43³ | Psicopata: O Paradeiro
[...]
04:00H —
Bernardo
Kaiser não parava de chorar há mais de uma hora seguida. Eu tentava de tudo para acalmá-lo, músicas suaves, carinhos desesperados, mas nada mais parecia surtir efeito. O ambiente era um inferno e o som constante dos soluços ecoava pelo quarto, deixando-me à beira do colapso. Eu me esforçava para não me abater além do que já estava, mas sentia que, a qualquer momento, poderia fazer algo do qual me arrependeria profundamente.
Tentei mais uma vez me livrar das algemas que prendiam meus pulsos, mas elas não cediam. Não havia nada ao meu alcance para tentar forçar a abertura. Fechei os olhos e concentrei-me na respiração, buscando controlar o desespero. De repente, uma energia antiga tomou conta de mim e uma força ancestral que se manifestou de maneira palpável.
Senti a presença do tetra-avô de Matheus, sua força quebrou as algemas, libertando-me. Ele estava mais próximo do que eu jamais imaginaria, sua aura poderosa absorvendo todo o sofrimento que exalava do pequeno Kaiser.
-Pega nele e fuja! Eu a travarei... - ordenou ele com autoridade.
-Ela vai saber. Ela sabe de tudo... e tem uma arma na mão. - respondi com urgência.
Segurei Kaiser com todo o cuidado que pude. Ele estava febril; seu corpo ardia em chamas e o suor empapava suas roupas. Seus lábios estavam ficando roxos, e a incerteza quanto à sua sobrevivência atravessava meu peito como uma faca. Não sabia se ele aguentaria um percurso longo.
-Eu...
-Pensas que vais sair daqui com meu filho? - a voz de Eva cortou o ar como um golpe de lâmina. Ela entrou no quarto, os olhos ardendo de loucura, enquanto apontava a arma diretamente para mim. -Devolve ele! Devolve o meu filho!
-Isso nunca vai acontecer. Jamais! - respondi, sentindo a raiva ferver em minhas veias. -Ele é um ser humano, Eva! Eu tenho defeitos, muitos deles, mas jamais machucaria um inocente, alguém que não pode se defender.
-Agora tu queres ser o salvador da pátria! - Eva riu de forma amarga. -Eu vencerei, e você sairá derrotado como sempre.
-E se todas as provas já apontarem para ti, Eva? - a voz de Matheus soou atrás dela, e eu vi seu corpo se enrijecer em um calafrio. -Eu disse que filmes sempre mentem. Tu deverias ter aprendido.
-CALE A BOCA!
O choro de Kaiser se intensificou, e seu corpo pequeno tremeu contra o meu. Eu acariciava sua cabeça na tentativa de acalmá-lo, mas nada surtia efeito. Ele estava exausto, com fome e já não comia há horas.
-Ele está com fome, Eva! Ele é só um bebê!
-Meu filho! Minha obrigação! Minha vida! Faço com ele o que quiser, e tu não tens o direito de interferir! Agora o devolve!
-Nunca...
-Bernardo!
Ela puxou o gatilho, mas a bala atingiu a janela, a centímetros de mim. Matheus já estava em ação, cuidando de cada detalhe.
-Vocês não vão me tirar esse bebê! Kaiser é meu, meu pequeno!
-Tira os teus olhos imundos desta criança, Eva! — rosnei, firmando o corpo entre ela e Kaiser.
Ela apenas riu, um som ácido e cruel, desafiando o último fiapo de minha paciência.
Com o coração disparado, eu sabia que não havia mais tempo. A presença de Matheus mantinha Eva distraída, mas não por muito tempo. Segurando Kaiser com força contra o peito, respirei fundo e me preparei para a fuga. Cada segundo era precioso.
Eu me movi rápido, com passos firmes, embora os joelhos tremessem de medo. Kaiser chorava baixo agora, como se sua energia estivesse se esvaindo. Precisávamos sair dali. A porta do quarto estava entreaberta, e a escuridão do corredor oferecia um disfarce mínimo. Respirei fundo e me esgueirei para fora.
