Acabamento - Parte 4

Tessa! — a voz do Lee me faz abrir os olhos.

Então vejo o meu corpo ficar fluido, trêmulo, e perdendo a cor. Estranho olhar para si, se ver virando fumaça e não sentir dor alguma. Realmente era como o Gus tinha falado. Não tinha dor alguma.

Minha visão foi ficando pesada. Nem sei quando fechei os olhos, mas quando abri, percebi que estava dentro daquele pingente.

Tudo o que acontecia na minha frente estava meio tremido por conta dos movimentos que o Bruce fazia. Me senti um pouco enjoada, pois ali sacudia muito.

Olho ao meu redor e vejo que tudo o que me cerca são cristais. Não tem um chão abaixo dos meus pés, mas de alguma forma sinto algo me sustentar.

— Já tenho uma. Falta somente você Tex... — escuto a voz do Bruce. Tudo ali começa a vibrar por conta da sua voz grave.

— Você não vai conseguir colocar as mãos nela! — mesmo sem conseguir vê-lo, aquela sem sombra de dúvida era a voz do Gustavo.

— Coragem impressionante em suas palavras jovem. Que pena que suas palavras não poderão ser verdadeiras... — Bruce torna a falar.

Mais uma vez tudo ali dentro vibra.

Queria que ali tivesse alguma coisa, alguma parede para que eu pudesse me apoiar. Estava ficando perdida quando sinto um grande impacto. Olho ao meu redor e não consigo enxergar muita além do chão e do ombro do Bruce. Não sei o que estava acontecendo agora.

— O que está acontecendo? Você tem magia? — o ombro que eu consigo ver do Bruce se mexe com certa brutalidade, mas nada parece mudar.

— Que magia que nada!

— Porque eu não consigo me mexer?

— Isso se chama jiu-jitsu seu imbecil! Posso até ser novo nessa coisa de magia, mas sei que até com magia vai ser bem complicado você sair daqui!

— Não me subestime garoto!

— Eu não estou. Sei bem que eu não vou conseguir te prender aqui para sempre, mas admito que está sendo muito bom te ver assim bem indefeso.

— Você é muito insolente!

— Minha mãe sempre disse isso... Eu estou adorando esse papo com você, mas agora devolve a minha amiga! — uma grande mão se fecha em volta de onde estou. — Segura Lee! — tudo ao meu redor parece girar e então para.

— Não vou deixar que mais nada aconteça com você Tessa — a voz carinhosa do Lee me acalma.

De repente tudo para de girar, e os cristais que estão ao meu redor brilham com a suavidade do olhar do Lee. Aquela gentileza me fez ficar completamente calma, mesmo que a situação não me permitisse ficar assim.

Ponho a minha mão para frente, querendo nesse momento desesperadamente encostar nele, e digo num sussurro baixo.

— Obrigada Lee.

Escuto um barulho alto, abafado e então o olhar brando do Lee sai do cristal e olha para frente. Mesmo com o rosto transformado por conta da distorção dos cristais Lee ainda conseguia ser incrivelmente belo. Era até mais do que bonito, já que tinha pelo menos uns três dele.

Enquanto estou aqui dentro me permito ter esses tipos de pensamentos, já que não posso fazer mais nada.

— Merda! — algo incrivelmente belo estava por trás desse pequeno momento em que o Lee xingou. Não sei, acredito que pelo xingamento ele se tornou um pouco mais real para mim. — Gustavo! — ele grita e meu coração afunda.

A realidade cai sobre mim com a delicadeza de uma cachoeira congelante.

Olho em volta, mas não consigo descobrir o que aconteceu com o meu amigo por conta desse maldito cristal. Pelo tom do Lee não parecia ser uma coisa boa.

— Lee, joga para mim! Eu posso fazer alguma coisa! — escuto a voz da Tex em algum lugar não tão longe dali.

— Tem certeza? — sinto a dúvida na voz do Lee.

— Claro! Joga!

— Você vai ficar um pouco com a Tex... Mas pode ficar tranquila, eu não vou deixar com que nada aconteça com vocês duas — fecho os olhos com a doçura da voz do Lee e sorrio ao saber que ele realmente acredita naquela promessa.

Queria responder alguma coisa para o Lee, mas acho que ele não me escutaria de qualquer modo. Mas mesmo assim sussurrei um muito obrigada e encostei a mão num cristal que brilhava lindamente que nem os olhos dele.

Diferente das outras vezes em que acho que fui arremessada para os lados, dessa vez foi com uma sutileza que me espantou. Tudo ao meu redor parecia tão leve que me sentia flutuar. Portanto consegui sentir com facilidade quando outra mão me segurou com firmeza.

