Uma canção para você

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Cinco anos atrás

Já era madrugada quando o som estridente do celular foi ouvido, rasgando a noite silenciosa e tirando Min Yoongi de um sonho bom.

— Yoboseyo? — atendeu, sem conseguir ver o nome da pessoa no visor, mas logo reconhecendo a voz do outro lado da linha. — O que foi, Taetae?

Hyung, eu estou indo viajar amanhã! — o Kim falou angustiado.

— Viajar amanhã? — repetiu o mais velho coçando os olhos em uma tentativa de espantar o sono.

Sim, eu vou para Daegu. Meu pai ficou receoso com a nossa privacidade depois que vazou informações da empresa, a imprensa está na nossa cola.

— Omo, então...

Tenha cuidado também, sim? Eu... não sei quando irei voltar, Yoon. — fez uma pausa se controlando para não chorar e continuou. — Você poderia me ver no aeroporto amanhã às nove? 

— Eu vou tentar, Taetae, meu pai fica só pegando no meu pé...

Não quero ficar entre vocês dois, hyung, afinal ele é seu pai. — cortou a fala do Min, apressado. — Porém, eu não quero mais me conformar com migalhas! Quero você por inteiro, quero provas de que meu amor está sendo correspondido de alguma forma.

— Taetae, não fala assim, eu...

Min Yoongi se assustou quando viu seu pai ligar o interruptor, adentrar seu quarto em tempo recorde para arrancar o celular de suas mãos e o espatifar na parede.

— Eu já falei que não quero ver você com esse moleque! — gritou o senhor Min descontrolado.

— Para, aboji, já chega! — desabafou o garoto ficando frente a frente com o pai. — Eu sempre fiz tudo o que o senhor quis, sempre fui um filho obediente, mas o senhor não pode mandar no coração e eu... eu amo o Taehyung!

O tapa que Yoongi levou, doeu menos do que as palavras duras que saíram da boca de quem o garoto teve a vida inteira como um ícone.

— Escute bem, Min Yoongi: a partir de hoje, eu não te tenho mais como meu filho! Você morreu para mim!

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Atualmente:

— Aposta quanto que vão trolar ele de novo?

No palco, Hoseok subiu no palco, muito sério, com a ficha nas mãos.

— Atenção, muita atenção. Tem um carro estacionado de forma irregular, atrapalhando a rampa de acesso aos cadeirantes. Peço gentilmente para a senhorita Kito, a proprietária, que retire o seu carro ou terei que chamar. Então... — olhou no papel para checar o nome. — senhorita Pri Kito, peço que retire o seu carro, o mais rápido possível. Obrigado.

Um borburinho se fez na plateia, Hoseok nem se deu conta do que tinha falado.

— Quando você vai voltar a falar com o Yoongi? — perguntou o loiro vendo Taehyung fazer um bico enorme ao ver o estudante de música se posicionar no palco.

— Não conheço ninguém com esse nome, Jimin.

O loiro revirou os olhos vendo a teimosia do outro. Era tão óbvio que Taehyung ainda nutria algo pelo Min, custava seu amigo dar o primeiro passo e falar com o mais velho?

— Então fica aí "senhor esquecidinho", tenho um show para começar.

— Arrasa lá, Minnie! — disse Taetae dando um tapinha no bumbum do Park, o que fez o loiro ficar vermelho até a pontinha da orelha com a demonstração de afeto em público.

Enquanto isso, não muito distante dos estudantes de engenharia, Jungkook buscava o melhor ângulo de seu amigo.

— É impressão minha ou você está nervoso, hyung? — perguntou tirando os olhos da câmera digital e fazendo uma careta. — Se você não relaxar para tirar uma simples foto para o anuário da faculdade, como vai conseguir se apresentar no festival na fren... Yoongi, você está se sentindo bem?! — perguntou preocupado vendo a expressão assustada no rosto do amigo. Jeon não obteve resposta e por intuição olhou na direção que o Min congelou suas órbitas negras. — Quem é  ele, hyung? — vendo a semelhança dos dois, Jungkook teve um pequeno choque de realidade, quase derrubando seu objeto de trabalho. — Não me diga que ele é seu pai!

