava investigando Valverde.
-Steve... - recuei um passo, a hesitação me travando. -Não posso fazer isso!
-Vamos para a esquadra agora! - rebateu entre dentes, os olhos fixos em mim com uma intensidade que fazia meu coração acelerar. -Sophia!
-Steve! - a voz de Alejandra se fez ouvir do outro lado da sala, firme e carregada de autoridade. -Nos deixa sozinhas por um momento, por favor! Deixa que iremos ter uma conversa de mulheres. Por favor.
Steve me olhou com frustração, os punhos cerrados ao lado do corpo. Ele parecia prestes a dizer algo, mas respirou fundo e assentiu, relutante. Sem dizer mais nada, virou-se e foi se juntar ao restante de sua equipe e eu fiquei ali, imóvel, até sentir a mão de Alejandra em meu braço.
-Paul me contou tudo! - ela disse, sua voz baixa mas cheia de compreensão. -Sei que é complicado para ti contares tudo a ele agora, mas vem para a esquadra. Descansarás um pouco lá.
-Com Steve me encarando como se eu fosse a inimiga? - murmurei, o desespero e a exaustão começando a me dominar. -Não muito obrigada!
-Eu resolvo isso com ele. - Alejandra apertou minha mão, firme e reconfortante. - Mas agora não vais dormir na rua. Já está tarde, e precisas de um lugar seguro para pensar. Vem. Vamos.
Antes que eu pudesse protestar, ela me puxou gentilmente, conduzindo-me para fora.
Enquanto caminhávamos, senti uma pequena fagulha de alívio tentando despontar em meio ao peso que carregava. Eu não sabia como isso terminaria, mas pela primeira vez naquela noite, não parecia que eu estava sozinha.
Chegamos à viatura estacionada na frente da casa. Alejandra abriu a porta do passageiro e me guiou com cuidado para dentro, como se qualquer movimento brusco pudesse me fazer desmoronar.
Enquanto ela dava a volta para entrar no lado do motorista, meu olhar se perdeu na escuridão do horizonte. A cidade parecia tão tranquila, mas dentro de mim o caos era ensurdecedor.
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