Capítulo 2 - LEMBRANÇAS AMARGAS
Estávamos passeando no Lithia Park, o maior parque de Ashland, onde podíamos respirar o ar florestal e ver cervos passeando livremente.
Alexander andava devagar, segurando minha mão. Eu já havia contado o que aconteceria comigo e ele parecia pensativo. Caminhávamos em um silêncio confortável, seu polegar acariciando minha mão suavemente.
Ele suspirou, então parou e ficou na minha frente, olhando-me nos olhos, a expressão séria de quem tinha algo muito importante para falar.
— Ouça, Evie... — ele hesitou, acariciando meu rosto. — Sei que nos conhecemos há pouco mais de um mês, mas eu sinto como se te conhecesse a minha vida toda. Você é muito especial para mim.
Eu sabia o que ele queria dizer, sentia-me exatamente assim com ele.
— Eu sei. Você se tornou muito importante para mim. — eu sussurrei.
— Não estou pronto para me afastar de você para sempre. — ele continuou. — Não quero te perder, e se você for embora, nunca mais nos veremos.
Eu não queria chorar, mas uma lágrima escapou, solitária, rolando pelo meu rosto. Alexander a enxugou.
— Eu não quero isso. — eu respondi. — Mas não tenho escolha. Minha vida já foi decidida.
— Como pode dizer isso? — ele parecia frustrado. — Você é uma pessoa, não um boneco controlado pelo teu pai! Você tem uma escolha.
Eu balancei a cabeça negativamente.
— Você não entende como as coisas funcionam na minha família. Meu pai...
— É um empresário cheio da grana que acha que pode controlar o mundo. — ele me interrompeu. — Mas você não precisa aceitar isso, Evie. Nunca conheci alguém como você. És uma garota linda, vibrante, talentosíssima, cheia de vida e alegria... Se te forçarem a fazer algo que você não gosta, vai murchar como uma flor no inverno.
— Eu sei. — eu chorei. — Mas meu pai já decidiu e não admite discussão.
— Então não discute.
Eu o olhei, confusa.
— Não diz nada. — ele continuou. — Simplesmente vai e faz o que você ama.
— Mas meu pai...
— Ele vai ficar com raiva no início, mas depois vai te perdoar. Se você fizer o que ele quer agora, mais tarde ele vai dar um jeito de decidir tudo na tua vida. Desde os cursos de mestrado e doutorado até o homem com quem você vai casar, a casa onde vai morar e quantos filhos vai ter. Se há um momento em que você precisa tomar as rédeas da tua própria vida, é agora.
Eu sabia que o que ele dizia era verdade, mas isso não tornava as coisas menos complicadas para mim.
— Não sei como fazer isso, Alex. Você não conhece meu pai. De um jeito ou de outro, ele vai conseguir o que quer, porque é isso que ele faz. É um homem implacável.
Ele me abraçou apertado, depois me deu um beijo casto nos lábios.
— Você pode fazer isso, só precisa de coragem e determinação. — ele insistiu.
— Alex... — eu suspirei. — Mesmo que eu queira fazer exatamente o que você disse e, acredite, eu quero, ainda sou menor de idade, legalmente dependente dos meus pais.
— Mas não por muito tempo. Você não faz aniversário em duas semanas?
— Sim.
— Então, você pode se matricular na Juilliard para estudar música em vez de ir cursar administração empresarial e economia em Columbia. Nós podemos ser músicos profissionais juntos.
Eu o olhei, curiosa. Quando fiz minhas inscrições em universidades por todo o país, foi por capricho, pois meu pai já havia decidido que eu estudaria em Columbia. Juilliard foi uma das que me aceitaram, fiz uma audição por vídeo, mas ainda precisaria confirmar a matrícula e meu pai jamais permitiria isso.
— Você quer estudar em Juilliard também?
— É claro. Quero me tornar um guitarrista mundialmente famoso, podemos formar nossa própria banda de sucesso. — ele segurou minhas mãos, apertando-as em seus dedos compridos. — Não será fácil, mas somos talentosos, podemos fazer isso.
— Isso é loucura, Alex.
— Não é, não. É a busca pela realização dos nossos sonhos. Eu te amo, Evie. Quero que sejamos um par para sempre.
Eu estava chocada com essa declaração repentina.
Ele me amava?
Éramos apenas adolescentes, como poderíamos saber o que era amor? Mas eu entendia como ele se sentia, pois meu coração batia por ele.
De repente, Alexander me tomou em seus braços, beijando minha boca com uma possessividade que era nova para mim. Ele mordiscou sensualmente o canto dos meus lábios, pedindo para aprofundar o beijo, e eu permiti. Nossas línguas começaram uma dança deliciosa, explorando, provando. Me senti derreter em seus braços.
Quando acabou, ele disse:
— Casa comigo Evie. Sei que somos jovens, mas estou perdidamente apaixonado por você. Quero que você seja a minha esposa, que esteja comigo em todos os momentos. Eu te amo.
Meu lado racional dizia que isso era insano, nunca daria certo. Mas uma parte romântica de mim dizia que era o certo a fazer, porque nos amávamos.
Então eu respondi:
— Sim, sim, sim! — abracei-o apertado, beijando-o na boca macia. — Eu também te amo e quero estar com você para sempre.
Você pode estar pensando que sou louca. Na verdade, eu era muito ingênua e crédula. Acreditei em todas as promessas de amor do Alexander. Eu realmente o amava muito e imaginava uma vida perfeita ao lado dele, conquistando nossos objetivos, sendo famosos.
