Capítulo 02 - Encontros são furada

— Um dia todo mundo vai ter um encontro com um garoto, uma menina, com os pais da pessoa em questão... É terrivelmente inevitável.

Essa foi a célebre frase de Jaqueline que me arrumou um encontro, assim, do nada, com ninguém mais que Nathan. Vê se pode?!

***

O dia tinha chegado.

Eu tinha um encontro!

Eu não sabia o que fazer!

"O que fazer no primeiro encontro", eu deveria ter pesquisado antes de sair de casa. Deveria perguntar algumas pessoas, minha prima Cecília que já tinha ido a vários, para me precaver.

Será que se eu lhe dissesse que minha mãe tinha me ligado dizendo que estava quase morrendo, ele acreditaria? Ou pensaria que eu era uma garota ridícula? Eu até poderia fingir um choro bem dramático. A questão era que eu não podia simplesmente desmarcar tudo e, puft, me mudar para o Alasca! Eu não tinha dinheiro nem para ir à cidade vizinha! Também não era simplesmente chegar e dizer: "Pô, Nathan, eu tentei, mas não vai rolar. Não é você, sou eu". É claro que era eu! Mas no fundo, lá no fundindo mesmo, eu queria ter aquele encontro.

Tudo bem que garotos, até então, tinha sido "argh" para mim. Mas aí eles se tornaram "hururmrhumm", entendem? Não? Eu também não.

Minhas mãos estavam suadas, e toda hora elas iam parar na minha coxa, limpando na calça. A minha melhor calça. Não estava tão exagerada, mas... Eu só usava minha melhor calça para ocasiões importantes! Foi então que caí a fixa: Eu considerava aquele encontro importantíssimo, mesmo querendo negar. Fiquei mais apavorada, com medo de errar, sabe... Como é beijar? Ele iria me beijar? E se ele tentasse? Eu teria que fechar os olhos, certo? Mas e se ele não fechasse? Como mexer os lábios, mesmo? Ah, meu Deus! Caramba, Malina! Eu deveria ter pesquisado sobre isso!

Respirei fundo e contei até mil. Eu precisava me acalmar. Cada segundo um número, partindo do zero. Eu estava nervosíssima! 17 minutos contando sem parar.

— É aqui, moço. Pode me deixar aqui — menti, para o taxista.

Ele me olhou intrigado, mas parou o carro.

— Sabe, o barzinho de Marta é duas ruas daqui...

— Sei, sei. Obrigada, Senhor... — Forcei os olhos para o seu nome num papel pregado no carro. — Elias. Valeu mesmo.

Entreguei o dinheiro para ele e saí do carro, de repente enjoada.

— Olha moça, eu tenho duas filhas... Eu falo a mesma coisa para elas, sempre: "Fiquem calmas e sejam vocês mesmas". Aposto que seja quem for vai te adorar. Sempre funcionou. — Eu agradeci, balançando a cabeça freneticamente. — Só não conte até mil na frente dele, ok?

Eu rir.

E lá se foi o taxista conselheiro amoroso.

Será que estava tão na cara que eu teria meu primeiro encontro?
Poxa! Eu estava mesmo nervosa.

Caminhei até o barzinho de tia Marta repassando algumas frases e repetindo elas comigo para parecerem espontâneas: "Oieeeee, tudo bem?" Não! Muito exagerada. 'Oi' só bastava. Ou não? Muito seco? "Olá" era com certeza mais adequado, né? Argh! Eu tinha que me lembrar de perguntar sobre ele também: Comida preferida. Cor. Gosto musical. A banda dele. Sobre ex namoradas... Ex namoradas??! Será que ele já tinha namorado? Aí não dava! Seria horrível! Ele iria me avaliar. Isso é um saco. Eu nem sabia beijar!

Caraca! Era agora ou nunca.

Respirei fundo e contei até cinquenta — só por precaução. Entrei no local e avistei rapidamente Nathan numa mesa afastada.

Fiquei paranóica. Ele escolheu uma mesa afastada! O que Jaqueline tinha dito sobre isso, mesmo? Ah, não! Não! O que eu deveria dizer, primeiramente, boa noite ou oi?

Pensei em dá meia volta, mas Nathan, o cara que achava o mais babaca do mundo, tinha me visto. O garoto que Jaqueline passou meu número e não desistiu de mim mesmo depois de eu ter lhe dito, naquela festa de Eduardo, que ele era chato. Insuportável, foi a palavra. O garoto que vinha trocando mensagens de texto comigo naqueles dois últimos dias. O cara que gostava de Smiths, assim como eu e que tinha entendido a referência sobre Star wars.

Ele sorriu e acenou. Acenou mesmo sabe. Mexendo os braços para todos os lados. Era impossível fingir que não tinha o visto.

Meu Deus, ele tinha me visto! Não tinha mais volta. Então, eu acenei de volta, paradinha no meu lugar, sem mover um músculo do meu corpo. Patética!

Ele riu e pegou no aparelho celular.

Meu celular vibrou no meu bolso.

Era uma mensagem dele:

"Eu sei que sou feio, chato e insuportável, como você disse... Mas eu juro que sou legal. Eu ouço Smiths!"

Em seguida outra surgiu:

"E pessoas com gosto musical tão bom quanto o nosso só pode ser legais, ne?"

Dei uma risada, agradecendo-o por ter feito aquilo, e conseguir mover minhas pernas. Passei por tia Marta, que me jogou uma piscadela, e falou algo. Eu sou horrível mesmo em leitura labial, mas tentei: "Ele é um... leitão?" Quê? "Não coma... cirola?" Misericórdia. O que ela estava querendo dizer?

É claro que tia Marta era super desligada, por isso, gritou:

— Ele é um pão! Não coma cebola, senão, não vai beijar na boca!

Aí meu Deus! Louquíssima, louquíssima! Como mamãe. Por isso que são irmãs.

Soltei uma risada nervosa, e vi Nathan rir. Não estava acreditando que ele tinha ouvido aquilo. Quis sair correndo antes que eu passasse mais alguma vergonha, ou fizesse algo estúpido.

E eu nem tinha dito oi!

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