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— Você deve saber que minha irmã não gosta de ser tocada. — Teren disse afastando Bella com um empurrão enquanto eu ainda estava em choque. Senti a mão de Teren sobre minha e com um puxão ela me trouxe uma realidade. — Nunca toque mais em Ronnie sem permissão e isso é algo de extrema importância, Bella.
— Oh! — os olhos castanhos de Bella estavam cheios de constrangimento e ela fungou, lançando um olhar confuso para Teren. — Teren, minha nossa! Como você cresceu!
— Sim, um e quarenta e oito. — Concordou Teren seriamente. — Agora, se você nos der licença, estaremos em nosso novo quarto. — ela disse antes de me puxar para um quarto, senti o colchão macio abaixo de mim no momento em que sentei e Teren se abaixou, a altura dos meus olhos, a minha irmã balançou a mão na frente ao meu rosto e estralou os dedos.
— Terra chamando a senhorita Ronnie Ron. — Teren brincou balançando os dedos em frente ao meu rosto.
— Teren ...
— Ronnie! Não me diga que viu uma noite de sexo quente entre Bella e seu ex-namorado, porque ela não me parece do tipo que faria algo tão atrevido.
— Teren...
— Tudo bem, você está em choque, mas Bella só está sofrendo por um cara, não deve ser tão ruim. Nossos pais morrem e nós não estamos cavando uma cova no nosso próprio quarto ...
— Vampiros, Teren. E lobisomens. — eu ergo meus olhos e minha irmã se cala. — Eu vi vampiros e lobisomens na mente de Bella.
Teren ficou em silêncio por um momento antes de suspirar. — Será que ela é maluca?
— Não, Teren. Eu não sei se alguém poderia fantasiar tudo, quero dizer ... Parecia real. — ergo meus olhos, completamente assustada e Teren balança a cabeça, sentando-se ao meu lado. — Além disso, bate muito com o que estava na mente do Charlie na primavera.
Minha irmã disse aos olhos, sentando-se ao meu lado e suspirou. — Me conte em detalhes, Ronnie.
Eu suspiro e detalho para Teren tudo que vi, senti e percebi na mente de Bella. É claro que não há detalhes perfeitos, foi tudo rápido demais para que eu me aprofundasse, minha mente geralmente não absorve tudo e sim os momentos mais marcantes, precisamente o que a pessoa em questão tem maior foco. Exatamente como aquela memória em que um cara loiro com aparência assustadora enfiou um pedaço de espelho na pele de Bella, a queimação torturante sobre seu pulso enquanto fogo queimava em algum lugar, as palavras cruéis do seu ex-namorado quando partiu. Edward Cullen. Os Cullens. O nome acompanhava a mente de Bella com uma sensação quase de tortura, nada parecido com o que sentimos com a morte dos nossos pais, mas algo parecido com a morte de alguém muito, muito querido. Era assustadora a profundeza dos sentimentos da minha prima. Havia ainda, algo ainda mais assustador, um tapa grosseiro no rosto de Paul Lahote, o nome dançava na mente de Bella acompanhado do seu receio.
Mas Paul, o Paul que eu conhecia não poderia se transformar em uma criatura furiosa que avançasse em direção à Bella, poderia?
— Ual! — Teren apoiou a mão sobre o queixo, olhando-me com a expressão compenetrada. — Então o namorado dela era um vampiro? E o seu amor de infância é um lobo gigantesco?
— Aparentemente. — eu rolo meus olhos, olhando para Teren com descrença. — E Paul era meu melhor amigo.
— E sua paixão. Você escrevia o nome dele pra todo lado. — Teren comentou categoricamente. — Mas então é por isso que ela está em depressão?
— Teren, você não faz ideia. A sensação é horrível... — eu balanço minha cabeça sem saber como descrever o que senti. — É como se fosse um enorme buraco no qual Bella está afundando.
Teren cruza as pernas elegantemente antes de passar os dedos pela franja, tirando-a dos olhos. — Puxa, talvez devêssemos tentar animá-la então.
— Teren, você ouviu o que eu disse?! — Eu apoio minhas mãos sobre a perna de Teren, aproximando-me dela. — Bella estava envolvida com vampiros, isso é tão insano! Eu nem posso começar a descrever...
Minha irmã franziu as sobrancelhas pensativa. — Bem, mas eles partiram, certo? E pelo que você disse, é definitivo, não é?
— Parece que sim. Isso quer dizer que não é tão ruim quanto parece, certo? Quero dizer, exceto pelos lobos gigantes.
— Embora eu ache que tudo possa ser uma alucinação de Bella, eu confio em você. Então sim, não é tão ruim quanto parece. — Teren se levantou com um novo sorriso enfeitando seu rosto. — Vamos descer? Nossa saída foi relativamente estranha.
— É claro, você surtou. — Eu comentei enquanto amarrava meus cabelos no alto na cabeça. — Não precisava ter sido tão ruim.
