Parte 3

Nos primeiros suspiros de março, Nova Iorque vivenciava uma metamorfose climática única, marcando a transição entre o inverno rigoroso e os primeiros sinais de uma temperatura mais acolhedora. Das janelas recém-instaladas em sua casa, Bucky pôde observar silenciosamente os flocos de neve se renderem à carícia do sol, despedindo-se da temporada gélida para dar as boas-vindas a um palco primaveril. O cenário urbano transformava-se gradualmente, as ruas antes vestidas de branco cintilante agora revelavam os primeiros indícios de um despertar floral. E assim, sob a luz suave de março, a cidade de arranha-céus viu-se transmutada, acolhendo a promessa da nova estação que se desenhava.

Bucky estava adorando aquela sensação, de acordar com a luz do sol inundando o ambiente através das frestas das cortinas, contemplar a rua movimentada ganhando vida e agora, desfrutar tranquilamente de um café em sua nova mesa de jantar. O conjunto de madeira clara, composto por uma mesa de tampo de vidro branco e cadeiras acolchoadas em um tom suave de creme, proporcionava espaço para acomodar confortavelmente até seis pessoas. A aquisição marcou sua estreia nas compras on-line, uma aventura que deixou Sam Wilson com uma nuvem de tempestade sobre a cabeça, já que ele teve a honra de responder todas as perguntas de Bucky sobre a transação — o que lhe rendeu o título honorário de "Mestre das Compras Online".

Acomodando-se na cadeira, a xícara de café firmemente segura em seus dedos de carne e osso, Bucky balançava a cabeça com um sorriso discreto enquanto seus olhos percorriam o ambiente ao redor. O local ainda estava praticamente vazio, mas a sua expressão irradiava um misto de satisfação e orgulho. Ele refletia sobre o que conseguiu fazer graças ao legado e apoio do seu amigo, sem Steve, nada daquilo teria se concretizado.

Um profundo suspiro escapou das narinas de Bucky ao se levantar e arrastar os pés descalços em direção à janela da frente. Ele afastou sutilmente a cortina floral e deparou-se com sua vizinha saindo de casa, acompanhada por um adorável cãozinho. O Border Collie de pelagem reluzente preta e manchas brancas tinha um lencinho vermelho em volta do pescoço, combinando com a coleira presa em seu torso.

Vestida com um traje esportivo claro, Ellie descia a escada devagar, enquanto o Border Collie a acompanhava, descendo degrau por degrau cuidadosamente. Seu destino era claro: ela se dirigia ao lado direito da rua, uma rota provável em direção ao Prospect Park, conhecido como o "Central Park" do Brooklyn. O parque era um refúgio matinal frequente, especialmente nos fins de semana, considerando que uma das entradas se encontrava no final daquela mesma rua.

Bucky permitiu-se um instante para admirá-la. A calça de tecido grosso, justo ao corpo, delineava com sutileza as curvas dos músculos em suas pernas, indícios de que Ellie dedicava algum tempo se cuidando. Seus olhos seguiram cada passo dela, desviando das poças d'água pela calçada, até que não pôde mais acompanhá-la pela janela. Com um suspiro leve, deu mais um gole em seu café antes de voltar para a mesa, saboreando o momento com um sorriso discreto no rosto.

Após desfrutar do café da manhã em sua recém-adquirida mesa de jantar, Bucky optou por seguir a recomendação de Sam e explorar o tal "IKEA" em busca de móveis e utensilhos para sua nova casa. A loja prometia ter "tudo e mais um pouco", e como Bucky não desejava lidar novamente com o estresse de compras on-line e códigos de rastreio, decidiu dar uma oportunidade à sugestão do Capitão.




Com destreza, Bucky deslizou pelo emaranhado de ruas até o oeste do Brooklyn e, em poucos minutos, chegou em Red Hook. Lugarzinho que exalava aroma de algas marinhas e peixe, mas ao mesmo tempo irradiava uma atmosfera acolhedora e descontraída, como uma típica aldeia costeira. Com os imponentes estaleiros e os armazéns como plano de fundo, e com um vislumbre do Upper East Side na linha do horizonte, facilmente visível do estacionamento onde Bucky havia estacionado sua moto, Red Hook revelava seu encanto inegável.

