Esboço - Parte 4

Acordo com o som irritante do despertador e demoro um pouco para levantar. Manhãs! Porque as empresas gostam desses horários inoportunos?

Mesmo morrendo de sono, me arrumo rápido. Hoje eu começava uma nova etapa. Preparo uma quantidade bem maior de café e vou tomar um banho para espantar o sono enquanto o café ficava pronto.

Visto as calças jeans escuras novas que a minha mãe me fez comprar e uma camisa cheia de botões frontais, de um tom coral adorável. Ponho os dois sanduíches na minha bolsa, pra quando eu quiser comer algo. Minha mãe queria que eu comesse umas frutas, mas preciso de uns carboidratos pra ficar satisfeita. Uma maçã nunca vai matar minha fome.

Mesmo não gostando muito, deixo os meus cabelos soltos e por fim coloco as minhas sapatilhas favoritas. Tomo o meu café sem pressa e só então que eu coloco os meus óculos e pego a minha bolsa para sair. Pego as chaves do carro, me entupo de café e vou dirigindo pelas ruas até chegar à empresa. Ainda bem que o prédio tinha um estacionamento próprio e exclusivo para os funcionários.

O prédio parecia estar maior do que eu me lembrava. Todos foram um amor comigo e eu fui logo passando no RH para pegar o meu crachá. Um dos animadores que iriam trabalhar junto comigo veio me mostrar o ambiente em que trabalharíamos.

Estava quase pirando de tanta felicidade quando descobri que eu não precisaria levar cafés pra ninguém. Eu já ia ter uma mesa somente pra mim e trabalharia com as edições e desenhos da empresa. Nada de estagiária que não ia trabalhar com coisas aleatórias!

Tive uma vontade gigante de abraçar a mesa que eu iria trabalhar, mas não quis parecer muito maluca abraçando a minha mesa no meu primeiro dia. Conheci uma penca de gente, muitas dessas pessoas eu era muito fã então tive que controlar a minha emoção.

Depois de um tour bem detalhado o homem que me acompanhou, que eu descobri que se chama Tomás, me trouxe de volta para a minha mesa.

— Você vai ver que trabalhar aqui é muito bom — ele diz com um sorriso perfeito. — O trabalho é muito, mas se você gostar dele, vai ser altamente gratificante.

— Obrigada Tomás — agradeço de coração a ele.

— Aqui, a sua primeira tarefa — ele coloca em cima da minha mesa um punhado de HQ's. Conheço muito bem aquela história. Desde o primeiro volume até o mais atual. — Quero que você leia isso. Quero que você se acostume com o traço, com as características dos personagens, com os cenários, com tudo o que envolve a história.

— Tomás, acho que eu não vou precisar disso não...

— Como não? — ele pergunta um pouco confuso.

— Eu meio que já sou uma grande fã dessa publicação e já sei bem como é o traço dos personagens e cenário. Eu tenho todas essas edições na minha casa — digo sem jeito.

— Ah, mas que maravilha então! — ele diz animado. — Pois então eu vou mandar para você algumas cenas dos quadrinhos novos, para você dar os toques finais nos planos de fundo, certo?

— Certo!

Estou bem animada e mal fico dois minutos sem fazer nada quando recebo um email, com os arquivos que eu vou fazer. Prefiro o desenho feito à mão, mas tive que me adaptar com a plataforma online de desenho.

Ponho meus óculos de grau e respiro fundo, apertando entre meus dedos a caneta metálica. Além de fazer o que eu amo, que é desenhar, eu ainda estava tendo a oportunidade de ver em primeira mão essa história. O MELHOR TRABALHO DO MUNDO!

Perco-me no mundo que está por trás da nova história. Dou o meu melhor para retratar com perfeição a cidade, a reação dos figurantes, e não consigo me controlar e acabo mudando algumas coisas nos personagens principais. Alguns traços podiam ser melhorados e quando dei por mim já estava fazendo as alterações. Não deveria estar fazendo isso, e muito provavelmente vão me chamar atenção por conta disso. Só que não consigo segurar a minha mão.

Estou tão envolvida com os desenhos que nem percebo que tem alguém olhando por cima do meu ombro, olhando para a minha prancheta de desenho. Só percebi quando escutei uma voz masculina atrás de mim. Tive que apertar forte a caneta para que não escorregasse entre os meus dedos. Era o Tomás.

— Uau Tessa! O seu trabalho é impecável! O seu traço é muito bonito, mesmo seguindo as características da história, ainda tem um quê de delicadeza... — ele me elogia e sinto as minhas bochechas ficarem vermelhas de vergonha.

— Obrigada — digo meio que sem jeito.