Teren arregalou os olhos com uma expressão ofendida. — Me perdoe se eu tentei te proteger, irmã.
— Pare de falar como uma dama do século dezenove, Teren. As pessoas vão te achar estranha. — Eu dou um sorriso quando passo por ela e Teren ri atrás de mim, sua risada soa como sinos e me lembra à nossa mãe. Teren é exatamente como ela e isso é tão doloroso quanto reconfortante.
Minha mãe também parecia flutuar pelos lugares, sua presença era tão calorosa e reconfortante que todas as pessoas queriam estar ao seu redor. Quando ela ria, o som parecia maravilhoso, era o melhor som do mundo e quando ela nos envolvia em seus braços, era como se o mundo inteiro tivesse parado e pudesse chover fogo e o inferno se abrir antes que eu ou Teren estivéssemos em perigo. Meu peito ardeu dolorosamente com a lembrança do seu sorriso.
— Eu também sinto a falta dela. — Comentou Teren parando ao meu lado e envolvendo meu braço em um aperto. Ela apoiou a cabeça em meu ombro e sorriu. Nós éramos mesmo duas garotas baixas. — Às vezes parece que um buraco se abriu no chão e sugou toda a luz do mundo, não parece?
Meus olhos ardem quando eu tento sorrir e abraço Teren de lado. — É, às vezes parece. — Concordo baixinho.
No andar debaixo da casa, Bella apoia-se no balcão enquanto apaticamente corta uma cenoura, me da a impressão de que ela preferia estar cortando os próprios dedos a ter que fazer qualquer coisa. Por isso Teren e eu nos aproximamos com um olhar conspiratório e nos oferecemos pra ajudá-la, Bella se recusa de imediato, mas cede quando nós insistimos.
— E então, a escola? — eu questiono enquanto corto um tomate em cubinhos pequenos. Bella me dá um olhar estranho, em seguida outro para Teren e suspira, como se estivéssemos realmente a importunando.
— É legal. — ela diz com a voz fininha. — Você sabe, como toda escola é. — ela me olha em seguida, com um sorriso envergonhado. — Sinto muito por mais cedo, Ronnie. Tem algum tempo que eu não...
— Abraça alguém? — eu digo suavemente.
Bella me olha e compaixão escorre para dentro de mim. — É, tem algum tempo.
— Tudo bem, Bella. — digo suavemente. — Você só deve saber que não pode me tocar, pode ser desconfortável para você.
Bella franze o cenho, confusa. — O que quer dizer?
— Minha irmã lê pensamentos. — solta Teren e eu arregalo meus olhos, chocada com a forma como ela é direta. Bella também arregala os olhos, parecendo quase tonta. Ela se segura na pia como se tivesse levado um choque, literalmente.
— Teren!
— O que?! Uma hora ela ia saber!
— Não assim! — eu a repreendo e Teren bufa, olhando para Bella ao invés de me responder.
— Ela precisa tocar em você para ler, é por isso que mais cedo ela parecia em choque. Ela descobriu algumas coisas quando você pulou sobre ela como um guepardo ofendido.
Bella se virou para mim e ela parecia definitivamente meio verde. — O... o que? Você... Leu a minha mente?
— Bem, desculpe Bella. — eu dou de ombros, lançando um olhar de alerta para Teren. — É que eu não consigo controlar, infelizmente. Eu simplesmente faço.
— Desde quando?
— Desde que nascemos. — Teren responde prontamente.
Bella arregala os olhos para Teren, a boca se abrindo em um 'o' perfeito. — Teren também lê...?
— Eu leio o futuro. — Comenta Teren sombriamente, as sobrancelhas dela se unem de forma que parece que complicado de lidar. Eu sei o que ela está pensando. Nossos pais. Teren sempre soube.
— Então você pode ver tudo?!
Teren suspira impaciente. — Não exatamente. — eu digo, tomando a frente da conversa e Bella se volta para mim. — Para Teren, o futuro pode ser subjetivo como a corrente de um rio mas fixo como sua caída. Você sabe, dependendo do vento elas estão fortes ou fracas, mas elas sempre levam a um determinado lugar.
— Então você vê o futuro concreto?
— Quando eu toco em alguém, sim. — Minha irmã responde prontamente. — Enquanto eu estou longe, vejo apenas subjeções, prováveis futuros. Quando mais próxima sou da pessoa, mais o seu futuro é certo para mim.
— Isso é tão... Maluco. — Bella suspira. — Eu só havia visto isso com...
— Alice Cullen? — eu questiono voltando aos meus tomates. — Desculpe mas eu vi tudo, Bella. E eu acho isso uma loucura, como você pode se envolver em algo assim?