Destacando-se entre as construções em tons predominantemente acinzentados, a fachada da loja se revelava vibrante em azul e amarelo, como um farol em meio a paisagem urbana. Com passos confiantes, Bucky atravessou as portas de vidro. O interior da loja começou com algumas araras exibindo roupas de inverno, mas à medida que ele avançava, a transformação da loja era evidente.

Bucky explorou os corredores, cada um levando a um novo conjunto de ambientes. Era como passear por um catálogo tridimensional. Primeiro, passou por uma cozinha inspiradora, com móveis e eletrodomésticos brilhantes e modernos. Em seguida, encontrou-se em uma sala de estar onde o conforto parecia quase palpável, com um sofá em tecido macio, almofadas fofinhas e uma iluminação aconchegante, fazendo-o imaginar noites agradáveis de filmes.

Os olhos azuis atentos observavam cada detalhe, e embora tudo ao seu redor fosse muito bonito e moderno, nada realmente o cativou. A verdade era que Bucky não tinha uma ideia clara do que estava procurando. Ele sabia do que precisava, mas não tinha certeza de como harmonizar tudo no ambiente. Sua única certeza era de que não queria que sua casa parecesse um amontoado de móveis desconexos.

O carrinho foi preenchido com mantas fofinhas, um conjunto completo de pratos de jantar, sobremesa e café, além de outros utensílios de cozinha. Antes de concluir a visita à loja, após passar horas explorando todos os cantos e andares, Bucky se viu atraído por uma luminária de piso em um dos ambientes que compunham um quarto. Ele a examinou minuciosamente, ponderando se a levaria. Talvez se encaixasse perfeitamente na bilblioteca, ao lado de alguma poltrona.

Bucky? Bucky Barnes?! — A voz feminina, carregada de empolgação, interrompeu sua análise, fazendo-o virar para ver quem o chamava, sua sobrancelhas se arqueando em surpresa.

— Oi... — respondeu timidamente, ao se deparar com duas mulheres que o encaravam com sorrisos que iam de orelha a orelha.

— Eu pensei que ela estava ficando doida quando disse que você estava por aqui — a mais baixa disse, com um tom de voz cheio de animação e olhos brilhantes, enquanto se balançava empolgada e gesticulava com as mãos. Uma delas segurava um grande telefone azul, que mal cabia em sua mão delicada. Bucky por sua vez, se esforçava para manter o foco nos olhos das duas, embora sentisse um sutil nervosismo com a graciosa movimentação dos seios ao se mexerem. No entanto, disfarçou bem ao manter um sorriso amigável forçado no rosto.

— Bom, sou eu mesmo... — disse enquanto abria as mãos e afastava os braços do corpo.

As duas trocaram olhares igualmente entusiasmados, levando Bucky a arquear uma das sobrancelhas diante da cena.

Ambas eram muito atraentes. Seus seios com grandes proporções, ficavam levemente expostos graças às blusas decotadas que vestiam. Uma pequena parte da barriga estava à mostra, e a calça jeans justa acentuava as curvas de uma delas, enquanto a saia da mais alta revelava suas pernas torneadas. O cabelo das duas tinha um tom loiro opaco, com curvas sutis e compridas. Poderiam facilmente ser irmãs.

Bucky notou quando a mais alta cutucou a outra, sussurrando algo em seu ouvido.

Ah! Será que você se importaria de... — a mais baixa começou a falar timidamente, balançando o grande telefone azul enquanto o erguia sutilmente — tirar uma foto com a gente? — Perguntou finalmente, seu rosto corando ligeiramente.

Bucky tentou avaliar rapidamente toda a situação. Elas não pareciam representar perigo; suas roupas eram justadas demais para esconder qualquer arma que pudesse causar estragos significativos, e não demonstravam ser fisicamente preparadas para um confronto. Suas ações espontâneas, como o rubor no rosto e uma ligeira gagueira ao falar, indicavam que não representavam uma ameaça.

— Não, tudo bem — disse finalmente.

As duas se aproximaram com cautela, mostrando consideração com o espaço pessoal de Bucky.

E-eu posso? — A mais alta fez menção de abraçar o braço direito de Bucky, enquanto a outra se aproximava do outro lado.

— Fiquem à vontade — murmurou, aceitando tranquilamente a situação.

