Esboço - Parte 5

A respiração que ele solta agora, me faz rir muito alto. E daí que o pai dele tinha tubos de dinheiro? Os meus pais também tinham e odiava quando alguém começava a me tratar diferente por conta disso. Então aquilo para mim não faria diferença alguma.

Tá, talvez faria uma diferença na minha vontade de mostrar os meus desenhos para ele. Se eu estava incerta antes, agora sou um poço de insegurança. Acho que o Tomás nunca veria o Lee e nem nenhum outro personagem que eu criei.

— Você não sabe como eu fico aliviado em ouvir isso — o clima entre nós muda, e eu nem tinha percebido que ele estava tão tenso assim... Mas agora estava visivelmente mais relaxado.

— Não vou dizer que a posição do seu pai na empresa é muito intimidadora, mas não posso deixar que isso mude as coisas entre nós, sei que se você está onde está, deve ter o seu devido mérito!

— Ouso dizer que até mais que mérito. Por ser filho dele, meu pai sempre exigiu muito de mim... Não é querendo me gabar, mas sou um dos mais capacitados ali na empresa...

— Agora você me deixou um pouco animada, pois se um cara com tanto gabarito assim como você afirma, gostou tanto assim das minhas ilustrações, creio que estou no caminho certo.

— Com toda a certeza Tessa! — ele sorri e comemos a sobremesa bem descontraídos.

Assim que voltamos para a empresa eu vou direto para o meu espaço de desenho. Com uma vergonha de alguém ver o que eu estou fazendo no computador da empresa, retiro o meu celular do bolso e faço uma pesquisa sobre o Tomás.

Quero enfiar a cabeça num buraco por não ter percebido antes. Claro que eu já tinha visto as fotos do Tomás pela internet, quando saiam algumas reportagens sobre a empresa, mas ele sempre estava tão bem vestido e com o cabelo diferente nas fotos, que eu nem me toquei que esse era o mesmo cara que me recepcionou de calças jeans, camisa polo e tênis.

Não sei como eu posso gostar tanto assim de detalhes nos meus desenhos e deixo passar tantas semelhanças assim na vida real.

Mas pelo menos assim é mais provável que eu tenha uma relação amigável com ele, evitando colocar ele num pedestal antes mesmo de conhecê-lo. Agora ele está do mesmo patamar das pessoas que eu conheço e vou ver diariamente.

Não exatamente no mesmo nível, pois como já disse, ele é bonito e simpático, e gente assim pra mim sobe uns degraus a mais.

Não querendo ocupar mais do meu tempo olhando as fotos e fatos sobre o Tomás na internet, volto a fazer o meu trabalho, me esforçando um pouco mais nesses últimos rascunhos.

Sei que ele já tinha elogiado o meu trabalho, mas é uma meta na minha vida, eu sempre preciso dar o meu melhor em tudo o que eu faço. Se não for para dar 120% naquilo que faço, não vou conseguir crescer.

Tenho que parar de trabalhar tão concentrada assim, pois quase mato o Tomás de susto com o grito que eu dei quando ele encostou no meu ombro.

— Querendo impressionar o chefe? — ele diz com um sorriso nervoso, colocando a mão sobre o coração.

— Pela sua cara agora, parece mais que eu estou a fim de te fazer ter um infarto antes dos trinta...

— Que nada. Cansei de falar com os desenhistas daqui. No começo é assim mesmo, você não conhece muita gente, então ninguém lembra de te avisar que o expediente terminou... A duas horas.

— Duas horas atrás?! — olho pro relógio e confirmo.

— Sim... Fiquei para trás porque tive que terminar de passar o visto pelas diagramações e desenhos dos lançamentos de quarta-feira... Pensei que quando eu saísse não ia ter mais ninguém... Mas aqui está você...

— Aqui estou eu mesmo... Nem vi as horas passarem. É um problema meu, quando estou me divertindo, nem vejo as horas passarem. Ainda bem que você veio falar comigo, senão era bem provável que eu ainda estaria aqui amanhã pela manhã...

— E você não dorme não Tessa?

— Prefiro a madrugada! Não sou uma pessoa muito matutina... — confesso e depois quis morder a minha língua, quem é que confessa pro filho do chefe que não gosta de acordar cedo?

— Ah, que alegria! Uma criatura da noite, assim como eu — ele diz com um sorriso e eu fico bem mais aliviada. Maravilha, ele não iria me julgar. Ele se aproxima de mim, e esconde sua boca, como se fosse me contar um segredo. — Mas não conta isso pro meu pai, ele me deserda se souber disso...

— Pode deixar. Seu segredo está seguro comigo se você não contar o meu.

— Fechado então — ele ajusta uma bolsa enorme em seu ombro. Eu envergava pro lado certeza se tivesse que colocar aquela bolsa.

— Minha nossa. O que você leva aí dentro? Metade das publicações daqui?

— Nada, isso daqui são os meus esboços. Vou levar todos pra minha casa. Vou ter que passar a me concentrar com as publicações daqui, e sempre que eu vejo um dos meus, eu fico rabiscando eles. Aí resolvi fazer como dizem... Longe dos olhos, longe do coração — ele dá de ombros.

— Você também tem desenhos só seus?

— Mas é claro — o sorriso dele alarga de um jeito que eu penso que vai rasgar o seu rosto. — Você quer vê-los?

— Claro — respondo rapidamente, vai que ele muda de ideia, não é? Fiquei curiosa para ver os traços dele.

