𝐢𝐱. 𝑇𝐻𝐸 𝐵𝐸𝑆𝑇 𝐶𝐻𝐴𝑀𝑃𝐼𝑂𝑁

PARTE 6 | CAPÍTULO 9
O MELHOR CAMPEÃO

Eu não acredito em
nenhum demônio
Porque eu criei
este inferno

MORTICIA

- Acha que vamos deixá-la cavalgar para o sul? - perguntou Gawain, impedindo que Nimue passasse.

- Preciso chegar até o Merlin - disse ela. - Minha mãe queria que eu entregasse a Espada do Poder a ele.

- Lenore não poderia prever o curso desta guerra. Essa espada pode proteger as fazendas. - Notando minha aproximação, Gawain me perguntou: - Onde está a Espada Alma? Ela seria de grande ajuda.

- Foi roubada - respondi. - Sei onde está, mas não consigo pegá-la.

- Então vamos tentar pegá-la - afirmou. - O Monge Choroso está queimando as plantações. Estão queimando nosso vale, e devemos responder.

- Levando em consideração que foi ele a roubar minha espada, não vejo o que podemos fazer a respeito - falei. - Mas se quer ir até Merlin, vou com você.

- Não! Você é a rainha - exclamou Gawain. - Não pode se arriscar.

Atrás de nós, ouvimos a voz de Arthur nos cumprimentando, um sorriso presunçoso em seu rosto. Ele e Nimue se olhavam, um feliz pelo outro.

- Eu estava indo procurá-lo - disse Nimue.

- Cavaleiro Verde, o Conselho - uma feérica da guarda o avisou, precisando que ele fosse até ela.

Gawain pediu para que esperasse um pouco.

- Deve ter paladinos nas trilhas, ou ladrões.

- Espera, quer ir pelas trilhas? - exclamei, assustada.

- Eu acompanho as duas - disse Gawain, exasperado. - Me esperem na trilha norte, levarei cavalos.

- Não é necessário - negou Arthur. - Eu mesmo posso escoltá-las.

- Não precisamos de escolta - afirmou Nimue. - Não foi fácil tomar essa decisão, mas preciso ir até o Merlin. E a Morti comigo já será o bastante, ela pode queimar qualquer um que aparecer pelo caminho.

- Forasteiros não protegem os membros do nosso clã - Gawain voltou a falar com Arthur.

- Vamos deixar elas decidirem se sou um "forasteiro".

- Vocês, homens, são ridículos - afirmei, logo sorrindo para a feérica que aguardava ao meu lado. - Kaze, parece que precisaremos de escolta. Pode nos acompanhar?

- Providenciarei cavalos, majestade - respondeu.

Fora da caverna, enquanto Kaze foi buscar nossos cavalos, Nimue foi até onde Morgana tentava se comunicar com entidades. Ela estava abalada, não queria ter fugido e sim lutado. Mas ela se juntaria a nós nessa luta.

Senti um par de bracinhos em minhas pernas. Quando olhei para baixo, Esquilo e Marie me apertavam.

- Você vai embora? - perguntou Esquilo. - Vai nos deixar aqui?

- Vai me deixar? - os olhinhos chorosos de Marie. - De novo?

Congelei não sabendo o que falar. Me doía vê-la com medo de ser abandonada, principalmente por mim. Eu queria falar que tudo ficaria bem, mas seria mentira. Saindo da caverna, Gawain correu rapidamente até mim.

- Querem você no Governo, Morti - disse ele. - Se alguma coisa acontecer, precisamos que esteja aqui em segurança. Não temos como mandar uma equipe para escoltá-la.

Marie e Esquilo me pediram novamente para ficar ali, para que eu não fosse.

- Fiquei aqui, Morti - disse Nimue a mim. - Morgana irá junto. Kaze vai nos proteger.

Assenti. Me despedi brevemente delas, desejando boa sorte. As duas crianças comemoraram, mas pedi para que entrassem e me deixassem trabalhar. Gawain foi cavalheiro ao me oferecer o braço para voltarmos para dentro, onde o Conselho estava reunido.

Nas pedras, alguns mapas da região foram estendidos. A maioria comporta por membros mais velhos, poucos eram os novos. Eles deveriam estar em treinamento ou ser filhos. Reconheci Cora, a mesma me oferecendo um pequeno sorriso quando entrei.

