Parte 6
Embora tivesse acordado cedo para sua sessão naquela sexta-feira ensolarada, Bucky encontrou encanto na singularidade da rotina naquele horário. Pais e mães acompanhavam seus filhos até a escola que ficava nas proximidades e casais idosos e apaixonados por corridas se dirigiam ao Prospect Park. O calor matinal envolvendo-o enquanto pilotava sua moto era tão reconfortante que ele até considerou a ideia de deixar de esconder seus braços e mãos sob camisas de mangas compridas, moletons, jaquetas de couro ou luvas, tudo para sentir o sol aquecendo sua pele.
Ao estacionar, Bucky puxou o descanso da moto, usando a ponta do sapato antes de remover o capacete e acomodá-lo em seu colo. Enquanto arrumava os fios compridos com as mãos, seus pensamentos flutuaram pela serenidade da manhã, absorvendo a beleza do sol filtrado pelas folhas das árvores ao longo da 1st St.
Seus olhos então se fixaram em Ellie, do outro lado da rua. Ela caminhava de um lado para o outro, com o celular grudado na orelha, enquanto uma conversa em espanhol ecoava distante. O semblante tenso de Ellie não passou despercebido pelos olhos azuis de Bucky, que notaram imediatamente o uniforme do abrigo que ela usava e os quatro sacos enormes de ração à sua porta. Bucky suspirou, esboçando um sorriso e cruzou os braços, apoiando-se sobre o capacete e aguardando Ellie terminar a ligação.
Ellie suspirou e lançou um olhar pensativo para o aparelho assim que finalizou a ligação. Em seguida, seus olhos encontraram Bucky, do outro lado da rua, fazendo-a apoiar as mãos na cintura e soltar uma risada ao baixar o olhar.
Bucky aproximou-se dela com passos tranquilos, observando atentamente sua postura.
— Parece que cheguei na hora certa — Bucky afirmou ao passar por Ellie, exibindo um sorriso. Subiu os degraus e, de uma só vez, pegou dois sacos de ração. Ao retornar até Ellie, o porta-malas do veículo já estava aberto.
Ellie soltou um suspiro profundo.
— Obrigada, James... — agradeceu, deixando escapar outro suspiro. — Eu não entendo por que isso está acontecendo, me perdoe — desculpou-se, referindo-se ao fato de Bucky mais uma vez estar ajudando-a com as rações entregues em sua casa, em vez de no abrigo.
— Não tem problema — ele respondeu com um sorriso e, em seguida, retornou para pegar os outros dois sacos de ração da porta de Ellie.
— O que você vai fazer agora? — ela perguntou assim que ele voltou com as rações.
Bucky acomodou os outros dois sacos no porta-malas e dirigiu seu olhar para Ellie.
— Na verdade, eu só ia adiantar algo para a janta — ele comentou com um leve sorriso, embora fosse uma mentira. Na realidade, Bucky tinha a intenção de passar o dia trabalhando em seu corrimão, lixando a madeira antiga, aplicando verniz e encerando. — E você? No que está pensando?
— Hm... Vou para o abrigo — ela murmurou. — Gostaria de conhecer? — perguntou, com um tom animado e os olhos brilhando de expectativa.
— Claro, parece interessante — a resposta de Bucky fez Ellie sorrir ainda mais.
— Certo, então... Vamos? — ela disse, fechando o porta-malas e dirigindo-se à porta do motorista, ao mesmo tempo que indicava a porta do passageiro para Bucky, que buscou o capacete em cima de sua moto antes de entrar no SUV.
Enquanto Ellie dirigia tranquilamente, contornando o imenso e charmoso Prospect Park, os olhos azuis permaneciam atentos aos detalhes do interior do veículo. O acabamento era todo em tom bege, com o soft touch proporcionando uma sensação agradável ao toque. O painel abrigava uma grande tela multimídia e um console robusto entre eles, onde se encontravam os botões de controle do ar condicionado, a marcha pequena automática e outros botões cuja função ele não fazia ideia, mas que adicionavam um toque de modernidade ao carro.