Nos casamos em Las Vegas dois dias depois do meu aniversário. Obviamente tivemos que fugir para fazer isso. Mesmo que minha mãe não concordasse com o modo como meu pai controlava minha vida, ela jamais permitiria que sua filha se arruinasse dessa forma.
Sim, você está lendo certo. Minha mãe achou que esse casamento era a minha ruína, e ela estava certa.
Para começar, tivemos que reunir todas as nossas economias para começar uma vida em Nova Iorque por nossos próprios meios, pois meu pai, ao descobrir que eu havia me casado e confirmado minha inscrição em Juilliard para estudar música, simplesmente me deserdou.
A partir daquele momento, Samantha seria a única herdeira do império bilionário de Richard Grimmer.
Não que isso tenha importado muito para mim, de qualquer forma, pois apesar de minha atitude impensada, minha mãe jamais me deixaria desamparada. Além do mais, eu havia guardado 80% de todas as minhas mesadas durante cinco anos, o que era uma quantia substancial.
Eu ganhara uma bolsa em Juilliard e confiava em meu próprio talento para obter sucesso. Alugamos um apartamento em um bairro de classe média de Nova Iorque, onde tivemos nossa lua-de-mel. Não houve luxo nem mimos, mas era o nosso cantinho e estávamos felizes.
Ambos começamos a estudar naquele outono, e passamos os próximos dois anos e meio nos aperfeiçoando e profissionalizando. Alexander havia se tornado um guitarrista ainda melhor do que antes, ainda que menos dedicado. Meu marido havia se afeiçoado a festas e bebidas, chegando muitas vezes de madrugada em casa, enquanto eu continuava focada nos estudos.
Naquele tempo eu já era uma pianista e cantora excelente, faltava menos de dois anos para terminar o curso e estava feliz comigo mesma por todas as conquistas acadêmicas.
Meu pai nunca mais havia dado sinais de que tinha outra filha além da Samantha. O que ele disse que faria, o fez. Como sempre.
Sam, por outro lado, havia me dado seu inesperado e total apoio. Ela lamentava a atitude de nosso pai e se disponibilizava a estar comigo quando eu precisasse, o que era um grande alívio, dado a nossa relação conturbada na adolescência.
Minha irmã e minha mãe nos visitavam pelo menos duas vezes por ano, e Sam era muito divertida e gentil comigo como nunca tinha sido antes. Alexander, é claro, era encantador o tempo todo. Estávamos bem.
Eu poderia dizer que consegui o que queria e que Alexander e eu vivemos felizes para sempre, mas, como já disse antes, este não é um conto de fadas e nosso fim chegou sem que eu esperasse.
Aquele havia sido um dia extremamente cansativo. Eu havia participado de quatro audições seguidas para tocar e cantar em musicais da Broadway. Realmente exaustivo. Apesar do cansaço, estava muito contente porque havia conseguido a vaga almejada em duas das peças. Queria chegar depressa em casa para contar as novidades ao meu marido. A empolgação me deixava ativa.
Por sorte, consegui pegar o metrô cedo e assim cheguei em casa meia hora antes do que havia dito para o Alex ao telefone quando esperava a minha vez na última audição.
Peguei o elevador do nosso prédio e subi até o quarto andar, onde ficava nosso apartamento. Puxei minha chave da bolsa, com pressa de contar as novidades e entrei.
Para a minha surpresa, o apartamento estava às escuras. Fiquei confusa. Alexander disse que já estava em casa quando nos falamos.
Vi uma luz suave que vinha da fresta da porta do nosso quarto e me aproximei, tirando os sapatos e baixando a bolsa no sofá da sala.
Quando estava perto da porta, ouvi alguns barulhos abafados e meu sangue gelou. Eu reconhecia esse som. Quantas vezes eu mesma emitira esses gemidos de prazer?
Eu sabia o que estava acontecendo. Minha mente registrava tudo a uma velocidade vertiginosa. Mas uma força invisível me impelia para a frente, sugando-me para esse abismo torturante que me deixava mais despedaçada a cada passo que eu dava.
Da porta do quarto eu pude ver meu marido amado, a quem eu me dedicara desde o início, com quem eu compartilhara meus sonhos e lutava dia após dia para alcançar nossos objetivos. Meu marido, que tinha sido meu porto seguro, meu primeiro amor, meu primeiro amante, aquele que me ensinara tudo o que eu sabia sobre a arte do amor.
Eu podia vê-lo ajoelhado na nossa cama em todo o seu esplendor nu. Suor escorria pelo seu peito, os cachos molhados caindo na testa, os olhos fechados com uma expressão de dor e prazer que eu tinha visto tantas vezes antes.
Meu coração sangrava ante essa visão, pois à sua frente, deitada de barriga para baixo, com os meus travesseiros debaixo de seu quadril estreito, gemendo e falando obscenidades estava uma mulher alta, de pele clara e cabelos lisos curtos de tom loiro-escuro, exatamente da mesma cor que os do nosso pai.
Oi! Muita loucura da Evelyn casar assim, né? E quem já sabia que o Richard ia reagir assim, levanta a mão, hahaha.
Pois é, ela era controlada pelo pai e não sabia se impor, e depois foi imprudente e inconsequente ao fugir para se casar, não dando ouvidos à sabedoria de sua mãe. Eu sei que há casos e casos, mas na maioria das vezes, a mamãe sempre sabe o que é melhor.
O resultado de sua decisão apressada foi um coração ferido, mas ela também aprendeu muita coisa, não acha? Continue lendo para saber que outras lembranças a Evelyn vai contar. Beijos no coração e... TCHAU!
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