— Espero que isso funcione... — a voz da Tex estava cheia de medo, mas mesmo assim eu ainda acreditava nela.

Tex começou a sussurrar algumas palavras. Demorei um pouco a entender o que ela falava, mas eu reconheci o idioma que ela estava falando de imediato.

Quis colocar alguns toques de japonês na minha narrativa, então alguns encantamentos, magias, e alguns termos carinhosos eram falados em japonês. Estudei um pouco da língua para não passar vergonha, mas longe de mim ser fluente. Algumas frases era tudo o que eu sabia.

Riaru ni modoru. Riaru ni modoru. Riaru ni modoru — Tex repetia essa frase sem parar.

Significava algo como "voltar ao real" o que fazia muito sentido se ela quisesse me tirar dali de dentro. Abri um sorriso bem aberto ao olhar para o meu braço e perceber que ele estava ficando cada vez mais transparente e a minha visão escurecia aos poucos.

Bastou piscar uma vez para eu me ver ali do lado de fora do pingente. Meu corpo parecia estar bem fraco, então meus joelhos cederam e eu caí no chão.

— Calma, acho que é normal mesmo a fraqueza depois de sair daqui... Respire fundo algumas vezes e logo você já estará se sentindo bem — se abaixando um pouco, para falar no meu ouvido.

— Obrigada Tex — agradeço a ela e junto um pouco de forças para encostar a mão em seu ombro.

— Sem problemas... Acabei escutando as palavras que o Bruce usou para libertar o seu amigo do pingente... Gravei na minha mente, pensando que poderiam ser úteis...

— E foram mesmo. Obrigada.

— Você vai ficar bem?

— Vou sim. Pode ir. Desculpa por não ser de mais ajuda...

— Você ajuda sim. Você que não percebe.

Ela fica de pé e vai em direção ao Bruce. Ele tem um olhar furioso.

— Vocês estão me dando muito mais trabalho do que eu esperava! Mas acho que eu tinha que esperar isso de uma batalha final como essa... — Bruce diz cheio de raiva e aponta uma mão na minha direção.

Vejo quando aquela nuvem negra vem voando na minha direção. Merda, as minhas pernas ainda não me respondem com rapidez o suficiente. Mal fui resgatada pela Tex, parece que já vou ser capturada de novo.

Mas braços passam pelas minhas pernas e cintura, e quando vejo já estou sendo afastada da nuvem negra. Olho para o homem que me carrega e sorrio.

— Obrigada Gus.

— De nada. Mas eu não posso tirar o meu olho de você por meio segundo que vilões do mal já querem te aprisionar...

— Muito engraçadinho você. Tenho mesmo que jogar na sua cara que o primeiro a ser capturado foi você?

— Quer mesmo que eu te largue aqui e deixe essa massa do mal te engolir mais uma vez? — ele diz rindo, erguendo uma sobrancelha,

— Não! Não! — abraço o seu pescoço com força.

— Calma Tess, estou apenas brincando. Nunca faria uma coisa dessa com você. Nunca mais quero ver o seu corpo desaparecendo daquele jeito...

— Gus, você sempre teve as piores piadas nos piores momentos.

— Sei disso. Acho que é o meu charme.

— Só que não. Mas que tal você começar a correr mais e falar menos? A nuvem está quase nos alcançando — olho para trás e fico amedrontada com a visão. Não consigo ver mais nada, apenas o breu.

— As princesas dos livros por ai normalmente não reclamam da velocidade em que o príncipe as salvam. Se eu estou correndo devagar é porque você deve ter ganhado peso.

— Normalmente os príncipes dos livros por aí não falam nada sobre o peso da princesa!

— Estou brincando de novo. Você não é pesada Tess.

— Sei disso. Desculpa.

— Porque você está se desculpando?

— Por te envolver nessa confusão Gus. Eu não deveria ter te trazido pro meio disso tudo...

— Não se preocupe Tess. Você é minha melhor amiga. Eu não me importo de me meter em milhões de confusões por você. Mas se puder me avisa com um pouco mais de antecedência sobre confusões mágicas... Eu agradeceria.

— Vou tentar — sorrio com o comentário dele.

— Mas realmente não se preocupe Tess. Eu consigo ver o que saiu de bom do dia de hoje...

— Pode me dizer o que foi? Porque as informações estão lotando o meu cérebro...

— Com certeza foi a... — o chão treme aos nossos pés e o Gus não consegue terminar a sua frase.