- Os mantimentos acabaram, não há comida para as crianças - disse ela. - Os paladinos queimaram mais seis fazendas incluindo as duas que forneciam farinha. Só sobrou um moinho funcionando, o de Moycraig. E apenas uma estrada até ele. Um comboio trará comida, mas precisarão de um guia.

- Eu oriento o comboio - disse Gawain. - Sozinho. Não podemos correr o risco de chamar atenção.

- Os paladinos estão em maior número - falei. - Se parte deles estiver na região, não dará conta sozinho. Além disso, por que só essa estrada está aberta?

- Ela está certa - disse Arthur, se aproximando. - Nossa gangue fechava estradas para visar as que estávamos observando. É uma isca dos Paladinos Vermelho. Se vão morder a isca, que levem soldados então. Sete homens, no mínimo.

Pisei no pé de Arthur, ele segurando um palavrão.

- Ou, talvez, a Morticia sirva - disse com dor. - Eu acho que ela dá conta de uma briga. Mas eu vou com vocês.

- Os ossos de humanos se quebram facilmente e eles comem demais - reclamou o velho ancião. - Mas temos poucos guerreiros, então, Cavaleiro Verde, deve aceitar a ajuda. Posso mandar mais três homens.

- Contando com Morticia, seis ainda não é o bastante.

- Esse daí é seu braço direito? - perguntou Gawain, apontando para a o garoto que tentava espiar por cima do ombro de Arthur.

- Ele vai servir.

- Tudo bem - disse Gawain. - Majestade, você não vai.

- Vou sim - exclamei indignada. - Precisam de ajuda, e eu sou uma das melhores opções que tem.

- A rainha estará mais segura com você, Cavaleiro Verde - disse Cora. - Bem mais segura do que aqui.

Então estava decidido. O olhar do garoto com Arthur me incomodava. Ele não parava de me examinar de cima a baixo, seus olhos mostrando os pensamentos impuros que passavam por sua mente.

Seriam longas horas até o sol de pôr.

Todos que sairiam já se preparavam para partir. Gawain se equipava com as lâminas e o capacete de metal verde. A adaga que Morgana me entregará na Abadia estava comigo, caso algo acontecesse.

- Cavaleiro Verde, senhor - chamou Esquilo, atrás de nós.

- Eu te conheço, menino?

- Desde pequeno, em Dewdenn.

- Quem é o seu pai? - perguntou Gawain.

- Gullayad, senhor.

- Gully - lembrou, fazendo-o rir. - Ela um gordo naquela época, mas era muito bom de caça.

- Ele está morto agora, senhor - disse Esquilo, tristemente.

- Você é o chefe da família, então - afirmou Gawain, tentando esconder a pontada de dor pela perda.

- Sim, senhor. E já que vou acompanhá-los hoje atrás de comida, devo levar uma espada ou uma lança?

Me abaixei, até estar perto de sua altura. Coloquei minhas mãos em seus ombros, o fazendo me encarar atentamente.

- Você não vai ir conosco, Esquilo - falei. - Ainda não, pelo menos. Depois que receber o treinamento completo, farei questão de consagrá-lo um de meus cavaleiros, está bem?

- Quero ver minha família vingada, Morti - disse ele.

- Eu sei que quer, e eu vou garantir que isso aconteça. Mas não agora. Hoje, preciso que fique aqui e cuidando de Marie. Pode me prometer que vai protegê-la enquanto eu não estou?

- Eu prometo.

- Ótimo - assenti. - Agora vá.

Assisti Esquilo se afastar, correndo para onde Marie deveria estar lhe esperando. Gawain pousou uma mão em meu ombro, o apertando delicadamente.

- O menino tem coragem.

- Ele tem - confirmei.

- Se fará mesmo o que disse, ele será um de seus maiores campeões.

- Preciso voltar ao trono antes.


A voz do garoto que nos acompanhava já estava me irritando. Eu não era conhecida por ter um bom temperamento, apesar de eu não sair arrancando cabeças à toa.

Eu era conhecida por ser leal a justiça e por saber quando era necessário ser má. Eu estava começando a achar a voz dele um bom motivo para queimá-lo até virar cinzas.

Agora, ele falava sobre o brasão de família que ele mesmo desenhou, um urso segurando dois salmões no alto. Mas antes que eu pudesse corrigi-lo, um dos cavaleiros o chamou de imbecil já que ursos não tinham polegares.

