Capítulo 5 - JANTAR EM FAMÍLIA
Estávamos sentados em um restaurante de culinária francesa muito apreciado, com algumas Estrelas Michelin, seja lá o que isso significasse. Eu só sabia que o chef era conhecido por ser inovador e muito talentoso.
Realmente, eu não me importava muito com essas coisas de status. Desde que a comida fosse saborosa, valia que meu dinheiro fosse gasto com ela. Eu era uma cozinheira simples, mas sabia apreciar a boa comida.
Bryce e Julie tinham aquelas expressões apaixonadas que até a pessoa mais distraída podia perceber.
Eu os observei em silêncio enquanto ambos falavam sobre coisas aleatórias, sempre tentando me incluir na conversa, mas eu não estava colaborando. Eu sei que isso fazia de mim uma megera. Meus melhores amigos tentando me fazer feliz e eu ali, calada e séria.
Não sei como eles me aguentavam.
— Então... — Julie começou, em um tom que eu conhecia bem demais para ignorar. — Eu recebi a lista dos atores, produtores e toda a equipe do filme que vai se hospedar na mansão essa semana.
— E... — eu a impeli a continuar.
— Bom, tem dois que você já sabia, com certeza, já que foi você mesma que os escolheu para os papéis. Mas tem outro que entrou recentemente. Ao que parece, o ator que faria o papel do vilão ficou muito doente, então ele foi substituído.
— Eu ouvi sobre isso. Desejei, por mensagem, saúde ao ator que deixou o filme, mas estava muito ocupada finalizando meu último livro. Você sabe como eu fico quando chego na reta final.
— Eu sei... — ela parecia nervosa. Eu estreitei os olhos. — É que o ator substituto é o Dylan Martin.
Eu fiquei de boca aberta.
Dylan Sean Martin era o irmão mais velho da minha antiga assistente.
Depois das coisas que ocorreram com o Bryce, eu havia decidido ficar sozinha por um tempo. Meu amigo se divertia com algumas mulheres, adiando seus planos de se tornar homem de família, enquanto ficava tentando me fazer relaxar e encontrar minha "alma gêmea". Eu dispensava suas tentativas e seguia minha vida, mas é claro que me sentia solitária.
Amanda já trabalhava comigo há mais de seis meses quando seu irmão a chamou para um jantar de família. Por algum motivo, ela decidiu que seria bom para mim se eu a acompanhasse nesse jantar. Como sempre, eu declinei do convite.
Entretanto, podemos dizer que Amanda era... tenaz. Quando ela queria alguma coisa, não descansava até conseguir.
Ela ficou insistindo até que eu cedi, então começou a pular e rir como uma criança quando soube que eu iria ao jantar com ela. Eu morava em Upper West Side, Distrito de Manhattan e a família dela se reuniria em Midtown Manhattan.
Durante todo o percurso para a casa de sua irmã, onde os seus quatro irmãos estariam reunidos, Amanda não cansava de falar de seu irmão mais velho, um ator de trinta anos que estava se tornando famoso por interpretar vilões em séries televisivas. O último vilão interpretado por ele era um vampiro que deixava o público feminino maluco.
Ao chegar na casa de sua irmã, fomos recebidas por uma linda jovem que aparentava ter a minha idade. Assim como Amanda, ela era ruiva, mas enquanto os cabelos lisos de Amanda eram cortados na altura da nuca, a outra moça tinha bonitos cachos que chegavam até o meio de suas costas.
— Evie, deixe-me apresentá-la à minha terceira irmã, Ashley. Ela é a dona da casa.
— Boa noite. — eu a cumprimentei com um sorriso. — É um prazer.
— O prazer é todo meu. — ela era simpática. — Toda pessoa que Amanda gosta é bem-vinda.
— Obrigada. Você tem uma bela casa. — eu falei enquanto ela nos guiava pelo hall de entrada por um corredor que terminava em uma bonita sala de jantar.
Uma mesa com dez lugares estava posta e ocupada com um grupo alegre e barulhento. Olhando rapidamente, contei seis pessoas sentadas.
— Chegamos! — cantarolou Amanda alegremente. — Pessoal, quero lhes apresentar a melhor empregadora do mundo, a famosa escritora Evie Grim!
