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Para uma pessoa como eu, o passado pode ser perturbador. Já esbarrei em pessoas e vi coisas horríveis e cruéis, já vi a tristeza mais profunda que um ser humano poderia carregar, vi felicidade e bondade, assim como a maldade em sua pior forma. É impressionante a quantidade de segredos que uma pessoa pode carregar. Minha mente humana é fraca, mas não é inconstante. Quando eu tinha quatro anos e aprendi um novo idioma com uma facilidade impressionante, meus pais descobriram então que eu tinha algo chamado memória eidética, o que quer dizer que minha mente não esquece de absolutamente nada.
Nunca. Eu jamais esqueço de algo que vi, li ou ouvi. É por isso que meu sono é tão cansativo, meus sonhos não são como os das outras pessoas e minha mente não funciona da mesma forma. Quando a maioria das pessoas entra no quarto estágio do sono, onde sonham com coisas comuns e pensamentos do próprio dia-a-dia, eu sonho com a quantidade exorbitante e cansativa de informações.
Infelizmente, para mim, nem todas são boas.
Na manhã seguinte, chamei Teren para um passeio à La Push e minha irmã prontamente concordou com a visita. Parte de mim estava preocupada em encontrar a alcateia de lobos, mas La Push era grande o bastante para que com sorte, tivéssemos algum tempo bom entre irmãs sem nenhuma pertubação.
— O que você acha de vai acontecer? — Teren questionou, abaixando-se para pegar as conchinhas na praia.
A areia escura e úmida era bem diferente da Califórnia, lá as praias eram ensolaradas com areia branquinha que grudavam nos pés, em La Push, entretanto, eu estava descalça mas não sentia muito dela grudando em meus dedos. Era confortável e tão bom quanto apesar disso. O som das ondas quebrando nas rochas, o cheiro da maresia e o vento que batia contra meu rosto me davam uma sensação de alívio e paz.
A solidão também era bem vinda, assim como o silêncio. Eu me sentia tão bem neste lugar como jamais me senti na Califórnia e embora ainda houvessem lembranças constantes, é como se elas tivessem sumido da minha mente.
— O que quer dizer? — eu olhei para Teren enquanto me aproximava da água, as ondas frias quebrando aos meus pés enquanto a areia abaixo deles escorria e eu afundava minimamente.
— Eu vi nós duas em Forks. — ela suspirou, os olhos fechados a expressão serena. — Até ficarmos bem velhas. O que será que vai nos prender nessa cidade?
— Talvez seja um lar para nós, quem sabe? — eu também fecho meus olhos, puxando o ar limpo. — Você lembra quando nós fomos à praia com a mamãe?
Teren riu. — Foi incrível. Eu nunca me esqueceria, eu simplesmente sabia que não ia durar para sempre mas eu queria aproveitar mesmo assim.
— É. Eu também.
Teren descobriu sobre a morte dos meus pais quando era pequena, no começo, ela pensou que fosse um sonho e meus pais levaram isso como um medo infantil da filha mais nova de perder os pais. Mas então, conforme o tempo passava, o futuro se tornava mais sólido e Teren e eu sabíamos que ele era imutável.
Perdemos muito tempo lamentando a morte prematura dos nossos pais, dezessete e quinze anos é tão pouco para passar ao lado deles. Era tão injusto que de repente, pais tão amorosos e incríveis fossem tirados de nós.
Mas com o tempo veio também o conformismo, o entendimento de que nada do que Teren vê pode ser mudado. O futuro está escrito e ele sempre esteve, não importa a rota que ele tome para se concretizar.
Então nós aproveitamos. Todos os dias amamos e respeitamos os nossos pais como se fossem o último e com essa consciência, nós os deixamos ir em paz sabendo que eram amados.
— Eu te amo, Ronnie.
Eu sorri, pegando sua mão. — Eu também te amo, Teren.
Nós voltamos a caminhar pela praia enquanto observávamos algumas gaivotas por ali, as pedras e a paisagem. Eu gostaria de ter trazido meu caderno para poder desenhar algo assim, mas certamente poderia fazê-lo mais tarde. Na metade do caminho, Teren e eu nos sentamos em um tronco abandonado e abrimos nossa mochila para pegar alguns biscoitos. Minha irmã devorou tudo tão rápido quanto um leão e eu me distraí, encarando a floresta que margeava a praia e imaginando como desenhar aquela paisagem com sua perfeição.
— Ei, Jared! — três caras grandões saíram de lá, eles se empurravam entre risadas, vinham na nossa direção e curiosa, eu observei as bermudas jeans desgastadas e os peitos musculosos à vista. Teren e eu estávamos simplesmente congelando, mas eles não pareciam se importar nem um pouco com o vento congelante. — A Emily vai te matar. — ele continuou e observei fascinada a forma como ele sorria convidativo.
