5 | Port Angeles

CAPÍTULO CINCO
"Sob o crepuscular, você sentirá;
No amanhecer, enriquecerá e
prosperará."

Sabe aquele momento que você se sente entre a cruz e a espada? Bem, isso poderia resumir bem a minha situação.

Bels estava há um passo de descobrir sobre os vampiros e a luta interna que não era uma preocupação antes, começou a corroer meus ossos. Sai de Mystic Falls com ela porque não a queria neste mundo, queria que todos os seres sobrenaturais existentes ficasse há um radar de distância.

Mas aqui estou eu, quieta vendo ela se aproximar de um vampiro. Qual é o meu problema? Deixei que ela levasse isso, afinal, tudo bem ter uma quedinha se ela fosse esquecer na semana seguinte. O charme de olhar a primeira vez e tal.

Mas já passou uma semana e ela está verdadeiramente obcecada com isto. A prova viva é ela entrar em meu quarto no meio da noite para me contar sobre o que Jacky contou para ela sobre as lendas que assolam o território da reserva.

Em parte, gostei de saber, pois isso retirou várias questões de mim. Aqueles garotos sem camisas na praia só poderiam ser descendentes destes homens-lobos e já ativaram seu genes.

Vampiro de um lado, lobisomem de outro. Bem saudável essa cidade sim? Confesso estar com medo de virar a esquina e me deparar com um unicórnio.

Seria bem maneiro, mas preocupante.

— Então, o que você acha? — Bels quis saber a minha opinião. Eu ainda estava enrolada em meus cobertores enquanto ela estava sentada na cadeira rolante e mordiscava suas unhas.

— Só estou preocupada com o tipo de droga que estão liberando por aí, Bel — zombei, fingindo um olhar de deboche ao encara-lá.

Ela revirou os olhos, como se esperasse esse tipo de reação de mim.

— Estou falando sério — gemeu de frustração, as mãos entre as pernas. — Não quer saber tão quando eu? Está toda amiguinha de Jasper Hale.

Estreitei meus olhos em sua direção, sabendo bem onde ela queria chegar. O problema é: eu já sei tudo o que ela procura. Não é por falta de curiosidade porque eu sei que se estivesse em seu lugar e um cara tivesse me salvado magicamente de um acidente de carro, eu ficaria muito curiosa.

Mas neste caso, eu, como a irmã que sabe mais, deveria impedir isso.

Comecei tentando fazer o mais na cara, que é desacredita-la. Sei que estou fazendo isso para protegê-la de um bem muito maior, mas o meu dever também não é apoiá-la? Não é acreditar nela antes que todos? É o lance da cruz e a espada que eu comentei antes.

É uma droga e uma parte minha queria não saber de nada, acreditar nela e ajudá-la em vez de atrapalhar. Mas é questão de prioridades e a sua segurança está no topo da lista.

Talvez eu devesse tirar uma palavrinha com o tal de Edward. Algo como: "Ei, cara, eu sei o que você é, que tal não deixar minha irmã saber também?" Parecia um ótimo plano e eu estava disposta a criar essa conversa na segunda de manhã.

Só que o sol decidiu sair pra partilhar da equação e como ótimos vampiros alérgicos a vitamina D, eles simplesmente não vieram.

Isso aumentou a curiosidade de Bels que aproveitou que as amigas iriam para Port Angeles para escolher seus vestidos pro baile para passar na biblioteca onde o livro que ela havia encontrado na internet era vendido.

Ela iria conseguir as respostas assim que batesse seus olhos naquelas páginas e pesquisasse um pouquinho.

Eu pensei em ficar parada, apenas esperando o que eu não podia impedir por muito tempo. Mas eu ainda tinha esperança que Bels caísse em si e visse que estava sendo muito persistente.

Então, juntei-me à essa viagem.

— O que acha? Devo experimentar? — Bels me encarou de canto de olhos, desfocando sua visão das garotas que estavam se olhando no espelho com seus respectivos vestidos. — O que? Acha que não devo ir ao baile?

— Só acho que você prefere estar imaginando cenários que nunca vai acontecer com seus "esposos" — ela debocha.

Ok, se ela estava certa em relação de que eu ficaria muito mais feliz em casa assistindo Supernatural? Sim!

Mas qual é, estou tentando ter uma vida sociável por agora. Bels também deveria, começando com aceitar o pedido de Mike pra ir ao baile. Algo longe do sobrenatural e qualquer chance de ser abduzida, sabe?

Nossa atenção se vira para uns garotos que passam do lado de fora e batem no vídeo que da visão a todas nós, gritando coisas idiotas que deveria soar como elogio, mas só servem para eu ficar mais enojada.

— Bella? Billie? — Jessica nos chama quando entramos mais uma vez em nosso mundo. — O que acham destes? Sim?

Analiso os vestidos em cada uma delas. Jessica usava um super chock e a cor combinava mesmo com ela. Angela usava um lilás, ficava bonito, mas a deixava meio... apagada. Acho que um azul escuro ficaria muito melhor por conta de seu cabelo e seu tom de pele.