O silêncio ao meu redor parecia gritar. Os ecos dos passos de Eva e os murmúrios tensos de Matheus em confronto ainda chegavam aos meus ouvidos, mas eu tinha que me focar em avançar. Uma escada velha e rangente se estendia à minha frente, cada degrau um risco. Desci com cuidado, rezando para que os estalos da madeira não denunciassem nossa posição.
Quando alcancei o andar inferior, parei por um momento. Kaiser soluçava contra meu peito, e seu corpo pequeno tremia como se o mundo estivesse desmoronando. Estávamos na penumbra de uma sala fria. Era ali ou nada. Peguei um cobertor sujo jogado em um canto, cobrindo Kaiser na tentativa de protegê-lo do frio e abafar seus sons. Eu precisava me manter calmo, mesmo quando a adrenalina rasgava meu corpo.
Um som acima, passos correndo. Eva estava em fúria, provavelmente já ciente de minha ausência. Havia uma janela trincada na cozinha que talvez... Talvez me desse uma chance.
Empurrei a velha janela com todas as forças. As dobradiças rangiam como um grito de aviso, mas cederam o suficiente para eu passar. Kaiser pesava mais em meus braços a cada instante, a febre ainda o queimando. Do lado de fora, o ar frio da noite nos envolveu. Tive que sufocar um grito de alívio, mas a sensação de perigo não diminuiu. Estávamos longe de estar a salvo.
Correr foi a única opção. Não havia rota fixa ou planos elaborados; tudo o que eu tinha era um instinto desesperado de sobreviver. Ouvi gritos distantes. Eva me perseguia com uma fúria que transcendia o limite do humano. Eu precisava ser mais rápido.
Atravessei uma trilha estreita que se abria em um pequeno bosque. Kaiser respirava com dificuldade, e eu sabia que ele estava piorando. A sensação de impotência me esmagava, mas, naquele momento, eu precisava acreditar que haveria um final para todo aquele terror.
Meu corpo estava exausto, cada passo era uma batalha, mas eu não podia parar. Kaiser respirava com dificuldade, suas pequenas mãos estavam frias, e a febre o enfraquecia a cada segundo. Segurando-o com força, avancei mais um passo...e então tudo parou.
Um estalo seco cortou o ar. Um som que eu conhecia bem, o disparo de uma arma. Um impacto ardente rasgou meu braço, me jogando para o lado como se fosse um boneco de pano. Gritei, mais de dor do que de surpresa, enquanto caía no chão.
Kaiser escorregou dos meus braços, mas eu, mesmo com a visão turva pela dor, tentei segurá-lo, protegê-lo. Sangue escorria pelo meu braço, manchando o chão e misturando-se à terra fria.
Dei tudo de mim para me arrastar na direção de Kaiser, que ainda chorava com um som agudo, desesperado, que cortava meu coração. Eva deu um passo à frente, um sorriso cruel surgindo em seus lábios.
-Eu avisei que ele era meu, Bernardo! - disse ela, a voz carregada de triunfo e loucura. -Tu nunca irás tirar l meu filho de mim.
-Não...Kaiser... - murmurei, minha mão estendida tentando alcançar o pequeno corpo, mas o braço ferido não respondia. A dor era insuportável, uma queimação que me impedia de pensar.
Eva avançou e, com uma força surpreendente, puxou Kaiser de perto de mim. Kaiser chorava ainda mais, e então ela o segurou com firmeza, como se estivesse reivindicando um troféu. Seus olhos me encararam, frios e sem piedade.
-Pensaste que poderias me vencer? - sussurrou ela, os lábios torcidos em um riso. -Ingénuo. Ele sempre será meu. Sempre.
Eva começou a se afastar, com Kaiser em seus braços, enquanto eu permanecia no chão, impotente. Cada passo dela era como uma facada em meu coração e a visão dele sendo levado me partiu ao meio.
Eu gritei, um som de desespero e dor, enquanto a escuridão ameaçava me engolir. Eva sumia na floresta com Kaiser, deixando apenas o eco do choro dele e o frio cortante da derrota.
Steve
Estava sentado na minha secretária há tempo indeterminado, encarando as sete chaves de cores diferentes e números que pareciam sem sentido. Tudo parecia um labirinto sem saída. Mesmo com o DNA encontrado no cobertor apontando apenas para Kaiser e os pais, era nisso que eu me agarrava.
