Construção - Parte 3

Lee demora uns bons segundos olhando a folha, acho que lendo com cuidado as propriedades mágicas da espada. Ele está bem concentrado. Quando menos espero ele abre um sorriso bem devagar.

— Não poderia ter pensado em nada melhor. Seu desenho está impecável Tessa. Isso com certeza vai dar certo.

— Tem que dar — a chama da esperança queima forte em meu peito. Agora era questão de tempo para eu ter o Gus e a Tex de volta.

— Vai dar... Nem se preocupe com isso.

— Acho que agora é esperar pela espada aparecer aqui dentro... — digo animada e começo a olhar tudo ao nosso redor.

Procuro por qualquer coisa que possa começar a mudar aqui dentro. Sei que ela não vai ser tão difícil assim de encontrar, pois é dourada e brilha.

Alguns minutos passaram e nada da espada aparecer no meu estúdio. Começo a ficar um pouco preocupada. O Lee não apareceu no meu estúdio. Pode ser que tenha aparecido em outro lugar da casa.

— Vamos procurar Lee! — digo e vou logo revirando a minha casa abaixo.

Mas nada dessa espada aparecer. Sei que procurei em todos os lugares que aquela lâmina dourada pudesse ter aparecido, mas nem sinal da arma. A minha preocupação começa a atingir níveis assustadores.

Então que eu percebo.

— Lee, eu criei a Tex, você, sua Fênix e o Bruce, mas somente você ganhou vida aqui. Os outros ganharam vida em um outro lugar... Sei que o copo também ganhou vida aqui, mas e se a espada não tiver tido a mesma sorte? E se ela tiver se materializado em qualquer lugar da cidade?

Essa opção faz o meu estômago embrulhar. Se demorei pouco mais de uma hora para procurar por todo o meu apartamento, quanto tempo será que demoraremos para procurar por toda a cidade, por lugares que eu sequer consigo começar a imaginar?

— Isso seria um grande problema Tessa! Tanto que nós não consigamos encontrar essa espada, ou que outra pessoa consiga encontrá-la primeiro que nós.

— Não me preocupo muito com outra pessoa encontrando a espada. Quer dizer, somente eu e você sabemos o que ela pode fazer de verdade.

— Digo isso não por causa da pessoa usar ou não a magia da espada, mas isso porque se outra pessoa encontrar, vai dificultar e muito as nossas buscas.

Agora entendo o que ele estava pensando. Pode ser sim um problema para nós. Aquela espada chama muita atenção. E não sei se ela acabou sendo materializada em ouro ou somente brilha muito. As pessoas são gananciosas, se encontrarem aquela espada, podem ser que queiram vender.

Pego o meu celular e coloco um aviso para encontrar a palavra-chave: espada dourada. Pelo menos se alguém vender, ou postar alguma foto publicamente, vou saber. Pode ser que ajude.

— Procurar pela cidade toda não me anima nem um pouco Lee... Você nem faz ideia em como essa cidade é grande.

— Acho que poderíamos baixar os locais a procurar para somente locais onde você tem algum tipo de conexão. Não consigo acreditar que tudo o que você criou foi materializado em um local qualquer... Deve ter mais do que apenas magia, tem que ser um local importante para você.

— Pode ser Lee...

— Se procurarmos em locais onde você gosta pode ser que a nossa busca seja reduzida.

— Isso pode dar certo. Não conheço muito locais da cidade para ter algum tipo de conexão. Podemos reduzir e muito.

— Ou então...

— Ou então o quê? Estou aberta a sugestões.

— Se você desenhasse a espada na minha mão, agora, será que ela apareceria?

— Não sei Lee. Acho que a espada deve ter aparecido por conta de uma ligação com a história anterior... Não se desenhando agora, do nada apareceria...

— Mas o copo apareceu. E ele não tinha ligação com a história.

— Sim, eu sei. Mas não quero arriscar a magia da espada. Quero que a magia da espada esteja ligada à sua história, consequentemente assim, ligada ao Bruce.

— Hum, acho que você tem razão Tessa... Mas e se dermos um jeito de ligarmos a realidade a história?

— Se você tiver um jeito de fazer isso, eu acho que vale a pena tentarmos.