Havia covinhas nas laterais do seu rosto, as bochechas eram altas e embora ele tivesse mesmo um corpo atlético, ele também tinha um rosto muito bonito. Os cabelos pretos caíram na testa e eu inclinei meu rosto, observando a forma como ele se movimentava com confiança.
Um dos seus amigos de repente me olhou e eu corei vergonhosamente no momento em que meu objeto de observação me olhou. Os olhos dele eram escuros, quase completamente negros e a forma como ele me olhou me fez corar ainda mais embora eu não conseguisse desviar o meu olhar do dele.
— Ronnie! — Teren me cutucou, chamando minha atenção e eu encarei minha irmã, surpresa por se quer ter ouvido seu chamado. — Você parece uma tarada. — ela comentou com um sorriso malicioso. — até parece que nunca viu um cara sem camisa.
— Teren! — Bufei irritada, sentindo meu rosto queimar enquanto me levantava e batia a areia da roupa. — Vamos embora. — sussurrei alarmada no momento em que ele começou a vir em minha direção.
— Não seja uma covarde! — Teren sussurrou puxando-me pela mão assim que eu lhe dei às costas. — Olá estranho! — ela cantarolou e eu fechei meus olhos, sentindo como se fosse morrer. — Eu sou Teren e essa é a Ronnie, minha irmã. — eu lancei à ela um olhar furioso e Teren sorriu abertamente. — Somos novas na cidade.
Eu finalmente criei coragem para erguer meus olhos, encontrando-o me encarando tão intensamente que corei de imediato. Levei a mão as minhas bochechas, sentindo meu rosto tão quente quanto possível e em seguida ele sorriu, causando um disparo em meu coração.
— E ai! — um dos garotos falou com um sorriso divertido e uma expressão simpática. — Eu sou Jared, esse é Embry e Paul. — ele apontou para o último, que ainda me encarava de forma quase robótica.
— Paul Lahote? — A surpresa em minha voz soou perceptível e os olhos dele se arregalaram, quase maravilhados. — Eu sou Ronnie Swan. — eu digo suavemente, com um breve sorriso. — Lembra-se de mim?
— Merda, Ronnie. É você mesmo?! — Paul disse se aproximando e sem graça, eu dei dois passos para trás vendo-o parar, soando quase como se eu tivesse o ferido.
— Ronnie tem um problema com toques. — esclareceu Teren com gentileza, pelo que devia ser a primeira vez em toda sua curta vida.
— Desculpe. — pedi envergonhada, praticamente escondendo-me atrás da minha irmãzinha. — Mas é, sou eu sim. — eu sorri para aliviar o clima e foi como se Paul estivesse brilhando, ele devolveu meu sorriso abertamente. — Você está... diferente. — Meu rosto cora mais uma vez.
— Ela quis dizer que você está quente, senhor Paul Lahote. — Teren comentou distraidamente.
— Teren!
— A minha irmã era doidinha por você quando você era magrelo e dentuço, imagina agora!
— Teren! — eu a empurro e Teren me olha ofendida, eu balanço a cabeça chocada e ela bufa em silêncio. Cale a maldita boca! Eu decido dizer e ela estreita os olhos em minha direção.
— Minha irmã tem problemas mentais. — eu digo cruzando os braços e Teren bufa ao meu lado.
Paul dá um risada, cruzando os braços grandes e eu foco em manter meu olhar em seu rosto. — Você está ainda mais bonita, Ronnie. — ele diz e minha boca se abre, como se eu fosse um peixe morto.
Cansada de passar vergonha simplesmente pego a mão de Teren e marcho para longe. — Temos que ir, foi bom te ver Paul, mande abraços para Maggie. — eu aceno rapidamente atrás de mim.
— Ei, Ronnie, espere... — ele me chama mas eu ignoro deliberadamente enquanto corro na direção oposta.
— O que foi isso, maluca?! — Teren grita. — Você gosta dele desde que usava fraldas, vai lá falar com ele.
— Cale a boca, Teren. — ordeno furiosa quando entramos em nosso carro. — Só vamos para casa.
— Porquê?! — ela me segura, parando no lugar e eu suspiro, chateada. — É por causa do dom? Porque irmã, podemos conviver com isso, sabe disso! Não é o fim do mundo!
Eu bufo, frustrada. — Pra mim é, Teren. Você se lembra da última vez? Chega desse assunto, é sério. Vamos embora agora. Esqueça Paul Lahote e esqueça La Push, foi um erro ter vindo até aqui.
Teren suspira, tocando minha mão suavemente e sem esperar eu recebo as imagens que ela projeta para mim. Eu e Paul, abraçados em frente a praia, duas crianças ao nossos redor pulando entre as ondas. Em choque eu afasto meus dedos de Teren e suspiro.
— É definitivo. É o seu motivo de ficar. — ela diz com um sorriso suave virando-se e colocando o cinto. — Vamos, Ronnie.
xx
O que acham gente? ♥
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