Capítulo 4.

Pov: Atlas.

Durante os próximos voos, Pete abateu sem esforço nenhum os outros pilotos, fazendo com que todos pagassem as 200 flexões novamente.

Agora, estávamos Maverick comigo na carona, Rooster e Hangman. Desde que eu soube da dupla contra meu tio, sabia que alguma coisa aconteceria.

Os aviões dos dois voavam lado a lado, ambos em silêncio para não desencadear um dos comentários babacas de Hangman.

– Rooster, posso fazer uma pergunta pessoal? – Ele começou, todos no rádio ouvimos um rápido suspiro impaciente de Bradley.

– Faz diferença se eu não deixar? – Respondeu apático, revirando os olhos.

– Qual é o lance entre você e o Maverick? Parece que ele te deixou meio abalado. Além da Atlas, eu vi vocês dois abraçadinhos no lado de fora do bar – Ele concluiu.

Nesse momento, eu e Maverick estávamos em silêncio, porém consegui ouvir risada nasalada e logo dei um tapinha em seu ombro.

– Não é da sua conta, cadê esses dois? – Sua resposta foi seca, logo olhando para os lados a procura do nosso caça.

– Nós estamos aqui direto – Maverick diz, manobrando o avião para que ficassemos de cabeça para baixo, acima do avião de Rooster.

Hangman ao seu lado olhava surpreso com tal manobra, me lembro que aquela foi a primeira manobra que Maverick me ensinou. Para nós, aquela manobra era nossa assinatura e comum.

– Está nos vendo agora? Vamos acabar logo com isso– Digo logo em seguida, cruzando meus braços.

O olhar de Rooster era fervente de ódio, não comigo, mas com Maverick, logo ele começa uma descida em caracol fazendo que Pete o acompanhasse.

– A luta começou! –.

Os aviões foram descendo em uma espiral violenta, os números no painel sinalizavam que estávamos nos aproximando do solo. Tocando a caixa de altitude.

Nos três estávamos ofegantes, eu apavorada por estar ali no carona daquela situação, mesmo sabendo que Maverick não iria colorir com o solo depois de uma atitude arriscada dessa.

– Você começou, como vai sair disso? – Maverick perguntou com a voz exaltada.

– Rooster, pare já com isso. Não é hora de disputas – Eu grito ordenando, me segurando nas laterais do Caça.

– Você pode sair fora quando quiser – Rooster ainda dizia com raiva e forçando os aviões cada vez mais para o solo.

– Você vai aguentar tão baixo? – Maverick pergunta como se fosse uma súplica para que ele parasse de agir daquele jeito.

– Tão baixo quanto o senhor. Em todos os sentidos – Eu consegui ver seus olhos cerrados, seus dentes rangendo de raiva.

– O que passou, passou. Para nós dois – A voz de Maverick voltou a ser firme, especialmente naquela frase que tanto pesava em seus ombros.

Eu estava com os olhos cheios de lágrimas, a respiração acelerada, o coração explodindo em meu peito, batendo no vidro e me controlando para não ejetar. Caso fosse feito, eu bateria no avião de Rooster e morreria na certa.

– Você quer muito acreditar nisso – Esbravejou o tenente.

– A borda da caixa é de cinco mil pés. Não há para onde ir – Hangman, do alto sinaliza, pelo seu tom de voz ele tinha certeza de que iríamos colidir contra o solo.

– Altitude. Altitude. Altitude – A voz automática quase gritava para nós.

– Sua estratégia vai nos chocar no solo – Exclamei em total desespero e com a voz carregada de medo.

2368 pés.

1253 pés

711 pés.

– Suba. Suba. Suba – O sinalizador tocou mais alto.

– ROOSTER, SUBA JÁ O SEU AVIÃO. VOCÊ VAI MATAR TODOS NÓS – Finalmente eu grito, fazendo que os aviões extremamente perto do solo subissem após um rasante de emergência.

Minha respiração estava muito ofegante, quase me fazendo desmaiar dentro do avião, eu apenas ouvia Hangman e Maverick exaltados dizendo o nome de Rooster.

Logo tudo se acalmou quando som, sinalizando abatido ecoou em meus ouvidos, logo meu corpo sentiu o avião retornar a base antes de eu desmaiar, devido à sobrecarga sensorial.

...

Eu acordo com um sobressalto, ofegante, enquanto minha mente ainda parece presa entre o pesadelo e a realidade. Uma explosão ressoava em meus ouvidos, ecoando a sensação de estar no cockpit durante a simulação.

