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CAPÍTULO NOVE
"Kurt era um caçador e ele estava me caçando."


   Kurt apareceu em minha vida em um momento bem inoportuno, como já visualizei aqui para vocês. Depois da morte dos pais de Elena, ficamos 4 meses na cidade antes de voltar para Renée.

Agora, não me perguntem o motivo, mas ele queria me transformar em uma guerreira ou, como ele
gosta de se intitular, caçador.

Fã de Supernatural como eu sou, eu ri de sua cara, ainda desacreditada sobre tudo isso. Foi quando ele realizou uma viagem para uma cidade vizinha, onde conhecemos algo bem... diferente. Eu conheci, na verdade, ele meio que viveu toda a sua vida para isso.

Foi depois dessa viagem que comecei a levar as coisas mais a sério. Me tornei adulta com quase dezesseis anos, pronta para combater as ameaças que sussurravam contra aquela cidade infernal da Virgínia.

É claro que eu nunca tive que bater de frente com nenhum sobrenatural. Talvez seja por isso que eu não seja tão... fria em relação aos Cullen como eu tenho certeza que Kurt seria.

Ele não me deixava chegar perto de nada que pudesse testar a minha habilidade. Me treinou por 4 meses para algo que eu não entendia e murmurava sempre em meus ouvidos que Bella estava em perigo, que eu precisava protegê-la.

Nunca fiquei muito a par sobre a situação de Bels também; o porquê de ela ser tão atraente para o mundo sobrenatural. Kurt vendou meus olhos para isso.

Ele não gostou quando eu simplesmente larguei ele em Mystic Falls, voltando a morar com minha mãe, em uma distância segura de toda a sua maluquice. Quero dizer, eu suponho que ele não tenha gostado, mas não tinha como ter certeza.

Eu realmente o deixei lá, sem avisos prévios ou despedidas. Em uma manhã, às 04h — o horário em que sempre treinávamos —, eu não apareci. Ele nunca me encontrou.

Até agora.

Kurt Russell me ligou no final da semana, eu sabia bem que era ele porque seu número ficou enraizado em minha mente, mesmo depois que eu o apaguei.

Eu dispensei as primeiras ligações, decidindo que eu estava definitivamente fora de sua peça de teatro que se consistia em me controlar como uma marionete.

Mas ele era bem insistente e quando eu bloqueava o primeiro número, ele ligava pelo segundo e depois, o terceiro.

Kurt era um caçador e ele estava me caçando.

Até que, naquela noite de sábado para o domingo, quando meu celular tocou e Charlie quase atendeu, decidi que estava na hora de acabar com isso. Eu atendi quando o quarto número me ligou e sua voz chegou potente em meus ouvidos.

Mandei um endereço pra você. Esteja lá segunda feira, no horário de sempre.

Foi o que ele me falou antes mesmo que eu tivesse a possibilidade de cumprimentá-lo com um "oi". Soltei um som de desdém quando ele desligou em minha cara e prometi à mim mesma que não iria de jeito nenhum para esse lugar.

Eu nem sabia dirigir!

Mas então, o lugar era em Forks. Bem, mais ou menos. Era em uma floresta que transbordava para além da placa.

Kurt estava aqui e eu não podia evitá-lo, não quando eu sabia que ele tinha culhões o suficiente para bater na porta da minha casa, reconhecer o namorado de minha irmã como um vampiro e matar todos eles.

Fiquei repassando tudo isso na minha cabeça no domingo. A decisão de ir e depois de não ir ficou martelando em minha cabeça, mesmo comigo sabendo perfeitamente que, no final, a escolha sobre isso era apenas uma ilusão.

Na madrugada de segunda, deixei um bilhete pra Bels — o qual eu sabia que ela só veria às seis da manha — dizendo que eu já tinha ido pra escola e que depois eu explicava pra ela. Coloquei um casaco com capuz e deixei meus cabelos soltos, uma mochila pequena enrolada em minhas costas.

