Parte 5
— Amigos? — Sam Wilson exclamou com uma risada estrondosa, enquanto dava um tapa no braço de seu amigo sentado ao seu lado, provocando um revirar de olhos de Bucky. — No máximo, amigos compartilham playlists, não suas contas de aplicativos — acrescentou, ainda rindo e com um toque de ironia em seu tom.
Bucky tentou disfarçar, desviando o olhar para qualquer coisa que não fosse o rosto expressivo da Dra. Raynor, que parecia estar se divertindo com a situação.
— Então, você finalmente decidiu seguir meus conselhos e se abrir para conhecer pessoas novas? — Raynor disse, com um tom satisfeito em sua voz.
— Pode apostar que sim, Dra.! — Sam respondeu de imediato, antes que Bucky tivesse a chance de dizer algo, com um sorriso maroto cativo em seu rosto. — Ela até preparou uma sobremesa para ele...
Raynor lutava para conter o riso. Afinal, aquela era uma sessão de terapia como todas as outras, não um encontro casual entre amigos. No entanto, sentia-se contente ao saber que Bucky finalmente estava permitindo que outras pessoas se aproximassem dele.
— Você quer parar? — Bucky lançou um olhar de canto para o Capitão e cruzou os braços. — Ellie é minha vizinha... e uma amiga... — murmurou, buscando se explicar.
— Claro — Wilson balbuciou, lutando para conter um riso abafado enquanto balançava a cabeça. — Está tentando se convencer disso?
— Não estou tentando nada. — Bucky respondeu de forma decidida.
— Não? Então você deve estar ciente de que não há nada de errado em gostar da sua simpática vizinha.
— Eu não es-... — Bucky começou, mas sua tentativa de resposta foi prontamente interrompida pelos pigarros irritados e propositais da terapeuta.
— Muito bem, então — disse Raynor. — É ótimo ver que você está fazendo novas amizades, James. É um passo importante. — Ela concluiu, encerrando o assunto antes que a sessão terminasse com os dois se encarando em um "jogo de quem fica mais tempo sem piscar". — E quanto a você, Sam, como está lidando com a responsabilidade de ser o novo Capitão América?
Bucky suspirou, assumindo uma postura mais séria enquanto se acomodava no sofá confortável, aguardando com expectativa a resposta de Sam. Sam fez o mesmo, ponderando sua resposta com um olhar distante e um suspiro profundo antes de voltar a atenção para Raynor.
— É uma honra, com certeza... Mas também é um peso enorme. Ser o Capitão América é representar um símbolo, e eu quero fazer jus a ele... defender o que é certo.
— Um bom discurso você já sabe fazer — Bucky disse, apertando o ombro do amigo na tentativa de confortá-lo e aliviar a tensão que pairava no ar. Bucky reconhecia que Sam estava desempenhando um ótimo trabalho como Capitão América e sentia muito orgulho dele.
Sam sorriu brevemente para o amigo antes de suspirar. Ele então voltou a focar sua atenção na Dra. Raynor, que estava sentada, atenta e concentrada na poltrona à sua frente. Com determinação e uma emocionalidade palpável em sua voz, Sam começou a falar, finalmente enfrentando uma conversa que vinha adiando por um longo tempo, mas que agora sentia que era o momento e o lugar certo para compartilhar seus sentimentos mais profundos.
— Uma vez me disseram que eu seria odiado por isso — começou Sam, sua expressão séria. — Alguém me disse que o povo americano, o mundo, nunca aceitaria um homem negro como o Capitão América. E que nenhum negro que se respeite aceitaria esse papel — proferiu, deixando escapar uma pausa pesada. — Mas eu sabia que precisava provar que as "estrelas e listras" são mais do que cabelos loiros e olhos azuis, mais do que a cor da minha pele ou o soro do Super Soldado. Eu só quero defender meu país, assim como Steve desejava antes de ter o soro em suas veias. Isso foi apenas... uma condição imposta a ele. Steve teria enfrentado os nazistas com ou sem o soro. Ele não era apenas o soro e não era apenas o escudo; foi por isso que foi escolhido.
A Dra. Raynor ouvira atentamente, capturando a profundidade das palavras de Sam quando ele compartilhara sua jornada pessoal e suas convicções sobre o legado do Capitão América. Ao mesmo tempo, Bucky também refletira sobre a escolha do Dr. Erskine ao selecionar Steve Rogers, consciente de que Steve era intrinsecamente um homem bom e que, por ter sido fraco a vida inteira, não perderia o respeito pela força que ganharia.
— Por isso Steve escolheu você — Raynor disse, um leve sorriso nos lábios e o brilho de um olhar orgulhoso.
Bucky sorria com cada palavra que ouvia de seu amigo e de Raynor, enquanto suas lembranças flutuavam de volta para o momento em que Steve Rogers retornara do passado, apenas para entregar o escudo a Sam Wilson.
