Rascunho - Parte 5

Assim que as portas do elevador se abrem no meu andar eu vou praticamente correndo para minha mesa e me sento na cadeira. Ninguém pareceu perceber ou pelo menos se importar comigo chegando em cima da hora.

Ligo a minha mesa digitalizadora e mal consigo segurar o lápis metálico entre os meus dedos. O dia mal tinha começado e parece que eu já tinha vivido umas três vidas só hoje de manhã. Eu já estava me sentindo exausta.

Tento fazer alguns traços nos planos de fundo da imagem que estou trabalhando, mas estou aérea demais para me concentrar no que eu estou fazendo.

Eu fico constantemente verificando o meu celular, querendo ver o exato momento em que o Gustavo iria me mandar a mensagem avisando que chegou.

Uma mão pousa no meu ombro. Viro o corpo um pouco assustada, não sabendo ao certo quem esperar atrás de mim. Mas era o Tomás, e ele estava olhando para o desenho que eu estava fazendo.

— Você está bem? — ele pergunta parecendo um pouco confuso, com suas sobrancelhas se unindo.

— Eu... Er... — como eu respondo isso? Eu estava bem? — Estou bem sim...

Não sei se isso chega a ser uma mentira. Eu não estou tão mal assim. Acho que o pior da confusão já passou. Não acho que seria uma boa dizer pro meu chefe que não estou no meu melhor estado, sendo apenas o meu segundo dia.

Eventualmente eu ficaria bem mesmo.

— Não senti firmeza na sua resposta.

— Mas eu...

— Nem precisa dizer nada. Deu pra perceber pelo seu traço que aconteceu alguma coisa com você...

— Dá pra perceber isso pelo meu traço? — digo um pouco espantada, virando o rosto para encarar o meu desenho. Será que ele estava dizendo que estava uma porcaria?

— Claro que dá. Não me leve a mal, você ainda é uma desenhista de mão cheia, mas os traços estão diferentes dos de ontem...

— Desculpe...

— Não precisa se desculpar comigo. Tao pouco mentir para mim. Vou te perguntar mais uma vez... Você está bem?

Puxo uma longa respiração. Aquilo serve para clarear a minha cabeça, mas mesmo assim não tem como explicar a minha situação para o Tomás.

— Olha, sinceramente eu não sei como te responder essa pergunta. Não agora. Estou com muita coisa na minha cabeça. Ainda não entendi completamente o que está acontecendo.

— Entendo...

— Mas vou dar o meu melhor aqui...

— Bobagem... Porque você simplesmente não tirou o dia de folga?

— Claro que não poderia fazer isso! É apenas o meu segundo dia aqui Tomás. Eu ainda inexperiente, mas não sou maluca! Sei que não fica nada bem faltar o segundo dia de trabalho.

— Que nada! Os padrões não se encaixam muito bem aqui na nossa empresa. Gosto de pensar que nós temos uma política um pouco diferente...

— Pode até ser, mas eu não quero deixar ninguém na mão. Então resolvi vir mesmo com tudo.

— Fico muito feliz por você pensar assim... Mas pela sua cara e pelo pouco que você falou aqui dá pra ver que você não está nada bem...

— Quando as coisas resolveram acontecer para mim, parece que foi tudo ao mesmo tempo.

— Então faz o seguinte: vá para casa, tire o resto do dia de folga, organize bem os pensamentos na sua cabeça, e amanhã se você estiver se sentindo bem, você volta e continua a nos agraciar com os seus desenhos...

— Acabei de encontrar o chefe perfeito!

Estou feliz por ele ter falado isso, mas não tenho como esconder a minha preocupação. Afinal, ele está me tratando muito bem, e nos conhecemos ontem... Não sei se eu mereço todo esse cuidado.

Vou aceitar a sugestão dele, não tenho nem dúvida, mas estou me sentindo um pouco mal sobre isso...

— Você realmente está falando sério quando disse que eu posso ir pra casa hoje e descansar? E eu posso voltar amanhã?

— Claro que sim Tessa!

— Poxa Tomás, nem sei o que te dizer... Acho que obrigada não é o suficiente...

— Bobagem Tessa, muitas vezes o pessoal daqui trabalham em casa, por isso que vai ser difícil você encontrar esse escritório cheio...