Pulei a janela do meu quarto e me afastei da casa. Pegar um táxi não era nenhuma opção considerável, já que era as últimas horas da madrugada. Então, junto do meu amigo GPS, fui seguindo.

A viagem a pé foi longa, se considerado que o lugar era fora da cidade. Agradeci por Forks ser um lugar pequeno.

Quando eu entrei na floresta, os galhos se quebrando em cada pisada que eu dava, meu sinal foi embora e eu meio que fiquei vagando. Eu só tinha uma descrição; era uma cabana.

Não a encontrei de jeito nenhum. O dia começava a clarear, minhas pernas reclamavam, os passarinhos começavam a cantar e nada de encontrar a cabana. Passei até mesmo por um riacho e nada! Eu estava prestes a desistir quando algo cortou o vento ao meu lado.

Desviei a tempo de uma adaga não atingir o meu rosto. Que porra?

Tirei minha atenção da faca e fui virar-me pra frente. Azar o meu. Meu estômago foi atingido por um punho forte, me fazendo recuar sem ar e tropeçar em uma pedra. A mochila me ajudou no lance de não fraturar nada.

Me contorci procurando por ar e deitei de lado, pronta para enfiar minhas mãos nas terras molhada e se levantar para saber que porra estava acontecendo aqui.

Mas outra adaga estava prestes a fincar bem em meu coração. Rolei pro lado oposto a tempo e ainda no chão, dei uma rasteira na pessoa que movia-se a favor do vento e que tentava me matar.

Aproveitando a vantagem, recolho a adaga do chão e com dificuldade — que eu não planejei na hora — a que está fincada em uma árvore. Demorei tanto nessa missão que quando consegui, já tive que acertar a pessoa, cujo tempo de reação foi ótimo, com um soco na cara.

— Seus reflexos estão péssimos! — a pessoa me diz com dificuldade, cuspindo sangue no chão.

Segurando uma lâmina em cada mão, pronta para atacar, arregalo os olhos ao reconhecer a pessoa que ergue a cabeça e sorri com seus dentes cheios de sangue.

— Kurt?! — ele parece feliz quando eu não abaixo a minha guarda. — Por que está tentando me matar?

— Por que não estava preparada? — ele
refuta, começando a me cercar como uma presa. Sigo seus passos, começando um movimento ao nosso redor, em que a única armada sou eu. — Desde quando virou uma bunda mole?

— Eu não quero te machucar — aviso, deixando claro que eu vou, se preciso.

Ele ri e seu divertimento acaba com um sorriso maléfico de lado. O desafio foi lançado no ar naquele momento e como chave para fecha-lo, rodo as adagas ao mesmo tempo no ar e as recolho pela parte cortante.

Um ato que ele sempre disse para eu não fazer. Apesar de deixar o outro surpreso de sua reação, tem também uma desvantagem que é você dar um tiro no seu próprio pé ao se cortar.

Eu não queria sair machucada dessa, mas queria muito que ele sentisse todo o ódio que conseguia por mim.

Ele avançou, eu o afastei rapidamente com um movimento das minhas adagas que cortariam o seu rosto se ele não fosse tão ágil.

— Um ano! — rosnou enquanto apontava para mim. — A porra de um ano, Billie!

Kurt atacou, não me dando espaço para raciocinar suas palavras. Ele conseguiu bater minhas costas em uma árvore e agora sem nenhuma proteção, gemo pela dor que recolhe minha coluna.

Disposta a não matá-lo de primeira, dou uma
cotovelada nas suas costas. Não é forte o suficiente para que ele caia, mas eu consigo me soltar e se afastar dele.

— Estava exigindo muito de mim — sinto vontade de me explicar, minha respiração ofegante denunciando qual era a minha frequência de treinos sozinha; zero. — Eu tinha 15 anos, Kurt!

— Você concordou! — ele gritou, ajeitando a postura com uma mão nas costas onde eu o ataquei. — Concordou com cada treino, cada sessão, com a minha missão. E simplesmente foi embora.

— Sua missão não era a minha.