Matheus e Lexus estavam distantes. Haviam-se
desculpado, mas a distância emocional permanecia. Essa situação pairava como um fantasma, cada vez mais descontrolada. Sentado ao meu lado, Hércules me observava com seus olhos atentos. Ele sempre tentou decifrar meus gestos e expressões, mas, naquele momento, nem mesmo ele conseguia.
Luka e Paul releram a carta deixada na caixa uma, duas, três vezes. Kaio, por sua vez, analisava cada mensagem no telemóvel descartável, enquanto Alejandra revisava os documentos deixados. Eu sentia minha paciência se esgotar, como uma corda prestes a romper.
-Chega! - gritou Matheus, atirando uma garrafa de água contra a parede. -Cada minuto aqui é um desgaste mental!
-Calma, filho. Eles estão fazendo o possível. Mas nem sempre é fácil.
-MERDA! - ele berrou, cobrindo o rosto com as mãos. A frustração o corroía a cada instante, e era visível o quanto isso o destruía.
A casa em Mallorca não trouxe nenhuma pista; era mais um beco sem saída. Estávamos de volta ao ponto de partida. Olhei para as chaves mais uma vez, tentando encontrar qualquer sentido. Fechei os olhos e busquei as palavras do meu pai para situações como essa, mas elas só aumentavam meu desespero.
-Bernardo está no hospital! - Bruno entrou na sala, apressado. -Ele foi baleado no braço.
-E Kaiser? - perguntou Lexus, com o olhar em chamas. -Bruno...?
-Nada...
O silêncio dominou o ambiente. Ninguém queria acreditar no que estava acontecendo. Pegamos tudo o que podíamos e saímos às pressas. Cada segundo era crucial, e Bernardo era a nossa única pista para encontrar Eva.
-Mais rápido, Steve! Cada segundo conta! - Matheus gritou, com um desespero cortante na voz. -Eu mesmo vou acabar com ele!
Lancei um olhar pelo retrovisor, e ele entendeu o recado. Precisávamos manter a cabeça no lugar, mas a raiva dentro de mim era uma chama prestes a explodir. Assim que o carro parou, Kaio abriu a porta do seu carro à nossa frente, e Hércules disparou para dentro do hospital.
Todos estávamos aflitos, era uma corrida desesperada contra o tempo. Subimos as escadas o mais rápido possível, e assim que chegamos ao andar, proibi qualquer um de se aproximar. Este momento precisava ser nosso, dos policiais, sem distrações ou interferências externas.
Entrei no quarto e meus olhos se fixaram na cama. No chão, ao lado dela, Hércules estava sentado, observando sem desviar o olhar. Ele permanecia atento a cada movimento, treinado para isso. Mas havia uma tensão em seu corpo. Talvez ainda carregasse o cheiro do pequeno Kaiser em suas narinas.
-Vais falar?! - perguntei com firmeza.
-Que garantias eu tenho? O que ganho com isso? - respondeu ele, desafiador.
-Salvar a vida de um bebê! É isso que ganharás. - Alejandra se aproximou, apertando o braço do moreno. -Cada momento perdido é um passo a menos para encontrarmos Kaiser com vida.
Ele desviou os olhos, visivelmente irritado.
-Não falo sem ela.
-Não estamos aqui para brincar! - Paul elevou a voz, carregada de impaciência. -Vais falar ou usaremos outros meios.
-Diz-nos onde ele está, e talvez pensemos em ajudar-te durante o julgamento! - intervim, com dureza.
-Fala agora! - Kaio aproximou-se, encostando a arma no braço do moreno. -Gostarias de levar outro tiro?
-Sem Lexus aqui eu não falo. Ela e a mãe dele, não é? Só com ela presente. Se não, nada terão de mim.
Fechei os olhos, respirando fundo. Ceder à chantagem dele era amargo, mas salvar a vida do pequeno Kaiser era mais importante que qualquer orgulho ou raiva. Reuni todos no corredor e expus meu plano; tínhamos que tentar. Lexus era a nossa única chance.