. . .
— Você tem certeza de que não precisa de ajuda com esse caso? — Bucky perguntou ao amigo, enquanto conversavam na calçada da sua nova vizinhança.
— Não, está tudo sob controle — Sam disse com um sorriso tranquilo. — O FBI já possui todas as localizações e nomes.
Bucky suspirou aliviado, mas não pôde deixar de sorrir, confiante nas habilidades do amigo.
— Eu devia achar tudo isso entediante — começou, estendendo os braços ligeiramente ao olhar ao redor, a vida tranquila, sem memórias apagadas, ordens inquebráveis ou guerra —, mas eu deveria me sentir mal por não achar? — Bucky riu da própria fala, depois suspirou, olhando para sua casa. — Isso é a paz que tanto falaram?
Sam riu, observando a nova casa de Bucky com a mesma expressão que seu amigo antes de responder.
— Não, não deveria se sentir mal por isso, Buck — afirmou Sam, um tom animado em suas palavras. — E aparentemente sim. Cada um tem um conceito de paz diferente, e acho que no nosso caso, no caso dos Vingadores, ter um lar e uma "vida normal" é o auge da nossa paz — disse, fazendo Bucky rir baixo.
Enquanto os dois conversavam, na penumbra da noite, as lanternas do Range Rover banharam os arredores da vizinhança ao se aproximarem, antes de estacionar e capturar a atenção dos heróis.
Sam deu um cutucão nada discreto em Bucky com o braço, e ambos observaram a rua voltar a ser iluminada apenas pela suave e amarelada iluminação dos postes quando o motor do veículo foi desligado. Ellie saiu do carro, percebendo a presença dos dois do outro lado da rua.
Bucky acenou de forma convidativa, indicando que Ellie deveria se juntar a eles. Timidamente, ela atravessou a rua enquanto guardava a chave do carro no bolso de sua calça, se aproximando dos dois.
— Ellie, quero que conheça um amigo — Bucky olhou para Sam com orgulho. — Este é Sam Wilson.
— É um prazer finalmente conhecer você, Ellie — disse Sam, fazendo Bucky estreitar os olhos para ele. Ellie sorriu timidamente, e Sam pegou delicadamente a mão dela, depositando um beijo sutil nos nós de seus dedos.
— O prazer é todo meu, Capitão — disse, arrancando um sorriso dos dois amigos. — Vi você na TV outro dia... Belo discurso. — Acrescentou, fazendo o sorriso nos lábios de Sam se alargar ainda mais.
— Deve ser hereditário — Bucky brincou, suas palavras carregadas de humor, o que arrancou uma risada sutil de ambos.
— É, deve ser efeito do escudo — disse Sam, aderindo à brincadeira. — Obrigado, Ellie.
Sam direcionou o olhar para o símbolo, localizado no canto superior esquerdo da camiseta preta de Ellie, onde as silhuetas de um cachorro e um gato se entrelaçavam de forma artística, formando uma única imagem com um único traço, acompanhada pela inscrição "Patinhas Felizes" logo abaixo.
— Você é voluntária? — Sam apontou para a camisa de Ellie, o que fez com que Bucky também voltasse seu olhar para o mesmo lugar. Isso fazia sentido para Bucky, pois eles se conheceram quando ela precisava de ajuda com alguns sacos de ração.
Ellie desceu o olhar para a camisa preta adornada por pelos de diversos bichinhos, e exibiu um sorriso orgulhoso.
— Eu diria que estou um pouco mais envolvida — disse, atraindo olhares curiosos dos heróis, que permanceram em silêncio, aguardando o desdobrar de uma história intrigante. — Bem... — Ellie limpou a garganta antes de prosseguir: — Quando eu descobri este lugar, não foi difícil perceber que precisavam de ajuda... — ela pressionou os lábios, como se lembranças não muito felizes estivessem fluindo até o momento em questão. — Não podia simplesmente deixar os animaizinhos sem comida, conforto ou cuidados médicos, então eu... ofereci ajuda — disse, como se fosse um ato simples, embora todos soubessem que ajudar um abrigo envolvia muito mais do que esforço físico e alguns pacotes de ração.
— Então você é veterinária? — Bucky perguntou, com um tom genuinamente curioso.
— Na verdade, sim... — Ellie murmurou timidamente, como se evitasse o destaque ao falar sobre suas habilidades e altruísmo. — Eu tinha tempo livre, então... Por que não ajudar? — Ela explicou, tentando desviar a atenção do aspecto altruísta que a fazia sentir-se desconfortável.
— Você é uma artista e também cuida de um abrigo... — Bucky comentou, com um tom de admiração, enquanto balançava a cabeça com um sorriso.