– Onde... onde estou? – Minha voz parecia pesada ao sair de meus lábios.

Maverick, ao lado de minha cama na enfermaria, levantando-se e segurando minha mão, preocupado.

– Você está na enfermaria, Atlas. Desmaiou depois da simulação – Sentia sua mão se apertar carinhosamente contra a minha.

Eu sentia o suor descendo por minha testa, algumas gostas caíram em minha boca, estava gelado assim como minha pele. Minhas pupilas dilatadas ainda em alerta.

– O que aconteceu? – Meus olhos se fecharam na esperança de me acalmar.

– Foi uma sobrecarga sensorial, foi o que o médico apontou. Você desmaiou durante a simulação. Tivemos que pousar logo que percebi que você estava em silêncio –.

As imagens do desafio de voar rente ao solo, Rooster desafiando Maverick, começam a retornar à mente minha mente. Que ideia estúpida ele teve de testar os limites de Maverick.

– O voo... O que deu na cabeça de Rooster para te desafiar, ele quase matou nós dois! – Minha última frase foi mais exaltada que o normal, ocasionando uma pontada em minha cabeça.

– Sinto muito, Atlas. Eu deveria ter sido mais cauteloso. Não deveria ter aceitado aquilo – Ele desvia seu olhar do meu.

– Não é sua culpa, Maverick. Esses momentos... eles me levam de volta a lugares que eu preferiria esquecer – Digo passando uma mão em minha testa e logo respirando fundo, me acalmando finalmente.

Maverick assente, compreendendo.

– Precisa de ajuda? Podemos ajustar os treinamentos – Ele sugere, agora acariciando meus cabelos.

– Não. Eu vou superar isso. Preciso enfrentar meus medos, mesmo que seja difícil. Meu Transtorno de Estresse Pós-Traumático não vai me atrapalhar na missão – Mantive meu posicionamento firme enquanto eu me levantava da maca.

Maverick sorri, admirando minha determinação com meu compromisso.

– Estamos aqui para apoiar você, Atlas. Se precisar de algo, só falar – Ele me abraça rapidamente, abrindo a porta da enfermaria para eu passar.

Respiro fundo mais uma vez, decidindo enfrentar os desafios que se apresentam à medida que busca equilibrar minha saúde mental com os últimos cinco anos que eu estive no inferno.

– Vá para a praia, descanse. Os treinamentos estão encerrados por hoje, preciso ir à sala dos almirantes levar uma bronca – Ele me diz, rindo de canto apaziguando aquela situação tensa.

– Se cuide, capitão – Lhe prestei continência, rindo e logo fomos para caminhos diferentes.

Assim quando cheguei até a porta de meu quarto, vi que Phoenix se aproximou de mim, por sermos vizinhas de parede.

– Hey, Atlas! Está tudo bem? Vimos você indo para a enfermaria. O que aconteceu? – Percebi que seu tom de voz era genuíno e amigável.

– Eu... apenas desmaiei devido a simulação, apenas isso – Digo sem rodeios, sem muitos detalhes e sendo amigável com ela também.

Eu precisava de amizades, ela pode ser minha primeira.

– Mas como assim? Isso não é comum, nem normal para aviadores iguais a nós. É alguma condição de saúde? - Seu tom de voz diminuía e suavizava, acompanhado de grandes olhos castanhos.

– Eu... acho que é por conta da minha antiga missão. Tenho apenas um mês de intervalo entre a TOP GUN e... cinco anos no Iraque – Minha frase saiu arrastada, fazendo seus olhos arregalarem – Isso ainda me afeta muito, muito mesmo. Devo estar com TEPT, porém não vou deixar que afete na missão –.

– Pode contar comigo para te ajudar em caso de gatilhos, além de sermos as únicas mulheres aqui, quero te ajudar nisso até nos formarmos – Ela finalmente sorri para mim, algo que pela primeira vez amoleceu meu coração.

Confesso que aquilo me tocou, ela demonstrava confiança e lealdade. Algo que era detectável na primeira vista.

4 horas depois.

A praia estava vazia, apenas as ondas quebrando perto da areia me faziam companhia, o som me trazia ares de tranquilidade, além do aroma da água salgada que acalentava minha pele.

O Hard Deck estava com pouco movimento, eu prefiro ficar isolada naqueles momentos após uma sobrecarga, apenas colocando meus pensamentos no lugar, dominado os demônios chamados: flashbacks vívidos e intrusivos.

