XXVII - Coincidências Cósmicas

"Quero andar com você até o mundo parar, como se não houvesse mais ninguém além de nós" Lonely - Diplo ft Jonas Brothers

♥Coincidências Cósmicas

Quando John Rutherford e Bennet Jones foram colocados frente a frente, nenhum dos dois fazia ideia de onde Alison pretendia chegar com aquilo, então o mais velho, levantando-se da mesa, pigarreou e tirou as mãos do bolso do terno para cumprimentá-lo.

— Rutherford. — Ele assentiu educadamente.

— Jones — o mais jovem respondeu com igual educação, apertando a mão que lhe fora oferecida.

O encontro estratégico organizado por Alison acontecera em sua própria casa, depois de conseguir convencer John de que ele precisava conversar com Bennet mais uma vez.

Diferente de quase tudo em sua vida, aquilo não fora perfeitamente planejado. O tempo trabalhara ao seu desfavor, e a decisão — precipitada — fora tomada há poucas horas atrás.

Chegaram mais ou menos pela hora do jantar. Bennet e a esposa já estavam sentados à mesa esperando pela filha. Surpreenderam-se ao vê-la chegar acompanhada.

— Rutherford — foi a vez de Christina cumprimentar, e ela tinha um sorriso plastificado em seu rosto.

Ao que ele respondeu com gentileza:

— Senhora Jones.

Depois disso, o olhar incisivo de Christina recaiu sobre a filha, esperando algum tipo de explicação sobre a inesperada visita. Mas Bennet foi mais rápido em se pronunciar, era evidente: Não podia mais adiar o inadiável.

— É melhor conversarmos no escritório — falou tocando gentilmente sobre o ombro do garoto.

John assentiu, e seguiu o advogado até o próximo cômodo, com Alison em seu encalço.

Assim que Bennet abriu a porta, John fora o primeiro a entrar, e em seguida o braço de Ben fez uma barreira impedindo a filha de acompanhá-lo.

— Grace, querida. Você fica — falou com firmeza. — Depois vamos ter uma conversa.

E a futura advogada se quer teve a chance de protestar. Pôde apenas encarar a porta de madeira fechada e soltar um suspiro frustrado.

Sentiu uma mão deslizar pelo seu ombro, e Christina conduziu-a para longe dali com delicadeza.

— Deixe os rapazes conversarem a sós — instruiu. — Nós duas sabemos que eles têm muito do que falar.

E somente então, Alison deu-se conta de que o segredo que ela houvera guardado por anos, já não era mais tão secreto assim. Pelo visto, Christina também sabia sobre aquela sujeira, e jamais houvera tocado no assunto com ela.

— Você sabia? Sabia o tempo todo?

— Eu sei há algum tempo — confessou amargamente.

Seu braço estava ao redor do ombro da filha, mas a garota se esquivou de um jeito rude, fincou os pés no chão e encarou a senhora loira com uma pergunta direta:

— Também sabia que o papai tentou suborná-lo com cem mil dólares para ficar longe?

— Querida, isso não foi suborno — tentou explicar. — O rapaz não tinha um teto onde cair morto. Fui eu quem falou para o seu pai dar o emprego a ele quando ele veio para o Tennessee. E também fui eu quem falou pra ele ajudar financeiramente depois do falecimento de Frederick.

— Então você sabia de tudo?

— O seu pai me contou depois que viu John pela primeira vez. Ele ficou convencido de que o garoto era filho dele.

Na ocasião, Alison Grace não era tão somente a filha educada que Christina houvera criado. Ela era forte, independente, determinada. Tinha todas as características que seus pais lhe ensinaram para ser uma boa advogada, e estava defendendo a sua própria causa.

Expondo provas. Indagando o suspeito.

— Então poderia não ser?

— Certas coisas, Ali, a gente sabe pelo coração — confessou. — Mas somente um exame de DNA poderia dizer com certeza.

A garota encarou os próprios pés, embaraçada com o rumo para o qual estava prestes a levar àquela conversa.

