Taehyung

Você consegue lembrar com clareza das coisas que aconteceram quando ainda era criança?

Eventos marcantes, com certeza, viram memórias fixas que o tempo jamais conseguirá apagar. Por isso, eu lembro com perfeição daquela manhã de sábado ensolarada que meus pais me arrumaram com uma roupa ridiculamente fofa, finalizando com uma gravata borboleta.

— É feio, não quero, não! — falei emburrado, fazendo um enorme bico e cruzando os braços.

— Taetae, nós já conversamos, não foi? — disse minha mãe docemente se abaixando para ficar na minha altura. — Está chegando uma pessoa muito importante que irá trabalhar com o seu papai. O filho dele também vem, então, se você se comportar direitinho, prometo que vamos te levar pra Disney!

— O parque do Mickey?! Jura, mamãe?! — eu bati palmas e dei pulinhos empolgado.

— Sim, bebê! — confirmou dando um beijo no meu rosto e arrumando a gravata com estampa de bolinhas, que insistia em ficar torta. Nesse meio tempo, a companhia tocou e a mamãe levantou rápido alisando seu vestido elegante. — Vamos meu anjo, seja bonzinho com o garoto, tá?

Eu balancei a cabeça fervorosamente com um sorriso largo e banguelo. Já estava imaginando como seria legal entrar na montanha russa e ir em todos os brinquedos radicais.

Quando chegamos na sala, encontramos o papai cumprimentando um homem baixinho de cabelos negros e olhos bem puxadinhos.

— Peço desculpas por trazer meu filho de última hora assim... Eu tinha esquecido que era o dia de folga da babá. — se desculpou sem jeito.

— Ora, não precisa se desculpar, não é nenhum encomodo recebê-los aqui. — falou o papai cheio de sorrisos, tocando o ombro do outro. — E você, rapazinho, como se chama?

Uma figura pequena e de pele branquinha saiu de trás do jovem senhor. Os olhos do menino eram tão puxadinhos e negros quanto de seu pai.

— Meu nome é Min... Min Yoongi. — respondeu rápido e depois se escondeu novamente.

— E eu sou Kim Taehyung, mas todos me chamam de Taetae. Eu moro aqui! Vamos ser amigos? Se disser sim, eu posso te mostrar a minha casa na árvore. — falei empolgado chamando a atenção dos adultos, que riram do meu jeito desinibido.

Sim, eu já era um tagarela, ao contrário de Yoongi, que parecia acuado olhando para o chão, muito tímido.

No jantar não foi diferente. Enquanto os adultos conversavam eu tentei falar com ele de novo, porém, não tive sucesso.

Quando os dois empresários trancaram-se no escritório para falarem sobre os negócios, mamãe nos levou para a varanda. O local era fresco e arejado, com várias cadeiras de madeiras almofadadas e uma mesa de centro.

Ela tirou os sapatos que maltratavam seus lindos pezinhos e esticou-os sobre o móvel.

— Finalmente vou poder assistir o último episódio de Boys Over Flowers. — disse soltando um ar pesado e já colocando no aplicativo de doramas. — Taetae, você pode levar o Yoongi para ver o Flecha, que tal? Vou ficar observando vocês daqui, vão.

Mentira.

A partir do momento que a mamãe via "o seu F4", ela esquecia do mundo ao seu redor. Isso é fato. Por quase um minuto ficamos lá parados e ela não desgrudou os olhos da tela, cantando com entusiasmo sua ost favorita.

Vida de dorameira é assim.

Eu ri. Sempre me divertia quando mamãe ficava assim, perdia até a pose de madame. Já o garoto de olhinhos puxados, não expressou nenhuma reação. Então, por impulso, peguei sua mão e lhe arrastei até a minha casinha da árvore.

— Você não vem? — perguntei lá de cima vendo o garoto receoso olhar para suas roupas, tão ridiculamente fofas, assim como as minhas. — Aqui dentro é limpinho, não se preocupe, a não ser que queira se sujar com um montão de chocolate que tenho aqui. Vem logo!

Ele suspirou e começou a subir as escadas fixa no tronco da árvore frondosa, vencido pela vontade de comer doces ou só por perceber que eu não desistiria de tentar convencê-lo.

Contudo, acho que ele não se arrependeu pois seu rostinho se iluminou e sua boca fez um "o" quando viu meu cantinho. Modéstia parte, eu fiz por onde merecer os melhores elogios. Lá eu guardava meus mangás, pôsteres dos meus animes favoritos, guloseimas, meu Nintendo super "retrô" com fitas originais e o Flecha. Minha casinha era meu mundo particular e ninguém subia sem minha permissão.

— Você gosta de chocolate ao leite ou o meio amargo? — perguntei lhe mostrando várias marcas.

— Tanto faz. — respondeu encolhendo os ombros e pegando qualquer um.