Repentinamente, senti que alguém tocaria em meu ombro em milésimos de segundos, fiquei atenta aos passos atrás de mim nos últimos dois segundos.

Mais rápido que meu corpo conseguia, pulei na pessoa atrás de mim, derrubando seu corpo na areia e me deixando por cima, logo levantando meu punho para espancar a pessoa. Rooster estava ali, no chão e em choque.

– Mas o que?... Seu idiota! – Sai de cima de seu corpo, me afastando dois passos e virando de costas para ele – Faz o que aqui? –.

– Vim perguntar se você está bem, você desmaiou após a simulação – Seu tom também se exaltou um pouco nas suas respostas.

– Eu estou bem. Muito melhor agora – Meu tom era sarcástico, abraço meu corpo, tremendo e tentando afastar os malditos pensamentos intrusivos e flashbacks.

– O que deu na sua cabeça para você fazer aquilo? Me diga – Virando para ele, me segurando para não voar em seu pescoço e matá-lo ali mesmo.

– Você não entende, apenas na minha pele para sentir e saber do meu passado – Mesmo assustado com minha raiva, ele não tremia suas palavras.

– Nós crescemos juntos! Eu não conheci seu pai. O Maverick nos criou e você não admite que a culpa não é dele, ele chora todas as noites por conta do aconteceu e você não é o único que mantém a memória do seu pai vivo, mas você faz isso culpando Pete. Arriscou nossas vidas por uma disputa IDIOTA – Vomitei todas as palavras em um descontrole violento.

– Você não é assim. Não sabe o que fala – As coisas estavam saindo do controle entre nós.

– Cale a boca! Todos aqui não vamos fracassar na missão por um erro seu, todos nós vamos voltar vivos da missão. Abandone o passado, abandone toda sua raiva que você guarda no peito, não é justo arcar com as consequências do que já passou  – Eu já chorava abertamente, querendo vomitar meu coração para fora de meu corpo. Aquele sermão também era para mim e ele também sabia o peso da culpa de cada ato que ambos fazíamos.

Ele fica quieto, me olhando engatilhada e desesperada por conta daquela situação estressante. Tentei me acalmar respirando fundo e apertando minhas mãos até minhas unhas perfurarem a palma das mesmas.

Ele logo se aproxima de mim, em passos lentos, eu logo percebo e vou recuando.

– Não se atreva a... me abraçar – Minhas últimas duas palavras saírem em um sussurro, enquanto seus braços fortes me aproximaram de si.

– Maverick me contou que o seu desmaio foi por conta do T.E.P.T, não sabia que era tão recente assim – Agora uma de suas mãos tocava minha bochecha, acariciando minha pele com o polegar.

– Não mude de assunto – Soluço.

– Está tudo bem – Ele se mantinha calmo, paciente e acolhedor, até que eu me acalmasse e parasse de chorar.

Aquilo durou longos minutos, ele não deixou de me tocar ou me acalmar, apenas acariciava meu rosto, sussurrando palavras carinhosas em meus ouvidos, abafando o som dos flashbacks.

Dos campos minados.

Dos disparos.

Dos gritos.

Das explosões.

Da dor que dominava meu corpo todo.

Logo minha respiração se acalmou definitivamente, me deixando vulnerável ali em seus braços enquanto seus olhos verdes se encontram aos meus.

E como que de maneira natural, logo seus lábios tocaram os meus, em um selinho demorado, acompanhado com um de seus braços rodearem minha cintura e sua outra mão segurando minha nuca de forma carinhosa.

Aquilo me fez travar por dois segundos, logo me derretendo em sua investida, ficando na ponta dos pés para me igualar fracassadamente ao seu tamanho.

– Não... não deveríamos ter feito isso, não é certo – Tento me afastar de seu corpo, ainda desnorteada e me perdendo entre as palavras.

– Para duas pessoas que jamais se esqueceram, acha mesmo que isso é errado? – Sua voz era calma, seus olhos nunca se desviaram dos meus.

Sua mão toca levemente a minha, entrelaçando nossos dedos gentilmente.

– Não... não é – Fui tomando coragem para me aproximar dele novamente, para colocar meus lábios contra os dele.

No fundo, não tínhamos o sentimento de apenas irmãos. Eu vi suas namoradas do ensino médio enquanto morávamos juntos, vi como ele falava de outras garotas com seus amigos, vi como ele ficava com ciúmes quando outro garoto se aproximava com outras intenções comigo. Não era apenas dois irmãos desde o começo.

Não pense, apenas faça.


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