Esboço - Parte 6

Assim que abro a porta do meu apartamento, vejo a minha mãe sentada no sofá. Ela levanta e me dá um abraço apertado, mal de deixando respirar.

— Oi mãe! — falo do melhor jeito que posso.

— Filhinha, você demorou!

— Demorei um pouco, mas nada demais...

— Vim aqui pra conversar... Como é que você está? E como foi o seu primeiro dia lá no escritório? Te trataram bem? E você comeu alguma coisa? Você tem mania de quando senta numa cadeira confortável e tem papel e lápis ilimitado, você esquece do mundo...

— Calma mãe, respira... Eu estou bem sim, o meu primeiro dia foi muito bom, e todos no escritório são bem legais. Eu almocei sim, e agora vou jantar alguma coisa.

— Você demorou demais para chegar em casa...

— Pois é... Acabei que me diverti mais do que eu esperava e acabei passando do meu horário... Mas acho que vai contar como hora extra, sei lá, algo do tipo — minto, mas pra acalmar a minha mãe.

— Mesmo que você esteja se divertindo filha, não pode deixar ser explorada filha, você tem talento, muitas pessoas tendem a se aproveitar disso.

— Sei disso mãe! A senhora me ensinou muito bem isso. Pode ficar com a sua consciência tranquila, que eu não vou ser explorada! E sei que se alguma coisa tiver errada, você vai falar tudo por mim.

— Claro que sim! Eu quebro a cara de quem tentar se aproveitar do melhor de mim!

— Obrigada mãe, isso é tranquilizante!

— Pois pode ir tomar um banho e relaxar, que eu vou arrumar alguma coisa para você jantar.

— Não precisa se preocupar com isso mãe!

— Vai logo filha! Eu estava precisando sair de casa um pouco, seu pai estava em tempo de me colocar doida organizando algumas pendências de uns congressos que vão acontecer em um dos nossos hotéis.

— Tudo bem então. Não demoro!

Vou tomar o meu banho sem pressa e depois coloco somente um blusão, que mal chegava a metade das minhas coxas e uma calcinha. Era minha mãe, ela não se incomodaria com as minhas vestimentas.

O cheiro do molho de bolonhesa dela faz o meu estômago acordar.

— Hmmmm mãe! Que delícia! O cheiro está ótimo! — digo dando um beijo em seu ombro e pego um par de pratos para que possamos jantar.

— Fiz um monte, você pode congelar e esquentar o suficiente para você. Vou separar nos potes e colocar logo no congelador.

— Deixa isso pra depois mãe, vem comer comigo. Aproveitar enquanto está quente...

— Não precisa se incomodar com isso filha. Não tinha planos para ficar para jantar. Por essa hora, seu pai já deve ter terminado a grande maioria do trabalho e deve estar se perguntando onde eu estou... — ela já pegou vários potes e começa a distribuir o molho neles.

— Chama ele também...

— Deixa pra uma próxima minha filha. Eu já fiz o que tinha que fazer aqui. Posso ir pra casa pra terminar de ajudar o seu pai. E outra, eu já tenho planos com ele para mais tarde, debaixo dele pra ser mais exata.

— Mãe! Credo! Muita informação! Não precisava saber disso...

— Até parece que você não sabe como você foi feita...

— Sei, mas não preciso desses lembretes. Vocês já esbanjam muito amor normalmente, não preciso de uma imagem de vocês nos finalmente...

— Nos finalmente não. Sexo. Você pode falar sexo filha, não é uma palavra feia.

— Mas eu não quero falar de sexo, posso até querer algumas vezes, mas eu definitivamente não gosto de falar sobre quando esse sexo é entre os meus pais.

— Tudo bem, tudo bem então...

— Você só veio aqui pra ver como eu estava não é mesmo?

— Não somente isso! Também aproveitei para fazer um bom estoque de jantar, abastecer um pouco sua despensa e te trouxe um presente...

— Presente?

— Sim! — ela vai toda animada até a sua bolsa e me entrega uma pequena caixa. — Abra!

Faço o que ela pede e encontro uma pequena escultura de argila. Parecia ser bem antigo. A argila tinha sido esculpida em um formato quase humano, mas não tinha nenhuma feição, dedos ou algo parecido. Apenas um boneco sem expressão.

— Comprei de uma grande amiga minha. Ela me disse que esse é um amuleto. Ele faz com que a imaginação seja sempre fértil e viva. Imaginei que como você trabalha com desenhos, sua criatividade pode e deve ser explorada e incentivada.

— Obrigada mãe. Com certeza vai ser útil — não que eu acreditasse nessa coisa de amuletos e magia, mas se a minha mãe se preocupou comigo a ponto de comprar esse amuleto, me faz ficar feliz e sortuda por ela ser tão atenciosa.

— Sabia que você ia gostar, meu cosmos disse que ia.

— Certo...

— Olha a hora filha! Já vou indo! Seu pai está me esperando...

— Tudo bem mãe! Obrigada pela visita, pelo amuleto e jantar! Dirija com cuidado, e quando chegar em casa, manda uma mensagem avisando...