O teto, por sua vez, abrigava um enorme teto solar, enchendo o interior do veículo com luz natural filtrada pela película escura. O banco era tão confortável que parecia abraçar o seu corpo.
Seus olhos então percorreram por Ellie. Desta vez, ela usava uma regata preta, ostentando o símbolo do abrigo, a regata que acentuava suas curvas, destacando seu tamanho interessante de seios. Bucky sentiu seu rosto aquecer quando Ellie o olhou com um sorriso cativante.
— É lindo, não é? — ela perguntou, direcionando o olhar para o parque.
— Uhum — Bucky murmurou, recostando a cabeça no encosto do banco e contemplando as árvores que envolviam grande parte do parque. Lindos... Lindo.
Em questão de minutos, a paisagem urbana de casas aglomeradas e trânsito caótico se transformou em uma viagem no tempo quando chegaram ao distrito histórico do Ditmas Park, em Flatbush. Agora, estavam rodeados por um cenário de majestosas mansões vitorianas, onde árvores centenárias contavam histórias silenciosas. Ellie estacionou o carro em frente a uma das imponentes mansões, e Bucky inclinou-se enquanto desafivelava o cinto de segurança, admirando o edifício gigantesco que ocupava um grande terreno em uma esquina. A mansão de três pavimentos exibia uma ampla varanda circular voltada para a esquina do terreno, com telhas coloniais acinzentas, fachada amarela e um generoso jardim a envolvê-la.
Ellie soltou uma risada discreta ao notar a reação de Bucky com o lugar, lembrando-se de como ela própria havia reagido quando conheceu o distrito histórico pela primeira vez. Embora estivessem a menos de vinte minutos de onde moravam, a transição entre os bairros dava a sensação de que tinham viajado por horas.
— Bem-vindo a Flatbush, James — ela proferiu, sendo recompensada com um olhar brilhante e um sorriso caloroso de Bucky.
Os dois entraram no local, seus olhos azuis perdidos e impressionados com cada detalhe. A adaptação da mansão vitoriana em um abrigo resultou em uma combinação única de elegância clássica e funcionalidade contemporânea. Os elementos característicos do estilo, incluindo o pé direito com medidas generosas, o lustre de cristal com suas delicadas nuances douradas e o luxuoso piso de mármore, criavam uma atmosfera única.
— Incrível, não é? — Um adolescente de voz nasalada, também vestindo a camisa do abrigo, se aproximou com um tablet nas mãos, observando Bucky. — Isso aqui nem sempre foi assim. Você deveria ter visto como era antes... Parecia até um cenário dos filmes do James Wan — disse, fazendo os olhos azuis de Bucky se estreitarem em confusão. — Invocação do Mal... Não? — acrescentou, na expectativa de que Bucky entendesse sua referência, mas permaneceu com a expressão perplexa. Invocação o quê?
— Ellie! — Um homem jovem apareceu, sua aparência era semelhante à do mais novo, com a pele pálida, cabelos dourados e lisos e olhos azuis claros; provavelmente eram irmãos. — Ele não entende suas nerdices, bobão — dirigiu-se rapidamente ao mais novo e depois voltou o olhar para Ellie. — Desculpe, Ellie, não conseguimos vir mais cedo...
— Eu sei, Richie, está tudo bem — Ellie murmurou. — Gente, este é James Bucky Barnes — ela olhou para o Sargento enquanto falava. — E James, estes são os irmãos Richie e Mike.
— Eu sei, ele é um herói, o melhor amigo de Steve Rogers — o mais novo começou a falar. — É verdade que a Hyd... — foi prontamente interrompido pelo irmão mais velho, que conhecia cada palavra que o mais novo estava prestes a dizer ou todas as milhões de perguntas que viriam a seguir.
— Mike — disse Richie, o tom repreensivo. — É um prazer conhecer você, Bucky — declarou gentilmente.
Ellie riu baixo.
