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PARTE 10 | CAPÍTULO 16
EU TE PERDOO
⚜
MORTICIA
Devolvi o pedaço de pergaminho a Nimue depois de terminar de ler o conteúdo da carta. Eu estava estática, como se não conseguisse me mexer.
— Uther vai disponibilizar navios para os feéricos escaparem — disse ela. — Mas agora ele quer que nós duas nos entreguemos a ele.
— Não vou me entregar — afirmei.
— Os paladinos estão com Marie e Esquilo. Ela é sua irmã.
— Quem permitiu que Marie e Esquilo fossem com o Cavaleiro Verde foi você. Tirou até mesmo meu poder sobre minha irmã — exclamei, fingindo surpresa. — Além disso, não vão machucar Marie nem Esquilo, talvez um arranhão ou dois.
— Está fingindo ou não se importa mesmo? — perguntou ela, exasperada.
— Aquelas duas crianças são as coisas mais importantes para mim, Nimue, mas eu sei que ela vai ficar bem. O Monge Choroso está lá.
— Como é capaz de confiar nele, Morticia? Ele mata pessoa. Ele destruiu nossa aldeia.
Joguei minha cabeça para trás, bufando com a ingenuidade da Rainha Feérica.
— Sabe por que não quero ir até Uther? — perguntei, ela assentindo. — Ele já me propôs uma aliança enquanto eu ainda era a Rainha.
— E por que não aceitou? Isso poderia nos ajudar agora.
— Uma aliança matrimonial.
As feições de Nimue paralisaram, não sabendo como responder.
— Rainhas crescem sabendo que um dia precisarão se casar por interesse, nunca por escolha e amor verdadeiro — falei, meu olhar focando na cidade onde carregavam os suprimentos. — Eu não aceitei a aliança porque eu já era casada. Com o hoje conhecido por Monge Choroso.
Nimue tampou a boca com a mão, ainda sem saber o que falar.
— Éramos jovens apaixonados que decidiram se casar de uma noite para a outra. Mas houve um ataque ao meu reino, ninguém sobreviveu. Entretanto, foi tempo suficiente para me consagrarem Rainha.
— E ele não é o rei?
— Ninguém sabia na nossa união, meus pais desconfiavam, mas se sabiam, nunca falaram — respondi. — Ele não era o rei, mas era o meu campeão. O melhor de todos eles. Infelizmente, nós e Marie fomos os únicos a escapar naquele dia.
Enxuguei uma pequena lágrima que escorreu pelo canto do meu olho, tão rápido quanto desceu.
— Marie ainda era um bebê de meses, ela não tinha um nome. Mas foi ele que escolheu "Marie", aquela que ocupa o primeiro lugar.
As lembranças eram dolorosas, mas necessárias. Pelo menos uma última vez, eu precisava tentar ser boa e faze algo que poderia mudar o rumo dessa história.
— Como escondeu as marcas? — perguntou ela. — O Monge Choroso também as tem.
— Um feitiço que agora está acabando — respondi. — Precisamos fazer sacrifícios por um bem maior.
Vi Nimue se afastar, um pequeno sorriso em seus lábios. Um sorriso de despedida.
— Se vai mesmo até Uther Pendragon, e se conseguir achar Esquilo e Marie, pode dizer que eu os amo? — pedi, esperançosa.
— Você mesma vai dizer isso a eles — disse ela, abrindo a porta do salão.
Antes que ela pudesse sair, a chamei mais uma vez:
— Sinto muito se fui uma má pessoa nas últimas semanas.
— Eu que deveria me desculpar — negou. — Tirei sua coroa.
— Quer saber a verdade? Acho que será uma boa rainha.
Assim que ouvi o estalar da tranca da porta, respirei fundo algumas vezes, reprimindo a minha vontade de gritar de raiva e dor. Aqueles ali eram meus últimos minutos, mas eu ainda precisava encerrar assuntos pendentes com Merlin, com Lancelot, e talvez até com Deus.
Arthur havia tentado falar comigo, pedir ajuda para controlar as pequenas rebeliões que se formavam entre feéricos e humanos. Até mesmo alguns feéricos — os únicos que me apoiavam — tentaram pedir por ajuda. Mas eu não poderia fazer nada, não quanto muitos depositaram toda a sua fé em uma causa perdida, na rainha errada.
Fiquei de pé no meio da sala do trono, meu corpo tenso com o que eu faria a seguir. Todos já deviam estar a caminho dos navios a essa hora.
Invoquei aquela chama de poder maligno, batalhando com ele para que um chama branca de acendesse em poder cru e poderoso.
A chama de difundiu entre os mundos até chegar a Merlin e devolver seu poder que fora roubado. Eu o devia isso.
Vi Esquilo e Marie uma última vez, os dois amarrados por cordas até que alguém fosse libertá-los. Nem sabia se conseguiriam me ver, mas falei que os amava e que sentia muito.
Também vi meu primeiro e único amor ajoelhado em frente a uma cruz. Suas costas estavam dilaceradas, os cortes pingando sangue. Ele chorava enquanto rezava. Ouvi meu nome saindo de sua boca algumas vezes.
Eu o chamei em um sussurro, torcendo para que me escutasse. Lancelot parece ter me ouvido, já que virou para trás e seus olhos encontraram os meus. Eu te perdoo.
Minha consciência logo voltou para a fortaleza em Gramaire. Um novo peso fora acrescentado em minhas costas, mas senti meu corpo caindo enquanto meus olhos se fechavam pela última vez.
Uma velha amiga me recebeu de braços abertos — a Morte.
Mas eu não recebi o perdão divino.
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03.10.20
𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒:
Como prometido já que hoje é meu aniversário, aqui um capítulo fora do dia da programação.
Eu também já publiquei o Epigraph e os capítulos com o elenco. Se puderem dar uma passadinha, eu agradeço. Preparados para o final que se aproxima?
Aliás, gostaram da capa nova?
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[atualizações às terças e quintas]
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