Ele apertou o maxilar e o próximo golpe foi certeiro. Segurando um dos meus pulsos, ele o torce e quando tento enfiar a adaga em seu estômago, ele coloca a mão na frente e a ponta da adaga perfura a palma de sua mão.

Ele rosna de dor e preso com uma adaga, enquanto a outra está perdida no chão, ele ganha impulso para chutar o meu estômago. Eu praticamente voo até o chão, onde bato a cabeça e ralo minhas costas.

Tento rastejar para a minha mochila, onde eu sabia que não teria nada demais, mas ao menos poderia dar na cara dele. Meu pé foi puxado e dessa vez, minha barriga passou por toda a terra.

— Sua missão era proteger sua irmã — ele jogou em minha cara quando conseguiu montar em cima de mim. — Ainda consegue fazer isso, Lily?

— Não sei, você ainda é um idiota perdedor? — sei que posso estar brincando com a morte, mas é melhor morrer com orgulho do que implorando. Me ajeitei melhor e olhei nos seus olhos. — Vamos lá, me mate. Me mata!

Kurt me olha nos olhos antes de revirar os olhos com escárnio e sai de cima de mim, trincando o maxilar antes de retirar a adaga presa em sua mão.

Ainda estou respirando ofegante e aliviada quando ele volta para até mim, já com um pano enrolado em sua mão e me ajuda a se colocar de pé.

— Eu falei sério; seus reflexos estão horríveis.

— Disse o ogro, sangrando — ironizei, um sorriso convencido nos lábios enquanto resmungo de dor ao me abaixar para pegar minha mochila. — Pegou pesado, Russell.

— Sim, sim, me desculpa — pediu sarcástico, erguendo a mão enfaixada com uma blusa. — Ah, vai se foder!

— Ainda sou uma criança e não posso ouvir essas palavras — ele me olha como se dissesse: "ainda isso, é sério?" — Sim, foda-se você!

Ele escondeu uma risada e quando terminamos de ajeitar-nos o máximo possível, ficamos cara a cara. Kurt estava do mesmo tamanho, muito mais alto do que eu, mas sua barba estava menor, bem mais rala, mostrando as suas qualidades joviais.

— Então, começamos o treinamento agora ou você precisa de uma pausa?

— Eu estudo — deixo claro, sabendo bem que eu não iria para a escola agora de jeito nenhum. — E não vou me submeter aos seus treinos. Eles são dolorosos e inúteis.

— Inúteis? — repete muito ofendido. — Sem eles, você estaria morta agora!

— Você não me matou porque não quis, não por causa da merda de treinamento nenhum — resolvi deixar claro a minha raiva pela forma como ele se mostrou. — Estou indo embora, Kurt. Agora.

Combatemos um ao outro pelo olhar e no fim, Kurt ergue as mãos em rendição e murmura que a cabana fica ali perto e que vai pegar a sua moto para ir me levar.

Decido não ir contra. Se eu for embora andando nessa situação, eu desmaio.

Merda — reclamo sozinha, levantando a parte de trás da minha blusa suja, vendo o vermelho dos arranhados começarem a surgir.

Me pergunto o que fez com que ele voltasse somente agora. Kurt sabia onde eu estava, mas só me procurou agora, depois de um ano.

Um galho se quebra atrás de mim e eu me viro rápido, pronta para mais uma "brincadeirinha" de Kurt, mas não é ele que eu encontro.

Há vinte metros de mim, um garoto acabou de sair das árvores. Ele parecia estar vagando e eu revirei os olhos pro adolescente que estava fazendo coisas que adolescentes costumavam fazer; como ficar bêbado.

— Ei, cara, tá precisando de ajuda? — decido perguntar quando vejo ele cambaleando até uma árvore e se aguentando no último segundo. — Oi?

Só percebo que ele está sem camisa e apenas um short quando eu me aproximo mais. Sua pele bronzeada brilha com os primeiros raios do sol e seu cabelo escuro está desmanchado do que parecia ter sido um ótimo penteado algum dia.

— Eu... preciso... ronda — ele está sussurrando sozinha quando eu termino de me aproximar.