— Desculpe, te assustei não foi? — ele perguntou ao me ver tão nervosa tentando não derrubar minha caneta no chão.

— Ah, tá tudo bem Tomás, eu que tenho que parar de ficar tão absorta assim quando estou desenhando...

— Mas mesmo assim, não deveria ter falado assim tão inesperadamente... Mas é que eu fiquei realmente impressionado com o seu trabalho...

— Er... Obrigada, de novo — desvio o meu olhar do dele.

— Vou te falar uma coisa, mas se eu escutar isso de novo em qualquer lugar, eu morro negando — ele diz com um sorriso brilhante.

— O quê? — ele atiçou a minha curiosidade.

— Você vai ser capaz de colocar muito dos nossos ilustradores no chinelo! Tenho a impressão que você vai se tornar uma peça de suma importância aqui dentro da empresa.

— Poxa, assim espero também! Mas você falando assim me deixa muito sem graça, Tomás...

Ajusto os meus óculos no rosto para tentar esconder de leve o meu rosto, devo estar pra lá de vermelha. Não sei lidar muito bem com elogios... Adoro recebê-los, mas não sei como reagir a eles.

— Foi mal, não era o meu objetivo te deixar envergonhada assim. Esquece, não está mais aqui quem falou... — agora é a vez dele de desviar o olhar do meu. Ele leva uma das mãos a cabeça e bagunça de leve seus cabelos. — Mas eu vim aqui por outra coisa, não foi pra bisbilhotar os seus desenhos...

— Outra coisa?

— Sim, queria saber se você já almoçou...

— Almoço? Mas como assim ainda não... — tomo um tremendo susto ao olhar as horas em meu relógio de pulso. — Não percebi que já tinha dado duas da tarde, acho que perdi o horário... Ainda não almocei.

— Eu também perdi o horário. Não tem problema. Estava também compenetrado com os meus desenhos que nem percebi a hora passando. Se a minha barriga não tivesse roncado provavelmente eu ainda estaria na minha mesa...

— Acho que a minha deve roncar muito em breve — digo com um sorriso envergonhado.

— Então quer ir comer alguma coisa? É por minha conta...

— Eu aceito ir comer alguma coisa, mas não precisa pagar por nada! Você já foi muito gentil comigo hoje, não quero abusar da sua bondade!

— Você não está abusando da minha bondade... Considere um presente de boas-vindas... Vamos lá, só hoje... E outra, não sou eu exatamente que vou pagar... — ele sorri e retira do bolso um cartão platinado e reluzente. — Esse é o cartão da empresa.

Poxa, o Tomás tinha moral ne empresa. Acho que não tinham muitos funcionários por aqui que tinha acesso a esse cartão.

— Ah, já que é assim, eu aceito. Vamos! — pego a minha bolsa e fico de pé. Os sanduíches ficam na bolsa mesmo. Não recuso uma boquinha assim tão facilmente.

— Tem um restaurante pertinho daqui. A comida é uma delícia, podemos ir lá.

— Tudo bem.

Não precisamos nem andar três quarteirões para chegar ao restaurante. Eu já tinha passado na frente desse restaurante umas poucas de vezes, mas nunca tinha entrado lá.

Sentamos numa mesa próxima a janela. O restaurante estava bem mais vago, já que aquele horário não era bem convencional para almoços. Fizemos os nossos pedidos e só de estar naquele ambiente que tem um cheiro delicioso, meu estômago acordou.

— Mas então Tessa, eu já vi alguma coisa desenhada por você publicada por aí? — Tomás pergunta, puxando uma conversa.

— Ainda não... Eu ainda estou terminando a faculdade. Ninguém me leva sério para publicar algo...

— Hum, sei bem como a grande maioria torce o nariz ao encontrar um profissional da nossa área com a nossa idade...

— Fica complicado... Mas mesmo se alguém me desse a oportunidade, acho que eu ainda não tenho a maturidade necessária para colocar a minha cara a tapa no mercado.

— Hum, pelo menos você falou que ainda não tem... Então você realmente tem algum trabalho que pretende publicar um dia...

— Você realmente não deixa passar nada não é Tomas? — falo com um sorriso divertido. — Mas sim, eu realmente tenho um projeto que trabalho, ele é um pouco recente, mas ultimamente não consigo mais desenhar livremente, somente esse projeto.

— Sei bem como isso acontece... E quando foi que você começou a desenhar?

— Bem, se for somente desenhar, num modo geral, foi no último ano do ensino médio, se for o projeto, tem uns bons meses já... Nem sei se esse projeto tem saída, mas ele de certo modo me acalma.

— Desenhos que acalmam huh? Eu adoraria ver o que você desenha um dia... Devem ser muito bons.

