Capítulo 1
- Sério? De todas as opções do mundo, você vai escolher justo essa? - uma voz rouca atrás de mim contestou.
Minha primeira reação foi parar imediatamente de escolher a música no tablet imitando uma jukebox e olhar para trás.
Eu estava pronta para dizer que "All The Small Things", do Blink-182, era a melhor escolha possível, quando percebi que quem tinha criticado meu gosto musical era um cara alto. Muito alto (não que isso fosse difícil contra meus cento e cinquenta e nove centímetros nada intimidadores). Seus ombros eram largos, a pele bronzeada, e seu cabelo castanho escuro caía desordenado pela testa, quase escondendo olhos completamente pretos, emoldurados por óculos de armação quadrada.
Engoli em seco, um pouco impactada pela sua aparência, mas nem seu maxilar marcado me intimidaria a ponto de desistir de defender minhas preciosas músicas.
- É a única escolha possível.
- Acho que qualquer outra seria muito melhor. Essa daí é chata.
Franzi a testa inteira. "All the Small Things" era uma música excelente.
Mas eu estava no Sobradinho, e a opinião dos outros importava um pouco ali. O Sobradinho era uma balada maravilhosa, um oásis no meio do universo padrãozinho hétero-topzera de São Paulo, o problema era que a casa com lotação máxima para (o quê? Umas duzentas pessoas?) não dava conta de sua própria popularidade.
Enquanto a festa não começava de verdade e as pessoas continuavam cantando músicas no karaokê instalado no palco do DJ, eu tinha aproveitado para subir as escadas estreitas até o segundo andar, que parecia mais uma sala de visitas de uma casa retrôzinha, do que uma balada: iluminação baixa, vários sofás confortáveis espalhados, decoração meio vintage, uma cortina verde musgo servindo de papel de parede ao redor do cômodo inteiro, uma mesinha de centro bem grande, que muitas vezes virava um palco improvisado... E a jukebox.
Nenhuma outra balada em São Paulo tinha um negócio desses, onde as pessoas pudessem escolher qualquer música para ouvir, independente do gênero ou da sua sintonia com a anterior.
Ok, tecnicamente não era bem uma jukebox, já que a máquina com um catálogo de músicas e vários CDs embutidos, onde as pessoas podiam colocar moedas e escolher o que tocar em bares e restaurantes era uma coisa meio (estou sendo delicada) antiquada. Em vez disso, os donos do Sobradinho tinham instalado uma jukebox de mentirinha, que não passava de um tablet com milhares de músicas baixadas, deixando as pessoas no controle da seleção musical do segundo andar.
Tinha gente que colocava Beyoncé. E ela logo era substituída pelo indie rock do The Vaccines, ou por Panic! At the Disco, ou por Miike Snow... Porque o segundo andar era nosso: de todas as pessoas sensatas e de bom gosto que escolhiam passar sua sexta-feira no Sobradinho.
Quer dizer, "nosso" e desse babaca implicante e insuportavelmente bonito atrás de mim.
- Como "chata"? Chato é você - revirei os olhos e voltei a encarar o visor iluminado do tablet com as opções musicais.
Durante a espera na fila da jukebox, confesso que tinha refletido bastante antes de escolher Blink-182. E eu estava bastante certa da minha decisão até ele chegar e plantar A Semente da Dúvida em mim. Por isso que homens são complicados: vinte segundos e eu já estava questionando todas as minhas escolhas de vida.
Talvez eu devesse optar por algo infalível como Coldplay. Afinal, todo mundo gostava de Coldplay. Mesmo quem não gostava era meio obrigado a disfarçar, porque seria o mesmo que dizer que filhotes de golden retriever não eram adoráveis ou algo do gênero. Não.
Deus me livre, mudar de ideia por causa da opinião de um macho. Eu colocaria a minha música e pronto.
O bonitão atrás de mim não seria capaz de me influenciar.
- Nossa, não acredito que você colocou mesmo.
- "All the Small Things" é excelente - justifiquei tentando ao máximo soar emburrada.
- É só a mais famosinha - o Crítico de Músicas ao meu lado mudou o peso de uma perna para a outra antes de continuar: - É muito fácil simplesmente gostar da música mais conhecida e pronto - ele provocou, mas ao ver que não reagi, completou: - Não é coisa de fã de verdade.
Respirei fundo para evitar mandá-lo à merda. Estava no meu processo de elevação espiritual e não perderia a paciência com qualquer imbecil que cruzasse meu caminho.
- Então quando chegar a sua vez, você coloca uma música que só você conheça - retruquei enfim. Eu daria uma resposta ponderada e gentil. - Um áudio seu cantando no chuveiro, talvez. Todo mundo vai sair correndo daqui.
Ele gargalhou e isso fez com que eu abrisse um sorriso também.
- Considerando como aqui tá cheio hoje, não seria má ideia.
Ele estava completamente certo.
A luz era baixa, a música ensurdecedora e tinha uma quantidade exagerada de álcool correndo pelo organismo de muita gente. Meu Deus, quanta gente. Eu tinha precisado me arrastar para chegar até onde estava agora, remando por um mar de corpos embriagados. Eu me incluía entre eles, ainda meio tonta do shot de tequila recém-tomado.