Toco em seu ombro para chamar a sua atenção, mas o maluco simplesmente puxa meu antebraço e prensa minhas costas na árvore em que estava se firmando, seu próprio antebraço no meu pescoço, sua guarda alta.

— Que diabos cara, eu estou tentando te ajudar!

Olhando para o seu rosto tão perto agora, sei que ele é um daqueles garotos que estava seminu — como agora — em La Push, o da dancinha.

Lembro que disse que ele parecia ser bem legal para Jacky, mas estou começando a rever meus conceitos. O cara está bêbado, caindo aos pedaços e quando tento ser boazinha, ele me machuca mais.

Vai se foder!

Mas nem tanto assim, adiciono em minha mente quando percebo que o cara simplesmente paralisou em pé quando eu fui olhar em seus olhos. Ele está entrando em um estado catatônico? O que é que eu devo fazer?

Os filmes que eu já vi me diz para eu dar um tapa em sua cara, mas esse garoto é o dobro de mim e ele já me prendeu em uma árvore. E se ele acordar dessa maluquice e resolver me matar? Deve-se lembrar que estávamos em uma floresta, sozinhos.

— Cara? — tento uma última vez, seus olhos esbulhados ainda nos meus. — Conheço um ótimo lugar para resolver problemas como o seu. Se chama hospício. Já ouviu falar?

Ele me ignorava. Tem como alguém morrer de pé? Seu aperto do seu antebraço em meu pescoço diminui graciosamente e minhas costas já não estão coladas fixamente na árvore, me permitindo suspirar de alívio porque realmente estavam queimando.

— É um ótimo lugar — continuo citando, vendo meu reflexo em suas iris. — Eles te dão comida de graça e alguma substâncias para se curar também. Acho que você vai aprender a...-

O barulho de moto desperta a minha atenção e eu desvio meus olhos dos seus bem na hora em que Kurt estaciona sua moto de qualquer jeito e corre em minha direção.

Tenho certeza que ele estava prestes a atacar o pobre garoto maluco, mas esse simplesmente caiu em minha frente. Meu corpo foi junto em um impulso, tentando ver se ele havia desmaiado ou apenas estava ainda em seu surto.

Meu Deus, Kurt ainda esta querendo atacá-lo.

— Saia de perto dele!

— Ele está mal, não está vendo? — apontei para o garoto seminu que agora encarava o chão fixamente, mas pelo menos ele piscava.

— Não é da nossa conta. Vamos sair daqui — Kurt puxou meu braço, fazendo-me tropeçar enquanto eu me afastada do menino.

— Não podemos deixar ele aqui. É apenas um jovem bêbado.

— Um jovem bêbado que vai aprender a sua lição ao acordar no meio do nada e não vai beber mais — ele da o seu ponto de vista, empurrando o único capacete para mim. — Sobe na moto.

— Kurt...

— Billie! — ele adverte, apertando o acelerador. — Sobe na droga da moto.

Mesmo hesitante, obedeço, me sentindo a pior humana possível por abandonar o rapaz lá atrás. Olhando pelo reflexo depois de nos afastarmos alguns metros, ele não estava mais lá.

(...) Casa dos Swan

    Minha visão sobre o vício bate de frente com a intensidade, gerando uma colisão direta. Acho que tudo que vira algo excessivo e sem precisão, acaba se tornando algo prejudicial pra saúde.

Muitas das vezes, o gesto ilícito é ingerir drogas e acabar viciado. Apesar dos apesares que é a possibilidade de ter alguma doença, o vício que mais me amedronta é essa vida.

A vida de Kurt.

Sei sobre o seu vício nesse mundo de caçador. Ele vive por isso, respira por isso, tudo tem que ser por isso. Kurt não precisa de provas que os seres sobrenaturais são uma ameaça, por ele, apenas por viverem no mesmo mundo já é motivo para os exterminarem.

Por isso que ele não pode de jeito nenhum saber dos Cullen. Eu não sei o que ele poderia fazer e eu não estava a fim de ter de tomar um lado.

