Min Yoongi

Como um simples mal entendido é capaz de afastar duas almas gêmeas? Claro, o orgulho ferido é um empecilho para quem precisa se redimir e dar o primeiro passo.

É sobre isso que reflito vendo Taehyung no refeitório, tagarelando com seus colegas de engenharia.

— Você fica esquisito quando olha para o amigo do Jimin. — observou Jungkook enquanto limpava as lentes de sua câmera. — Aigoo... O meu Jimin poderia ser modelo, você não acha? — disse o estudante de fotografia todo derretido, vendo as fotos do Park, que foram tiradas sem a permissão do mesmo. — Ainda vou namorar com ele.

Revirei os olhos por causa do comentário do meu amigo. Diferente do Jeon, que não cansava de pagar mico venerando o baixinho, eu travava quando as coisas fogem do meu controle.

— Seu cafona! — impliquei, bebericando meu café e dando mais uma olhada para Taehyung, que já tinha notado que eu estava ali e fez questão de se exibir ainda mais.

— Sou mesmo. — respondeu o outro, dando um sorriso de coelho que derretia qualquer coração de gelo.

Eu reclamava sim, mas no fundo queria ser tão bom quanto o mais novo. Nesse lance de se expressar, sabe?

Na rádio da faculdade, Hoseok começou a falar os recados. Era a hora mais aguardada. Não pela música que pediam, mas pelas pegadinhas feita com o locutor.

Essa música foi um oferecimento da loja de auto peça, Simas Turbo, que está patrocinando os novos equipamentos da nossa rádio. Obrigado loja Simas Tuuuurbo! E também ao Power Guido, o cara que está por trás disso tudo... Calma aí... — pausa dramática. A galera já tinha se tocado do duplo sentido.
De novo não...

— Esse cara é hilário. Jungkook gargalhou, batendo palmas.

— Kook-ah, você lembra da "peludinha"?

— Aquela tartaruga velha que você não deixa ninguém tocar?

— Velha? Olha como você fala, moleque. — repreendi lhe dando um cascudo.

— Aish... — choramingou. — O que tem a tal coisa?

— Então... Eu já cheguei a te contar sobre meu primeiro amor e que essa pessoa me deu a pelúcia de presente. Só não falei que, essa minha antiga paixão, também estuda nessa faculdade.

— Sério, hyung? — falou espantado olhando para os lados. — Quem é ela?

Respirei fundo juntando forças para continuar. Falar a verdade, para o meu atual melhor amigo, era como admitir o passado de negação sobre quem realmente eu sou. Todavia, já estava na hora de enfrentar meus medos.

— Na verdade é "ele" e não "ela".

Eu poderia rir da cara que o Jungkook fez arregalando aqueles olhos redondos, que  quase saíram da órbita e, do gritinho empolgado que deu, chamando a atenção de todos no refeitório. Se a história não fosse tão séria.

Faz exatamente cinco longos anos que, o garoto mais galanteador da faculdade, o famoso Kim Taehyung, deixou de ser meu melhor amigo, para se tornar um mero conhecido.

[Flashback]

Dos sete aos dezessete, eu vivi como um membro da família Kim, era bem tratado e amado por todos. Já na adolescência, comecei a descobrir sentimentos pelo mais novo que iam além da amizade. Isso se evidenciou mais ainda quando nos beijamos, por pura "broderagem", claro. Era essa a desculpa perfeita para eu continuar com nossas aulas particulares para o meu dosaeng se tornar perito no assunto.

Isso funcionou por um tempo. Eu fingindo ensinar e Tae sendo um aluno aplicado, até o meu pai desconfiar de nós dois.

— Eu não gosto do jeito que vocês se olham. A partir de hoje você não vai mais dormir na casa dele e muito menos, aquele moleque vai botar os pés aqui de novo! — vociferou meu aboji — Você nunca mais vai ver o Taehyung, ouviu? — berrou do outro lado, se afastando com passos pesados.

O fim de semana foi longo demais, tendo o celular confiscado e sem Internet no meu velho computador, já  esquecido no canto do quarto. Ou seja, não tinha como ter contato com meu amigo, nem mesmo dar um sinal de fumaça era possível. E eu nunca, nunca fiquei tão ansioso para chegar em uma segunda-feira no colégio, como estava naquele dia.

— O que aconteceu? — perguntou o Tae preocupado assim que me viu no portão da escola. — Seus olhos estão vermelhos e inchados, hyung.

— A gente precisa "trocar uma ideia". — respondi com um fio de voz lhe puxando para um lugar mais reservado. Aquela conversa seria muito desgastante para nós dois.

Pensamos muito em como resolver aquele impasse, todavia voltávamos sempre à estaca zero. Não queríamos abrir mão das noites que a gente virava jogando vídeo game ou as tardes de sábados, em que a gente se trancava no quarto para maratonar dramas asiáticos. Uma paixão que passou da mãe de Taetae, para nós. Lembro do dia em que fomos intimados a assistir "Kill me, heal me" (vulgo melhor dorama de todos os tempos) e, nunca mais largamos esse vício. Nada se comparava em ter a companhia do meu dongsaeng deitado preguiçosamente na cama, selecionando comigo novelas coreanas e se empanturrando  com pipoca. Com certeza isso era segunda coisa que eu mais gostava nesse mundo.

A primeira era beijar Taehyung, claro. E sermos privados disso, era mais que uma tortura.