Enquanto a música que eu tinha escolhido tocava, o Policial da Jukebox se aproximou do tablet e começou a deslizar seu dedo pela lista de artistas em busca de alguma opção. Gastei mais alguns segundos observando o jeito com que ele mordia suavemente o lábio inferior enquanto seus olhos percorriam as infinitas opções musicais do Sobradinho.
Ele era incrivelmente bonito com aqueles óculos e a camiseta engraçadinha que fazia um trocadilho com Darth Vader e The Dark Side of the Moon, o álbum do Pink Floyd.
- Depois me conta o que você acabou escolhendo - pedi, antes de acabar o assunto e sair andando para o outro canto da salinha (não que isso significasse estar longe dele, naquele ambiente de doze metros quadrados).
Fiquei parada sem chamar muita atenção enquanto não chegava a vez da minha música, mas assim que os primeiros acordes de "All The Small Things" ressoaram em minhas orelhas, meus braços e pernas começaram a se mover sozinhos no ritmo da música. Poucas coisas eram mais contagiantes do que o som enlouquecido de Blink-182.
No fundo, eu torcia muito para que o carinha da jukebox se lembrasse de mim e voltasse a falar comigo mais tarde, porque... porque aparenteente eu tinha um fraco por gente chata. E muito bonita. E que usava óculos quadradinho.
Desci para o andar da pista de dança e do bar de novo, na esperança de que a Pipa tivesse finalmente largado o carinha que ela tinha acabado de conhecer e pudesse voltar ao seu cargo oficial de Melhor Amiga na Balada.
Felipa ("Pipa, pelo amor de Deus, Pipa") tinha colocado em sua cabeça que queria beijar um-cara-por-curso-da-faculdade, em ordem alfabética. Isso significava um Administrador, um Biólogo, um Comunicador (em sua defesa, ele fazia Comunicação e era muito bonitinho), um Doutor (ok, ela estava claramente trapaceando, porque ele só deveria entrar no M de Medicina); e agora o estudante de Educação Física.
Quando finalmente cheguei ao cantinho isolado em que tinha deixado o casal, descobri que eles continuavam interessados demais um no outro para que eu ousasse interrompê-los. Dei um sorriso amarelo e virei de costas, porque era meio desconfortável ficar encarando pessoas enquanto elas se beijavam.
Eu achava, pelo menos.
Odiava correr o risco de ver uma língua perdida no meio do caminho entre as bocas ou coisa parecida. Ainda mais a língua do Educação Física, que eu sequer sabia se ia regularmente ao dentista e estava com as vacinas em dia.
Na pista de dança estava tocando "Teddy Picker", do Arctic Monkeys, então me senti moralmente obrigada a ficar lá, cantando tão alto quanto possível, até que a música acabasse. Em seguida o DJ (que criatura iluminada, meu Deus, quanta inspiração) colocou "Supersoaker", do Kings of Leon e eu continuei hipnotizada por mais alguns minutos.
Por isso que o Sobradinho era o melhor lugar do mundo. Ainda que minha intenção original fosse voltar de ré para o segundo andar, onde eu poderia ficar sentada em algum dos sofás confortáveis, meio emburrada, esperando que minha amiga voltasse rapidinho para me dar atenção antes de sair em busca do Filósofo/Farmacêutico/Fisiologista, passei quase meia hora dançando sozinha.
Depois, comprei uma cerveja no bar em forma de carrossel e subi as escadinhas que davam para o espaço da jukebox.
Talvez dessa vez eu pudesse escolher alguma coisa para tocar sem ser perturbada por certas pessoas.
***
A fila para escolher a próxima música estava tão comprida que me contentei em tirar o celular de dentro do sutiã e sentar em um cantinho vazio do sofá. Depois de poucos minutos, eu estava completamente perdida no Vortex das Redes Sociais, lendo sobre pessoas que gastam milhões para serem congeladas depois da morte (?) na esperança de serem trazidas de volta à vida (??) quando a ciência soubesse como fazer aquilo (???).
- O que você tá fazendo?
Olhei para cima, interrompendo a leitura interessantíssima e supercondizente com o clima de balada.
Era o Cara que Odeia Minhas Músicas, e meu estômago deu uma pirueta de felicidade ao reencontrá-lo, por mais incoerente que isso pudesse soar.
- Lendo.
- Hm, legal. Posso ficar aqui?
"Ficar aqui comigo?" ou "Ficar aqui no sofá?", Cara que Odeia Minhas Músicas? Assenti sem precisar pensar muito, porque a resposta era sim para ambos os casos.
- Valeu. Eu sou o Theo, por sinal - avisou, estendendo a mão para me cumprimentar. - Sobre o que você tá lendo?
- Pessoas que se congelam pra voltar à vida mais tarde - Lá vinha ele reclamar do meu gosto literário.
- Tipo Capitão América, só que de propósito? Dei risada enquanto concordava com a cabeça.
- Eu morreria de tédio enquanto estivesse esperando - comentei, enquanto bloqueava o celular e o colocava no meu colo com o visor virado para baixo. - Para voltar à vida.
Theo ficou em silêncio por alguns instantes e eu pude ver seus olhos passeando de um lado para o outro dentro da armação quadrada dos óculos, como se ele estivesse realmente pensando sobre o assunto.
- Eu morreria de frio antes - ele confessou. - Sou friorento.