Yoongi levantou do banco onde estava sentado e desapareceu, deixando todos atônitos, inclusive Jimin que se aproximou assim que presenciou aquela cena incomum.

— O que aconteceu, Jeon? Ele vai ser o primeiro a se apresentar!

— Jimin... nós temos um grande problema. — respondeu com os olhinhos de jabuticaba bem arregalados, cômico demais até para levar a sério as palavras trágicas do mesmo.

Na verdade aquele, era um dia especial para o amigo de Jungkook, pois o Min iria tocar pela primeira vez sua nova música, uma melodia cheia de significados. Ele dedicaria a alguém especial e essa pessoa era Kim Taehyung, claro. Yoongi decidiu revelar seus sentimentos pelo mais novo em forma de sinfonia, queria pedir desculpas ao amigo de infância. Então, por que justo naquele dia seu aboji tinha que aparecer para estragar seus planos? Isso era tão injusto!

Min Yoongi se encontrava no chão do camarim, abraçando as próprias pernas e se balançando de um lado para o outro. Um medo gigante invadiu seu peito, suas mãos tremiam e o ar que puxava parecia escasso. Estudou meses e meses cada nota, cada acorde, agora temia não conseguir controlar a própria ansiedade e travar na frente de todos. Já poderia imaginar os olhos frios do pai lhe reprovando e na decepção no rosto bonito de Taehyung. 

— Não, não, não... — falava repetidas vezes.

Absorto na própria agonia, não escutou quando alguém entrou no camarim e se aproximou lhe oferecendo uma pequena sacola de papel.

— Respire... Inspire... — pediu Taehyung com um olhar que lhe passava confiança.

Depois de encher e secar a sacola repetidas vezes até se acalmar, o Min conseguiu falar. 

— Você... você lembrou de como eu curava minhas crises?

— Como eu poderia esquecer? — disse simplista, dando de ombros.

— Mas tinha que ser um saco sujo de pipoca?

— Yaah, foi o que consegui de última hora, tá?!

— Perdão... Eu deveria te agradecer e não reclamar, sou horrível com as palavras, desculpa. — falou sem jeito.

— Tudo bem, mas e você? Está se sentindo melhor? 

— Sim.

— Ainda assim vou falar com o Jimin para deixar sua apresentação por último, assim terá mais tempo para se recompor.— disse o Kim se levantando.

— Espera! — pediu o mais velho segurando o braço do estudante de engenharia. — Eu queria conversar com você.

— Não temos na... — começou Taehyung, mas fechou os olhos se detendo para não dar uma resposta negativa para o músico. Por mais magoado que estivesse, não queria piorar o emocional do mesmo, então seria obrigado a mentir. — Está bem, depois que o festival acabar vamos conversar.

Taehyung saiu de lá com o coração aos pulos e só soltou o ar quando viu o melhor amigo roendo as unhas, esperando ancioso para anunciar a próxima apresentação e Jungkook tentando disfaçar a foto que tinha acabo de tirar do loiro.

— E aí, conseguiu? — perguntaram os dois ao mesmo tempo.

— Nunca mais me mandem fazer isso! — disse dramático com a mão no peito.— Kook, como sabia que eu poderia ajudá-lo?

— O Yoongi-hyung me contou tudo, sobre a "peludinha", o tal mal entendido quando eram adolescente e que depois disso não se viram, até agora.

— Mal entendido, "peludinha"... vou lembrar de onde parei, quero saber de tudo quando eu voltar! — disse o loiro correndo para o palco de novo.

— E você sabe o porquê dele ter tido esse ataque de pânico? Pensei que era um músico experiente.

— E é... mas ele viu o pai dele na platéia, então... — gaguejou o mais novo.

— E daí? — pressionou querendo entender de uma vez por todas aquela história.

— Bom... você sabia que o Min Yoongi não fala com o pai há anos? Faz um bom tempo que eu divido o apartamento com o hyung e nunca tinha visto o senhor Min, até minutos atrás.

O Kim, ainda chocado com as revelações, procurou o velho senhor e viu uma figura miúda de cabelos grisalhos se afastando a passos vagarosos.