— Mike é o responsável pelo estoque das rações — Ellie explicou, apontando para o tablet nas mãos do mais novo. — E Richie é estagiário no Patinhas, ele trabalha comigo — olhou para o mais velho. — Ele vai ser um ótimo veterinário um dia — acrescentou, expressando seu orgulho. Bucky notou o rosto de Richie adquirindo um tom escarlate enquanto ele lutava para conter um sorriso diante do elogio de Ellie. Por um breve momento, Bucky avaliou a situação com um olhar pensativo, mas rapidamente relaxou sua expressão de sobrancelhas franzidas e olhos estreitos, substituindo-a por um sorriso amigável forçado.
— Oi... — Bucky cumprimentou, oferecendo um sorriso e acenando.
— Meninos, preciso verificar os atendimentos de hoje, vocês podem fazer companhia ao James quando possível? — Foi quase um pedido, ela disse antes de deixá-los sozinhos e se encaminhar para o amplo balcão onde deveria ser a sala de estar principal da casa.
Richie e Mike trocaram olhares quando Ellie se afastou.
— Meninos... — murmurou o mais velho, observando sem piscar, Ellie se afastar.
Depois de acompanhar Bucky até o carro e observar enquanto ele levava todos os sacos de ração para dentro, Mike fez questão de guiá-lo em um tour pela casa. Durante o passeio, ele compartilhou toda a história de como Ellie havia ajudado o Senhor Filch, o dono do abrigo, na restauração do lugar. Mike conduziu Bucky por cada cômodo da mansão, exibindo fotos que ilustravam o estado original antes da reforma. Ele apresentou os quartos, outrora destinados a convidados e visitantes, agora transformados em espaços de descanso e recuperação para os animais. As salas que antes eram destinadas ao salão de jogos, bar luxuoso e outros propósitos, haviam se transformado em salas de consulta veterinária, onde os animais recebiam cuidados médicos. Bucky também teve a oportunidade de conhecer as baias dos cães e gatos, distribuídas em andares separados da casa para evitar possíveis conflitos. As baias abrigavam animais sem raça definida ou até mesmo de raça, muitos deles abandonados ou resgatados das ruas. Para concluir o tour, Mike apresentou a parte que mais apreciava na casa: o jardim exuberante que rodeava a mansão, servindo como pátio onde os animais desfrutavam do banho de sol, exercícios e momentos de lazer ao ar livre.
— Hm... Senhor Barnes... — murmurou, analisando algo no tablet em suas mãos.
— Bucky.
— Bucky — Mike disse com um sorriso animado. — Preciso verificar uma coisa, você se importa de ficar sozinho por um instante? — Perguntou gentilmente.
— Não, Mike, pode ir — Bucky disse com um sorriso e uma expressão amigável.
Bucky observou o garoto assentir rapidamente antes de se apressar em direção à casa. Em seguida, ele segui-o, entrando na mansão em busca de Ellie, que permanecia concentrada em alguma tarefa no computador no amplo balcão.
— Mike mostrou o lugar para você? — Ellie perguntou, sorrindo ao notar a presença de Bucky.
— Mostrou... cada centímetro, sem parar de falar — Bucky respondeu, com um tom divertido, fazendo Ellie rir. Antes que pudessem continuar a conversa, uma menininha de grandes olhos verdes, sardinhas pintadas em seu nariz e bochechas e um rabo de cavalo ruivo preso no alto, apareceu ao lado de Bucky.
— Senhorita Ellie... — chamou, colocando uma coleira azul partida sobre o balcão —, acabei de voltar com o Rufus. Ele está fazendo xixi normalmente, mas acho que não gostou muito da coleira nova... — relatou, depois ergueu os olhos para Bucky. — Olá — o examinou de cima a baixo enquanto Ellie apenas observava a cena. A garotinha então estreitou os olhos, como se ponderasse algum pensamento, e em seguida correu em direção às escadas.
— O que deu nela? — Bucky perguntou, achando graça da situação.
— Essa é uma ótima pergunta — Ellie respondeu com uma risada e voltou a mexer no computador.
O som dos passos da garotinha correndo se aproximaram, e os dois novamente pararam para olhar.
— O que você está aprontando, Ana? — Ellie perguntou sem desviar a atenção das informações na tela ou do mouse.
— Acho que vai caber — Ana respondeu, esticando um uniforme do abrigo na frente de Bucky, chamando a atenção de Ellie.
