Frenesi I

Não tenho a capacidade de explicar muito bem o momento em que coloquei a flor em minha boca, por mais que eu provavelmente tenha repensado ele mais de um milhão de vezes em toda a minha vida. Hei de tentar fazer meu melhor.

Não me lembro de mastiga-la ou ingeri-la, nem ao menos a sentindo dentro de minha boca. Em algum momento, tudo ficou simplesmente escuro, ou eu involuntariamente fechei meus olhos por vontade da flor ou por meu medo e pânico. Quando tudo voltou ao normal novamente, as cores da realidade forem se preenchendo como uma aquarela sendo derramada no vazio do nada. Percebi que o que segurava não mais existia, e a única coisa que jazia no chão abaixo de mim era um círculo perfeito de grama onde nada crescia. Me virei em um instante, rapidamente sentindo uma dor no corpo e mal-estar terríveis. Toquei minhas costas com um braço enquanto gemia de dor, protegendo minha face do Sol dolorosamente forte com o outro. Quando levantei meu rosto, foi então que notei a paisagem; tudo era exatamente igual, mas extremamente diferente de um jeito subconsciente. Não é como se as cores fossem de um tom diferente, porém elas certamente estavam diferentes; transmitiam uma sensação doentia e cheia de tormento que perturbava até o canto mais intocável e feliz de minha alma. Aquela vasta área, antes parecendo um sonho infinito e agradável, agora era como um horrível símbolo de uma solidão terrível, na qual apenas o vento fazia barulho, atingindo as finas folhas de uma árvore distante e solitária. O Sol, antes gentil, parecendo sorrir para a Terra, agora era odioso e austero, como se desdenhasse nossa própria existência e nos torturasse com sua luz cegante. Tudo era desse jeito. (me desculpe por essas descrições. Sempre que escrevo sobre isso, é como se eu esticasse o significado de 'inexplicável' infinitamente, sem chegar a ponto algum, mas a única palavra que poderia fielmente descrever aquilo era 'inexplicável'.)

Esfreguei meus olhos e me belisquei e mordi várias vezes para checar se aquilo era mesmo a realidade, mesmo sabendo que era mesmo. Tudo que raciocinei foi que aquilo era alguma encantação, feitiço, ou qualquer outra coisa, pois em nenhum momento dei atenção ao pensamento que estava ficando louca. Nunca tive problemas emocionais antes.

Depois que a minha conclusão sobre a situação racionalmente foi implantada em minha cabeça, um desespero aturdidor tomou conta de meu ser. Como exatamente esse mundo era diferente? Poderia ter acontecido algo com o vilarejo ou minha família? E como eu reverteria essa maldição?! Corri direto pelo campo, sem me importar em machucar as flores. Minha pele grudava em minhas roupas pelo suor sem fim de estresse e calor. Minha cabeça girava debaixo do Sol e dos meus pensamentos e respiração frenéticos.

Chegando quase perto do fim do campo, senti algo físico e emocional aterrorizante que me obrigou a parar subitamente; era como se uma mão gélida e mórbida houvesse enrolado meu ser em um aperto desesperador. Em um súbito momento, minha respiração foi roubada de mim. Já pensando que aquele seria o fim, fechei meus olhos com força. Mas quando os abri de novo, não senti mais nada, e essa não seria a última vez que isso aconteceria. Aterrorizada, corri ainda mais rápido.

Depois do que para mim pareceu uma eternidade de desespero e cansaço, cheguei a entrada do vilarejo. Um grande peso foi tirado de minha mente quando vi que tudo estava normal... na verdade... nem tanto.

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