Kurt não era um homem mal e pensar isso parece totalmente desconcertante, se considerado o nosso encontro e a forma como ele se desenrolou. Mas Kurt não era, entendo que foi a forma como ele foi criado, foi ensinado a temer e atacar antes que fosse atacado.

Conversamos o suficiente para eu retirá-lo da minha sessão de homens maus, mas ele precisava saber a hora de desacelerar e eu não deixaria que ele estragasse nada para Bels — só porque ela está namorando um vampiro.

A opção dele deixar como está ao descobrir que eles se alimentam de sangue de animal vem em minha mente, mas sei que só estou me iludindo. Kurt é um soldado e é muito viciado em matar seres sobrenaturais.

O dia se passou e minhas mentiras começaram a voltar. Como quando eu faltava escola em Mystic Falls para treinar com Kurt, falando para Bels que eu acabei sentindo alguns enjoos e por isso decidi que o melhor seria voltar pra casa.

Ela duvidou, talvez já percebendo o ciclo que está se repetindo, mas não deixei que ela concluísse nada. Bella ficou muito mais inteligente de um tempo pra cá e creio que usar essas desculpas não ajudaram por muito tempo.

Por isso, pra retirar qualquer dúvida que possa adentrar em sua mente, não faltei mais escola naquela semana. Mas meu afastamento era explícito.

Parei de aparecer nas aulas com Jasper, de sentar com eles no refeitório e tudo o que eu fazia com os Cullen que não envolvia minha irmã. Não porque eu os culpo de alguma forma, nada disso, apenas porque... se Kurt pensar na possibilidade de estarmos vivendo tão próximos aos vampiros, tudo acaba em um piscar de olhos.

Não quero que Bels fique infeliz, então comecei evitá-los, com medo de Kurt sentir seus cheiros adocicados em mim.

Sei que ele era só um humano, mas um humano com uns instintos muito bons. Já teorizei sobre ele ser algum ser sobrenatural que caça o sobrenatural, mas isso foi retirado da minha mente ao não ver nada relacionado à essa vida; curas rápidas, velocidade anormal, força...

Sei também que todos ficaram meio confusos com o meu afastamento tão de repente, mas pedi pra que Bels falasse que era apenas por conta da prova que eu iria fazer segunda-feira.

Alguns acreditaram e pararam de se tornar tão paranóicos,  mas Jasper, que me dava aulas de biologia, sabia bem que não podia ser isso.

Ele me interceptou na última aula de quarta-feira.

— Eu fiz algo errado? — Jasper quis saber e quase me derreti pelo seu tom. Ele estava mesmo preocupado em ter pisado na bola. — Foi porque eu entrei no seu quarto pela janela?

Estávamos encolhidos no beco entre os corredores, onde tinha o bebedouro público.

— Você não fez nada — interrompo ele ao perceber que estava prestes a indagar mais uma de suas teorias. — Eu só estou preocupada com a prova.

Jasper estreitou seus olhos em minha direção e pareceu pensar muito antes de assentir e recuar.

Enviei um sorriso curto para ele com os lábios prensados e me preparei para sair. Instintivamente, sua mão foi até o meu braço. O pano da minha blusa separava nossas peles, mas ainda assim, meus pelos se arrepiaram e eu preferi pensar que era por conta da diferença de temperatura.

— Lírio... — os bichos em meu estômago voaram, querendo sair em forma de algum gesto. — Me diria se tivesse algo acontecendo? Algo... ruim?

Ele parecia dividido entre o que pensar sobre. Foi quando eu me lembrei que Jasper é um empata e ele consegue sentir a minha preocupação — apesar de não ser pela prova —, mas algo nos seus olhos que se conectam aos meus, faz com que ele ainda tenha dúvida da minha sinceridade.

— Não tem nada ruim acontecendo, Jasper. A gente se vê por aí.

Com essa deixa, ele me soltou e eu praticamente corri para longe dele.

Isso foi quarta-feira e agora, na sexta, estou começando a raciocinar com outros fatores. Como o meu querer. É meio duro me desacostumar a andar sem os Cullen.

