Rascunho - Parte 4

Você disse que eu e Tex somos criações suas... A Tex é baseada na sua aparência... E eu? Sou baseado na aparência de uma pessoa também?

— Não — respondo cheia de certeza. — Eu pensei em cada detalhe e traço seu. Gosto de pensar que não existe e nem nunca existirá nenhum outro homem igual ou parecido com você...

Paro num sinal vermelho e olho para ele. Lee abre um sorriso que eu nunca tinha conseguido desenhar. Um sorriso tão cheio de vida, tão brilhante e contagiante, que é impossível para mim não sorrir de volta. Aquele sorriso mostrava com claridade o quanto as minhas palavras tinham afetado ele de uma maneira bem positiva.

— Isso é uma coisa bem legal de se pensar Tessa... — ele passa a mão pelos cabelos, bagunçando de leve os fios.

— Passei muito tempo imaginando você na minha mente antes de colocar no papel... Queria um personagem único.

— Obrigado Tessa...

— Mas você me perguntando isso e agradecendo... Isso quer dizer que você aceitou a minha explicação sobre você e a Tex? Você acredita que eu que criei os dois?

— Tessa... — acredito que nunca vou me cansar de ouvir o Lee chamando o meu nome com a sua voz bonita e profunda. — Não tem como negar que tudo o que você disse é bem maluco. Essa coisa de desenhos ganhando vida... É coisa demais para assimilar, e olha que eu venho de um lugar onde a magia existe.

— Com certeza deve ser bem difícil... Muitas coosas em pouco tempo.

— Além do mais, é bem difícil para mim acreditar que eu sou somente um fruto da sua imaginação. Eu tenho lembranças de coisas que aconteceram comigo. Eu tenho lembranças da minha infância, adolescência... Um pouco decepcionante pensar que tudo o que eu já vivi é imaginação de uma pessoa.

— Desculpe Lee.

— Tudo bem Tessa. Pelo o pouco que te conheço, dá pra perceber que você não tem motivo para mentir para mim. Nem como colocar essas memórias na minha mente. Porque afinal, o que você ganharia por mentir assim para mim? Eu nem sou importante.

— Não diga isso. Você é o personagem principal da minha história... Você é bem importante para mim... — eu e minha língua desenfreada...

— Obrigado... E parando um pouco pra pensar. Nem o melhor mentiroso do mundo poderia inventar uma história tão maluca quanto a sua...

— Você ficaria surpreso com algumas histórias que as pessoas inventam de vez em quando... Cada universo fantasioso, cada coisa maluca...

— Seria muita maluquice da minha parte apenas dizer que eu acredito na sua palavra? Algo dentro de mim diz que você não mentiria para mim... Eu simplesmente acredito.

— Bem que você podia me ensinar como se faz para aceitar essa história com facilidade. Desde que eu acordei pareço estar dentro de um sonho e o mais maluco é que eu não quero acordar... Ter a oportunidade de conhecer você está sendo a experiência que eu nem sabia que queria ter.

— Acho que oportunidades assim não devem acontecer com frequência em nenhum lugar.

— Com toda a certeza não.

— Mas pelo o que parece, está acontecendo.

— Sim... Tenho que admitir que fiquei feliz e aliviada por você acreditar em mim. Mas eu tenho que te alertar: não confie tão facilmente assim nas pessoas. Principalmente aqui...

— Como assim?

— As pessoas tendem a se aproveitar de pessoas com o coração bom como o seu... Me dói pensar que alguém pode se aproveitar de qualquer forma de você.

— Sim... Entendo. Então isso quer dizer que não devo confiar no que você está falando?

Arregalo os olhos e me viro em sua direção espantada para ele. Mas ao dar uma olhada na expressão que ele tem em seu rosto, vejo que ele está reprimindo muito mal uma risada. Ele estava apenas brincando comigo.

— Tinha esquecido o seu senso de humor...

— Mas pode deixar que eu vou ter isso em mente, não vou confiar tão facilmente nas pessoas — ele diz agora mais sério e eu sorrio.

— Fico bem mais aliviada...

— Eu tenho que falar uma coisa Tessa... Isso é bem injusto...

— O que é injusto?