-Se isso dará certo, não sei. - Luka murmurou, ajustando o colete. -Mas é tudo o que temos agora. Vamos tentar.
Chamei Lexus e expliquei o que precisava ser feito. Não queria colocá-la nessa posição, mas, sem hesitar, ela entrou no quarto. Caminhei ao seu lado e fechei a porta atrás de nós.
-Fala! - ordenou ela, com a voz cheia de raiva.
-Bom dia para ti também, florzinha!
-Só fala! - apertei o braço dele, controlando minha raiva.
-Tá, tá! Tudo bem... a ele respondeu, com um tom provocador. -Existe uma casa no penhasco, a cerca de quarenta minutos daqui. A chave que procuram é a vermelho-vinho, antiga propriedade do pai de Eva. Ela fica perto da falésia. Não sei o que ela está fazendo com Kaiser, mas eu tentei fugir com ele.
-E por que não o fizeste?! Que tipo de homem és tu?! -Lexus disse, segurei-a com força. -Ele é meu filho, Bernardo!
Ele abaixou a cabeça, sem dizer mais nada. Lexus deixou o quarto em silêncio, devastada. Fitei Bernardo com olhos frios e minhas palavras foram firmes como aço: -Se eu descobrir que estás mentindo, tirarei-te deste hospital e farei-te pagar até a última palavra.
Não havia tempo a perder. Entramos no carro, cada instante contava. Pedi a Paul que ligasse para Bruno. Ethan, Alejandro e todos os agentes precisavam estar no local. Eu sabia onde ficava a moradia. Meu pai e eu íamos para a falésia durante os verões.
"Era agora ou nunca..."
🍓
Autora Narrado
A hora era agora...
Era a vida de um recém-nascido que estava em jogo, e todos sabiam disso. Uma grande operação foi mobilizada: toda a esquadra estava a caminho, acompanhada por dois caminhões de bombeiros e três ambulâncias, prontos para assegurar que tudo corresse dentro da lei e, acima de tudo, que Kaiser fosse resgatado com vida.
A tensão no caminho era palpável. A distância até a propriedade parecia aumentar a cada segundo, enquanto a apreensão crescia. A vida de Kaiser dependia deles, e cada momento perdido era uma aposta arriscada demais. Cada segundo era vivido como se fosse o último.
Quando finalmente chegaram ao portão imponente da propriedade, depararam-se com um grande cadeado trancando a entrada. Luka saltou do carro, correndo para tentar resolver o obstáculo, mas Hércules, atento, disparou em velocidade por uma pequena passagem entre as pedras ao lado do portão. Ele avançou rapidamente, farejando o ar, e começou a latir incessantemente ao se aproximar do carro de seu dono.
Steve observava tudo com irritação crescente.
-Hércules, sai da frente! Cada segundo conta! Vai, garoto, sai!
Mas ele não recuava. Antes que pudessem reagir, um som ensurdecedor tomou o ar, uma explosão. Todos os olhares se voltaram para a casa. Em instantes, as chamas começaram a consumir o local, espalhando-se de forma implacável. O fogo crescia rápido, e agora, cada segundo se tornava uma questão de vida ou morte.
Os carros pararam bruscamente. Lexus e Matheus saíram correndo, determinados a entrar na casa, mas foram contidos pelos agentes. Havia um caos silencioso no ar, uma mistura de pânico e incredulidade. O fogo tomava conta do primeiro andar, mas o restante da casa ainda não estava completamente comprometido. Mesmo assim, ninguém sabia o que encontrariam lá dentro.
-Ele é nosso filho, Steve! - gritou Lexus, as palavras saindo entrecortadas por soluços. -Me deixa passar! Ele é apenas um bebê!
Steve, visivelmente abalado,
segurou-a pelos ombros.
-Eu não posso. Me perdoem! Não sabemos a planta da casa. Não sabemos se ele está lá!
Lexus caiu de joelhos, vencida pelo desespero. Cobriu o rosto com as mãos enquanto as lágrimas escorriam incontroláveis. O som de seu choro ecoava em meio ao caos, e os demais desviaram o olhar, incapazes de confortá-la. Foi então que Alejandro se adiantou, comandando a equipe com gestos rápidos e palavras firmes.