— Nunca reparei nisso, mas você tem razão!

— Pois vá para casa, sem problemas, amanhã você continua o seu trabalho...

— Você não existe Tomás... Muito obrigada. Mas não quero ter um dia tão de folga assim. Vou mandar esses arquivos que comecei a rabiscar pro meu e-mail pessoal e vou tentar dar um jeito de terminá-los.

— Assim é que se fala Tessa! Mas não precisa se esforçar demais para fazê-los...

— Eu amo desenhar, só a minha cabeça que está um pouco fora do lugar...

— Pois trate de resolver os seus problemas Tessa! Quero ver os seus belos traços novamente!

— Pode deixar... E eu ia me esquecendo de perguntar. Como foi o jantar com o seu pai ontem? Você conseguiu mostrar a sua história pra ele?

— Ah sim, eu mostrei — ele abre um sorriso tímido e eu fico sem saber o que pensar.

— Mas então, o que ele achou?

— Ele gostou muito do estilo do meu traço... Ele acabou ficando com alguns dos desenhos, disse que ia analisar com mais calma os detalhes e a história.

— Mas que notícia boa Tomás!

— Ele também me disse que se gostasse, ia colocar a história em teste, se os resultados forem bons, ele publicaria.

— Uau! Nem consigo imaginar como você está se sentindo agora...

— Feliz, mas preocupado. Ele disse que se passasse pelos testes ele muito provavelmente ia torcer as minhas orelhas por demorar tanto para mostrar o meu trabalho para ele...

— Não se preocupe, quando você for publicado, não vai ter nada disso de torcida de orelha, ele vai ter apenas espaço para orgulho de você!

— Assim eu espero! Mas eu ainda tenho um longo caminho a percorrer...

— Estou realmente muito feliz por você!

— Quando eu mostrei o desenho para ele, não disse que era meu. Acho que ele pensou a princípio que eu estava fazendo algum favor para alguém da empresa. Acho que queria uma opinião sincera quando ele visse meus desenhos pela primeira vez.

— Aposto que ele ficou surpreso quando você disse que eram seus...

— Surpreso mesmo ficou fui eu quando ele elogiou os traços e disse que o começo da história era chamativo. Ele fez foi brigar comigo por não ter ido procurar ele mais cedo para mostrar os desenhos.

— Mas o importante agora é que você vai publicar a sua história! Vai fazer muito sucesso!

— Isso é o que ainda vamos ver... — seu sorriso de lado é encantador.

Meu telefone dá um apito baixo e quando olho pra ele, vejo que acabou de chegar uma mensagem do Gus, avisando que tinha acabado de chegar.

Agora fico inquieta, querendo desesperadamente sair.

— Obrigada por me deixar sair mais cedo Tomás. Você é o melhor!

Tomada por um impulso que nem sei de onde saiu, fico de pé de repente e dou um abraço no Tomás. Tenho a certeza que ele ficou surpreso com o abraço, mas pelo menos ele não me repreendeu por ter feito isso.

Desligo a minha mesa e depois de pegar a minha bolsa, corro de volta para o elevador. Fico feliz quando um bom samaritano, ao me ver tropeçando apressada nos meus minúsculos saltos, segurar a porta para que eu consiga entrar.

Ao entrar no elevador ainda tenho tempo de acenar um tchau pro Tomás que me olha um pouco espantado.

— Obrigada! — digo ao rapaz que me esperou para descer.

— Sem problemas...

As portas se abrem na garagem e agora já tem algumas pessoas ali. Já não tínhamos a privacidade de mais cedo. Agradeço mais uma vez ao rapaz do elevador e saio como uma bala de dentro.

Passo direto pelo meu carro, e o Lee estava tão concentrado lendo as histórias e analisando os desenhos que eu tinha dado para ele que nem percebeu que eu tinha voltado.

Gustavo estava do lado de fora do estacionamento, com duas sacolas em mãos e conversava alguma coisa com o porteiro.

— Oi seu Lima. Pode deixar ele entrar, ele veio trazer umas coisas para mim!