Meu corpo é arremessado para frente e eu logo olho para o meu amigo. Vejo quando a sua perna está presa pela nuvem negra. Merda! O que eu faço agora?!

Mas antes que eu pense em qualquer coisa, a nuvem treme e começa a se dissolver, libertando o pé do Gus. Ajudo o meu amigo a se levantar e olhamos para onde a nuvem se movia.

Uma rajada de ar nos puxa para próximo de onde o Lee e a Tex estavam lutando. Meus olhos caem logo no braço direito do Lee, que tinha a manga da camisa cortada e vários fios de sangue escorrendo pelo corte que eu não conseguia ver se era muito profundo ou não. Já a parceira dele parecia estar ilesa.

— Você mesmo que disse que essa era a nossa última batalha... Ainda bem que você sabe que hoje vai ser o seu fim... — Lee troca a espada entre uma mão e outra, ignorando completamente o corte no braço.

Ainda bem, pelo menos assim eu posso admitir que aquilo não o estava incomodando.

— Não será o meu fim! — Bruce esbraveja e com um movimento de sua mão, um bloco de nuvem negra tenta atingir o homem que lutava com ele, mas Lee dá um rolamento para o lado, escapando. — E você, trate logo de voltar pra cá!

Ele se vira na minha direção e tenta agarrar a minha perna com a sua magia, mas Gustavo é mais rápido e me joga pro lado.

— Você é um moleque muito insistente! — Bruce mira agora a sua raiva em cima do meu melhor amigo, mas não o acerta.

Gustavo sempre foi muito ativo fisicamente, então ele nem parece cansado enquanto corre de um lado para o outro, pula alguns obstáculos e consegue desferir alguns bons socos no corpo do Bruce.

Queria eu ter essa mesma disposição física.

Já como meu estado atual não é nada bom, sou apenas um alvo ambulante, tento sair, mas é claro que o Bruce percebeu o que eu queria fazer e ergue uma muralha alta ao nosso redor. Não era bem uma muralha, mas sim uma parede de vento. Não tinha força suficiente para forçar o meu corpo além dessa parede.

— Ninguém vai a lugar nenhum — Bruce diz com um sorriso confiante.

Era bem forte mesmo. Pois com um golpe do punho, Bruce faz o meu amado de cabelos brancos voar e se chocar com muita violência na parede de ar. As costas do Lee dilaceram e ele engole um grito de dor.

— Lee! — Tex grita preocupada e corre para o seu lado para o ajudar a levantar.

— Estou bem — ele fica de pé, mas a sua respiração estava ficando estranha. Ele com certeza estava com muita dor, e cansado.

— Estou cansando dessa brincadeira com vocês. Acho melhor dar um fim a tudo isso — Bruce anuncia e sinto um baque forte atrás da minha cabeça.

Minha visão treme e luto contra as minhas pernas para permanecer de pé. Nem sei quanto tempo se passa depois disso. Escuto alguns sons abafados, minha boca queima com o gosto metálico do sangue. E luto com a minha consciência, mas não me deixo levar pela escuridão.

Olho para o lado e mesmo com tudo distorcido e esquisito, consigo perceber que o meu amigo estava no chão, mexia os braços, para tentar erguer o tronco. Tex estava com um joelho no chão, usando a espada em suas mãos para se erguer.

E o que mais me preocupou foi o Lee. Ele estava sendo erguido pela gola da camisa pelo Bruce. Seus braços pendiam do lado do seu corpo e não havia nenhum sinal de reação vindo dele.

Meus olhos enchem de lágrimas e a minha garganta fecha quando vejo Bruce abrir os dedos e o corpo do Lee cai no chão com um baque seco.

Não. Isso não podia estar acontecendo.

Até hoje de manhã eu nem imaginava que o Lee pudesse um dia ser real, e agora que parecia que a vida estava escorrendo do seu corpo, eu sofria amargamente.

— LEE! — o grito sai estrangulado do fundo da minha alma e me sinto vazia.

Oi!

Esse capítulo definitivamente acabou comigo, mas parece que a Tessa não estava preparada para essa expressão:

Espadachim experiente + Guerreira milenar + Melhor amigo praticante de jiu-jitsu + Alvo ambulante < Mago do mal

E o que aprendemos no capítulo de hoje? Vantagem numérica não vale de muita coisa contra magia.

Kkkkkk #rindomascomrespeito

O que vocês acham que vai acontecer agora?  Deixem aqui nos comentários o que acham,  não se esqueçam de votar se tiverem gostado! Até o próximo capítulo ❤️

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top