— Você parece me conhecer perfeitamente, sabe quando eu falo sério ou quando estou brincando. Conhece tudo de mim... E agora estou percebendo que não sei muita coisa de você. Na realidade nada além do seu nome.

— Bem, você sabe também a minha profissão.

— Você se incomoda se eu fizer algumas perguntas?

— Pode perguntar, ainda temos uns minutos antes que eu consiga chegar até o escritório.

E ele pergunta. Das coisas mais simples, como o que eu gosto de fazer quando não estou trabalhando, minha cor favorita, se eu tinha alguma flor que gostava. E foi também para umas mais complexas, como o que queria ser quando crescesse quando criança, meus sonhos e ambições. E eu amei responder a cada pergunta que ele me fez.

— Mas você trabalha com desenhista Tessa, como você gosta de desenhar também nas horas vagas? — ele pergunta assim que entro na garagem do prédio onde trabalho.

— Ah, mas é que nas horas vagas eu posso desenhar tudo o que eu quiser. Nas minhas horas vagas eu desenho você, então pra mim é uma maneira de relaxar...

Olho para o meu relógio de pulso e vejo que eu ainda tenho cinco minutos antes de dar o horário de entrar. O engarrafamento e toda a minha manhã movimentada não me fizeram perder a hora. Acho que a minha cota de desastres pra hoje já foi preenchida.

Não que o Lee seja um desastre, mas a sua aparição foi bem inesperada.

Pego um par de botas de cano curto que estavam no banco detrás do carro e depois de fechá-las ao redor dos meus tornozelos, abro a porta do carro. Lee imita o meu movimento e também sai do carro.

A garagem está sem movimento, mas mesmo sem ninguém ao redor dá pra perceber a discrepância do Lee com todo o resto.

Ele já chamava muita atenção somente por estar em pé parado. Não acho que será uma boa ele entrar no escritório usando suas roupas chamativas e olhando para tudo ao seu redor com admiração.

Isso não ia dar certo.

Não tenho como deixar ele mais baixo, pintar os cabelos dele agora ou então deixá-lo feio. A única coisa que posso fazer agora é em relação as suas roupas. Pelo menos isso eu posso conseguir.

Já sei! O Gustavo vai ter que me ajudar nisso. Acho que os dois tem a mesma altura cavalar e o porte físico dos dois não são tão diferentes, mesmo o Gus sendo um pouco mais musculoso.

Puxo o celular de dentro da bolsa e vou logo digitando uma mensagem para mandar para o Gus.

Tessa: Bom dia coisa! Estou precisando da sua ajuda!

Não deve demorar muito para ele me responder, e é o que acontece. Segundos depois ele já está digitando uma mensagem em resposta.

Gustavo: Bom dia T. Em que posso servi-la hoje?

Tessa: Preciso que você traga pro meu trabalho uma roupa sua.

Gustavo: Roupa minha? Quê? Não estou entendendo minha linda...

Tessa: Quero que me traga umas peças de roupa Gus. Roupas que cabem em você. Coisa completa. Uma camisa ou camiseta, uma calça ou bermuda. Se tiver um boné também ia ser de serventia... Acho que uma cueca também. Mas me traz uma cueca nova tá? Senão deixa pra lá.

Gustavo: Sorte sua que eu comprei umas roupas novas, e eu tenho uma cueca nova! Mas pra quê tudo isso?

Tessa: Sem perguntas, pode ser Gus? Por favor, eu só preciso que você venha para o meu trabalho o mais rápido possível.

Gustavo: Sim senhorita mistério! Devo estar chegando em uns vinte minutos, depende do trânsito.

Tessa: Obrigada Gus! Você é o meu salvador ♥ Ah, e evita a avenida principal, eu peguei um engarrafamento tenso pra chegar...

Não tenho como segurar o sorriso que se forma em meus lábios. Muito bom ter um amigo tão maravilhoso assim. Ele realmente não fez perguntas.

Um alívio não ter que explicar isso pra ele agora. Talvez fique um pouco mais fácil do Gus aceitar quando ver os desenhos do Lee. Ele vai chegar em breve, mas eu não posso ficar aqui na garagem vinte minutos esperando ele chegar. Vou ter que trabalhar.