— Hm, Ana... — Ellie murmurou — Bucky não é voluntário, querida... — disse, com um tom tímido e as bochechas assumindo um tom rosado.
— Na verdade, eu vou provar isso — Bucky disse, arrancando um sorriso de orelha a orelha de Ana ao pegar o uniforme preto.
Ellie e Ana compartilharam um olhar expectante enquanto Bucky se encaminhava para um dos banheiros. Aguardaram ansiosamente pela sua volta e logo seus olhares curiosos se fixaram na porta em que Bucky havia entrado, prontos para recebê-lo ao ouvir o rangido da mesma se abrir.
— Eu disse que caberia!
Ellie ficou em silêncio, com os lábios entreabertos, ao ver Bucky se aproximar vestindo apenas o uniforme do abrigo, sem o moletom ou as luvas. Os músculos definidos e as veias do braço direito visíveis, assim como os detalhes dourados pelo braço de vibranium. Ellie permitiu que um calor delicioso de desejo percorresse seu corpo, arrepiando sua pele até chegar à região mais sensível.
— Ninguém sabe, mas os voluntários aqui são remunerados — Ana sussurrou para Bucky, que riu. — Mas a gente não espalha isso, a Senhorita Ellie e o Senhor Filch preferem que as pessoas trabalhem aqui porque querem ajudar de verdade e porque gostam dos animais — explicou inocentemente, fazendo Bucky sorrir para ela. Em seguida, seus olhos azuis desviaram-se para Ellie.
— Posso? — Indagou Bucky, deslizando a mão pelo peitoral e ajeitando o uniforme.
— Você realmente quer esse emprego?
— Seria bom ter um — admitiu ele, enquanto Ellie tentava, em vão, esconder seu sorriso.
— Bem, acho que o Senhor Filch não reclamaria de ter um novo voluntário herói — Ellie disse com orgulho. — Mas saiba que você não está livre das tarefas de limpar as baias ou dar banho nos animais — acrescentou, o tom divertido se misturando às palavras.
— Ou de limpar o cocô do Senhor Fofo — Ana disse, soltando uma risadinha travessa.
— Senhor Fofo? — Bucky ergueu a sobrancelha para a ruiva e, em seguida, olhou para Ellie.
Ellie riu discretamente e aguardou pela resposta de Ana.
— O cachorro mais velho do abrigo — explicou a garotinha. — Ou... o dono do cocô mais fedido do abrigo.
Bucky e Ellie passaram o dia no abrigo. Apesar do trabalho sério que realizavam ali, o ambiente era tranquilo, e contavam com outras pessoas para ajudar.
— Tchauzinho, Sra. Collins — Ellie se despediu da senhora e de Cotton, o Lulu da Pomerânia de pelagem branca que Bucky havia visto entrar com Ellie na sala de vacinação minutos atrás.
— Ellie... — Richie chamou, parando ao lado de Ellie na porta, enquanto Bucky organizava a prateleira de brinquedos e prestava atenção nos dois. — A Senhora Collins é uma cliente frequente agora... — ele murmurou.
— Sim?
— É que... Ela não parece precisar muito da nossa ajuda... — disse Richie, constrangido, alisando o próprio braço e desviando o olhar de Ellie por um momento.
— Richie... — Ellie suspirou e olhou ao redor, certificando-se de que ninguém estivesse por perto. — Não podemos julgar pela aparência — Richie assentiu —, se a Senhora Collins escolhe vir até nós para cuidar de seu cachorrinho, é porque precisa e gosta do nosso atendimento — disse, então, deu um aperto suave nos braços do rapaz. — Relaxa, Richie, e você já pode ir para casa.
Bucky sorriu enquanto ouvia atentamente cada palavra de Ellie a Richie.
. . .
Ellie suspirou ao estacionar em sua vaga e dirigiu o olhar para Bucky, que estava no banco do carona.
— Foi um longo dia... — ela murmurou com um sorriso, mantendo as mãos no volante.
— É... — sussurrou, olhando para Ellie. — Está com fome? Eu tenho pizza e vinho.