— Você quer conhecer o Flecha? — peguei um pequeno aquário e lhe mostrei empolgado. — Não é lindo?

Foi aí que, pela primeira vez, vi seu sorriso gengival tão doce, até mais que chocolate. Eu fiquei observando encantado o garoto mais velho, ele parecia um anjo. Sua pele leitosa contrastava com seus cabelos negros e, seus olhos miúdos ganharam um brilho diferente quando pegou o animal, que era tão minúsculo que cabia na palma de sua mão.

— Meu pai não deixa eu ter um.

— Então pede para sua mãe. Ela viajou, não foi? — perguntei lembrando da conversa mais cedo.

—Sim. — respondeu perdendo o sorriso de outrora.

— Para onde ela foi? É muito longe? — perguntei com o coração apertado.

O pequeno Min olhou para a janela da casinha e apontou para o céu azul de poucas nuvens.

— Para o céu. Ela virou uma estrela.

Eu não fazia ideia do que aquilo significava. A mãe dele chegou lá de foguete? Por que não voltou? Muitas perguntas eram criadas na minha cabecinha e mesmo depois que Yoongi e seu pai foram embora, o rosto triste do menino não saiu dos meus pensamentos.

Demorou algumas semanas até o senhor Min aparecer aqui em casa novamente dessa vez, sem o garoto de sorriso gengival, pois o mesmo se encontrava doente.

No jantar fiquei quieto e mal toquei na comida. Minha mãe notou meu comportamento estranho e deduziu do que se tratava.

— Você queria brincar com o pequeno Yoon, não é?

Balancei a cabeça devagar com os olhos rasos d'água. Eu realmente estava com saudades do garoto mais velho.

— Podemos ir visitá-lo, senhor Min? — o sócio de papai pareceu surpreso com a minha pergunta. — Porfavorzinho? Eu nem quero mais ir para o parque do Mickey e meu coração vai explodir se eu não ver o hyung. — falei juntando as mãozinhas em sinal de súplica.

Quem disse que eu já não tinha veia teatral? Lee Min Ho que se cuide.

Depois que o senhor Min consentiu, engoli rápido a comida, pedi licença e corri para o meu quarto. Quando voltei trouxe algo embrulhado em baixo do braço, aproveitando o papel do presente que ganhei de Natal. Ainda fiz questão de colocar uma fitinha vermelha e caprichar no laço.

— Posso saber o que é isso? — mamãe questionou levantando a sobrancelha bem desenhada.

— É segredo, mas é algo que o Yoongi irá gostar!

Sem darem muita importância para todo aquele misterio que fiz, seguimos de carro até a casa dos Min, que era tão grande e bonita quanto a nossa.

Lembro de Min Yoongi deitado na sua cama e a enfermeira pedindo para eu ser breve, pois o pequeno estava delirando de febre.

Quando fiquei a sós com ele no quarto, sentei na beirada da cama. Me senti impotente observando o ser mais perfeito e frágil do mundo sofrendo, ali na minha frente, sem poder fazer nada.

As lágrimas começaram a rolar sem eu perceber e um pequeno soluço saiu da minha garganta.

— Por que você está chorando? — ouvi o Min falar com a voz fraca, quase inaudível.

— Porque você está sentindo dor e isso me dói também.

Min Yoongi fechou os olhos novamente e eu pensei que tinha adormecido, até ouvi-lo mais uma vez ainda com os olhos semicerrados.

— O que é isso nas suas mãos?

Eu dei um pulo lembrando do presente.

— É para você!

— Deixa eu ver, traga até aqui.

Me aproximei e desfiz o laço, rasgando a embalagem com cuidado, como se fosse a coisa mais preciosa do mundo, enquanto observava curioso, o rosto pálido do Min.

Ele abriu os olhos lentamente e sorriu.

Meu coração se encheu de alegria. Só em vê-lo feliz eu trocaria mil vezes por aquela montanha russa idiota, disso eu não tinha dúvidas.

— Uma pelúcia de tartaruga? — perguntou, pegando o bichinho.

— Você disse que seu pai não gosta de animais e como gostou do Flecha, eu pensei, por quê não?

Se fez um silêncio enorme dentro do quarto, contudo, não foi nada constrangedor. Estar ao lado de Yoon me deixava bem tranquilo, por isso tive um sobressalto quando senti suas mãos febris segurando as minhas.

— Obrigado, Taehyung-ah.

— De nada, Yoongi-shi. — falei sorrindo sem vergonha de mostrar os dentes que caíram. — Cuida bem da "peludinha", tá? Ela não precisa de comidinha e água como o Flecha, mas eu quero que a guarde para sempre.

— Eu vou, Taetae... Eu vou.

[🐢]

Estão gostando? Não esqueçam da estrelinha. :)
O próximo capítulo que será narrado por euzinha.

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