- Ou de frustração - ponderei olhando para o lustre meio antiquado, meio legalzinho, pendurado no teto. - Sabe? Quando não desse certo.
Ele soltou uma risada meio engasgada pelo nariz enquanto assentia, mas rapidamente corrigiu:
- Bom... tecnicamente... morrer, você não morreria, né? Até porque você já estaria, você sabe, morta.
Revirei os olhos e tentei me impedir de sentir vergonha daquilo. Aparentemente, além de reclamar do meu gosto musical, ele também fazia questão de analisar a precisão teórica de tudo o que eu falava.
Desagradável.
Lindo.
Soltei uma risada boba pelo nariz, mas parei instantaneamente quando sua mão pousou em meu joelho.
Bastou um toque para que toda a minha atenção se voltasse para o cara que me separava do resto do mundo: sua mão, que repousava perto do meu joelho, me prendia de forma gentil - mas eu não me sentia presa -, enquanto ele continuava a dizer coisas ora provocativas, ora engraçadas, tentando me confundir.
Como uma pessoa podia ser tão engraçadinha e tão irritante ao mesmo tempo? E como eu podia achar isso tão atraente?
- Você tá se esforçando para ser chato assim, ou é uma coisa natural?
- Vocação - ele respondeu no ato, me atacando com outro sorriso torto. - Mamãe disse que nasci assim: chato.
- Eu não acredito em você - afirmei, lançando meu olhar mais desafiador em uma tentativa falha de esconder como eu estava abalada pelo jeito com que ele me olhava através das lentes dos óculos, enquanto o calor da sua mão na minha coxa era capaz de aquecer até o meu umbigo. - Aposto que é treino.
- Não? - perguntou, fingindo-se desolado enquanto encarava fixamente a mecha do meu cabelo escuro entrelaçada em seus dedos. Meu Deus. - Vai me chamar de mentiroso assim, na cara dura? Poxa... É... Acho que você não me disse seu nome.
- Amélia.
- Amélia - repetiu, prolongando o nome em sua fala, como se cada vogal fosse um doce em sua boca e ele quisesse saborear a palavra o máximo possível sem permitir que ela chegasse ao fim.
Claro que isso era eu fantasiando, porque eu não conhecia ninguém que comesse palavras enquanto falava. Até porque, se ele quisesse comer meu nome deveria engolir, não cuspir. E se ele cuspiu, é porque não gostou. Mas se ele não gostou, por que pronunciou de um jeito tão delicioso?
Até o jeito com que ele dizia meu nome era de certa forma sedutora, e por mais que metade de mim (ok, talvez mais do que metade) estivesse totalmente desesperada para beijá-lo, eu sabia que não queria fazer isso de verdade.
Provavelmente só estava meio bêbada e não pensando direito, porque eu sabia que não gostava de sair beijando pessoas aleatórias em baladas assim. Odiava essa coisa imediatista da nossa geração, de tratar gente como objeto e beijar por beijar.
Na minha opinião, a graça era o envolvimento.
Não que eu esperasse namoros, nem nada do gênero (Deus me livre, inclusive), mas me incomodava com a ideia de me lembrar do cara no dia seguinte como "um de óculos". Ou de ser lembrada como "a mina de pele oliva, cabelo escuro, que parecia um pouco a Pocahontas, talvez?"
Se eu for beijar o Theo, quero lembrar do Theo.
Esse cara meio chato, lindo de morrer, que despreza Blink-182 e que não gosta da ideia de ser congelado depois de morto porque sentiria frio.
- Mas então, Amélia, voltando ao nosso assunto. O que te leva a acreditar que eu sou um mentiroso?
- Só um mentiroso vem pro Sobradinho e diz que não gosta de Blink-182 - argumentei, enquanto apontava para a jukebox com meu dedo indicador. Aproveitei que minha mão estava no ar e deixei que ela pousasse no meio de sua coxa. Assim, casualmente. - É a melhor banda de todas.
Theo riu, mas seus olhos sérios recaíram sobre minha mão - e meu coração parou.
Ai, meus anjinhos, como eu podia estar flertando com um cara que não gostava de Blink? Onde estavam meus valores?
- Você nem esperou para ver qual música eu coloquei em seguida, né?
Neguei com a cabeça enquanto respondia:
- Eu não estava tão interessada.
- E agora está?
"Sempre estive, moço."
Dei de ombros e movi o queixo em sua direção como quem diz: "fala logo, porra".
O que quer que ele dissesse, eu responderia que todas as músicas da banda eram iguais, que elas seguiam a mesma fórmula previsível e que a escolha dele tinha sido óbvia e amadora. E que eu tinha dado sorte de sair do segundo andar antes de começar a ouvir aquele lixo.
- Deus me... - já comecei a responder, antes mesmo que ele dissesse.
- "The Party Song".
Pronto. A única resposta que eu não esperava.
- É sério?
Theo assentiu com as sobrancelhas arqueadas, parecendo um menininho satisfeito em dar a resposta certa na escola.
- É a música seguinte a "All The Small Things" no álbum "Enema of the State", achei que combinaria - explicou (como se eu não soubesse).
- Mas... por quê?