-Quero uma linha segura para entrar. Bombeiros, preparem o caminho! Não temos tempo a perder! - ele gritava, olhando para a casa em chamas.
Enquanto isso, Hércules ainda permanecia próximo à entrada, latindo incessantemente, como se implorasse para que eles entendessem algo. Era uma corrida contra o relógio, e cada decisão poderia custar uma vida.
E então, outra explosão abalou o local, ainda mais forte que a primeira. O segundo andar foi tomado pelas chamas de forma devastadora, e o calor tornou-se quase insuportável. Hércules, imóvel diante da imponente porta vermelha já desgastada pelo tempo, continuava a latir incessantemente, como se estivesse tentando comunicar algo urgente.
-Esperem! - gritou Kaio, apontando para a floresta ao lado da propriedade. -Tem movimento ali! É Eva! Ela está correndo em direção ao penhasco!
Os olhares imediatamente se voltaram para a direção indicada. No meio das sombras das árvores, a silhueta de Eva surgia, correndo em desespero, algo nos braços que ela segurava com força.
-Vamos, senhores! Agora! - gritou Alejandro, disparando em direção à floresta sem hesitar.
Hércules, ao perceber a movimentação, correu para acompanhar o grupo, deixando para trás o fogo e as explosões. A tensão era insuportável. Eva não podia escapar. A possibilidade de Kaiser estar nos braços dela fazia o sangue de todos ferver, transformando a perseguição em uma corrida contra o destino.
O som de galhos quebrando e passos rápidos ecoava pela floresta enquanto a equipe corria em sua direção. Eva, desesperada, parecia aproximar-se cada vez mais do penhasco. E quanto mais perto eles chegavam, maior era a certeza de que a situação estava prestes a atingir seu clímax.
-Parem! Eva, para! - gritou Alejandro, avançando na frente, sua voz carregada de dor e súplica.
Eva permaneceu imóvel à beira do penhasco, o cobertor do pequeno Kaiser já levado pelo vento. Seus olhos brilhavam de raiva e desespero enquanto segurava firmemente a arma, apontando-a para si mesma.
Hércules continuava latindo incessantemente, focado na arma em suas mãos. A tensão era esmagadora, e cada palavra trocada parecia um fio prestes a se romper.
-Mostra as mãos, Eva! - gritou Steve, sua voz firme mas carregada de tensão. -Não nos obrigues a fazer algo que todos vamos lamentar. Diz onde está o Kaiser!
Eva respirou fundo, mas não recuou. Seus olhos brilharam com uma mistura de dor e loucura.
-Ninguém vai descobrir! Ninguém nunca vai encontrá-lo! Vocês não entendem, nunca entenderam. Kaiser é meu filho! E só vou sair daqui se o Matheus for comigo.
-Isso não vai acontecer, Eva. - Steve deu um passo à frente. -Matheus não irá contigo.
Ela começou a rir, um riso vazio e aterrorizante. -EU SEMPRE VENCEREI! - bradou, erguendo a arma de repente e apontando-a para a própria cabeça. -NINGUÉM VAI ME PARAR!
Todos os agentes ergueram suas armas em uníssono, apontando para ela. A respiração era pesada, o silêncio apenas quebrado pelo estalar das chamas ao longe e os latidos de Hércules.
A qualquer momento, tudo poderia se desfazer...
-Afasta esse cão, agora! - gritou Eva, a voz instável. -Não me obrigue a atirar nele, Steve!
-Hércules! Aqui! - chamou Steve, tentando manter o controle.
Mas ele não se movia. Ele sabia que algo estava errado, que não poderia abandonar sua posição.
-EVA! - a voz de Matheus ecoou, cortando o ar. Ele surgiu entre os agentes, caminhando apressadamente em direção a ela. -Não! Por favor, me escuta!
-Matheus, volta aqui! - Alejandro gritou, furioso. - Alguém o tire dali, ele vai cair!
-Não se aproximem! - Eva rugiu, apontando a arma na direção de Matheus. - Eu juro que o mato ele, e depois me mato!
-Eva, por favor! - Lexus implorou, as lágrimas escorrendo. -Diz onde ele está! Kaiser é só um bebê! Ele precisa de nós!