Então as duas se seguraram em Bucky, uma em cada braço. Do lado direito, ele pôde sentir a delicadeza com a qual a mulher o segurava, como se temesse apertá-lo demais. Conforme se aproximavam, Bucky percebeu os seios macios roçando contra ele e sentiu e o calor dos corpos quando a mais baixa esticou o braço, ficando na ponta dos pés para segurar o telefone com a câmera voltada para eles. Bucky forçou um sorriso, tentando não dar a impressão de que estava olhando em outra direção na foto, se não os belos seios que o cercavam.

Depois de receber toda aquela atenção, algo ao qual teria que se acostumar, dado que as pessoas costumavam sentir medo de sua presença – uma situação que aparentemente havia mudado desde que Sam Wilson assumira o escudo, tornando-se o novo Capitão América, e após enfrentarem os Flag Smashers – Bucky pagou pelas suas compras. Reservou apenas o novo jogo de talheres para levar consigo, enquanto solicitava que o restante fosse entregue em sua residência.

Bucky fez o trajeto de volta até Park Slope, desta vez em um ritmo mais lento, permitindo-se apreciar a paisagem encantadora do seu novo bairro. A beleza estava presente em como as folhas e flores caídas das árvores dançavam no chão sob a brisa. Talvez fosse porque, do outro lado do Brooklyn, as coisas pareciam mais remotas, sombrias e desprovidas de vida nos canteiros. O clima por lá sempre parecia frio e nublado. No entanto, Bucky considerou que a diferença estava mais relacionada com o que estava do lado de dentro dele do que com o que o cercava.

Ao parar em frente à sua casa, ele estacionou a moto em sua vaga e contemplou o céu em transição, do rosa-alaranjado para o escuro, filtrado pelas folhas das árvores ao longo da rua.

Bucky então percebeu o som do motor de um veículo se aproximando e logo viu o Range Rover dourado-opaco estacionando do outro lado da rua. Sua respiração deu uma pausa momentânea. Ele observou Ellie sair rapidamente do veículo e abrir a porta traseira, revelando um quadro em branco protegido por uma capa plástica. O quadro era extraordinariamente grande, grande o suficinte para esconder Ellie atrás dele e com dimensões que desafiavam o tamanho do carro. Bucky ficou intrigado com a cena inusitada. Sempre carregando coisas maiores do que ela mesma.

Deixando a porta do carro aberta, Ellie carregou o quadro até o topo das escadas de sua casa, o que deixou Bucky alerta com a situação. Ele vasculhou o entorno, atento a qualquer aproximação ou perigo iminente. Observou atentamente quando ela entrou em sua casa e deixou o quadro lá dentro, em seguida, desceu as escadas e fechou a porta do carro, trancando-o, para o alívio do soldado.

Oi, vizinho!

A voz amigável de Ellie trouxe Bucky de volta à realidade, fazendo-o perceber que ela o observava ali parado, encarando-a. Bucky até pôde ouvir a risada de Sam naquele momento. Insuportável. Ele acenou e sorriu de forma um tanto constrangida para ela e depois atravessou a rua em sua direção.

— Oi... — Bucky finalmente respondeu, tentando disfarçar seu constrangimento ao desviar o olhar para algo aleatório na calçada. Depois, ele retornou o olhar para os olhos castanhos de Ellie, iluminados pela luz do poste aceso há poucos minutos, devido ao entardecer. — Eu estava... observando... — ele admitiu, não havia como negar, enquanto passava as mãos pelos fios do seu cabelo desgrenhado pelo vento durante o trajeto de moto.

— Observando o quê? Aquilo? — Ellie disse em um tom descontrído, virando-se e apontando para dentro de sua casa, onde a porta estava aberta, revelando parte do grande quadro branco encostado na parede do corredor. — Você vai se acostumar, eu estou sempre trazendo um desses.

— Então você pinta? É uma artista?

Ellie riu, seus olhos se estreitando de maneira encantadora enquanto sorria.

— Eu pinto... Mas não sei se eu diria que sou uma artista — murmurou, tentando equilibrar entre a modéstia e a autoconfiança em sua resposta.

Bucky apenas balançou a cabeça, mantendo um sorriso suave nos lábios. Modesta.