— Olha, você pode ser sincera, mas se for pra dizer que os meus desenhos são um lixo, sinto lhe informar, mas você vai ter que sair da empresa — ele nem espera a minha reação, já vai completando a frase. — É brincadeira viu? Pode ser sincera. E é sinceridade de verdade. Gosto quando alguém com olho bom pra desenho me diz onde posso melhorar.

— Claro...

Ele coloca a grande bolsa na minha mesa e começa a procura algo. Me impressionei ao ver a quantidade de papéis ali dentro. Fico feliz que ainda tem pessoas que gostam de desenhar em papel, assim como eu. Depois de muito procurar na bolsa, ele me entrega um pequeno bolo de papel, todos presos por um clipe preto. A folha de capa estava em branco.

— Aqui está, esse é o meu último trabalho.

Pego as folhas e assim que abro na primeira página, fico imensamente maravilhada. O desenho que eu vi ali, nunca tinha visto em lugar algum. Eram dotados de uma delicadeza e de uma riqueza de detalhes que me fizeram encarar a primeira página por uns bons minutos.

As feições no rosto da única personagem presente na página tinham a mesma riqueza de detalhes quanto as folhas secas que voavam na árvore ao fundo da cena. Quase conseguia sentir o vento que batia no rosto dela. A estampa floral da roupa da mulher era retratada com o mesmo afinco que a grama alta que rodeava a árvore. As cores de uma paleta quente iluminavam e davam vida aquela página.

— Isso é incrível Tomás — estou tão embasbacada com o talento dele que nem consegui pensar num elogio à altura daquela beleza.

— Mas você nem passou da primeira página...

— E nem preciso. Acho que isso foi o mais próximo de ter um amor à primeira vista em toda a minha vida... — sério que isso saiu da minha boca? — O desenho! Mas você entendeu não é? — digo nervosa, finalmente conseguindo quebrar o contato visual com o papel em minhas mãos.

— Entendi... — ele parece se divertir com o nervosismo e feliz com o elogio.

— Mas sério Tomás — começo a folhear. Cada página melhor que a outra. — Esses desenhos são realmente incríveis. Seu pai já deu uma olhada neles? Tenho certeza que se ele olhar para a esse traço, vai publicar na hora.

— Na realidade, você é a primeira pessoa que vê esses desenhos... — ele fica um pouco vermelho e desvia o seu olhar do meu. Ele parecia tão calmo pra me mostrar, que pensei que já os tinha mostrado antes.

— Sério? Nossa que honra Tomás! Mas você tem que mostrar isso pro mundo! Acho que eu nunca vi um traço tão bonito quanto o seu, e quando eu digo isso, tenha em mente que me dói muito deixar o meu orgulho como artista de lado — sorrio e continuo a olhar as páginas.

Os desenhos continuam com uma altíssima qualidade e ao ver os espaços com as letras, tenho que focar exclusivamente na história para não perder muito tempo babando nos seus desenhos. E fiquei muito feliz quando percebi que a premissa da história era cativante, viciante e muito bem escrita. Uma história incrível para um desenho excepcional.

— Seu pai provavelmente vai te matar quando você mostrar essa história para ele. Imagina o quanto de dinheiro vocês já deixaram de ganhar por causa dessa história.

— Agora você está me deixando envergonhado Tessa.

— Nem vem Tomás. A sua história me ganhou na primeira página, e olha que eu sou bem seletiva quando se trata de novas histórias...

— Fico aliviado em saber disso... Quer saber... — ele parece ter lembrado de uma coisa, e então procura novamente na sua bolsa. Dessa vez ele só encontra uma folha de papel. E me estende essa folha. — Aqui, para você.

Sem entender muito eu pego a folha e é o mesmo desenho da primeira página, o desenho que tanto me cativou. As diferenças dos dois eram mínimas, mudanças ínfimas nas cores e traços. No primeiro que ele me entregou, a iluminação indicava que deveria ser em pleno começo da tarde. Já na folha que me entregou, a tarde já caía, e fiquei particularmente encantada pelo modo como ele conseguiu fazer com que o cabelo dela brilhasse levemente, com os raios do Sol.

— Não sei se posso aceitar — digo, mas já abraçando com cuidado a folha.

— Mas parece que você já aceitou — ele sorri.

— Obrigada... — sorrio abertamente, analisando com muito cuidado a folha que com certeza eu guardaria com muito carinho. — Esse desenho um dia vai valer uma fortuna, mas nunca vai ter um preço para mim...

— Obrigado pela força Tessa... — ele olha assustado para o relógio. — Mas eu tenho que ir agora. Tenho um jantar de negócios com o meu pai.

— Ah, sim, claro. Você deveria aproveitar a oportunidade e mostrar isso tudo pro seu pai.

— Mostrarei para ele. Algum dia... — ele diz decidido.

— Maravilha! Espero estar a altura de fazer o plano de fundo tão perfeitamente como você quando a sua criação for publicada aqui...

— Com certeza se um dia isso acontecer, eu vou te roubar pra minha equipe! Preciso de mãos como as suas!

— Vou te cobrar isso! — brinco e me arrumo para sair também, não quero fazer com que ele se atrase mais.

Ele me acompanha até o estacionamento e o carro dele estava estacionado ao lado do meu. Coloco o desenho com muito cuidado em cima do banco do passageiro. Ele se despede de mim e cada um vai numa direção na cidade.

Meu primeiro dia tinha sido bem melhor do que eu imaginava. Mas ao chegar em casa, percebi que ele ainda estava longe de terminar.

Só mais esse capítulo de calmaria, prometo! Hahahahahahah No próximo vai aparecer uma coisinha mais do que especial ❤

Se estiverem gostando, não se esqueçam do voto e comentário. Obrigada pelo apoio e até o próximo 😘❤

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