Eles até eram legais. Principalmente Emmett, nem sei dizer se ele começou The Walking Dead. Espero que sim.

Espero que Kurt vá logo embora, isso sim. Como se eu tivesse chamado-o, meu telefone começa a tocar em cima da cama.

Retiro a atenção dos cadernos e inclino meu corpo para pegar o celular. Assim que coloco-o no ouvido, Bels ultrapassa a porta aberta do meu quarto e quando percebe que estou falando com alguém
no celular, espera com braços cruzados e impacientemente.

Billie, você pode me dizer o que caralhos...

Não posso falar agora. Tchau — desliguei de um
jeito nervoso e sorri tensa para Bels. — E aí? O que foi?

Observo-a colocar suas mãos no bolso de trás de sua calça e entrar no meu quarto. Sei que ela está nervosa para falar a partir do momento em que ela inclina o pescoço para ver além da minha janela.

— Sem uivos hoje?

Revirei os olhos e dei de ombros. Faz alguns dias que uivos estranhos estão ultrapassando a linha da minha janela. Pensei naquele lobo de pelagem preta que eu vi uma vez, na floresta. Isso me fez pensar no garoto que eu abandonei.

Espero que esteja bem.

— Quer falar o que você quer logo? — ela me olhou com as bochechas inchadas e quando percebeu que eu já sabia que ela queria algo, desceu os ombros. — Se for dinheiro, eu...-

— Não é dinheiro. Edward me chamou para sair esse final de semana.

Arqueei um pouco as sobrancelhas e me virei para o meu dever novamente, esperando que ela chegue até a parte em que me envolve.

— Bom, com a família dele. Algo que eles costumam  fazer quando vai ter uma tempestade — encolheu os ombros como se não fosse nada e depois retirou as mãos dos bolsos. — Queria saber se você podia me ajudar com Charlie para ele deixar.

— Tá. Quando é?

— Amanhã — soltei um muxoxo de concordância e esperei que ela saísse, mas continuou. — Você sabe que ele não vai me deixar ir sem... você, né?

A compreensão escorre até mim e ainda de cabeça baixa, ergo meus olhos para Bels que está quase se contorcendo para me pedir esse favor.

— Bobagem. Vamos conversar com ele amanhã. Você é a nora, não eu.

— Lil... Eles querem que você vá.

— Tenho prova na segunda, Bel — refutei, mas a parte traidora da minha mente imaginou como seria sair com os Cullen. — Deixa pra outro dia, tá?

— Eu te ajudo a estudar. Por favor... Jasper — ela sorri quando consegue minha atenção completa. — Ele meio que quer muito que você vá.

Percebo que não é apenas a minha mente que é uma traíra, como o meu corpo também. Contorço meus lábios para não sorrir e nego com a cabeça. Bels está me olhando com um sorriso convencido agora.

— Você gosta dele — ela resmunga perdida nos próprios pensamentos e depois aponta para mim, como se eu tivesse cometido um crime. — Você gosta de Jasper Hale!

— Shh! — parto para cima dela, tampando sua boca. Acabamos caindo na minha cama. — Eu não gosto dele. Não assim.

— Ah, sim? — debocha, se ajeitando na cama para me encarar. — E como gosta dele, maninha?

— Como amigo. Ele é um ótimo amigo.

— Ele parece gostar de você.

— Ah, cala a boca!

Bels gargalha e eu acabo a seguindo por um momento. O silêncio é o próximo a recair sobre a gente e quando eu finalmente a encaro, ela está me olhando com aquela sua cara de cachorro que caiu da mudança.

— Isso aí é um sim? — ela apontou discretamente para o meu sorriso relaxado.

— Isso é um "saia do meu quarto"! — apontei para a porta e ela pulou da cama para sair.

— Vista algo esportivo. Vamos jogar beisebol! — ela gritou sobre o seu ombro e eu revirei os olhos, jogando meu corpo para trás.

Pois é, acho que amanhã vai ser um grande dia.

POV do Paul no próximo capítulo.

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