- Porque eu adoro Blink - ele assumiu sem nenhum problema. Então, inclinou seu corpo inteiro na minha direção e sussurrou na minha orelha, eriçando cada-um-dos-pelos-da-minha-nuca. - E queria chamar a atenção da menina na minha frente, que tinha acabado de colocar minha banda favorita para tocar. Mas não conta isso pra ela, senão ela vai ficar metida.
Mordi os lábios, levemente inebriada por seu perfume meio cítrico e fresquinho. Incrível.
- Eu não acredito! Você me enganou! - acusei com a voz brava, os olhos semicerrados, minha perna roçando levemente na sua e minha mão apertando sua coxa. Não era possível que ele não estivesse sentindo a corrente elétrica que corria por nós. - Como você espera que eu confie em você agora?
Ele gargalhou, mas em seguida respirou fundo (seu peito se levantou e abaixou, enchendo a camiseta e tirando meu ar) e retomou a expressão séria. - Perdão. Só verdades a partir de agora - Theo disse, enquanto fazia um "x" em cima do peito para selar o juramento. - Prometo.
- Não acredito.
- Vou falar três verdades em sinal de boa fé: quando eu era pequeno, tinha medo do Pato Donald; gosto de doces de café, mas odeio café em si; e tô pensando em como puxar assunto com você desde que você chegou no Sobradinho com a sua amiga loira.
Arqueei as sobrancelhas, surpresa. Era uma loucura que ele tivesse medo do Pato Donald, mas... como assim "pensando em como puxar assunto comigo desde que cheguei"?
- Vai, sua vez de falar três verdades.
- Eu não sei! - disse mordendo os lábios.
"To pensando em como puxar assunto com você desde que você chegou no Sobradinho com a sua amiga loira", suas palavras não saíam da minha cabeça e as borboletas no meu estômago estavam dando mortais triplos, tamanha empolgação.
- Eu tenho uma coleção de pedras; só sei a teoria de como fazer arroz; e... - Quero te beijar agora. Neste exato instante. - E... tirei os quatro dentes do siso de uma vez só.
- Não acredito em uma palavra sequer - ele respondeu instantaneamente.
- O quê? Como assim?!
- Viu como é chato quando as pessoas duvidam de você?
Gargalhei.
- Ok, Theo, desculpa. Eu acredito - falei sem desgrudar meus olhos dos seus: nossa conexão era magnética e desviar o olhar parecia impossível. Enquanto isso, permitia que meu polegar fizesse movimentos circulares em cima do seu joelho.
- Acredita no quê?
- Que você tinha medo do Pato Donald, ué. Ele é realmente aterrorizante - respondi com a voz séria, antes de abrir e fechar a mão imitando a boca de um patinho e fazer - QUACK! - perto do seu rosto.
Isso fez com que ele risse. E rir criou uma série de ruguinhas no canto dos olhos, duas covinhas, e expôs um sorriso meigo, emoldurado por uma boca tremendamente beijável. Uma onda de calor atravessou meu corpo, da ponta do pé até o último fio de cabelo.
Se por um lado sua expressão era adorável como a de uma criancinha falante; por outro era inegável a tensão gerada pelo contato de nossas mãos e pela proximidade de nossos corpos: uma energia - nada adorável - passava por nós e fazia com que cada célula de meu corpo corresse em sua direção, buscando mais contato. Ainda assim, mantive meus pés pregados ao chão, minha bunda no sofá e minha mente em terra firme.
- Mas não acredita que eu tô afim de você desde que cheguei?
Fiz que não com a cabeça enquanto mordia meus lábios e encarava os seus. A cada segundo ficava mais difícil formular frases e resistir ao impulso de voar para cima dele com toda a vontade que se acumulava em mim. Eu podia sentir o meio das minhas pernas vibrando pelas sensações que ele despertava.
- Como não? Eu estou aqui, gastando... - então, interrompeu sua frase e reformulou: - Investindo o maior tempo na gente. Olha só, já investi... - ele conferiu o relógio de pulso imaginário. - Quase cinco minutos em nossa relação.
Ri ofendida e intrigada em proporções iguais.
- Acho que você não consegue ninguém melhor, então espera que eu te dê carona... - franzi a sobrancelha tentando achar algum complemento para a frase. Qualquer complemento. - Para onde estou indo. E com café da manhã incluso, suponho.
Adoraria ter nascido com o dom de pensar antes de dizer.
Por sorte, não tinha qualquer restrição moral a falar besteiras para um cara qualquer com quem passarei no máximo uma hora em minha vida inteira. Ainda mais considerando que, com sorte, ainda tinha umas quinhentas e sessenta e nove mil e quatrocentas horas de existência pela frente.
Aproximadamente.
Theo arregalou os olhos, legitimamente surpreso.
- Você é direta - constatou com um sorriso torto. - É isso que você quer, então? Que eu vá para a sua casa? - ele finalmente cobriu minha mão com a sua e logo a arrastou por toda a extensão do meu braço. Seu toque era quente, seguro e firme. Como seria se ela passeasse pelas minhas costas? Minhas pernas? Pelo meu cabelo?
- Não, eu moro em apartamento, cara - desarmei no ato. Não entendo por que fiz isso. Quer dizer, realmente não queria que ele fosse para casa, mas não sabia por que insisti em afastá-lo quando meu corpinho inteiro gritava por proximidade.
Ou sabia, né?
Eu não gostava de ser uma mercadoria. É isso.