— Eu vou falar com meu pai! — disse já desbloqueando a tela do celular.

— Não, Taetae, você sabe como nossos pais andam se "estranhando" depois que a empresa faliu. — falei com uma calma fingida, que estava longe de ter. — Vamos continuar nos vendo todos os dias na escola.

— Mas é diferente, hyung! — afirmou com a voz chorosa.

— Podemos nos ver no parquinho abandonado, aquele, perto da sua  casa. — falei enxugando uma lágrima solitária que descia no seu rosto delicado. — Não fique assim, hum? Já tocou o sinal, aparece lá às sete da noite, mandarei uma mensagem assim que chegar.

Taehyung respirou e mostrou um sorriso triste, antes de responder:

— Ainda sim... Pouco é melhor do que nada.

[...]

Antes do horário combinado, eu estava lá, sentado no balanço enferrujado e me maldizendo o quanto o universo estava sendo cruel comigo.

Meu pai se encontrava quase em uma depressão, se afogando em dívidas. Para piorar, a nossa casa tinha sido hipotecada e ainda por cima, eu teria que, uma hora ou outra, falar com o mesmo sobre querer seguir a carreira de músico. Sendo que meu aboji almejava que eu entrasse no ramo de engenharia civil para seguir seus passos.

Tudo estava ruim e eu já me encontrava desarmado e sensível. Pensei amargurado que pior do que já estava não poderia ficar. Infelizmente, estava completamente errado.

— Yoongi? — ouvi a voz grave do meu amigo bem próximo do meu ouvido e foi impossível não berrar. — Você não me mandou mensagem. — disse em meio as suas risadas.

— Ah... Foi mal, eu estava distraído.

— Sei...

Tae sentou no balanço ao lado do meu e começou a dar impulso indo e voltando cada vez mais alto.

— Para! Você vai cair, garoto!

— Não vou, não... — essas foram as últimas palavras daquele cabeça oca antes do, balanço desgastado, se partir ao meio fazendo Taehyung cair com todo peso no chão.

— Eu não te avisei? Você é um teimoso, Kim Taehyung! — bufei, vendo ele se contorcer no chão.

— Vai me ajudar a levantar, ou não? — reclamou estendo sua mão. — Eu estou cansado de quebrar a cara.

— É só ter mais cuidado, esses brinquedos estão enferrujados e você não tem mais cinco anos!

— Eu não estou me referindo desse balanço idiota, mas bem que eu queria ter cinco anos, "porque um joelho ralado dói bem menos que um coração partido".

— Isso não é a letra de uma musica?

— Yoongiiii, aish, que saco!

— Eu, hein, que bicho te mordeu? — estranhei vendo o outro andar de um lado para o outro com os braços cruzados.

— Eu estou cansado, hyung, cansado de fingir, exausto por ficar sempre com essa dúvida presa no peito! — ele deu uma pausa refletindo alguma coisa, já eu, continuei em silencio esperando ele soltar alguma bomba atômica. Taetae não tinha filtro e se ele evitava falar algo, era porque se tratava de algo muito, muito sério. — O que a gente tem? O que eu sou para você, Yoon?

— Meu melhor amigo? — falei simplista, o que fez o mais novo bufar de raiva.

— Só isso?

— Onde você quer chegar? 

— Eu quero chegar exatamente aqui e entender nossa "amizade arco-iris". — pronto, o assunto que eu tanto temia, surgiu. — Você não sabe o que eu quero, hyung?

— Sinceramente, não. — respondi sentindo meus olhos arderem por tentar segurar as lágrimas. 

Eu odeio chorar. Odeio mostrar que também sou de carne e osso, como qualquer um.

— Eu quero saber o que você sente por mim. — falou decidido se aproximando.

— O que você acha que eu sinto?

— Nao sei, me diz você!

Seus olhos não desgrudavam um segundo dos meus, realmente o garoto sabia como me pressionar. Uma guerra interna travou dentro de mim, pois eu amava muito o Taetae, mas ao mesmo tempo achava aquilo errado e sem nexo. Minha vida já estava muito  complicada e o que iria adiantar revelar meus sentimentos naquela hora?

Vendo meu silêncio, ele riu e desviou o olhar.

— Não preciso falar com todas as letras que eu te amo, Yoon, você sabe disso. Eu só... — ele limpou os olhos com a manga do seu blusão, porém se afastou quando eu tentei lhe confortar. — Não me toca, você é um covarde!

— Eu não sou covarde!

— É sim! Eu sei que você também gosta de mim!

— Claro que eu gosto, você é muito importante para mim!

— Então demostre, enfrente seu pai! Encara esse medo que você têm de não poder agradar  seu aboji sempre e mostra que você já pode fazer suas próprias escolhas.

— Não é tão fácil assim!

— Pelo menos tenta, Yoongi! — gritou em meio aos soluços.

Aquilo parecia um pesadelo e minha cabeça parecia que iria explodir.

— Eu...

— Eu vou te dar um tempo, também quero colocar meus pensamentos no lugar, se não, irei ficar maluco. — ele estava com a mandíbula travada e os olhos úmidos, quando soltou a frase que eu nunca desejei escutar. — Ou você fica na minha vida de uma vez, ou você vai sair dela para sempre!


[🐢]

Tadinho do nosso Yoon... 😔
Vamos torcer para o próximo capítulo tudo se resolver.
Eu irei narrar a partir de agora, tá?
Não esqueçam de votar.

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