— Humm... Desculpe, mas vou ter que aceitar — disse, virando-se para Bucky. — Estou com muita, muita fome... e cansada demais para preparar algo — admitiu com uma risada.
— Então é o seu dia de sorte — ele disse com um sorriso, e seus olhos castanhos desviaram-se para o braço biônico ao seu lado. Sem dúvida é.
Ellie limpou a garganta, recompondo-se em seu lugar.
— Vou ver como o Miles está e depois vou tomar um banho rápido, tudo bem?
— Claro.
Enquanto Ellie deixava os dedos percorrerem pelas prateleiras de livros, com uma música suave ao fundo e o aroma de queijo derretido ainda flutuando pelo ambiente, um título familiar capturou sua atenção na estante da biblioteca de Bucky, entre os volumes mais antigos: O Jardim Secreto. Era sua obra favorita da infância, publicada pela primeira vez em 1911, e mais tarde se tornou a história predileta de sua querida Barbie.
— Achou algo interessante? — Bucky perguntou, parando ao lado de Ellie com as taças e o vinho tinto português. Nada melhor do que um bom vinho depois de uma pizza deliciosa.
— Isso. — Ellie segurou o livro com ambas as mãos, mostrando a capa.
— O Jardim Secreto... — Bucky murmurou o título do livro. — Interessante. Você leu este em... — fingiu pensar em uma data aleatória — 1920? — Perguntou com ironia, divertindo-se ao lembrar da outra noite em que Ellie mencionou ter lido um livro de 1916.
— Quase, James — disse com um tom divertido, depois colocou o livro de volta em seu lugar. — Vou querer emprestado um dia.
— Quando quiser — disse com um sorriso, entregando uma das taças a Ellie.
— Obrigada — murmurou, observando Bucky servir o vinho com habilidade. O aroma do vinho tinto, rico e encorpado, envolveu suas narinas, enchendo o ambiente com suas notas profundas e aveludadas.
Após se servirem, os dois se aconchegaram no Chesterfield. Ellie recolheu as pernas dobradas sobre o assento confortável e apoiou o rosto em seu braço direito sobre o encosto, enquanto prestava atenção em algo que Bucky contava.
— E você? Onde estava quando... tudo aconteceu? — Bucky referiu-se ao Blip, à época em que Tony Stark deu sua vida para trazer todos de volta, cinco anos após o titã louco dizimar metade dos seres vivos da Terra com um simples e cruel estalar de dedos.
— Do outro lado da rua... Eu tinha me mudado há pouco tempo — Ellie disse com um sorriso, mas logo abaixou o olhar em direção à taça, deixando as lembranças flutuarem para longe. — Tudo ficou terrivelmente silencioso por anos, em todos os lugares, e então... de repente, os pássaros voltaram a cantar, e o burburinho das pessoas quando retornaram era confuso e angustiante... Foi uma época difícil... Durante e depois do Blip.
— Eu posso imaginar...
— Eu não gosto muito de relembrar dessa época, foi realmente muito difícil para todos que ficaram... — suspirou profundamente ao falar e deu um gole generoso no vinho.
— Desculpa... — Bucky sussurrou, seus lábios se apertaram enquanto observava a expressão no rosto de Ellie.
— Não, tudo bem, eu... eu não... — Ellie fez uma pausa para suspirar, depois riu suavemente e deslizou a mão por cima da mão direita de Bucky, que repousava entre eles no sofá. — Está tudo bem.
Bucky observou a mão delicada sobre a sua e, com suavidade, virou a mão para segurar a dela, acariciando as costas da mão de Ellie com o polegar. Ellie ergueu a taça novamente até os lábios com a outra mão, e Bucky subiu o olhar por seu pescoço convidativo, passando pelo colar dourado com uma medalhinha delicada, até finalmente pousar nos seios ligeiramente expostos pela blusinha branca de alças finas que ela usava. Seu olhar ardente continuou a percorrer as longas pernas dobradas sobre o sofá, a pele sedosa convidando sua mão para uma exploração mais íntima.
— Bucky... — Ellie murmurou, fazendo os olhos azuis se erguerem de volta aos dela, sentindo o rosto aquecer pelo receio de ter sido pego. E embora soubesse que ela preferia chamá-lo de James, ele adorava a maneira como "Bucky" fluía de seus lábios delicados como uma carícia suave.
