Vol. 13

A espada desceu sobre nós como uma guilhotina. Saímos de seu raio de ação e o impacto do golpe esfacelou a lápide da sepultura onde o corpo do meu pai deveria estar em repouso.

— O que está fazendo? — Perguntei afoito enquanto Mason evitava o golpe. — Você já está morto!

— Você não conhece essas armas! Elas são mágicas, cortam tudo, até a alma! — Respondeu, mantendo seus olhos no alado que preparava outro golpe.

— Ele não está só!

Outros seres com asas se aproximavam, criando um cerco. As sepulturas acabavam retardando essa aproximação, mas nada que pudesse nos dar tempo de fugir ou reagir as investidas. A nossa situação não era das melhores.

— Vamos nos separar, desta forma eles precisarão abrir o cerco! — Gritou Mason enquanto começava a levitar e ganhar altura.

Meus olhos se distraíram com aquele movimento. Mason estava voando e distanciando-se o bastante para que eu pudesse me preocupar apenas com um dos alados, o que não deixaria a minha situação resolvida, mas pelo menos não precisaria temer um ataque surpresa pela minha retaguarda.

A espada mais uma vez cortou o ar vindo em minha direção, recuei e aos tropeços fui ao chão. A investida destruiu outra lápide. Ensaiei uma fuga, vagueando pelo labirinto de sepulcros.

— Não há como fugir humano, mostre-se. — Ordenou o alado, que levitou com o bater modesto de suas asas, suficiente para projetar-se sobre um dos túmulos.

— Quem o enviou? — Tentava ganhar tempo.

— A monarca da Cidade Escarlate.

— Tenho deveres com ela. — Respondi.

— Não tem mais. Sua demanda foi cumprida, por isso fui enviado para descarta-lo.

Minha tentativa de distraí-lo foi em vão. O alado projetou-se a minha frente. Tentei recuar mas estava cercado pelo relevo artificial do cemitério, com suas lápides carcomidas e mausoléus robustos. O alado caminhou em minha direção, decidido. Ele ergueu a espada acima de sua cabeça.

Droga!

Me preparei para receber o que seria o golpe final, mas subitamente seu corpo foi transpassado por uma lâmina. Ele ficou estático por um breve momento. Um fio de sangue deixou sua boca, escorrendo discretamente pelo canto. A lâmina retrocedeu, sumindo aos meus olhos. A espada do alado, antes em riste, cedeu, interrompendo o seu ataque. Imediatamente a lâmina reapareceu cortando o ar de forma horizontal separando do corpo a cabeça daquele que seria o meu algoz. O corpo sem vida tombou, revelando quem havia salvo minha vida.

— Agora você tem como se defender. — Disse com tranquilidade, enquanto me ofertava a espada do alado.

Peguei a espada e me surpreendi com o seu peso mínimo. Apesar de sua aparência robusta, era de fácil manuseio. Desviei o olhar, me atendo a pessoa que me salvou. O seu rosto era conhecido.

— Conheço você... O metrô... Você é a garota...

— Conversamos depois! — Falou enquanto colocava sua espada em riste.

Mason cruzou o ar, perseguido pelos outros alados. Inesperadamente, a garota, se valendo de uma destreza incomum, correu saltitando sobre as lápides até ascender sobre um dos alados. Sua espada abriu um talho enorme em seu peito precipitando-o ao chão.

— Termine por mata-lo! Corte a cabeça! — Gritou.

Corri em direção ao ferido que tentava se recuperar do golpe. Não podia vacilar. Cheguei rapidamente, colocando-me sobre ele. Nunca havia usado uma espada antes.

Imagine que está com uma faca bem grande!

Desci a lâmina sobre ele, abrindo um rasgo em sua garganta. O alado não havia morrido com o golpe, mas não demoraria muito para isso acontecer, uma vez que perdia muito sangue pelo rasgo em seu pescoço. O sangue subia pela boca provocando sufocamento. Ele estava fora de combate, mas não poderia deixa-lo agonizar. Espetei a lâmina em seu cérebro, sentenciando sua vida. Neste momento Mason se aproximou. Sua expressão era de espanto.

— Quem é aquela?

— Em breve saberemos.

A garota começou a se transformar, seu rosto ficou saliente, deixando de ter a aparência jovial. De suas costas brotaram duas asas membranosas. A cor de sua pele ficou opaca, acinzentada. Garras e caninos avantajados deram contornos finais à metamorfose.

— Já vi isso antes... — Balbuciei.

Ela alçou voo. Ficamos em solo, acompanhando o embate. Os dois alados desceram velozmente em sua direção. Ela foi ao encontro dos dois. O primeiro alado investiu, mas foi prontamente bloqueado. Inesperadamente ela virou o corpo, atacando o segundo que vinha pelo flanco. Enquanto atacava, espetava o primeiro com o esporão de sua asa, um golpe às cegas, mas que teve o desfecho imaginado. O esporão entrou no pescoço, que prontamente começou a jorrar sangue. O ferimento fez o primeiro recuar, largando sua arma. O segundo foi cortado, o que o fez perder o ímpeto de seu assalto. Com um bater de asas mais forte, a garota ganhou o impulso necessário para dar um looping, projetando-se para trás do alado que sem reação foi decapitado. Sem hesitar, desceu velozmente sobre o primeiro alado que tentava conter a rebeldia de seu sangue.