-Tarde demais. - Eva riu, os olhos brilhando com uma loucura desconcertante. -Ninguém vai salvá-lo.
Matheus levantou as mãos devagar, ignorando os gritos ao fundo. Ele deu mais um passo, aproximando-se ainda mais da ruiva. -Eva, olha para mim. Só para mim. Esquece todos os outros aqui. -Sua voz era baixa e cuidadosa, como se pisasse em gelo fino. -Estou aqui, Eva. Estou contigo. Por favor... eu preciso do meu filho. Nosso filho, certo?
Eva hesitou. Seus olhos fixaram-se nos de Matheus, os dedos tremendo ao redor da arma. Por um momento, parecia que o tempo havia parado, os dois separados apenas por uma rocha que os impedia de se aproximar mais.
-Matheus, sai daí! - Paul gritou, visivelmente nervoso. -Não se meta entre ela e nós!
-Parem! - Matheus ordenou, sem desviar o olhar de Eva.
O silêncio caiu como uma pedra. Todos esperavam o desfecho. Eva não piscava, encarando Matheus como se ele fosse a única coisa que restava no mundo. Ela deu um passo em direção à borda, o penhasco cada vez mais perto, e o peso da decisão parecia esmagá-la.
-Eu faço qualquer coisa, qualquer coisa para saber do Kaiser... - A voz de Matheus saiu trêmula. -Eva, por favor, diz-me onde ele está, por favor. - ele engoliu em seco, a dor em cada palavra. — Ele é apenas um bebê, é meu filho, ele não tem culpa do que um dia fomos. Por favor! Eva, eu farei qualquer coisa para salvá-lo... me diz onde ele está. EVA!
Ela respirou fundo, o sorriso malicioso em seus lábios parecia mais uma despedida do que um triunfo, enquanto a arma tremia em suas mãos.
-Sabes de uma coisa? Eu não acredito mais em ti. Não cumpriste com a nossa promessa, Matheus. E agora...é ele quem vai pagar pelos teus erros. Adeus, Matheus.
Um disparo ecoou, cortando o silêncio. No mesmo instante, a arma caiu das mãos da ruiva, chocando-se contra o chão. Os corações apertaram, como se o tempo houvesse parado. Eva foi derrubada ao chão com força por Luka, a poucos centímetros da beira do penhasco.
A arma, que havia caído de suas mãos, rolou pelas pedras e desapareceu no vazio abaixo. O disparo ainda ressoava na mente de todos, mas, surpreendentemente, nenhum ferimento era visível.
-Onde está Kaiser, Eva? - gritou Steve, aproximando-se com uma mistura de raiva e desespero. -Isso acabou! Diz logo, agora!
Eva riu baixinho, o sorriso de loucura ainda em seus lábios, embora seu corpo estivesse visivelmente exausto e derrotado.
-Vocês chegaram tarde demais... - sussurrou ela, os olhos fitando o céu como se estivesse falando consigo mesma. -Ele já não está mais aqui...
-Mentira! - Lexus se aproximou, a voz embargada de dor. -Kaiser está vivo, não está? Ele está vivo! Eva, me diz!
Eva virou o rosto lentamente, encarando Lexus com frieza.
-Talvez vocês nunca o encontrem... talvez estejam procurando no lugar errado... ou talvez ele esteja mais perto do que imaginam.
-Já chega! - Matheus gritou, caindo de joelhos ao lado dela. Sua expressão era uma mistura de desespero e determinação. -Eva, eu não aguento mais esse jogo. Acabou! Tu não precisas fazer isso. Se ainda resta algo em ti...me diz onde está o meu filho.
Eva permaneceu em silêncio por um momento, olhando para Matheus como se tentasse decifrar sua alma. Então, de repente, ela soltou um suspiro profundo, seus olhos perdendo o brilho de resistência.
-No meio da floresta... na minha casa... - murmurou ela, com a voz tão fraca que parecia se desvanecer. -A casa que eu ateei fogo com explosivos...a floresta cheia de armadilhas...