Se para a maioria das garotas a sua mãe é a melhor amiga, para Alison, as coisas nunca foram desse jeito. Ela nunca houvera se aberto com Christina sobre os seus sentimentos. Então foi estranho dizer:

— E você sabia sobre nós?

— Sobre vocês?

—Eu amo ele, mãe.

Christina riu baixo. Um tanto porque a filha houvera acabado de lhe chamar de uma maneira que ela mais detestava, que a fazia sentir-se velha e desinteressante. Outro tanto pelo conceito de "amor" que viu escapar pelos lábios da filha.

— O amor é uma ilusão, Alison — falou com a convicção de uma mulher que amou, mas que jamais fora amada.

Se Christina Rose houvera se tornado fria com o tempo, boa parte da culpa era de Ben, afinal, ela se casara com um homem cujo único e verdadeiro amor houvera escolhido passar a vida ao lado de outra pessoa. Ele amou uma mulher que morreu sem jamais saber dos seus reais sentimentos.

O verdadeiro amor de Ben sempre fora Grace. Christina sabia. Sabia disso quando Alison nasceu, e também soubera quando se casou com ele. Entretanto, pensou que podia levar a vida àquela maneira.

E até podia, até vivera. Porém, não se deu conta de que, com aquela escolha, abrira mão de sua própria felicidade em troca de um sentimento unilateral.

Quem em seu lugar não teria se tornado amargurado?

Ben nunca se esforçou para disfarçar seu amor por Grace. Tanto é que insistiu para que fosse esse o nome da filha, e lutou por isso com tanta garra que acabou conseguindo.

Esse também era o motivo pelo qual sempre preferira chamar a filha pelo segundo nome. Pelo nome da amada.

No fundo esse era um ponto em que Rutherford e Jones concordavam: Ambas as Grace's dividiam similaridades incontestáveis em sua maneira de ver o mundo e de sempre acreditar no melhor das pessoas.

Talvez fosse culpa do signo do arqueiro, já que ambas eram sagitarianas. Ou, talvez, essa fosse apenas uma das coincidências cósmicas para as quais não existia uma explicação.

Afinal, nem tudo que é real precisa ser provado cientificamente. Às vezes só é preciso ter um pouco de fé. E Alison acreditava no amor, mas Christina não.

— A ideia de "amor", Alison, é uma fantasia que você aprende nos filmes e na música — cuspiu duramente. — Na vida real, "amor" é só outro pacto de negócios.

Não era verdade.

Alison sabia que não. Sentia aquilo. E é claro que sua veia jurídica teria batido o pé, teria refutado aquele argumento com convicção, senão fosse pelo fato de a porta do escritório se abrir num gesto violento, abrindo passagem para os passos firmes de John Rutherford em direção ao elevador social.

O que fez com que a atenção de Alison fosse dispersa.

Ao ver o homem que amava evadir seu apartamento de um modo colérico, ela esqueceu completamente do que quer que estivesse prestes a fazer ou dizer.

Simplesmente deixou tudo de lado e o seguiu até lá.

Chegou bem a tempo de segurar seu elevador e saltar para dentro.

Christina gritou o seu nome, tentou alcançá-la, queria impedir a filha de tomar uma atitude impensada.

Mas foi sem tempo.

Chegou bem a tempo de ver a porta do elevador se fechar definitivamente.

Do lado de dentro das portas de aço, o silêncio era assustador, porque mesmo Alison Grace não sabia o que dizer no momento.

Estava com medo de uma centena de coisas, mas, principalmente, de como John reagiria. Ela temia que ele a odiasse, que sentisse raiva dela. Temia perdê-lo de uma vez e para sempre.

Entretanto, John nunca houvera obtido sucesso em sentir raiva de Alison Grace, tampouco naquele momento conseguiria. Estava frustrado, sim. Com raiva de Bennet, com certeza. Na verdade, com raiva do mundo como um todo. Exceto dela.

Queria gritar palavrões, queria socar uma janela de vidro, e sentir os cacos se enfiando em seus dedos. John Rutherford queria se ferir, infelizmente. Precisava sentir qualquer coisa que viesse de fora, porque, a verdade, é que não gostava do que sentia por dentro.

Mas não a culpava.