Ellie então ergueu a taça vazia na frente dele, arrancando uma risada baixa de Bucky, que se acomodou mais confortavelmente no sofá para pegar a garrafa de vinho sobre a mesa de centro e servir mais uma taça para ela.
— Obrigada — balbuciou, tomando outro gole em seguida.
— Ainda bem que eu comprei duas dessa — Bucky disse com um tom divertido, referindo-se a garrafa de vinho português ao devolvê-la para a mesa de centro.
Ellie riu, os lábios tingidos de vinho.
— Anos, amantes e taças de vinho são coisas que nunca devem ser contadas — disse, erguendo a taça em um gesto sutil antes de levá-la novamente à boca para mais um gole generoso —, mas devo confessar que duas dessa são o meu limite — acrescentou, sua fala ligeiramente embolada pelo vinho. — Você pretende beber isso? — Apontou para a taça com dois dedos de vinho na mesa de centro, que deveria ser de Bucky, e trocou-a de lugar com a sua vazia, provocando um riso de Bucky.
— Tem certeza de que não quer comer mais?
Ellie balançou a cabeça, negando.
— Desculpa... É que vinho e pizza em uma sexta-feira são quase um pecado, eu simplesmente não resisto — declarou.
— É tudo seu, boneca... — disse com uma risada baixa.
Sem se conter, Ellie mordeu os lábios, ainda manchados de vinho, e sentiu aquela deliciosa onda de desejo percorrer seu corpo, desta vez, amplificada pelo vinho que fluía em seu organismo. Ela esticou uma das pernas e roçou o pé sutilmente pela coxa musculosa de Bucky, fazendo beicinho ao olhar para a taça novamente vazia.
Bucky riu novamente.
— Certo... Mas vou trazer outra fatia de pizza e água para você — disse, levantando-se e atraindo os olhos castanhos consigo. Antes de sair do cômodo, ele serviu mais dois dedos de vinho na taça de Ellie e deixou a garrafa na mesa de centro.
Bucky desceu as escadas e dirigiu-se à cozinha, onde pegou outra fatia de pizza e encheu um copo generoso com água gelada. Antes de retornar à biblioteca, Bucky fez uma breve parada em seu quarto, pegando o caderninho de capa preta com folhas amareladas. Ele anotou o nome do vinho português que Ellie havia apreciado e, em seguida, retomou seu caminho até a biblioteca.
Ao entrar na biblioteca, seus passos descalços reverberando suavemente no ambiente tranquilo, ele contornou o sofá e deparou-se com Ellie adormecida. A taça vazia ainda repousava em sua mão estendida para fora do sofá, e um suave ronronar escapava de seus lábios enquanto ela descansava. Um sorriso carinhoso se desenhou nos lábios de Bucky ao contemplar aquela cena encantadora.
— Ellie? — Chamou em voz baixa, colocou o prato com a fatia de pizza e o copo de água sobre a mesa de centro e, em seguida, se abaixou perto de Ellie. — Ei... — murmurou suavemente, retirando com cuidado a taça dos dedos delicados.
Ellie grunhiu em resposta, mal conseguindo abrir os olhos, e ergueu a mão em direção ao rosto de Bucky, apertando sutil e desajeitadamente suas bochechas entre os dedos.
— Só um minutinho... — balbuciou ela, suas palavras escapando em murmurinhos sonolentos. Ellie soltou o rosto de James com delicadeza, seus dedos deslizando suavemente pela barba dele, explorando a textura com uma suavidade quase hipnótica. Então, em um gesto sonolento, ela ergueu o indicador e o pressionou suavemente contra os lábios dele, como se quisesse silenciar qualquer pergunta não dita que pudesse surgir em sua mente, antes de relaxar a mão e se deixar envolver novamente pelo sono.
Bucky observou-a por um momento, envolta em uma aura de tranquilidade. Seu olhar carregava um misto de fascínio e admiração enquanto ele se deixava inebriar pela graça serena de seu sono, antes de decidir deixá-la descansar em paz.
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