— E se eu tiver sido transportado para um universo paralelo e conseguir encontrar uma espada semelhante a dourada que você criou nesse mundo paralelo?

— Você já pensou em ser roteirista Lee? — digo com um sorriso fraco e logo vou pegando mais folhas de papel e vou complementando a história.

Vou com a ideia que o Lee me deu. Um mundo alternativo, alguns anos no futuro, mas que ainda possui magia. Lee consegue encontrar nesse mundo alternativo essa espada e percebe que a espada tem as mesmas propriedades que a espada dourada.

Pouco mais de uma hora depois eu estava dando os últimos detalhes no desenho. Mais uma vez, ponho o meu coração naquele desenho.

Como a espada era de uma realidade diferente, não quis fazer a arma exatamente igual. Quer dizer, o conceito era praticamente o mesmo. O que eu resolvi mudar pra valer mesmo foi a coloração da espada, que dessa vez não era dourada, mas sim prateada, com pequenos toques de cobre no punho.

Resolvi desenhar o Lee com as roupas que ele estava no momento. Se o acaso me pegou antes, não quero que pegue agora.

Depois de colorir mais uma vez os olhos marcantes do Lee, fechei os olhos e fiquei rezando baixinho para que aquela espada aparecesse realmente na mão dele agora.

As paredes do apartamento começam a tremer de leve e eu fico preocupada. Uma brisa quente soprou e fez os meus cabelos balançarem um pouco. Não sei de onde aquele vento tinha surgido. Tudo ali estava fechado.

Algumas folhas voam sem direção dentro do estúdio e o desenho que eu tinha ganhado do Tomás, caiu da estante, atingindo o chão um com barulho seco e espalhando pedaços de moldura pelo piso.

A mão do Lee começa a ficar um pouco turva e o meu sorriso cresce ao perceber que aquilo era a espada se materializando aos poucos na mão dele.

— Está dando certo! — Lee diz muito animado, sem mexer muito a sua mão direita.

— Sim, está! Você que deu a ideia Lee! Sempre soube que você era muito mais do que um rostinho bonito e corpo habilidoso! — minha língua não tinha freios em determinados momentos e eu tenho que começar a me adaptar com isso.

— Claro que sabia! Você me criou! — ele sorri com um orgulho que não esperava e vejo que as linhas já estão ficando bem mais sólidas em sua mão.

— Você sempre vai usar isso! — sorrio.

— Sempre que puder, esse argumento é muito bom para não ser utilizado! — sua mão se ergue assim que a espada parece concreta o suficiente.

— Uma bela espada... — digo admirando.

— Com certeza... Pensei que ela fosse um pouco mais leve... — ele diz descontraído, girando a espada em sua mão, testando o peso e alcance.

Eu fico sem saber o que falar, estou hipnotizada com os seus movimentos medidos, controlados e de uma fluidez que eram características dele. Ele troca a espada de mãos, faz alguns movimentos e ergue algumas vezes a lâmina.

— Você vai conseguir utilizar essa espada?

— Claro. Não há espada nesse mundo ou em qualquer outro que eu não seja capaz de manusear — ele diz num tom cheio de orgulho. Não duvido da capacidade dele.

— Maravilha então. Já temos as armas necessárias, agora só falta um plano bom.

Eu ia falar mais alguma coisa, mas as palavras ficam presas na minha garganta quando escuto um barulho alto, vindo de dentro da casa.

Parecia que alguém tinha derrubado alguma coisa no chão. Algo de vidro. Consegui escutar com clareza o vidro se despedaçando. Não consigo pensar em muitas coisas de vidro para serem derrubadas, mas lembro do meu jarro com um pequeno bonsai.

A partir desse momento da minha vida não acho mais nenhuma surpresa algum outro personagem meu ter ganhado vida e está dentro do meu apartamento derrubando as coisas.

O barulho parece ter vindo do meu quarto. Ótimo! Mais um personagem no meu quarto. Será que eles não podem me dar um pouco mais de sossego hoje? Quem será agora?

Não consigo pensar em outro personagem meu importante o suficiente para ganhar vida, mas não descarto a possibilidade. Pelo menos sei que assim que colocar os meus olhos sobre ele, vou saber quem é.