E aquele garoto tonto empunhou a espada afiada com um sorriso, falando que não era necessário o apego ao real. Mais uma vez, respirei fundo, tentando acalmar a chama que em mim queria sair.

- Moycraig fica depois deste bosque - disse Gawain. - Terminem.

Esperávamos pacientemente os cavalos se alimentarem. Era boa já que eu podia esticar as pernas. Mas aquele garoto me fazia odiar a habilidade de escutar.

- Qual a batalha que não sai da sua memória, Cavaleiro Verde? - perguntou ele, fingindo movimentos com a espada. Eu silenciosamente torcia para que acertasse a lâmina na própria cabeça.

- Na primeira batalha, eu e meus amigos formamos a Guarda Feérica. Esperamos pelos paladinos e matamos alguns enquanto comiam, outros enquanto mijavam na grama. Uma vez invadimos um acampamento e cortamos sete gargantas enquanto dormiam. Eu me afastei, me escondi nas árvores, mas então vi que pegaram meu amigo. Carden, o líder deles, gritou para que eu fosse salvá-lo. Até hoje não sei como ele sabia que estávamos em dois. Ele segurou uma tocha na pele do meu irmão e arrancou os olhos dele.

O silêncio era desconfortável.

- Eu me sentei naquela árvore enquanto o torturavam até a morte. E eu não me rendi, porque se o fizesse, seriam dois Guardas Feéricos mortos. Eles matam prisioneiros, mulheres, crianças. Humanos não têm alma.

Os olhos do garoto estavam arregalados, seu corto tremia levemente. Ele tinha medo do rumo que aquela conversa tinha chegado, mas aquilo o calou.

Assim que os cavalos terminaram de comer, voltamos a montar neles. Alisei a crina no lindo cavalo branco, ele esticando a cabeça com o movimento da minha mão, me dando assim permissão para montá-lo.

Gawain me esperava mais a frente, como meu próprio cavaleiro.

- Um conselho, garoto, como Rainha das Cinzas: não se sinta poderoso por empunhar uma espada. Eu poderia queimar os corpos de todos aqueles que me irritassem, mas isso me rebaixaria a eles. Mas se tiver a oportunidade, arranque quantas cabeças de Paladinos Vermelho puder.

Uma hora depois, estávamos na clareira, perto dos campos onde fomos mandados. Eu refleti nesse meio tempo sobre minhas atitudes. E cheguei à conclusão de que eu estava mole. Eu não achava a rainha de sangue frio e queimaria qualquer alma que se colocasse em seu caminho.

E eu precisava daquela máscara mais do que nunca, sendo ela o que me mantinha em meu título. Ao mesmo tempo, ela era que me fazia ter os pensamentos assassinos.

Gawain e Arthur discutiram novamente quando chegamos a um ponto onde poderíamos deixar nossos cavalos. Arthur queria prosseguir com eles e os arcos preparados, e Gawain queria ir a pé. Cansei da discussão besta dos dois, descendo no mesmo instante do cavalo.

- Não quer me ouvir porque sou humano? - questionou. - É melhor morrer do que me ouvir?

Gawain o ignorou, chamando pelo garoto destrambelhado que tentava amarrar o cavalo a árvore.

- Pode vir conosco até o moinho ou ir pegar água com ele - disse, se referindo a Arthur.

O garoto parecia indeciso, gaguejando aos nossos olhares frios. Arthur o dispensou com um gesto de mãos, mas a garoto nos surpreendeu ao falar que pegaria água com Arthur.

Assentimos, indo ao caminho contrário. Enquanto eles ficaram para trás, subimos o pequeno morro em direção aos campos. Os cavaleiros formaram um círculo de proteção ao meu entorno. Mesmo com meus protestos, Gawain garantiu que seria mais seguro assim, que não podiam correr o risco de me perder.

Me preparei para retrucar mais uma vez, mas não consegui.

Uma flecha passou a centímetros de meu rosto.

Quando olhei para trás, a flecha havia atravessado o corpo do garoto que colapsava no chão até a morte.

Só uma pessoa, uma que não era normal, tinha a habilidade para atirar com tanta precisão. Como um aviso para mim.

Então a emboscada começara.

━━━━━━

10.09.20

𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒:
O que estão achando? Alguma cena que não querem que fique de fora?


VOTEM e COMENTEM
[atualizações às terças e quintas]

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top