— Lee, vou ter que pedir uma coisa pra você...

— Claro, se eu puder lhe ajudar, ficarei feliz — ele responde. Ai minha Nossa Senhora dos desenhos que ganham vida! Bem que eu poderia ter maneirado um pouco na perfeição que é esse homem... Esse rosto, esse corpo... Esse maldito sorriso.

— Você poderia ficar no carro? Não tenho como explicar suas roupas e todo você para ninguém. Hoje é apenas o meu segundo dia aqui... Não quero ter problemas, e além do mais... — ele me interrompe, segurando os meus ombros com muita delicadeza.

— Não tem problema. Eu fico aqui.

— Obrigada Lee.

— Não me importo de ficar aqui.

— Meu amigo deve chegar em breve. Ele está trazendo uma roupa pra você se trocar. Então acho que você pode se misturar melhor aqui.

— Tudo bem, eu odeio chamar atenção mesmo...

Então não devia ser tão bonito assim!

— Não deve ter problema em você ficar aqui... Mas qualquer coisa, você pode dizer que é um primo meu ou qualquer coisa, certo?

— Certo! — ele não parece chateado pelo meu pedido de ficar ali.

Estou quase saindo, quando a minha barriga ronca audivelmente. Então que percebo que eu sai de casa e nem comi nada. Nem tomei café. E o Lee também não comeu nada.

— Minha nossa! Eu sou uma pessoa muito desligada mesmo... Eu estou com fome. Você está com fome? Posso arrumar alguma coisa pra você comer se estiver...

— Agora que você mencionou... — ele alisa a barriga. — Acho que poderia comer alguma coisa.

— Certo, vou providenciar algumas coisas. Ainda dá pra aguentar uma meia horinha certo?

— Com certeza — ele sorri em resposta.

Pego novamente o celular que eu já tinha guardado dentro da minha bolsa e digito mais uma mensagem pro meu amigo.

Tessa: Eu sei que já estou abusando demais da sua amizade, mas assim, tem como você passar em alguma padaria ou algo do gênero e trazer um café da manhã bem reforçado?

Gustavo: Posso sem problemas!

Tessa: Mas assim, o café da manhã é pra dois...

Gustavo: Pra dois? Tá certo... Suponho que o segundo é do sexo masculino? Eu até que levo Tessa, mas acho bom você me explicar tudo bem direitinho quando eu chegar aí, viu?

Tessa: Eu te explico tudo! Você vai pro céu Gus ♥

Gustavo: Sei bem disso! Acho que por isso que sou seu amigo, pra me garantir a entrada lá em cima!

Tessa: Ok ok. Quando você chegar, me manda uma mensagem, que eu desço e vou te encontrar na garagem mesmo...

Gustavo: Nossa Tessa... Garagem, mensagens, roupas e café da manhã pra dois... Você sabe mesmo como deixar um cara curioso.

Tessa: Guarda essa curiosidade por enquanto, que eu preciso de você o mais rápido que puder.

Gustavo: Positivo e operante. Já estou saindo de casa, levo tudo.

Guardo o celular na bolsa e olho para o Lee.

— Prontinho. Daqui a uns minutos um amigo meu vem nos encontrar aqui. Ele trará comida e roupas. Mas agora eu tenho que ir, tenho trabalho a fazer...

— Tudo bem!

— Ah, acho que tenho alguma coisa aqui pra te ajudar a passar o tempo.

Abro o porta malas e retiro de lá uma caixa com algumas HQ's que eu tinha feito. Eram antigos, e eu ainda não tinha começado a desenhar ele. Mas pelo menos ele teria algo para fazer enquanto estivesse lá.

— São lindos!

— Obrigada. Eu os fiz... Fique à vontade pra entrar no carro e sentar se quiser. Mas eu tenho que ir agora.

— Tessa! — ele me chama quando eu já estou dentro do elevador. — Bom trabalho!

As portas do elevador se fecham e eu praticamente derreto contra a parede. Eu não estava de brincadeira quando criei esse homem!

Hahahahahahahahahahahaha mal posso esperar para acontecer o encontro do Lee com o Gus! Eu quero um amigo eficiente assim! Sem perguntas, sem problemas! Isso que é amizade :)

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