Gostava de saber quem estava beijando e que essa pessoa queria me beijar. Que o que despertava interesse era a minha personalidade cativante (e corpinho de sereia), não o fato de que eu possuía o combo imperdível boca + língua, assim como todas as pessoas dali. Por isso que eu não saía beijando todo mundo. Não era uma busca cega e iludida pelo meu príncipe encantado (felizmente havia passado dessa fase), só preferia conhecer quem estava beijando.
- Você ser direta foi a primeira coisa que eu percebi, cara - ele respondeu, no canto de minha orelha, fazendo com que os pelos da minha nuca se arrepiassem no ato. - "Uuuh, mimimi, essa música é a única escolha possível" - disse com a voz fina, em uma tentativa totalmente fracassada de me imitar.
Arqueei a sobrancelha:
- Cara?
Ele hesitou por meio segundo antes de sorrir.
- É, Amélia, se eu sou cara, você é cara. Cara - provocou.
- Já achei que tinha esquecido meu nome - protestei, com um pequeno sorriso despontando em meus lábios. - Que feio.
- Então quer dizer que você tem medo de que eu esqueça seu nome? - Medo? Claro que não, Thiago! - brinquei de volta, arrancando mais um sorriso de seus lábios.
- Eu jamais esqueceria seu nome, Antônia.
Revirei os olhos e Theo, pensativo, mordeu seu lábio inferior. Meu primeiro impulso, devo dizer, foi fazer o mesmo. Morder seu lábio inferior, digo. - "Antônia"... - repeti. - Neste caso eu já apanhei outra mentira, nesse relacionamento de... - foi minha vez de consultar as horas no relógio de seu pulso imaginário. Aproveitei para me demorar mais alguns instantes. - Dez minutos. Como você espera que isso dure?
- Eu sei que você quer me beijar - afirmou, acelerando meu coração com a proximidade de seu corpo e o frescor do hálito de menta que emanava de sua boca. - Por que você resiste?
- Como você pode ter tanta certeza do que eu quero? Você não sabe nem meu nome! Como age como se me conhecesse? - brinquei, mas nossos rostos estavam a poucos centímetros um do outro e eu nem conseguia ouvir a música que tocava, tamanha minha concentração no Theo.
- Seu nome é Amélia - ele afirmou, categórico. - Na verdade, é Antônia mesmo. Você acertou. Theo arregalou os olhos espantado.
- É sério?
- Não, na verdade é Amélia mesmo! - respondi enquanto soltava uma risada pelo nariz.
- Tá vendo? Por isso que eu prefiro só te chamar de "cara" mesmo e pronto. Mais simples.
- Nada comigo é simples.
- A gente é - ele respondeu instantaneamente, apontando para nós dois com a mão solta, enquanto a outra permanecia passeando por minhas costas deixando uma sensação muito boa por onde passava. Era difícil pensar enquanto ele me tocava assim. - Você quer e eu quero. Pronto.
Pude ver seus cílios enormes, grossos, pretos e compridos, e até isso mexeu comigo. O mundo era muito injusto mesmo. Eu precisava usar curvex e passar umas cinco camadas de rímel para que meus cílios ficassem daquele jeito, enquanto ele só nascera assim. Deus deveria pensar melhor antes de sair distribuindo cílios compridos por aí.
Theo segurou a ponta de meus dedos com sua mão quente e bronzeada, encostou-os em seus lábios, e falou, sem retirá-los de lá:
- O que te impede?
Eu gostava de como minha pele escura contrastava com seu rosto levemente bronzeado. Gostava mais ainda de sentir seus lábios macios e acolchoados com a ponta do meu dedo e fantasiar com eles encostados na minha boca. No meu pescoço. Nos meus ombros. Nos meus...
Pude ver um redemoinho de pensamentos percorrerem sua cabeça, em busca de alguma explicação lógica para minha resistência voraz.
- Seu medo do Pato Donald, claro - brinquei, porque não queria falar a verdade. - Achei isso muito esquisito.
- Eu não tenho mais medo dele, cara - afirmou com segurança. Apenas dois dedos separavam nossas bocas. E eu mal conseguia respirar. O frio na minha barriga era tamanho que eu parecia adepta da tal da criogenia (mas estava longe de morrer de tédio, como tínhamos conversado mais cedo. Nada em relação ao Theo era remotamente entediante).
Sua proximidade era tamanha que o frio na barriga rapidamente virou fogo queimando meu corpo inteiro. Era impossível esperar mais. Não diante daquele sorriso. Não com seu perfume incrível e aqueles olhos escuros que brilhavam por trás da armação quadradinha de seus óculos. Não quando eu precisava das suas mãos explorando cada centímetro do seu corpo. Não quando seus lábios pareciam tão macios e era impossível não fantasiar sobre seu beijo.
Minha noite não acabaria de outro jeito que não comigo dando beijos enlouquecidos no Theo. Meu corpo inteiro doía de vontade e seria idiotice esperar mais. Pior: seria perda de tempo.
Ele não era qualquer um. Ele era o Theo que aparentemente gostava de Blink-182, tinha sentido medo do Pato Donald e me deixava desesperada de desejo só com o olhar.
- Nesse caso... - sussurrei, antes de cobrir lentamente a distância entre nossos lábios e beijá-lo enfim.