Eu corei furiosamente.
— Boa noite. — eu disse e todos responderam.
Um a um, Amanda foi me apresentando sua família.
— Alison, minha quarta irmã.
Amanda me mostrou uma moça idêntica à Ashley, cujos cabelos cacheados chegavam até a cintura.
— Hum. — ela desdenhou. — Sou a quarta por dois minutos de diferença. É uma honra conhecê-la, Evie. — ela me deu um beijo no rosto. — Sou leitora assídua das tuas obras. Esta é a minha namorada, Header.
Uma bonita morena de cabelos curtos me cumprimentou amavelmente.
— Evie, este é o meu marido, Carl. — Ashley me apresentou a um homem loiro que devia ter uns vinte e cinco anos. Era evidente que se amavam pela forma que se olhavam e estavam sempre se tocando. — E esta é a minha cunhada, Lisa.
Uma moça muito parecida com Carl acenou. Ela tinha cabelos loiros semilongos e devia ter a idade da Amanda. Era muito bonita.
Um homem um pouco mais velho que Carl se aproximou com um sorriso encantador. Ele era alto e tinha cabelo liso ruivo, assim como Amanda, e as feições deles eram muito parecidas. O rosto era bem barbeado.
— Daryn, encantado por tamanha beleza.
Ele beijou minha mão com charme e me convidou a sentar em uma cadeira ao seu lado.
Observei um outro homem sentado à cabeceira da mesa. Diferente dos outros, ele tinha uma postura mais reservada, estava quieto e sério. Tinha os cachos das gêmeas, mas ao passo que os olhos de todos os irmãos eram verdes, ele tinha olhos azul-esverdeados, quase como os meus. Seu rosto ostentava uma barba cerrada bem-feita.
— Evie, este é o meu irmão mais velho, Dylan. Ele é ator. — Amanda me apresentou, como se já não tivesse falado muito dele para mim.
— Olá, Dylan. — eu estendi a mão para apertar a sua e ele levantou para me cumprimentar.
— Seja bem-vinda, Evie. Fique à vontade. — sua voz vibrante de tenor, combinada ao sorriso de canto de lábios, enviou um choque elétrico por mim.
Ele tinha 1,80 m de altura e um cheiro cítrico intrigante, como uma mistura de frutas vermelhas e limão. Fiquei arrepiada ao contato de sua mão na minha.
— Obrigada. — eu corei e sentei na cadeira que Daryn me mostrou.
A conversa fluía animada ao redor da mesa enquanto os pratos eram servidos. Uma deliciosa vitela assada de forno com molho Bordeaux, acompanhada de arroz branco e costela de cordeiro grelhada ao molho de nozes, acompanhada de purê de batatas. A sobremesa foi uma torta de cream-chease e morangos.
A companhia era muito agradável, estava feliz por Amanda ter insistido em me levar.
Daryn conversava muito comigo, aparentemente curioso sobre o meu trabalho. Eu notava os olhares ciumentos de Lisa que, descaradamente, alternava olhares atrevidos entre Daryn e Dylan.
Dylan continuava muito quieto, observando sua família e apreciando a comida. De vez em quando nossos olhares se encontravam e eu corava como uma colegial, desviando o olhar.
Daryn me contou que era um publicitário de vinte e sete anos que trabalhava com famosos, incluindo o próprio irmão. Seu sorriso fácil me deixava à vontade, ele realmente devia ser um ótimo publicitário.
Descobri que as gêmeas tinham vinte e três anos e foram uma tentativa de seus pais de terem uma menina depois dos dois meninos e Amanda foi um acidente, isso não a abalava de nenhuma forma, dizia ela, pois era a mais cuidada e mimada de todos.
Ashley era designer de interiores e Carl era arquiteto. Eles se conheceram ao trabalhar juntos na construção da casa de um empresário recém-casado. Alison e Header eram secretárias na mesma empresa e Lisa era estudante de moda, sonhava em ser uma grande estilista. Amanda, por sua vez, sonhava em ser escritora, por isso gostava tanto de trabalhar comigo.