-Preciso de uma equipe na floresta! Agora! - Steve falou pelo rádio, sua voz urgente. -Hércules irá com vocês.**
Eva foi levada para o carro da polícia, mas ainda pairava uma incerteza no ar. Kaiser ainda corria risco de vida, e a cada segundo que passava, o perigo de ele não resistir aumentava.
-Diga-nos onde ele está, Eva! Agora! - Alejandro estava perdendo a paciência. -Eva!!!
Ela riu, um riso vazio, quase insano.
-Não estamos aqui a brincar, Eva! - Kaio, já irritado, colocou-se diante da morena, com os braços abertos de cada lado do corpo da ruiva. -É A VIDA DE UMA CRIANÇA!!! - ele se exaltou, dando-lhe um estalo.
-Tirem-na daqui, chega! Para trás, senhor Gómez! - Alejandro puxou-o para afastá-lo.
-Não terão nada de mim. Já irão tarde quando o encontrarem... - ela riu, a risada vazia e cortante. -Sabem, vou contar um segredo! Ele está mais doente do que quando o peguei no hospital. Desnutrido, perdendo a cor, com falta de ar... frio. - disse, com tom irónico.
-EU VOU ACABAR CONTIGO!!! - Matheus avançou, mas foi travado. -Vou fazer-te sofrer, Eva!!!
Austin, já inconformado com a falta de caráter da ruiva, pegou sua arma e a entregou ao irmão. Sem perder tempo, correu em direção à casa, desobedecendo a todas as ordens. As chamas consumiam o local como um inferno, mas o que ninguém sabia era que Luka, decidido a salvar Austin, havia ido atrás dele, determinado a tirá-lo de lá antes que fosse tarde demais.
O interior da casa era um verdadeiro inferno. O calor era sufocante, as chamas dançavam vorazmente, consumindo tudo ao seu redor. Muitos cômodos já haviam sido reduzidos a cinzas, e o que restava agora era um cenário quase irreal, como se tudo não passasse de um pesadelo do qual não se podiam despertar.
A tensão crescia a cada segundo. O estalar da madeira e o rugido do fogo marcavam o tempo que se esvaía rapidamente. A estrutura da casa estava prestes a ruir, cedendo sob o avanço implacável das chamas. A sensação de urgência tomava conta do ambiente, sufocando qualquer esperança.
De repente, uma silhueta se destacou na grande porta da casa. Em um instante, Luka surgiu, empurrando Austin com força para fora, enquanto o teto desabava sobre seu próprio corpo. O fogo engolia tudo ao redor, cada instante sendo potencialmente o último para Luka.
-Nunca mais, nunca mais faças isto, Austin! - Martin gritou furioso, arrastando o irmão para longe dos destroços. -Esta será a última vez que descumpres as minhas ordens.
-Encontramos! Encontramos Kaiser...
O alívio ecoou entre os presentes, dissipando, ainda que por um momento, a atmosfera de desespero. Luka era retirado dos escombros, enquanto Kaiser, finalmente, estava seguro, de volta aos braços de seus pais.
Kaiser, estava deitado na maca da ambulância, seus pequenos pulmões se esforçando a cada respiração, mas, por sorte, ele ainda estava vivo. Os paramédicos trabalhavam rapidamente, ajustando as máscaras de oxigênio e monitorando os sinais vitais. Sua pele estava fria e pálida, e o leve tremor de seu corpo denunciava o choque que ele havia passado.
A médica, com um olhar concentrado, fazia anotações enquanto tentava manter a calma.
-Está indo bem. Ele precisa de cuidados imediatos, mas a princípio, a situação não é crítica. - disse ela, tentando dar algum consolo aos presentes.
No entanto, Lexus, que acompanhava tudo de perto, não conseguia esconder o peso da culpa. O bebê tinha passado por tanto e ela ainda se sentia responsável, mesmo sabendo que havia feito tudo o que podia para protegê-lo ainda de toda a enorme tragédia.
-Ele vai ficar bem, certo? - Matheus perguntou, a voz tensa e ansiosa. Seus olhos nunca deixavam o seu filho.
-Sim. Ele está sendo forte, ele está lutando pela vida. Vamos fazer tudo o que for necessário para mantê-lo estável até o hospital. - respondeu a paramédica, tentando passar um pouco de esperança.
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