Ao se aproximar, colocou-se sobre ele, afundando sua espada em seu crânio. Ela pousou recolhendo as asas. Sua espada ainda embebida, gotejava.

— Cara, isso foi demais! — Exclamou Mason enquanto se aproximava da garota que retornava a sua aparência normal.

— Não estamos seguros aqui! — Disse a garota que prontamente passou por nós dirigindo-se para fora do cemitério.


Não nos restou nenhuma outra opção a não ser segui-la. Para minha surpresa, ou não, fomos para o subterrâneo da cidade, tentar nos camuflar no metrô de Parallel.

— Não estamos totalmente seguros aqui dentro. — Afirmou Mason.

— Eu sei. — Disse a garota, me encarando — Também captei as vibrações, outros chegarão em breve.

— Precisamos conversar! — Disse puxando-a pelo braço. — Estamos agradecidos pelo nosso salvamento, mas não sabemos nada a seu respeito.

— Tudo a seu tempo Rick, precisamos encontrar um lugar onde não possam nos encontrar. É importante manter vocês comigo. Não posso fazer o que pretendo sozinha.

— Fazer o quê? — Indaguei.

A composição parou e as portas se abriram. Vários passageiros deixaram o vagão temerosos pela nossa presença e movimentação. Antes que as portas voltassem a se fechar um braço foi introduzido, impedindo que a porta bloqueasse o acesso. Cinco figuras adentraram o vagão arrotando autoridade. Assim que perceberam nossa presença, um deles tomou a frente.

— Olha só o que temos aqui! — Disse em alto e bom som, com um sorriso cínico nos lábios, passando levemente a ponta da língua no espaço onde deveria ter um dente.

As portas se fecharam e a composição ganhou velocidade. Os cinco meliantes estavam na outra extremidade do vagão e ainda mantinham as marcas e contusões do último encontro com a garota.

— Galera, nossas preces foram ouvidas! A vadia que nos machucou está bem ali! — Os demais fizeram uma espécie de formação.

Me colocando adiante, deixando a garota recuada.

— Vocês têm a chance de sobreviver no dia de hoje. É melhor que deixem esse vagão na próxima estação. — Disse.

Todos os membros da gangue riram como se eu tivesse contado uma piada. Mas eles não faziam ideia do que estava por vir. Neste momento o líder, que ostentava um moicano sacou uma arma, sendo seguido pelos seus comparsas.

— Cala a tua boca! — Replicou.

— Rick... — Balbuciou Mason

— O que foi? — Respondi como se estivesse cochichando sobre os ombros.

— A energia está aumentando! Eles estarão aqui em poucos minutos.

maluco? falando com quem meu irmão? — Indagou aos berros o líder da gangue.

— Mason está certo Rick. Eles estão chegando a qualquer instante. — A garota falou ao meu ouvido, como se estivesse me contando um segredo, enquanto desembainhava sua espada.

— Que merda é essa?! — Gritou o líder, enquanto puxava o cão da arma. Os demais seguiram o gesto.

O pior de toda aquela situação é que não daria para salvar os meliantes. Não havia tempo para retirá-los do vagão, até porque eles também queriam nos matar.

Um forte estrondo balançou a composição. Fomos chacoalhados.

— Eles chegaram! — Gritou a garota.

— Eles quem? — Retrucou o líder da gangue, enquanto perdia o equilíbrio junto com os seus comparsas.

O teto do vagão foi esfacelado e três alados e um lupino entraram na composição, que trepidava muito a esta altura. Uzoh estava à frente daquele grupo. Seus olhos cor de âmbar pareciam queimar.

Ignorando a gangue, seu foco estava voltado para nós.

— Fim da linha Rick. — Disse com seriedade.

— Fim da linha é o cacete! Quem manda nessa merda aqui sou eu! — Gritou o líder da gangue, agora apontando a arma para o lupino, ato que foi prontamente seguido pelos demais.

Uzoh nos ignorou momentaneamente e passou a notar a gangue. Neste momento sua aparência começou a sofrer uma metamorfose. Seu tamanho avantajou-se e sua bestialidade começava a vir à tona. Uma situação improvável aos olhos daquele grupo que vagava pelas estações do metrô batendo carteiras e se entorpecendo.

Recuamos um pouco, sabíamos que seria o fim daqueles infelizes. Eles representavam o que havia de mais patético nas gangues urbanas de Parallel, quase um clichê, mas eram vidas que estavam prestes a sucumbir. Peguei a espada e me preparei para o pior.

— O que estão esperando! Atirem neste desgraçado! Ordenou o líder da gangue, enquanto o grande lobo avançava sobre eles.

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