Não culpava Alison Grace.

Talvez esse fosse o maior problema de John, sempre culpava a si mesmo primeiro. Sempre se culpava demais. E, naquele momento, se culpava por tudo. Principalmente por ela.

As portas de aço se abriram, sem que nenhum deles houvesse dito nada.

Caminharam lado a lado entre os prédios de tijolos vermelhos, e, para Alison, sua cidade natal nunca parecera tão pequena e sufocante.

Quanto mais o silêncio perdurava, mais difícil se tornava escolher a coisa certa a dizer.

Foram passos rápidos. Ansiosos. Longas quadras. Longas ruas. E então pararam. Bem na esquina, bem ao lado do poste de ferro preto ornamentado. John parou primeiro, soltou um suspiro. Encarou-a. Ela o encarou de volta.

— John...

Ele a silenciou.

Não com um movimento. Não com uma fala. Mas com um beijo.

Puxou o corpo de Alison pra si e a beijou com tanta sede, que teria morrido ali mesmo se não a houvesse beijado. E ela correspondeu, bem no meio do centro da cidade, mesmo sabendo que era proibido.

— Alison, seu pai está errado — John falou quando as bocas se afastaram.

Sua mão direita ainda apoiava o rosto da garota, suas testas ainda estavam coladas, e as respirações quentes tocavam uma a outra. Quando ela olhou fundo nos olhos azuis de John, gostaria de ter tanta certeza, mas não tinha, então se afastou.

— E como você sabe?

— A minha mãe, Ali, ela não... — Ele se interrompeu bufando. Despenteou os fios loiros em um gesto nervoso. — Bennet está mentindo.

Mas não estava.

Ainda que não houvesse nenhuma prova concreta, Bennet Jones houvera sido completamente honesto sobre a sua história. Nove meses antes do nascimento de John, Grace e ele estiveram juntos por uma única noite, enquanto ela era namorada de Fred.

Então John poderia perfeitamente ser filho dele.

Como poderia não ser.

O que fez Alison lembrar-se da discussão que tivera com sua mãe ainda há pouco. A verdade, é que só havia um jeito de saber, e ainda que sentisse medo de obter uma prova, ela sugeriu:

— Por que a gente não faz um teste de DNA?

— Eu não vou fazer nenhum teste, Alison!

— Por quê?

E John poderia apenas sentar e listar uma centena de motivos pelos quais jamais se submeteria àquele procedimento, mas o principal era quase óbvio:

— Porque um exame idiota não muda nada, Alison! O meu pai pode não estar mais aqui, mas ele sempre vai ser o meu pai.

Alison assentiu em silêncio.

Ainda que não pudesse compreender, entendia. Entendeu naquele momento que John Rutherford tinha tanto medo do resultado quanto ela. Na verdade, tinha mais, muito mais.

Enquanto Alison tinha medo de perdê-lo, John temia perder não somente o amor da vida dele, mas também tudo, onde "tudo", na verdade, era quase nada, era só o que restou da família: Memórias e saudade.

Abraçava a lembrança como uma criança abraça o seu cobertor favorito ao dormir.

Perdera tudo, sim. Nem por isso aceitaria perder o pouco que lhe restara. E sendo assim, a Alison só restou perguntar:

— E a gente?

Mas, sobre isso, John sequer ponderava. Fora até o Tennessee somente por ela. Nenhum sentimento houvera mudado em uma breve conversa dentro do escritório de Bennet Jones.

— A gente descobre um jeito de passar por cima de tudo isso — ele respondeu. — Se você acreditar.

E Alison sempre fora boa em acreditar em fatos sem provas. 


Olá xuxus e fantasmas, como vão?!

Sim, eu mesma atualizando TEG dentro do prazo outra vez. Esse é o último capítulo que tenho pronto, então espero conseguir escrever outro essa semana para atualizar na semana que vem. 

Comentem aqui: Vocês acham que eles são irmãos ou não são? 

Querem o teste de DNA ou são boas em acreditar em fatos sem provas também?

Obrigada por seguirem me acompanhando nessa jornada.

Não esqueçam de votar!

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