— Talvez esse dia possa demorar um pouco a chegar. Não sei se estou pronta para deixar eu outras pessoas vejam o... — Lee, não sei se quero que as pessoas saibam que ele existe, nem quero que ninguém mais goste dele do que eu. Sei que esse é um pensamento egoísta, mas não consigo mudar os meus sentimentos. Sou uma pessoa ilógica sei. Estou com ciúmes de um homem que só existe no papel.

— Não quer que as pessoas vejam o? — Tomás pergunta.

— Os meus desenhos... — digo tentando tirar os olhos marcantes do Lee da minha mente. — Acho que a história ainda tem que evoluir um pouco.

— Somente se for por história. Pois o seu traço, como eu disse antes, é extremamente bonito. Os desenhos devem ser muito agradáveis aos olhos.

— Obrigada Tomás. Se um dia criar coragem, com certeza eu mostro para você.

— Espero com sinceridade que você considere a gente quando decidir que está pronta para colocar o seu trabalho no mercado...

— A gente? — pergunto um pouco confusa, mas então o garçom traz os nossos pedidos e a nossa fome fala mais alto, então a conversa fica um pouco em segundo plano. A comida estava uma delícia, tanto que resolvemos estender um pouco o almoço e pedimos uma sobremesa.

— Mas então Tomás, quando foi que você percebeu que queria que o desenho fosse o seu futuro? — agora era a minha vez de puxar assunto.

— Eu passei a minha infância cercado por mangás e HQ's. Cresci lendo tudo e mais um pouco, não sei se um dia eu sonhei em ser uma coisa diferente do que desenhista — ele me diz com um sorriso nos lábios.

Não sei se por causa do meu nervosismo de mais cedo, ou por qualquer outro motivo, mas eu agora que estava reparando em como o Tomás era bonito. Seus cabelos num tom de loiro bem escuro, os olhos amendoados e um sorriso fácil. Isso sem falar nos músculos que escapavam as mangas de sua camisa. Um belo exemplar do sexo masculino.

Droga! Não deveria estar reparando tanto assim nele, isso vai dificultar as minhas prováveis muitas conversas com ele na empresa. Mas lá se vai os meus pensamentos voando longe com a imagem do Tomás indecente e bem à vontade perto de mim.

— Tessa, você tá me ouvindo? — sua voz me chama de volta para a realidade. Maravilha! Ele deve ter percebido que eu passei um bom tempo babando por ele aqui. Vamos lá Tessa, você consegue controlar essa sua curiosidade pelo sexo oposto!

Pois é, o que deveria ser fácil, pois eu nunca tinha experimentado nada, fica difícil de ignorar pelo belo fato da minha imaginação ser bem fértil e suja, eu ter os dotes de desenhar praticamente tudo o que se passa na minha mente sem vergonha e ainda ter a ajuda da internet para terminar de acabar com a minha inocência.

Não tenho salvação mesmo. Devo ser a virgem mais devassa do planeta Terra e dos mundos desconhecidos.

— Estava falando que mesmo gostando muito do que faço, eu meio que não tive jeito, rodeado desde sempre, é o negócio da família e tudo mais, mas sou muito feliz com o que eu faço...

— Negócio da família?

— Você não sabe? — ele me pergunta, verdadeiramente espantado.

— Eu tinha que saber de alguma coisa? — me sinto um pouco mal agora. Eu tinha que saber da família dele?

— Deve ser por isso que você não me tratou diferente quando me conheceu pela primeira vez... — ele diz meio pensativo. — Tenho que dizer, que isso é um verdadeiro alívio...

— Agora você tem a minha curiosidade... Qual o negócio da sua família?

— Sério mesmo que você não sabe? — minhas sobrancelhas se unem e eu nego com a cabeça. — Eu só te falo se você me prometer que não vai mudar nada entre a gente, pode ser?

— Vou dar o meu melhor para não mudar nada — sorrio.

— Então, é que assim, o meu pai é o dono da empresa.

— Seu pai é o dono da empresa? — pergunto e meu queixo abaixa tanto que deve estar no chão.

— Sim... Pensei que isso fosse de conhecimento geral...

— Ai minha nossa senhora das linhas tortas! Você sabe que essa informação que você acabou de me dar é bem importante não sabe? — ele não diz nada. — Você sabe o quanto vai ser difícil te tratar do mesmo jeito agora? — ele me olha preocupado agora. — Mas o que a gente não faz pelos amigos, não é?

Mais um capítulo calminho pra vocês! Tá vindo a fantasia e magia, fiquem calmos! Não se deixem enganar por essa calmaria.

Beijos e até breve :*

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