Nosso beijo parecia ter sido feito sob encomenda. Desde a pressão dos lábios até a sincronia de nossas línguas. Tudo era perfeito. E eu estivera certa o tempo inteiro sobre como seria delicioso beijá-lo, porque eu me senti transportada para outro universo durante breves cinco segundos em que nossas bocas estiveram unidas.
Afinal, ele se afastou.
Depois. De. Cinco. Míseros. Segundos.
Aquilo não era nada. Não era nem 0,00000001% do tempo que eu pretendia passar beijando-o.
Theo me olhou com os mesmos olhos brilhantes e divertidos e disse: - Desculpa, tô com medo.
Eu ri, obviamente.
- Medo do quê?
- Sei lá, de você. Muito assustadora - ele brincou. - Uuuuh! Nem te conheço. Vai que você tem sapinho. Que perigo. Que medo. QUACK.
Revirei os olhos porque isso era ridículo. Em momento algum eu tinha sentido medo dele. Só não queria, por causa das minhas convicções pessoais, beijá-lo enquanto ele fosse uma pessoa completamente genérica para mim. Só isso.
E ele não era mais.
Agora minha única preocupação era continuar aquele beijo pelos 99,99999999% do tempo que faltava.
- Sério, Theo? Que besteira! - respondi bufando, meio de brincadeira, meio a sério. O Tulio, um dos meus melhores amigos, estudava psicologia e vivia dizendo que essa coisa de "toda brincadeira tem um fundo de verdade", é coisa de Freud e chama chiste. Mordi meus lábios, envolvi sua nuca com as minhas mãos e murmurei. - Volta aqui, vai...
Ele fez que não com a cabeça com o melhor olhar de "estou me fazendo de difícil agora, você vai ter que me conquistar" e virou o rosto para o outro lado.
- Nãããoo... Você ficou me enrolando por - e consultou o relógio imaginário mais uma vez antes de prosseguir - Meia hora. Agora é minha vez. Aquela brincadeira era meio babaca de se fazer, porque eu não tinha ficado "enrolando ele por meia hora". Mas... sei lá. Theo não tinha como saber meus motivos e só estava tentando ser engraçado.
E estava conseguindo. De certa forma.
- Qual é seu animal favorito?
A pergunta me pegou de surpresa. Animal favorito? E eu lá tinha um animal favorito? - O quê?
- Seu bicho predileto, qual é? Girafa, cavalo-marinho, urso polar, João de Barro...? - insistiu, arrancando uma risada de minha garganta.
Isso era algum tipo de teste psicológico? Se eu respondesse "girafa", ele iria concluir que eu não tinha medo de altura e gostava de comer folhas? E se eu falasse "hipopótamo", queria dizer que eu adorava banhos de lama para manter minha pele hidratada? Quem, nessa fauna mal habitada, tinha a reputação perfeita para me representar nessa resposta?
Definitivamente o plâncton. Afinal, não havia nada de errado com eles. Eles eram essenciais e inofensivos, como eu. E subestimados, também como eu (difícil ser irmã caçula em uma família onde sua irmã é o prodígio universal, rainha do Universo, musa soberana, "OH, DÉBORA, NOS ILUMINE COM A SUA MAGNINTUDE CELESTIAL". Aff.). Poucas pessoas reconheciam a enorme importância do pâncton no Universo. E, o que eu achava mais legal sobre eles era que não se falava em um plâncton só. Eles eram tipo um organismo coletivo: os plânctons. Um não era nada, mas juntos... Isso refletia muito o que eu pensava da humanidade, de certa forma, porque no final das contas, éramos todos uma coisa só.
Franzi a sobrancelha, consequentemente enrugando minha testa e franzindo todo meu rosto em uma careta desfigurada.
- Isso é algum tipo de teste psicológico?
- Não exatamente, mas não vou sair beijando uma pessoa sem saber algo tão básico sobre ela, né? - justificou dando os ombros. - Fala, cara, se você fosse um animal, qual você seria?
Uma anta, pelo visto.
Mas... se aquilo não fosse um teste, eu não era um plâncton. Plânctons eram chatos e eu precisava parecer interessante para o Theo. Ou não, né? Eu bem que poderia falar que meu animal favorito era um pato com roupa de marinheiro e chapeuzinho só para deixá-lo com medo de verdade. Me poupe...
Quer saber? Eu era uma lhama, porque (1) elas eram incríveis; e (2) assim conseguiria homenagear o Kuzco, melhor lhama do mundo.
- Lhama! - exclamei, sorrindo. - Melhor animal, sério. Sabia que as lhamas cospem nas coisas que elas consideram irritantes? Assim, só porque elas podem. Eu claramente tenho uma lhama interior que é reprimida por convenções sociais. Deveria ter cuspido em você quando você reclamou da minha música.
Olha só? Mestra na arte da sedução, eu mesma. Nada como ameaçar cuspir no cara que você quer beijar a noite inteira. Tiro e queda.
E, pensando bem, concluí que eram as alpacas que cuspiam, mas não corrigiria minha resposta naquele momento. Duvidava que ele soubesse a verdade.
- E o seu? - quis saber, rindo (de vergonha).
- Eu seria um plâncton - respondeu, para minha total surpresa. Ele abriu um sorriso ao falar, o que foi terrível. Beijá-lo tinha sido um erro, porque agora eu estava pior do que antes. Com mais vontade. Muito mais. Eu precisava desesperadamente voltar para aquele universo paralelo e maravilhoso que eu só visitava durante o beijo.