— Então... comprando coisas para a casa nova? — Ellie perguntou, olhando para a sacola em sua mão. Era a única coisa que Bucky realmente conseguia trazer em sua moto e que ele realmente precisava no momento: um conjunto de talheres. Seus talheres antigos eram uma verdadeira confusão, pareciam ter tido um encontro do tipo "Speed Dating", onde garfos, facas e colheres nunca encontraram seus pares adequados.

— Ah, é... Eu estou tentando — Bucky riu de si mesmo enquanto falava, erguendo a sacola e olhando seu novo item.

Ellie o observou atentamente, captando a expressão em seu rosto.

— Precisa de uma ajudinha com isso? — Perguntou, com um interesse genuíno em ajudar. — Conheço várias lojas aqui na região e... — Ela fez uma pausa, poderando sobre o que dizer em seguida. — Na verdade, tem um lugar bem perto daqui que você pode gostar — acrescentou, tirando o celular do bolso de trás da sua calça e desbloqueando a tela, conferindo as horas na tela brilhante. — Ainda está aberto, se quiser dar uma passadinha lá, eu posso te acompanhar — disse com simpatia, um sorriso se desenhando nos cantos dos lábios delicados e habitualmente radiantes, seus olhos brilhando cheios de expectativa.

— Claro, seria ótimo, eu não tive muito sucesso no... — Bucky ergueu a sacola novamente, olhando o nome da loja.

IKEA... — Ellie disse, reconhecendo a logomarca na sacola. — É uma ótima loja, mas se você quiser algo mais específico, existem outras opções — ela sugeriu sutilmente.

Seus olhares brilhantes, iluminados pela luz artificial amarelada do poste, se encontraram instantaneamente quando ambos desviaram a atenção da sacola de Bucky. Parecia que, naquele momento, Bucky tinha encontrado exatamente o que estava procurando, algo que Ellie estava igualmente empolgada em mostrar.

— Parece perfeito — Bucky comentou, fazendo o sorriso de Ellie se ampliar ainda mais.

Ótimo. Legal. — Ellie disse empolgada. — É pertinho, fica só à algumas quadras daqui, podemos ir a pé — ela informou, já começando a caminhar na direção contrária ao parque.

— Hm... Você não vai...? — Bucky gesticulou rapidamente com a cabeça, indicando a porta aberta de sua casa, lutando para conter o riso.

Ellie fechou os olhos e parou, com a sombra de um sorriso em sua expressão.

— Claro... — murmurou antes de se apressar até a porta para fechá-la, enquanto Bucky a observava com um sorriso nos lábios.

Dessa vez, Ellie vestia um conjunto encantador, alinhado de forma mais coerente com a personalidade que ele começava a conhecer, em contraste com o visual preto e sedutor da outra noite. Ela vestia uma camisa branca de mangas longas, larga e confeccionada com tecido macio, que transmitia uma sensação de conforto. Combinando perfeitamente, usava uma calça jeans azul clara, justa e com as barras dobradas.

Nos pés, calçava um par de tênis brancos casuais, que sugeriam uma abordagem mais prática e dinâmica em relação ao dia que se desenrolava. E para acrescentar um toque de elegância ao conjunto, uma pashmina de lã fofa envolvia seus ombros, com um padrão quadriculado de rosa e lilás que caía graciosamente pela frente de seu corpo, alcançando a altura dos joelhos.

Os olhos azuis seguiram atentamente cada gesto de Ellie, registrando cada movimento dela até que ela finalmente retornasse até ele. Nesse instante, um lampejo de curiosidade emergiu, misturando-se à antecipação do que estava prestes a se desdobrar, criando uma atmosfera carregada de expectativa.

Os dois caminharam calmamente pelas ruas do Park Slope, as vezes trocando palavras tímidas, outras apenas contemplando a vizinhança enquanto o crepúsculo cedia lugar à noite e as luzes começavam a se acender nas casas ao redor.

— Você sempre carrega isso com você? — Ellie perguntou, seu tom divertido ao ver Bucky anotando o nome das lojas que ela mensionava em um caderninho.

Uma risada baixa escapou dos lábios de Bucky enquanto ele escrevia no caderno de capa preta, com folhas originalmente amareladas.