O porteiro me olha um pouco desconfiado, mas mesmo assim deixa o Gustavo entrar depois de ver que as sacolas que o meu amigo trazia não tinha nada nocivo.

— Então, será que agora você pode me explicar o que está acontecendo Tes?! — Gus fala assim que estamos longe o suficiente do porteiro.

— O pior que nem sei como começar...

— Ihhhh. Agora que eu não sei mesmo o que pensar. Eu tinha até algumas hipóteses, mas sua cara me fez querer pensar no impensável...

— Acho que é por aí mesmo que você tem que ir...

— Pois pode acabar com esse mistério que eu estou quase arrancando os meus belos cabelos...

— Melhor você ver com os seus olhos e tirar as suas próprias conclusões.

Estou um pouco nervosa em como o Gustavo vai reagir a tudo isso. Se eu estava achando tudo aquilo maluco, imagina ele que ainda nem conhecia o Lee no papel e já ia conhecê-lo em carne e osso. Será que ele ia acreditar? Ou melhor, se ele acreditasse, será que ia ter alguma explicação?

— Tudo bem então, me mostre! — ele me entrega a sacola com o café da manhã que ele tinha comprado e vou logo procurando o café para tomar um longo gole.

— Está logo ali no meu carro. Falando nisso, você veio de carro?

— Você sabe que eu odeio dirigir. Principalmente nesse horário escroto de manhã. Vim de táxi.

— Maravilha, então você não se importa de dar uma passada lá em casa para que eu possa explicar tudo com mais calma, detalhes e provas, não é?

— Pra sua casa? Mas você não tem que trabalhar? A minha ressaca de domingo não me deixa esquecer que comemoramos você ter começado a trabalhar... Não me diga que te colocaram pra fora?

— Bate na boca Gus! Deus me livre! Não é isso, eu só ganhei o dia de folga hoje...

— Segundo dia e já ganhou folga? Acho que eu estou no ramo errado...

— Deixa de bobagem Gus! O chefe percebeu algo errado nos meus desenhos então me mandou ir pra casa descansar.

— Você deve ter desenhado com a mesma habilidade que eu! — ele começa a rir alto.

— Idiota! — dou uma cotovelada de leve em suas costelas. — Você sabe que eu desenho muito bem! Ele só me liberou porque eu não estou no meu melhor. Então nem pensa em me provocar demais...

— Ui, tá toda bravinha! — ele ri, mas logo para de andar e puxa o meu braço, me fazendo parar de andar também. — Tem uma pessoa rondando o seu carro, parece procurar algo lá dentro, deve estar afim de roubar algo...

Assim que eu olho em direção ao meu carro, perco a fala. Mesmo de longe, eu reconheci de imediato a roupa que a pessoa usava. Ela nem precisava se virar para que eu soubesse quem é.

Sua roupa era de couro, nada discreto, e marcava cada curva do corpo. Ela exalava uma áurea sexy que devia ser proibida. Os cabelos presos no alto da cabeça e um pequeno punhal preso em sua fina cintura.

— Não é um ladrão... — digo baixo, mal reconhecendo a minha voz.

— Ah, com certeza não parece... Impressão minha ou tem uma mulher extremamente gostosa rondando o seu carro?

Dou outra cotovelada em suas costelas. Isso não era jeito dele falar.

— Sim, tem uma mulher rondando o meu carro, e eu a conheço.

— Você está escondendo o jogo com as suas amigas Tessa? Jogo sujo viu? Bem que você poderia me apresentar ela... Não me incomodo dela me analisar do mesmo jeito que está analisando o seu carro.

— Credo Gus! — e lá se vai mais uma cotovelada nas costelas dele.

— Ai Tessa! Pode parar com isso! Não sei o porquê você... — as palavras que saiam de sua boca foram perdendo o volume enquanto ele olhava espantado para a mulher que agora nos encarava.

Eita! Acho que deu pra perceber quem é a mulher bonita que está encarando os dois nesse momento não é? Quem vocês acham que é?

Eu amo essas interações do Gus com a Tessa, acho incrível como eles se dão bem, essa amizade dos dois me cativa. E ele olhando pra mulher hein? O que acham que vai dar depois disso?

Não deixem de votar e comentar aqui ❤ nos vemos nos próximos capítulos :*

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