Mas era hora de focar no diálogo.
Sim, diálogo.
- Um plâncton?! Sério? - Quais as chances de pensarmos igual?
- Claro que sim. Eu sempre torci por ele no Bob Esponja, lembra?
Acho que ele é mil vezes mais carismático do que qualquer outro bicho. E outra, ele parecia um picles e eu adoro picles.
- Mas por quê?! O que isso diz sobre você? Ter um plâncton interior não faz o menor sentido!
E eu era a maior hipócrita deste mundo.
- Os plânctons que me perdoem, mas não diz nada. Eles são insignificantes, mas as pessoas também são... - Theo começou, meio reflexivo, meio perdido nos próprios pensamentos. Talvez eu pudesse beijá-lo naquele instante. - Imagina como deve ser incrível ser um plâncton no mar, com toda aquela imensidão ao seu redor e você lá, protegido pela própria irrelevância - então Theo apoiou as mãos nos meus ombros, colou a testa na minha, e continuou falando.
Meu coração batia descompassado. Quem diria que em uma noite qualquer eu conheceria alguém tão peculiar?
Não era à toa que eu estava tão obcecada pela ideia de beijá-lo mais e mais e mais. Pelo menos naquela noite.
Mas... não só beijá-lo! Queria rir, saber quem ele era e contar de mim. Por algum motivo que desconhecia (e ainda não sabia se apreciava ou não), o desejo também era por conhecê-lo, e Theo pouco a pouco parecia se tornar também um amigo. Ok, um amigo muito, muito, muito atraente, mas um amigo.
Curiosamente toda a química, todo aquele impulso incontrolável que estava arremessando meu corpo em sua direção, amenizou-se um pouquinho. Claro que ele continuava tendo a boca mais linda que eu já vira até então, mas naquele momento eu queria conversar.
- Um plâncton pode viver sem medo de errar, porque o que ele faz não importa. O que a gente faz também não importa, né? Até parece que esta noite terá qualquer pertinência daqui a cem anos.
Dei uma risada fraca, enquanto permanecia com os olhos presos aos dele.
- Sei lá, pensar assim me deixa aliviado - concluiu meio sem graça por causa do discurso.
- Eu tô muito impressionada, sabia? - confessei em seguida. - Nunca imaginei que encontraria uma aula de filosofia aqui - brinquei e gesticulei com as mãos abertas indicando o ambiente, mas não desviamos o olhar um do outro para observar.
A jukebox, que tinha acabado de tocar Lana Del Rey e agora iniciava os primeiros acordes de "Somebody Told Me", do The Killers, impedia que a gente se esquecesse que estávamos no meio de uma balada.
- Ou que encontraria alguém tão legal como eu, né? - provocou.
Mordi o lábio e assenti a contragosto. Ele era "tão legal" e eu não podia - não conseguiria - negar sem que meu rosto entregasse a mentira.
- Tá, mas sério, cara... Qual é seu número da sorte?
O que há de errado com ele?
- Cento e oitenta e dois - respondi, sem titubear. Ele suspirou, num misto de surpresa e cansaço. - Ué, qualquer fã que se preze de Blink tem como número favorito 182.
Theo revirou os olhos.
- Céus, sobre isso, duas coisas. Primeiro: sabia que a banda ia chamar só Blink, mas aí já tinha uma outra (acho que escocesa) com esse nome, então eles colocaram o "182" no final para se diferenciar? E mais, que esse número é o tanto de vezes que o Al Pacino disse "fuck" em Scarface? - metralhou, deixando-me pregada na parede em admiração.
Como alguém podia saber disso? Aliás, como ele, justo ele, podia saber uma coisa tão legal de uma das minhas bandas favoritas no mundo? Claro que era uma banda que ele adorava também. E se isso não fosse um sinal, eu não sabia o que podia ser. E o fato de que meu coração estava acelerando só indicava que emocionalmente já estava decidido que eu gostava dele.
E era impossível que ele não tivesse reparado que sua última frase teve efeito arrebatador sobre mim.
- E, Amélia, na sua opinião, qual a melhor música do Blink?
E eu respondi. Quase não coube em mim, quando vi que nossa opinião (First Date) era a mesma. Nós estávamos conectados por mais do que uma simples atração física, porque ele era o tipo de cara com quem a conversa simplesmente fluía, sem esforço algum. Não compartilhávamos apenas o mesmo gosto musical, mas dezenas de outras coisas, como cor favorita (vermelho) e momento do dia favorito (nascer do sol).
Nossa conversa era tão fácil que estávamos falando de momento favorito do dia, quando ele me contou sobre uma trilha que fez para ver o sol nascer. Eu contei de um conto da Lygia Fagundes Telles que li sobre o pôr do sol ("Venha Ver o Pôr do Sol"), e o assunto mudou para livros de escola. Theo contou que colocou fogo (!!!) em sua edição de Til, de tão chato que achou o livro. Na minha opinião, nada era pior do que A Cidade e as Serras. Isso o deixou ofendido, já que a sua família era portuguesa, mas tentei me defender dizendo que "portuguesa" era um bom sabor de pizza.