— Isso, e isso — ele murmurou, indicando o caderno com uma capa desgastada e o lápis preto entre os dedos de sua mão direita. Ela sorriu, capturando o brilho de seus olhos enquanto ele continuava. — Sim, sempre — acrescentou, um sorriso sutil dançando nos cantos de sua boca ao olhar para ela.

Ellie soltou uma risadinha suave, e um murmúrio quase inaudível escapou de seus lábios, a palavra "fofo" pairando no ar por um breve instante. Bucky, por sua vez, ficou na dúvida se realmente tinha captado o termo ao qual ela o direcionou.

Após alguns minutos de caminhada, seus passos finalmente os conduziram ao destino esperado, uma jóia escondida no coração do Brooklyn: o antiquário Gardens. Ellie sempre o considerou sua loja favorita. De fora, a fachada da loja se assemelhava a qualquer boutique de antiguidades comum, discreta e sem alarde, entretanto, ao cruzarem a soleira, a verdadeira magia se revelava. Os olhos azuis foram imediatamente envolvidos pelos detalhes do lugar. Era como se tivessem adentrado um local onde o tempo se distorcia, onde o presente e o passado se entrelaçavam. A estrutura do lugar era um tributo à elegância, uma ode à história que parecia se desdobrar diante de seus olhos.

A disposição dos itens era meticulosa. Tudo estava em seu lugar, como se cada item tivesse sido colocado ali com o cuidado de quem cultiva um jardim exuberante. As paredes pareciam ser testemunhas silenciosas de séculos de histórias, e os móveis e itens de decoração, embora pertencessem a um tempo passado, mantinham-se em estado impecável. Era como se o próprio tempo tivesse escolhido preservar sua beleza.

Uma iluminação suave, quase divina, banhava o ambiente, criando uma cena semelhante a um palco teatral, onde cada elemento desempenhava seu papel em um drama silencioso. A luz envolvia afetuosamente cada peça, como se estivesse ansiosa para revelar suas histórias e detalhes únicos.

Era como se a própria loja funcionasse como um portal, uma passagem mágica para outra época. No entanto, essa mágica era perceptível apenas para aqueles que tinham olhos sensíveis o suficiente para apreciar a beleza do tempo preservado em objetos do passado.

Nossa... — murmurou Bucky, deixando escapar um suspiro de admiração enquanto seus olhos azuis se aventuravam pela profusão de itens pelo espaço. De fora, o antiquário talvez não parecesse tão grandioso, mas ao cruzar a soleira e explorar seu interior, ele se deparou com um mundo à parte.

— Eu sei — Ellie disse com um sorriso, seus olhos também mergulhados nos detalhes dos vários objetos decorativos, como se estivessem em um transe admirativo.

Bucky parou em frente a um móvel com pernas curvas e entalhes em toda a madeira, pegando uma lupa que estava sobre ele. Era pesada, a lente grossa estava impecável, e o cabo perolado, ricamente ornamentado com curvas e detalhes prateados, estava apenas um pouco desgastado. Era uma peça linda, exatamente o tipo de achado que ele imaginaria encontrar ali – uma lupa elegante em cima de um móvel igualmente requintado.

— Como você descobriu esse lugar? — Bucky perguntou, ainda fascinado pelo ambiente, enquanto acariciava os detalhes da lupa com seus dedos grossos enluvados.

— Acho que ele me encontrou — Ellie respondeu, seu tom de voz sutilmente entusiasmado, provocando uma curiosidade genuína nos olhos de Bucky. — Eu só me mudei pra cá, e como você pôde ver, não precisei procurar muito para encontrá-lo.

— Não são muitos que se interessam por um lugar como esse... — Bucky explicou a própria fala para si mesmo em pensamento. Ele refletiu sobre seu próprio interesse devido à sua idade, apesar de possuir uma aparência jovem, Bucky era de outra época, assim como os móveis ao seu redor.

— É... — Ellie quase sussurrou, também mantendo seus pensamentos para si mesma, como se soubesse que ali, naquele lugar de preciosidades, o tempo tinha um significado diferente e peculiar.

Os dois continuaram sua exploração pela loja até que seus olhos se encontraram com um tesouro singular: um belo, clássico e atemporal sofá Chesterfield, em couro marrom, discretamente posicionado no canto da loja. Ele estava banhado por uma iluminação única, cortesia de uma luminária de piso retrô, que lançava sombras poéticas que realçavam seus detalhes.

