PARTE 3 - FINAL
- A senhora está procurando José Junior Ferraz?
Ela olhou para trás e ficou boquiaberta. Mesmo passado tanto tempo ainda pôde reconhecê-lo. Os olhos da mulher começaram a lacrimejar quando o sanfoneiro caminhou em direção a ela.
A cinco centímetros de distância, ele perguntou:
- Onde encontrou essa carta?
- É minha. Eu ganhei - respondeu, com a mão trêmula quase derrubando a maçã do amor.
- Por acaso isso também pertence a você? - ele desamarrou um laço vermelho da sanfona e mostrou-lhe.
- Sim. - respondeu, espantada - Você ainda o tem.
- Guardei para nunca esquecer da garota por quem soube pela primeira vez o que é se apaixonar.
Ela sorriu e logo gargalhou. A grafia a confundiu. Não era Fenz, era Ferraz.
Não soube como continuar a conversa, mesmo depois de ter treinado várias vezes como reagiria e o que falaria quando o encontrasse. Ficou sem reação. Não conseguiu fazer nada do que planejou. Apenas lembrou de olhar para a mão dele e felizmente não encontrou anel nenhum.
Como uma leitura de pensamentos, ele interrogou:
- Senhora ou senhorita?
- Senhorita abandonada - ela riu - E você?
- Esperando ser encontrado.
Ambos riram.
Ele então colocou a carta e o laço na mesa e não hesitou nem por um segundo em beijar a mulher.
Ela sentiu o coração queimar de felicidade. Contou ser a segunda vez em toda a vida. Só não imaginou que era a trigésima sétima vez.
Aquele dia na praça quando a garota foi levada pela mãe e tentou se soltar dos apertos no braço, a jovem escorregou e bateu a cabeça na quina da calçada.
Foi um falatório sem fim.
A mãe partiu no dia seguinte, abandonando a filha em coma.
A garota aos cuidados do sanfoneiro e do jovem apaixonado, logo se recuperou.
Sem demora, se casaram.
No entanto, os médicos não conseguiram explicar algo inusitado que aconteceu todos os anos. Ela viveu normalmente, porém, excepcionalmente nas datas que completou mais um ano em que recebeu a carta de amor, a mulher perderia temporariamente a memória e sairia em busca do amado. Suspeitaram que fosse em razão do trauma que carregou por ter sido abandonada naquele dia pela mãe.
- Vejo que ainda gosta muito de maçã do amor - Ele apontou para a mão dela.
Ela sorriu e o beijou novamente. A missão foi um sucesso.
Mais uma vez.
Triz Oliveira
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