Nos perdemos no tempo, e foi como se o mundo tivesse parado. Nem as pessoas bêbadas dando PT há dois passos de nós eram incômodas, porque eu soube, de novo, que o que eu sentia era real.
Quando me dei conta, estávamos nos beijando profundamente. Sua língua dançava com a minha, numa conversa silenciosa que só a gente conseguiria entender. E por mais que sua mão estivesse abaixo da minha cintura, o Theo não parecia ter pressa em agarrar minha bunda, ou tentar escorregar a mão para dentro de minha blusa, pois sabia que teríamos muito, muito tempo para isso.
Em certo ponto ele precisou tirar os óculos e deixá-los apoiados no meu colo, porque eles atrapalhavam nosso beijo.
E mesmo que eu desconfiasse de que um negócio incrível daqueles não poderia acabar naquela noite, eu era incapaz de segurar com menos força seu ombro e seu cabelo, uma vez que a simples perspectiva de perdê-lo me deixava agoniada.
Nos afastamos minutos depois, para recuperar um fôlego que nunca imaginei ter perdido, mas nossos rostos continuavam separados por poucos centímetros. Pousei minha mão em seu rosto, fitando seus olhos pretos - tão pretos que era impossível distinguir a íris da pupila - e sorri.
- QUACK! - brinquei, o que fez com que ele desse risada e me beijasse mais uma vez.
- Já te disse que superei faz tempo o medo do Pato Donald.
- E o medo de mim, passou? - perguntei, no mesmo tom de brincadeira, com um sorriso tatuado no rosto e nossos narizes colados.
- Tá passando. E o seu?
- Mais ou menos - olhei para cima, para os lados, e fiquei em silêncio alguns instantes pensando na resposta antes de voltar a falar. - Acho que a gente precisa continuar nisso mais tempo até que eu vença meu medo de vez. Tô enfrentando o medo, sabe? Não posso parar agora.
Ele riu, mas concordou, disse algo como "eu que não vou te atrapalhar nesse processo", e uniu nossos lábios mais uma vez. Agora suas mãos pareciam ansiosas, percorrendo meu corpo inteiro como se não tivéssemos minutos a perder. Ele apertou minha bunda e uma corrente elétrica me atravessou até o umbigo em um misto de prazer e vontade.
Meu Deus.
- Bom, né? - Theo murmurou em certo ponto, sem realmente desgrudar de mim. E tudo que consegui fazer, com toda essa minha habilidade linguística e perspicácia, foi responder um simples "Nossa, cara", antes de unir nossos lábios com um beijo que durou para sempre. Ou pelo menos foi o que me pareceu, enquanto estávamos absortos em nossa pequena eternidade. Em algum momento, é claro, nos separamos de novo e foi quando Theo disse que iria rapidamente ao banheiro.
- Cerveja demais? - perguntei, com um sorriso nos olhos.
- Talvez sim, talvez não...
- Ah, Theo, se não for isso, você vai dar PT! E nesse caso, corre lá!
Eu nunca mais falo com você, se você vomitar em mim! - ameacei, rindo. - Não se preocupa, cara, eu já volto. Prometo - disse, beijando suavemente meus lábios.
- Tudo bem - pisquei. - Estarei te esperando aqui.
Meu coração acelerou, enquanto via o menino se afastar.
Ele voltaria.
Mas jamais saberei se ele cumpriu sua promessa, porque eu não cumpri a minha.
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Oier, amores!
Como vocês sabem, Trago Seu Amor em Três Dias está em pré-venda pela Duplo Sentido Editorial (!!!) e o livro físico será lançado muito em breve (socooooorrrooooo!!!).
Como vocês devem ter percebido lendo o novo primeiro capítulo, existem várias diferenças entre o que vocês já conhecem e essa nova versão, e eu estou MUITO EMPOLGADA! Espero que vocês tenham gostado! O livro foi praticamente reescrito e eu to estou muito contente com o resultado <3 <3 <3
Vou manter o original aqui atrás até o dia 4 de julho (exatamente uma semana a partir de hoje), quando tirarei o livro inteiro daqui (EU SEI, TO MUITO TRISTE) e continuarei postando os primeiros capítulos para vocês matarem a curiosidade! (E ficarem com vontade de ler o resto... e comprarem o livro físico pela Duplo Sentido, risos (tudo um plano maligno e capitalista, HAHAHA) Brincadeira. Mas é sério, e o site da DP é www.duplosentidoeditorial.com
TO MUITO ANIMADA.
AI, GENTE, FAZIA TANTO TEMPO QUE EU NÃO POSTAVA NADA QUE TO ATÉ NERVOSA ODJASOIDJASOIDJSAOIDJAOI
COMENTEM COISAS, POR FAVOR!!!
E me aguardem porque Brioche estará de volta muito muito muito muito em breve.
AAH, e eu estarei na FLIPOP nos dias 29, 30 e 1 de julho, inclusive participando de duas mesas! Quem comprar qualquer livro da Duplo Sentido na FLIPOP vai ganhar (de graaaçaaa, que é assim que a gente gosta) um exemplar da antologia de contos Próxima Parada (da qual eu, a Júlia Braga, a Tamara Soares, a Bruna Fontes, a Vanessa Marine, a Thati Machado e a Marcele Cambeses fazemos parte!!!). Quero ver vocês lá!!!
Beijos mil,
Mel
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