Quando o jantar acabou, todos se reuniram na sala de estar para beber vinho, uísque ou café, no caso dos que iam dirigir, como eu.
Não conseguia deixar de olhar para Dylan por mais do que alguns minutos. Meus olhos eram inevitavelmente atraídos para ele.
Daryn me fazia sentir bem, mas havia algo em Dylan que me atraía. Ele tinha uma tristeza no olhar, uma dor que tentava esconder. Eu, porém, já tinha sentido dor suficiente para reconhecer alguém que sofre.
Jogamos um jogo de cartas, conversando e rindo, depois encerramos a noite. Já passava das 23 h quando eu e Amanda nos despedimos de sua família. Ela morava em um apartamento a algumas quadras de mim, então eu a deixaria em casa.
Dylan me ajudou a acomodar Amanda no carro, ela estava bêbada. Ele e Header eram os únicos além de mim que não beberam, pois ela iria levar Alison e ele iria levar Daryn e Lisa para suas casas.
Quando Amanda estava bem acomodada e com o cinto de segurança posto, eu dei a volta no carro para abrir a porta do motorista.
— Espere, Evie. — Dylan me chamou, aproximando-se. — Espero que a noite tenha sido do seu agrado.
Ele tinha um charmoso sotaque britânico, mais acentuado que o de Daryn. Todos eram britânicos, mas Amanda e as gêmeas não tinham sotaque.
— Foi uma noite maravilhosa. — eu respondi, sorrindo. — Vocês são uma família bem alegre. Eu gostaria de ter tido uma família grande assim.
Suspirei pesarosamente ao notar que tinha falado demais.
— Você não tem irmãos? — ele parecia genuinamente interessado.
— Não que eu fale. Minha irmã mais velha mora na Itália. Não a vejo nem falo com ela há dois anos.
— Deve ser difícil viver longe da família, sozinha. — ele ponderou. — Se me permite a pergunta indelicada, quantos anos você tem?
Eu sorri, embaraçada, pois tinha certeza de que ele me consideraria muito nova. Tínhamos oito anos de diferença.
— Tenho vinte e dois anos.
— Hum... — ele parecia estar pensando em alguma coisa. — Eu sei que é um tanto repentino, mas você aceitaria sair comigo qualquer dia desses? Tomar um café, jantar ou passear, qualquer coisa que você quiser.
Eu o olhei, surpresa. Pelo visto o interesse não era unilateral.
— Claro, por que não? — eu sorri, contente.
Nesse momento, a porta da casa se abriu para revelar uma Lisa muito bêbada sendo escoltada por Daryn. Ele estava alto, mas ainda muito consciente. Observou atentamente a postura de seu irmão perto de mim e balançou a cabeça negativamente, dizendo:
— Droga. Quando eu conheço uma deslumbrante loira que não é chata nem metida, você se interessa por ela. — ele reclamou. — Idiota. Sabe que eu não tenho chance contra você. Elas sempre te preferem.
— Eu sou loira também, olha. — Lisa levantou uma mecha de cabelo, quase a esfregando no rosto de Daryn, que a ignorou.
— Ela é preciosa. — Daryn continuou dizendo para Dylan. — Dá para ver assim que a conhecemos. Espero que você não quebre seu coração, irmão.
Ele foi para o carro e acomodou Lisa no banco de trás, sentando-se em seguida no banco do carona. Dylan suspirou.
— Ele pode estar certo. Eu tenho problemas que podem estragar tudo antes mesmo de começar. Acho melhor não arriscar.
— Por que não deixa que eu avalio isso? — eu sugeri. — Todos temos problemas, não é motivo para deixar de fazer alguma coisa. Eu realmente me interessei por você, Dylan. Já faz algum tempo desde que isso aconteceu, quero aproveitar essa chance.
— Tem algo em você que me convida a descobrir mais. Eu quero te conhecer melhor, bela Evie. — ele respondeu.
— Ótimo. — passei o número do meu telefone para ele.
— Boa noite, Evie Grim. — ele murmurou, acariciando meu rosto.
— Boa noite, Dylan Martin.
Eu entrei no carro e fui para casa, vendo-o pelo retrovisor até dobrar no fim da rua.
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