— Não há de quê minha filha. Pode deixar, que assim que colocar os pés em casa, aviso a você — ela me dá um beijo na testa. — Boa noite filha, te amo.

— Também te amo mãe!

Ela volta para casa e eu me delicio com dois pratos bem cheios de macarrão com o melhor molho bolonhesa do mundo. Lavo a pouca louça que tinha na pia e então pego o amuleto que tinha ganhado.

Vou deixá-lo no meu quarto de desenho. Arrumo um lugar para ele e depois de ficar satisfeita com o lugar, vou procurar uma moldura que tinha comprado há uns meses atrás, mas que nunca tinha usado. Nela, coloco o desenho que ganhei hoje do Tomás. Ficou perfeita. Analiso o belo trabalho do meu chefe e os detalhes daquele desenho ainda conseguem me impressionar.

Passei o dia inteiro hoje desenhando prédios, pessoas sem importância e cenários ao fundo, que nesse momento minha mão está quase coçando para que eu desenhe algo com muito rosto, alma e coração.

Vou até a minha caixa preferida e de lá retiro as últimas folhas que eu tinha desenhado. Lá estava ele, o meu tão amado personagem... Lee estava incrível nesses últimos desenhos, e a história dele está entrando num ponto crítico. As emoções vão ficar à flor da pele.

Prendo os meus cabelos no alto da minha cabeça e ajusto os meus óculos em meu rosto. Pego uma garrafa com água e deixo ao meu lado. Não gosto de ficar levantando pra aplacar a sede de madrugada.

Vou terminar a noite de hoje do meu jeito favorito dos últimos tempos: descalça, descabelada e desenhando o Lee. Nada melhor do que ficar na companhia dele até me dar sono.

Olho para a parte onde eu parei e vejo que o momento da história está pedindo um pouco de cor para ornar com a situação. Precisava de um momento impactante com as feições e cores do Lee.

Passo uns bons minutos desenhando o rascunho dele, em toda a sua maestria. Todas as suas linhas que eu sabia de olhos fechados. Quando estou satisfeita com os traços, passo para as cores. Pego a caixa com os lápis de cor e meus dedos procuram as cores ideais.

Nem sei como conseguia fazer aquela mistura de cores ser tão pálida e tão cheia de vida para colorir a sua pele. Os mais de seis tons que variavam entre o azul e o verde para trazer a vida aqueles olhos que eu tanto amo. Aqueles cinzas e brancos que se intercalavam e tornavam os cabelos dele uma perfeição. O preto e o vermelho que ornavam as suas roupas simples, mas que delineavam o seu esguio e bonito corpo.

Colori o Lee como nunca havia feito. Sei que ainda tenho muita coisa a aprender com a pintura, mas estou satisfeitíssima com o resultado. Dei uns 200% de mim. Lee nunca tinha ganhado tanta vida como ganhou hoje. Fico animada com o meu progresso.

Guardo o desenho colorido e me ponho a adiantar um pouco mais dos desenhos e da história. Nem sei qual foi o momento no qual eu dormi. Nem me dei ao trabalho de me levantar da minha cadeira, adormeci com a cabeça apoiada na superfície de madeira.

።።።።።

Por qual motivo você quer acordar bem para começar um dia de trabalho, se você pode acordar tendo o seu coração quase colocado para fora quando um barulho de vidro estilhaçando te faz quase suar frio?

Abro os olhos completamente aturdida e olho para cima. A janela estava intacta. Será que não tinha sido ali? Será que eu tinha esquecido de fechar a janela da sala, e algum animal tinha entrado e derrubado alguma coisa? Espero que não.

Giro a cabeça e só agora percebo que tem uma folha pregada do lado direito do meu rosto. Retiro a folha e percebo que era um desenho do Lee, e que todo o colorido e os traços que eu tinha feito nele ontem estavam borrados por causa de uma poça de baba.

Pelo menos eu só tinha estragado uma folha. Olho para o restante dos desenhos e eles estavam a salvo. Menos mal. Mas eu teria que refazer aquela folha.

Escuto um piado esquisito e baixo. Pelo barulho deve estar vindo da sala. Pego uma vassoura, que era o que poderia melhor usar como arma que tinha ali dentro, porque nunca se sabe, e vou caminhando com cautela, procurando qualquer sinal de invasão.

A porta do meu quarto ainda estava fechada, então não entrei lá. Assim que chego na varanda, vejo um buraco no vidro, o buraco era um pouco menor do que o diâmetro de uma bola de futebol.

Fico assustada ao perceber o quão grande é aquele buraco, e aquele piado não podia ser tão inofensivo quanto eu pensava.

Mas ao encontrar o pássaro caído no chão, perto do sofá, com suas asas tremendo violentamente, meu coração aperta de um jeito bem desconfortável. Pelo menos era mesmo um pássaro.

Estranho, mas assim que vi o modo como as suas asas contrastaram com o chão, eu me enchi com uma sensação estranha, quase uma nostalgia. Eu já tinha visto aquele pássaro em algum lugar.