O mobliário sofisticado parecia imaculado, com seus rolinhos de braços arrendondados e as pregas profundas em seu estofamento, características emblemáticas do estilo elegante e tradicional de um Chesterfield. Era como se o sofá tivesse sido congelado no tempo, mantendo sua beleza intacta.

Bucky imaginou que ele ficaria perfeito em sua biblioteca, posicionado de frente para a lareira.

— Isso não estava aqui no mês passado, não mesmo — Ellie murmurou, seus olhos cativos pelos detalhes do sofá.

Não estava mesmo — uma voz surgiu atrás deles. A senhora de pele escura e cabelos curtos encaracolados de tom branco-prateados sorria calorosamente para eles.

— Donna... — Ellie disse carinhosamente, virando-se para abraçar a senhora.

— Olá, minha jovem — a senhora respondeu ao abraço com ternura. Ellie claramente se sentia confortável em sua presença.

— Donna, este é Bucky, ele é novo por aqui — Ellie apresentou, enquanto seguravam as mãos uma da outra antes de se virarem para Bucky, que acenou brevemente enquanto sorria.

— Bem-vindo, Bucky! — Donna ofereceu um sorriso amigável. — Então, gostaram do Chesterfield? Todos amam, tive várias propostas. Admito que estou com pena de vendê-lo, é uma relíquia. — Donna suspirou com um olhar carinhoso para o sofá.

— Certamente... Como você consegue essas coisas, Senhora Jones? — Ellie questionou, sua voz carregada de genuína curiosidade.

— Ah, minha jovem, você ficaria surpresa com as coisas que as pessoas vendem para mim — explicou com uma risada. — Vamos, querido, sente-se, experimente, divirta-se — Donna insistiu, dirigindo-se a Bucky.

Receoso, Bucky olhou para Ellie antes de se acomodar, fazendo com que o couro rangisse ligeiramente, um som sutil e acolhedor que pairou pelo ambiente. O couro era firme o suficiente para não deixar Bucky afudar, mas não deixava de ser confortável e agradável ao toque.

— É impressionante — ele comentou, retirado a luva direita para sentir o material sob seu corpo.

Não é?! — A senhora riu concordando. — Eu recusei várias ofertas por este sofá — ela começou —, mas acho que agora ele encontrou seu verdadeiro dono — disse, olhando com carinho para Bucky, feliz como uma criança com seus olhos azuis brilhantes aconchegada no Chesterfield.

Ellie sorriu para a senhora e para situação.

— Não se esqueça de pegar suas fotos antes de ir, mas agora, sente-se — ela convidou Ellie, que obedeceu, acomodando-se ao lado de Bucky.
Ellie apoiou ambas as mãos no couro macio do sofá, sentindo a textura luxuosa sob seus dedos. Um sorriso iluminou o rosto de Ellie enquanto seus olhos se fixavam no sofá. — Viu? Perfeito. Acomoda até quatro pessoas confortavelmente. É espaçoso, confortável... bom para namorar — acrescentou com um toque travesso em sua voz, suas palavras flutuando no ar como notas de uma melodia carregadas de diversão e sugestão.

Bucky e Ellie se olharam ao mesmo tempo, os lábios entreabertos, enquanto uma onda de calor subia aos seus rostos pela inesperada reviravolta da conversa.

— Ah não, nós não... — Ellie começou, interrompendo a si mesma, enquanto lutava para encontrar as palavras, uma sensação de constrangimento a invadindo.

— Nós não estamos juntos... — Bucky murmurou, tentando conter uma risada desajeitada, mas seu rosto também se tingiu de vermelho diante da situação.

Donna, por sua vez, não pôde deixar de notar a reação dos dois e soltou uma risadinha discreta antes de responder:

— Eu não disse que estavam — ela virou-se com um sorriso travesso, deixando Bucky e Ellie ainda mais sem graça. — Espero vocês no caixa? — Ela olhou novamente para os dois antes de desaparecer entre os móveis clássicos e rústicos.

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E começamos a ter capítulos mais grandinhos agora! E tenham calma, esses primeiros capítulos são apenas uma introdução, mas logo no início vai ter muita coisa interessante acontecendo ❤️

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