Será que é algum personagem secundário que criei? Algum outro vilão já derrotado que voltou procurando uma segunda chance de realizar o seu plano? Algum desenho antigo?

— Você também escutou isso? — Lee diz preocupado.

Vejo que a sua postura muda drasticamente agora. Ele põe o seu corpo na minha frente, e se vira na direção da porta, esperando o momento que qualquer ameaça fosse aparecer.

Ele segura a espada prateada firmemente em suas mãos e uma emoção que nunca tinha sentido antes toma conta de mim. Não sabia que era tão bom assim ser cuidada daquele jeito.

— Sim, escutei.

— Você tem alguma ideia de quem possa ser?

— Infelizmente Lee, essa coisa de magia é muito nova para mim, e sinceramente não faço a menor ideia de quem possa ser, mas acho que o barulho veio de dentro do meu quarto.

— Vamos ver o que é. Não quero que se afaste de mim Tessa. Fica sempre atrás de mim, eu não vou deixar que nada te atinja!

Sua voz é tão decidida que eu não falo nada, apenas em posiciono atrás de suas costas largas e acompanho os seus passos cuidadosos. Não deveria perceber tanto assim, mas o cheiro dele é muito bom.

Vamos caminhando com calma pelo apartamento, ele vai verificando as portas e possíveis locais onde uma pessoa possa se esconder. Mas não encontramos ninguém.

Estamos na frente da porta do quarto e o Lee não é nada silencioso ao bater com o pé na porta, abrindo de uma vez.

Por um espaço mínimo entre o seu braço e costas consigo ver uma figura delgada, tremer da cabeça aos pés ao escutar o barulho da madeira bater com força na parede.

Pelos contornos do corpo, percebo que era uma mulher. A figura feminina assustada com a nossa entrada abrupta no quarto, cai de joelhos no chão.

Uma brisa entra pela janela e fazem com que os seus cabelos negros voem de uma maneira quase mágica. Os fios cobriam parcialmente o seu rosto e a mulher tinha as mãos postas em cima de seu coração.

Ao olhar aquela cena, sou tomada por uma sensação enorme de déjà-vu.

Não sei onde, mas eu com certeza já vi aquela cena em algum outro lugar. Fui tomada por um sentimento de paz.

— Quem é você? — Lee pergunta para a mulher, mas não escutamos nada em resposta.

Ele parece paciente e olha em mim com expectativa. Sei que ele estava esperando que eu lhe desse alguma informação sobre a identidade dela, se ela era do bem ou não.

— Vou perguntar apenas mais uma vez. Quem é você? — Lee diz com uma voz baixa, mas bem clara.

A mulher então ergue o rosto e mais uma vez o vento faz com que os seus cabelos voem, mas dessa vez, para distante do seu rosto. Assim que vejo os traços da mulher com calma, percebo de onde eu conheço esse desenho.

Não sei como não tinha percebido antes. A postura dela me falava tudo. Aquela fragilidade iminente que pertencia somente a seus traços.

— Lee, não, eu a conheço — digo, pensando que a situação pode piorar consideravelmente se eu não fizer alguma coisa para mudar o cenário que está se desenrolando.

Ponho as minhas mãos nos ombros do Lee e percebo o quanto os dele estão tensos.

Reconheço os traços suaves e bonitos que o Tomás tinha feito. Aquela era a mulher do desenho do Tomás. O mesmo desenho que estava no chão do meu estúdio depois daquele vento misterioso.

Ah, que maravilha! Como se não fosse maluco o suficiente os meus desenhos ganhando vida, agora os desenhos de outras pessoas também poderiam ganhar? Como era possível?

O que ela estava fazendo ali?

E o mais importante: o que eu vou fazer com ela?

Mais um personagem aparecendo no apartamento da Tessa! Não basta ter perdido uma parede, o amigo e "gêmea" dela ter sido sequestrados, agora ainda temais um desenho para a se preocupar.

Problema pouco é fichinha hahahahahaha o que acham que vai acontecer agora? Deixem aqui seu comentário e carinho :)

Beijos e até o próximo capítulo ❤

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