— É, você tem tipo, problemas mentais? — Teren questiona, cruzando os braços e inclinando-se em direção a Bella de forma indelicada. Eu suspiro, porque Teren deve ser mais maluca do que nossa mãe e Bella juntas e não havia forma de fazê-la mudar essa peculiaridade de ser tão direta e sincera. — Porque é de família. Nossa mãe tinha, sabe.
Bella ri fracamente e olha para nós duas com fascinação. — Eu pensei que estivesse louca.
— Ainda achamos que você está. — eu digo com um sorriso e Bella ri, balançando a cabeça. — Mas tudo bem, somos Swan's, certo? Devemos ser malucos. Apenas, mantenha-se longe, se quiser privacidade.
— Tudo bem, Ronnie. — Bella diz baixinho, pegando minha mão entre as dela. Confusão, amargura, tristeza e revolta. Bella é como eu, e eu gostaria de me sentir zangada por ela estar sofrendo tanto por um cara que provavelmente a mataria, mas minha compaixão por sua dor profunda é muito maior. O pensamento atual de Bella, no entanto, é sua felicidade por estarmos com ela, por termos chegado. Eu sorrio, contente pelas palavras que ela não verbalizou.
— Mas Ronnie não gosta de ser tocada. — Teren comenta, mantendo-se afastada de Bella. — Você deve alertar isso à todos.
— Entendido. — ela responde rapidamente e acho que tem um pouco de medo de Teren.
Não demora para o tio Charlie entrar em casa, ele retira a farda e olha para a própria arma em dúvida enquanto lança um olhar para nós três. Acho que Charlie considera seriamente a ideia de ter três adolescentes em luto dentro de casa, imagino o quanto ele deve estar perdido considerando que até um ano atrás ele não tinha ninguém além de si mesmo para cuidar.
— Oi meninas. — ele diz lançando um olhar preocupado para nós.
— Boa noite, tio Charlie! — Teren abre um gigantesco sorriso e eu me sinto aliviada por termos alguém sorrindo para segurar as pontas. — O jantar está pronto, está com um cheiro ótimo.
— Oh, como vai Teren? — ele passou apertando o ombro da minha irmã. — Bella? Ronnie?
— Bem, tio Charlie. — eu digo com o melhor sorriso que tenho. — Você deveria tomar um banho antes de jantar, logo tudo estará a mesa. Certo, Bella?
— Oh, é claro! — Concorda Bella tirando os olhos da gigantesca lasanha e nos encarando confusa. Ela ao menos sabia com o que estava concordando?
O jantar passou silencioso após isso, Bella parecia realmente triste e tio Charlie ainda mais, ele sempre lançava olhares chateados para Bells entre uma garfada e outra. Teren e eu ficamos em silêncio e quando o jantar terminou, nos oferecemos para limpar a cozinha e Bella se retirou com uma boa noite languido que nos deixou igualmente desanimadas. Tio Charlie se despediu com o mesmo desânimo e minha irmã e eu nos entreolhamos, sem saber o que dizer. Após lavarmos a louça em silêncio, Teren tomou um banho enquanto eu observava as árvores balançando pela janela do nosso quarto, o vento batia furiosamente e um trovão podia ser ouvido de minuto em minuto.
Mais uma tempestade que se aproximava e eu até gostava, apesar de ser relativamente mais fácil ficar deprimida com um tempo como esse. Na Califórnia, um dia de frio e chuva era sinônimo de faltar a aula, ver um filme e comer comida chinesa enrolada em cobertores no sofá. Aqui em Forks, entretanto, um dia de chuva era só mais um dia comum. Em Forks estava sempre chovendo.
— Pare de pensar tanto. — A voz de Teren me despertou e ela sorriu, enrolando os cabelos longos em uma toalha. — Eu não aceito mais nenhuma psicótica deprimida nesta família.
Eu sorri. — Seu humor fica cada vez mais ácido, Teren.
— Graças a Deus que você ainda me aguenta. — Minha irmã se joga sobre a própria cama com uma expressão desanimada. — As pessoas costumam me achar estranha demais, mas não você.
— Não, nunca eu. — Eu sorrio confiante. — E ninguém mais importa, você sabe o que o papai sempre dizia.
— Sim, sempre há alguém lá fora...
— Que é feito exatamente para você. — eu completo com um suspiro. — Vou tomar um banho também.
Eu saí deixando Teren enrolada em seus cobertores e quando voltei, minha irmã já estava em um sono profundo. Eu a aconcheguei ainda mais em seus cobertores para enfim poder me deitar em minha própria cama. O colchão era incômodo, o quarto escuro sem a claridade do céu limpo, o relógio no criado mudo mostrava que já eram dez e quarenta e cinco. Eu mal vi a hora passar tão rápido, aos meus pés estava a manta que eu trouxe de casa.
No fim da noite, quando todos estavam dormindo é que os pesadelos me atormentavam.
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O que acharam, gente?
EU AMO A TEREN. ♥
Mas também amo essa natureza pacífica e compassiva da Ronnie.
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