Capítulo 2

07 ANOS DEPOIS.

Arthur Cavendish tinha acabado de chegar de uma longa viagem de negócios, estava exausto, mas antes de poder descansar tinha que ver a neta, averiguar com os seus próprios olhos os seus progressos. Enquanto esperava na biblioteca, ficou pensando quanto aquela menina havia crescido.

"Megan é uma criança realmente linda, assim como a mãe, ela é alta, esguia, com os cabelos negros e o rosto delicado, mas os olhos... Esses com certeza são iguais aos do pai! Ela é uma garota muito inteligente, está apenas com oito anos, e já sabe falar francês fluentemente, e logo aprenderá latim também." Pensou Arthur cheio de satisfação.

"Ela aprende rápido matemática, história e literatura. Nesse ponto, eu sou realmente exigente" e tal pensamento foi acompanhado de um raro meio sorriso. "Afinal a menina tem uma educação digna de um príncipe! Sequer as princesas Maria e Ana receberam tão apurada criação. Deverá sempre demonstrar resultados à altura!"

Esse pensamento trouxe-lhe um sorriso aos lábios, o que retirou um pouco a aparência austera do velho lorde, pois se lembrou que, apesar de esforçada, Megan nunca havia gostado muito das tarefas femininas, ainda mais, porque não havia se limitado ao que normalmente se ensinava as nobres. Ela sabia se comportar como uma dama, bordar, costurar, tocar piano, mas também cozinhar e limpar se fosse preciso, enfim, as inúmeras coisas que uma mulher tinha por obrigação saber. Mas que ela preferia, e muito, as aulas de esgrima, montaria e tiro, disso ele não tinha dúvidas.

Espelth entrou interrompendo os seus pensamentos para anunciar a chegada da neta. Quando ela entrou, obedeceu à rígida educação que recebia e cumprimentou seu avô da maneira formal, fazendo uma elegante genuflexão, ao invés de abraçá-lo, como era a sua vontade.

– Boa tarde, sua Graça.

– Boa tarde, Milady. Sente-se, eu quero conversar com você.

Megan sentou-se em uma das poltronas que ficavam de frente a que seu avô ocupava e perguntou:

– O que deseja, Milorde?

– Primeiramente, é impróprio falar antes de quem a convidou ainda mais se for para fazer perguntas tolas!

– Desculpe-me, sua Graça... – respondeu com a voz tão baixa, que mais parecia um murmúrio.

– Assim está melhor, como vão os estudos?

–Muito bem, Sua Graça. O professor de literatura e matemática me elogiou bastante. Consegui resolver mais perguntas do que Liam e David.

– Isso é muito bom. E as tarefas que você tem aqui no castelo?

– Apesar de achar essas tarefas chatas, eu tenho procurado limpar, cozinhar e bordar com o maior capricho possível, sua Graça. – Respondeu com um leve tom de impertinência e fazendo cara de aborrecimento só em pensar em tais coisas.

– Megan! Apesar da educação diferenciada que recebe, você é uma mulher e sabe que um dia, quando eu morrer, herdará o titulo e terá que administrar este castelo e as propriedades vinculadas sozinha! Não poderá confiar sequer em seu marido. As pessoas, Megan, são interesseiras e tentarão enganar você e, se não quiser ser passada para trás, terá que saber fazer tudo o que há para ser feito, senão, você não saberá comandar! Não me faça me arrepender pelo que estou fazendo, comportando-se dessa maneira imprópria e ingrata!

– Desculpe-me, vovô. Eu não quis parecer ingrata pela educação que eu recebo e é por isso que eu me esforço, mesmo não gostando muito.

– É bom que continue assim. Você ainda tem alguma aula hoje?

– Sim, Sua Graça. Tenho aula de esgrima daqui a meia hora junto com Liam e David no pátio central.

– Então vá se arrumar, não deve chegar atrasada. A impontualidade é um dos piores defeitos que uma pessoa pode desenvolver. É provável que eu assista ao seu desempenho na aula hoje.

– Sim, Sua Graça. – E foi andando até a porta da ampla biblioteca onde parou e se virou para o avô.

– O que foi, Megan?

Hesitando um pouco ela perguntou:

– Posso te dar um abraço?

Um pouco surpreso pela demonstração de afeto, o velho lorde ficou momentaneamente sem reação, mas logo respondeu:

– Pode, minha menina, pode sim.

Então, Megan correu para o avô e lhe deu um abraço que correspondia à saudade que sentia dele.

– Vovô, eu estava com saudades.

– Eu também, Megan. Agora chega de sentimentalismo, você sabe que isso não faz bem. Vá se arrumar.

Durante a aula de esgrima, Megan deu o melhor de si, pois seu avô estava assistindo e ela queria, mais do que tudo, deixá-lo orgulhoso.

Havia lutado com grande habilidade, derrotando David e Liam na primeira luta. Logo após, na segunda rodada, ganhou de David, mas, por um passo em falso, perdeu para Liam. Megan ficou imensamente frustrada com a derrota. Na terceira e ultima luta, teria que desempatar com Liam. E este a provocava, como sempre gostava de fazer.

– Meg, porque você não volta para os bordados? Lutar é coisa para homens não para meninas e suas bonecas.

– Para com isso, Liam! Você está tentando me distrair! Isso não vai funcionar... Até porque, você é só um moleque que mal saiu dos cueiros!

– Até parece...Vamos, Meggie, dê o seu melhor! Eu não vou perder só porque o Duque está aqui.

– Eu não estou te pedindo isso. Ah! Cala a boca! Você fala demais!

– Ah, é?! Então me vença!

E foi justamente o que aconteceu. Megan ganhou de Liam e David nessa aula. Os três eram excelentes, mas ela se destacava na esgrima, assim como em cima de um cavalo ninguém conseguia ser mais elegante do que David e Liam era o mais habilidoso com as armas de fogo. Apesar das provocações, eles eram amigos inseparáveis, pois desde bem pequenos, Arthur providenciara para que os meninos estudassem junto com a sua neta.

Os meninos eram meio irmãos por parte de mãe, a Condessa Leonor Thorne. Ela havia casado muito jovem com um homem que seu pai escolhera, o jovem e rico comerciante, Sebastian Trevor. Apesar do casamento forçado, o improvável aconteceu, eles se apaixonaram e viveram um casamento cheio de alegria e cumplicidade.

Infelizmente, ela ficou viúva logo após o nascimento de Liam ficando à mercê da crueldade e inveja do cunhado. Pois com a morte do marido, quem iria protegê-la? Sequer esperaram o período de luto e ela foi expulsa da propriedade londrina de Sebastian, levando consigo apenas o filho e a roupa do corpo.

Mas, graças à divina providência, o Conde Christian Thorne, amigo de Sebastian, ficou sabendo do triste destino dela e resolveu acolhê-la em sua propriedade no campo. Com o passar do tempo, eles apaixonaram-se e casaram. David nasceu dessa união. Desse modo, apesar de ser um pouco mais velho, Liam não era herdeiro de nada, tendo que abrir seu caminho pelas próprias mãos.

Isso não o entristecia, pois sabia que a vida emum castelo não era para ele. Liam queria mais e estava disposto a lutar porisso.    

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