O Florescer de Cézanne [Plot Twist]
Alfira caía do céu. Em sua queda livre, nunca pôde imaginar como o despencar de Ícaros fosse o reflexo irônico do povo daquele mundo-cão.
Ela caiu como uma formiguinha, sobre pilhas de papelão velho, surrado, retalhado — e tampouco entendeu como algo era mais leve que grama e menos belo que seda. Talvez fosse algo natural daquele mundo, junto de todas as coisas odiosas que observou em seguida: florestas de pedra cobertas de desolação indiscriminada; o choro da matéria-mãe, o aroma de não respirar livremente. Não fazia sentido, aquele lugar: era a pior das mazelas, dos trágicos fins dos aromas mais impossíveis — trocado pela completude do repugnante. Não havia verde, nem animais, nem nada que a fizesse viver em paz - mas reinavam estranhas criaturas de aspecto metálico, de gesticulações bizarras e atrozes, que não serviam de humano, nem de polvo: mas algo nunca visto.
Bips e bips ecoam da carcaça fria, e um feixe de elétrons irrompe o ar como um raio, destruindo o chão a um centímetro dos pés da fada.
Ela salta para trás, assustada. Antes que a bizarra criatura pudesse sentenciá-la como Hela, um portal abre-se abaixo do bumbum de Alfira.
"Da próxima vez, me teleporta no chão! No chão!”, ela insiste, pensando que Layfir estava ao seu redor. Mas... nada — simplesmente o puro nada, se não a natureza morta que inspirou Claesz em suas obras mórbidas — e um iPulse gravado “Livia Deco” ao lado.
"A natureza morreu", dizia o iPulse.
Uma lágrima escorre e respinga no pó seco que a terra se tornou. Ela estava em um antigo jardim residencial. Não compreendia como a beleza da flora era algo tão raro para aquele lugar, mas tão normal para si mesma. "É injusto", pensava ela, destinada a pintar dos matizes mais lindos aquele campo.
Ah!, parecia um sonho, poder enfeitar, com tons pastéis do verão, o céu róseo da tarde torturada. Alfira vagueou — escavou — rezou — chorou! — sobre a genitl raiz das flores mortas. Ela sabia que uma cor pungente não havia de ser inutilmente a esperança, que a dança da pétala representava mais que intemperança; fosse motivo de vida, sentido de levantar-se e sorrir pelas manhãs - ou chorar à noite como neném soluçante, sentia a capacidade de moldar um mundo com suas mãos de criança - de ressignificar a destruição das máquinas com o leve toque do orvalho; pois não faz-se salvação com sacrifícios: mas com o alento gentil da boa vontade. Quisera que aqueles "homenzinhos" de metal entendessem isso naqueles circuitos eletrônicos e placas-mães — mas fora levada por um portal antes de ver isso.
Passam-se dias. Livia finalmente encontra seu iPulse largado. Ela sente um cheiro incomum no ar. Olhando ao seu redor, uma pequena rosa nascia no canteiro à beira-horizonte poente. Ela aproxima-se da flor, descrente, e encontra um papel, lendo-o.
"De Perdição reinvento, em ruas incertas, um novo sentido de amar. Que reverbere em canções melodiosas um único verso: "Esperança", até o alto-mar."
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top