— E faz uma sobremesa maravilhosa — Sam acrescentou, atraindo o olhar curioso de Ellie, que observou Bucky com um ponto de interrogação no meio da testa antes de voltar a atenção para Sam, como se perguntasse silenciosamente "como você sabe disso?". Sam soltou uma risada descontraída, notando o leve rubor no rosto de Ellie. Ele então explicou com um sorriso travesso: – eu estava aqui quando você entregou aquele espetáculo de cheesecake para este sujeito insuportável – referindo-se a Bucky, que fez uma careta, revirou os olhos e cruzou os braços.
Bucky percebeu o olhar manso de Ellie e sua reação tímida. Ela poderia falar incansavelmente sobre os livros que havia lido, especialmente os antigos que adorava, mas ouvir todas aquelas qualidades elogiosas a respeito dela a deixou desconfortável, como se não quisesse se destacar demais.
— Sam... — Bucky murmurou com um riso suave, em seguida, olhou para Ellie e deu um gentil aperto em sua cintura com as pontas dos dedos, buscando confortá-la com aquele gesto simples.
O toque suave de Bucky em sua cintura a fez estremecer levemente, mas também trouxe um calor reconfortante. Ela olhou para ele com um agradecimento silencioso em seus olhos e um pequeno sorriso nos lábios como agradecesse sem precisar das palavras.
— Desculpe, me desculpe — Sam disse enquanto tentava conter o riso. — Eu não quero te deixar desconfortável, o que você faz é incrível — acrescentou, buscando tranquilizar Ellie.
— Não se preocupe, Ellie, você está conversando com a modéstia em pessoa — disse Bucky com um tom irônico e divertido, lançando um olhar na direção de Sam, que arqueou as sobrancelhas em uma expressão igualmente irônica.
— Eu não tenho culpa de ser o Capitão América mais bonito de todos.
Bucky e Ellie compartilharam um riso sutil quase sincronizado ao ouvir Sam, ambos abaixando o olhar brevemente antes de olharem um para o outro.
— Obrigada... — ela murmurou. — Eu preciso ir agora... Tenho que ver o Miles e ainda tenho uma pintura para terminar esta noite — informou. — Foi um prazer conhecer você, Sam – disse com um sorriso e depois desviou o olhar para Bucky. — Até depois – sussurrou suavemente, acariciando discretamente o braço de Bucky antes de se afastar. — Boa noite — ela olhou para os dois e acenou, então se afastou devagar.
— Boa noite, Ellie — disseram quase ao mesmo tempo, observando-a fazer o caminho de volta até sua casa.
— Miles? — Sam perguntou imediatamente assim que Ellie estava a uma distância segura para não ouvi-lo.
— É o cachorro dela — Bucky respondeu com um sorriso satisfeito.
— Hm... Ela parece legal — Sam olhou de relance para o amigo, cruzou os braços e então voltou sua atenção para ele.
— Que?!
— Ela parece ser uma pessoa boa, alguém legal de se conviver — ele disse lentamente, erguendo uma das sobrancelhas como se quisesse enfatizar seu pensamento com aquele gesto.
— Sim, qual é o problema?
Sam suspirou e rolou os olhos antes de se encaminhar para o antigo Corolla estacionado na vaga de Bucky. Ele deu a volta no carro e apoiou os braços no teto, encarando o amigo que o seguira pelo lado oposto.
— Você já parou para pensar que talvez, só talvez, tudo isso possa ter um significado? Você é um cara fora do seu tempo, sempre foi fascinado pela tecnologia e tudo relacionado a isso. Agora você pode experimentar algo que sempre foi sua paixão – Sam disse, fazendo uma pausa ligeiramente dramática. — E se, assim como a evolução da tecnologia que você tanto gostaria de conhecer, a pessoa especial que você procura também não pertence a este tempo?
— Nossa — Bucky riu discretamente. – Filosófico, Sam — ele disse com um tom irônico e divertido, não querendo admitir que talvez Sam estivesse certo sobre sua vizinha, e que, afinal, Ellie parecia ser alguém agradável de se conviver.
Sam soltou uma risada baixa.
— Está bem, meu amigo — ele disse. — Mas saiba que, se você não tomar a iniciativa, alguém pode estar neste exato momento tentando conquistar a sua garota. — O pensamento fez Bucky tensionar a mandíbula, imaginando por um instante o que Sam havia dito. — Boa noite, Bucky — Sam bateu no teto do carro antes de abrir a porta do motorista e entrar.
Bucky se afastou, observando o veículo sair da vaga e desaparecer pela rua escura. Em seguida, enfiou as mãos nos bolsos da calça e fixou o olhar na casa de Ellie. A luz do último andar brilhava, e Bucky ponderou se aquele seria o local do seu ateliê.
~
Oi, oi, leitores!
Espero que estejam gostando do início dessa história e aproveito pra pedir que não deixem de interagir, curtindo, comentando, enfim! Quem puder ajudar a indicar a história ou compartilhar com outras pessoas já ajuda muito ❤️
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top