E eu não sou nenhum expert em pássaros. Não sei a raça da grande maioria deles para ser sincera.

Então porque aquele pequeno ser de penas amarelas e alaranjadas me parecia tão familiar? Muito provavelmente não era um pássaro doméstico... Eu tinha acabado de me mudar, não tinha como já conhecer os animais domésticos dos meus vizinhos e afins...

Aliás, nem tem como um pássaro desse ser doméstico. Era bonito demais para isso, parecia ser um animal de algum zoológico ou algo do gênero.

Mas não tem como acreditar que um pássaro desse estaria livre para voar sem rumo por aqui, principalmente numa cidade grande. Isso era muito estranho.

O fato é que esse pássaro quebrou a minha janela, e eu tenho que dar um jeito de ajudar esse pobre animal. Olho para o relógio e fico um pouco aliviada por ver que eu ainda tenho alguns minutos antes de ter que me preparar para trabalhar.

Vou até a cozinha e procuro um pano de prato limpo. Pego também uma pá para apanhar os cacos de vidro. Voltando para a varanda, apanho todos os cacos e fico feliz, que por mais que o pássaro tenha quebrado o vidro, parece que ele não se cortou ao atravessar a janela.

Mesmo achando que não tenho muito tato para fazer essas coisas, recolho o animal ferido e envolvo ele com cuidado com o pano. Ele ao sentir o meu toque pareceu tremer um pouco menos e até mesmo pareceu se deixar ser envolto.

Não entendo o motivo, sinto vontade de acariciar a cabeça do animal. Ele era tão pequeno, conseguia sentir as batidas do seu coração com facilidade. Eram lentas, ritmadas, e de algum modo aquilo se conectou comigo.

Aqueles pequenos olhos negros pareciam sobrenaturais. Ou não. Vai ver eram normais, mas como eu nunca tinha visto um pássaro tão de perto assim antes...

Estou começando a me preocupar com as batidas do coração dele. Estão diminuindo num ritmo que não pode ser uma coisa boa. O que era estranho, já que ele não parecia estar sangrando. Será que era uma coisa interna? Me senti mal.

Acho que posso passar em algum veterinário antes de ir pro trabalho. Não devo me atrasar demais e deve ter algum pelo caminho.

Mas se eu quiser chegar no trabalho num horário aceitável, vou ter que sair agora.

Coloco o pássaro no meio do meu tapete da sala, e pego a minha bolsa, procurando o meu celular, para procurar alguma clínica veterinária no caminho do estágio.

Estou procurando ainda quando o pássaro começa a dar uns piados mais altos e que me deixaram bem mais preocupada com o estado dele.

— Como ele está?! — uma voz masculina profunda e preocupada fala num ponto assustadoramente atrás de mim.

Agora quem está preocupada sou eu!

Como assim tem uma voz masculina no meu apartamento. Ele tinha sido invadido? Mas não tinha sinal algum de invasão... Será que eu tinha esquecido de trancar a porta?

De quem diabos era aquela voz? Estava realmente preocupado com ele? Ele quem? O pássaro? Ele era o dono dele?

Não Tessa, não viaja! Tem um estranho no seu apartamento, e é somente com isso que eu devo me preocupar.

Olho para a minha bolsa e lembro que tenho uma lata de spray de pimenta, mas está jogada em algum lugar que não lembro qual e pela proximidade da voz, acho que não vou ter tempo suficiente de alcançar o spray.

Se eu me esticar um pouco mais, acho que consigo alcançar a vassoura. Acho que posso fazer um estrago se acertar ele com força.

— Acho que ele não vai conseguir — a voz dessa vez fala bem mais próximo, seu hálito faz cócegas na minha orelha e vejo que não tenho mais tempo de alcançar a vassoura.

Esperando o pior, me viro apenas para encarar o rosto do homem que invadiu a minha casa.

Eu sabia que ele estava perto, mas não sabia que estava tão perto assim.

Meu nariz roça de leve com o dele, e ele me abre um sorriso que deu um nó na minha mente. Não sei se foi porque eu me virei rápido demais. Não sei se foi porque eu não esperava que fosse ele ali. Não sei se foi porque eu nunca, nem nos meus sonhos mais malucos, esperei vê-lo ali.

Só sei que a minha visão sai de foco, eu vou vendo tudo escuro de uma maneira bem lenta e eu simplesmente perco os sentidos, desmaiando num momento bem duvidoso.

Ahhhhhhhh Oi pessoas! Eu disse que a calmaria só duraria até o capítulo passado, hahahaha

E então, o que vocês acham que esse pássaro é. E claro, A VOZ MASCULINA ESTRANHA NO APARTAMENTO. Vocês tem algum palpites acho que está fácil hahahaha.

Não deixem de votar na história, e se quiserem deixar um comentário também, vou ficar imensamente grata ❤

E com esse capítulo encerramos a primeira parte do livro. Na segunda parte vamos conhecer mais alguns personagens! Hahahaha

Mal posso esperar para que vocês os conheçam! Até a próximo capítulo, iniciando uma nova parte da história ❤

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