— Espera! — gritou Taehyung, mas o outro  continuou caminhando até sumir na multidão.

— E agora com vocês... — Jimin fez um suspense olhando para os calouros que não cansavam de admirar a beleza do Park.— Min Yoongiiii!

Taehyung viu o mais velho entrando pelo lado oposto de onde estavam, assim como a platéia silenciando ao som dos primeiros acordes do piano.

Min Yoongi parecia extremamente concentrado, suas mãos habilidosas deslizavam com maestria o teclado, por vezes em uma forma delicada e leve, já outras com extrema emoção. Sem dúvidas nenhuma era uma linda melodia e em dois segundos, Taehyung se viu emocionado admirando o homem que Min Yoongi se tornou.

Afinal, era a concretização do sonho de seu antigo amigo, esse que até enfrentou a hierarquia do pai para estar ali.

Como foi bobo por ter passado quase a metade do ano e não ter seguido os conselho de Jimin, pois mesmo depois que entrou no campos e deu de cara com Min Yoongi, ele não se deixou abalar. Colocou seu orgulho na balança se sentindo bem maduro ao afirmar ter superado a rejeição do velho amigo.

Na manhã que foi embora para Daegu, ele esperou o Yoongi e foi frustrante se agarrar a esperança de que o mesmo entrasse naquele aeroporto e lhe desse um abraço apertado antes de partir. Isso não aconteceu e sob o olhar triste dos pais, o garoto se despediu, sabendo que seu coração tinha ficado ali junto com suas ilusões.

Chegando na casa dos avós, pediu para estender sua estadia lá, que mais tarde virou seu lar oficial. Trocou de número e nunca mais teve notícias de Min Yoongi e, sinceramente, preferiu assim. Seguiu sua vida lá, conheceu pessoas novas e até namorou. Todavia, depois que terminou o ensino médio foi obrigado a pensar seriamente em alçar vôo e voltar para a Seul, tendo o apoio do melhor amigo Park Jimin que também começaria a cursar engenharia.

E ali estava ele, encarando o passado que tanto quis apagar, vendo o amor que julgou ter esquecido lhe preencher novamente. A vida não cansava de querer juntar os dois e no final, Taehyung deixou escapar um "bravo, bravo!" não conseguindo desgrudar da figura pequena e com um sorriso gengival, se curvando e agradecendo os aplausos da platéia eufórica.

— Aigoo, que música linda, Min Yoongi, meus parabéns! Vocês também gostaram? — começou o Park entrando no palco e olhando a ficha que segurava. — O nome dela é "Estigma", não é?

— Sim. — disse Yoongi e quando o loiro iria voltar a falar, o mais velho tomou coragem e puxou o microfone para si. — Significa uma cicatriz deixada por uma ferida.

— Uau, isso é literalmente bem profundo! — falou dando um sorriso que arrancou suspiros de todos ali, inclusive de Jeon.— Com certeza temos um forte candidato como compositor do ano para ganhar o troféu "Genios Lab"!

— Acho que ... — começou Min Yoongi. — ... que todos os troféus e medalhas eu já ganhei hoje, pois consegui falar com alguém que significava, ou melhor... que ainda significa muito para mim! E eu quero dizer a essa pessoa que eu sinto muito, muito mesmo, por ter ficado em silêncio todo esse tempo.

Nessa hora Taehyung já tinha se afogava em lágrimas, descido as escadas e corrido para trás do palco esperando Yoongi, que não tardou a aparecer. O abraço que os dois trocaram foi algo tão lindo e inexplicável que só os corações dos dois juntos faziam uma perfeita sinfonia. As mãos apertando as costas, o cabelo sendo bagunçado e as lágrimas que molhavam a roupa alheia, não era nada em contraste com a dor da separação que estava sendo dissipada.

— Eu te perdôo sim, Yoon. — disse Taetae com o som abafado.

Yoongi nada falou, apenas aumentou o aperto e se deixou chorar mais nos braços do seu antigo amor.

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Yeees, parece que tudo está se encaixando com o nosso taegi! O próxima capítulo será o último e explica direitinho o porquê do nome da fanfic ser "Trapaceiros do Amor".

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