Ao contrário de Bels, decido dar a minha opinião. Angela concorda um pouco depois de se olhar mais no espelho e Jessica resmunga que vai provar, pelo menos, a metade de toda esta loja antes de tomar uma decisão.

Acho que foi neste momento em que Bels decidiu recuar de toda essa zona.

— Vai nos abandonar aqui? — fiz drama, um beicinho repuxando meus lábios. Tudo o que eu queria era que ela esquecesse dessa droga de livro.

— Você não vai? — ela rebate, parecendo mesmo confusa com a alternativa.

Vendo que ela estava disposta a ir atrás desse livro sem mim, decido que é melhor com. Me despeço rápido das garotas, pedindo para que elas guardem um lugar para mim no restaurante e sigo minha irmã pelas ruas vazias e calmas de Port Angeles.

— Você sabe onde é? — perguntei a ela depois de alguns passos.

— Eu vi no GPS, é perto daqui — Bels me responde olhando ao redor. — Ali — aponta para uma casa que mais parece uma cabana. — Tenho certeza.

Entramos juntas na "biblioteca" e fomos atendidas pelo balconista — que parecia ser o único a trabalhar ali —, sua pele era bem bronzeada, seus olhos escuros e seu cabelo bem longo, preso para trás. Ele me lembrou um pouco Jacob.

Fiquei esperando Bels no balcão enquanto ela ia procurar o tal livro. Tendo em vista a expansão do lugar, ela não demorou para encontrar e vir pagar.

— Tenham uma ótima noite — ele deseja quando recebe o dinheiro. Recuamos para a saída, mas ele me impede um pouco antes. — Espera, rapidinho.

Troquei uns olhares com Bels e no silêncio, ela me perguntou se era uma boa ideia e se eu queria companhia.

— Te encontro no meio do caminho — avisei, abraçando meu próprio corpo e murmurando um "vai" porque parecia mesmo que ele não ia me falar nada com ela aqui.

Quando o sino da porta tocou, avisando-nos que não tínhamos mais a presença de minha irmã, me aproximei um passo da bancada e quando ele fez menção de se mexer, coloquei minhas mãos nos bolsos da jaqueta, posicionando bem as chaves entre meus dedos.

Eu posso ser muito curiosa, mas eu não sou ingênua. Se esse cara tá achando que vai levar uma boa por cima de mim, eu acho bom que ela tenha um ótimo plano de saúde.

— Me chamo Locker Ateara e sei que vai parecer estranho, principalmente porque eu não vou te dizer o motivo, mas preciso te dar... — ele balbucia essas palavras enquanto vasculha algumas de suas gavetas atrás do balcão. Ele parece ter achado quando quase suspira de alívio. — Aqui. Se aproxime.

Me acalmo mais quando percebo que é apenas um livro que ele coloca em cima do balcão. Aproximo-me em passos leves e calmos, analisando a grande... impessoalidade que ele estava me mostrando.

Era um livro, no mínimo, bem detalhista. Sua cor principal era ouro e verde musgo, sua capa era feita de couro grosso dos velhos tempos, decorado com pequenas linhas que me lembram galhos e flores do outono. No meio, como o destaque, tinha um símbolo.

Eu conhecia aquele símbolo, só não sabia de onde. Aos lado, para prender o livro, como uma fechadura, tinha duas placas de ferros que não tinham nenhum espaço para serem abertas... ainda assim, não parecia ser tão simples quando apenas retira-lá.

— Por que está me entregando isso? — perguntei quando recobrei a consciência e olhei para o tal de Locker Ateara. — Você nem me conhece.

Um sorriso sem graça repuxa seus lábios, mostrando mais suas verrugas e que ele pode ser um pouco mais velho do que eu.

— Uma alma reconhece a outra, Destiny — franzo o cenho em confusão. O pior é que foi tão de repente que eu nem sei que tipo de perguntas fazer.

— É... — balancei a cabeça para retirar a confusão e aproximei mais o livro de mim. Minha pele se arrepiou com o contato. — É pra eu ler?

Ele solto um riso nasalado e por um momento, eu me senti uma idiota. É um livro, falo pra mim mesma, o que você esperava fazer? Dançar com ele?

Não — porém, ele me respondeu isso. — "Sob o crepuscular, você sentirá; No amanhecer, enriquecerá e prosperará." — Locker pareceu citar a frase de alguma coisa.

Procurei em alguma parte da minha mente essa frase, em algum filme ou série que eu já assisti. Mas parecia muito... inovador.

— Aqui — ele terminou de escorregar o livro para mim e eu o segurei com as duas mãos. — Espero sua visita quando as coisas ficarem mais claras, Destiny.

Meu nome é Billie — corrigi, porque parecia que ele estava disposto a me chamar daquilo.

Locker sorriu e foi como se ele já soubesse tudo o que eu falaria antes de falar. Foi estranho.

Recuei um passo com o livro em mãos quando um carro derrapou na rua da frente e em questão de segundos, um corpo estava invadindo o lugar.

Arregalei os olhos ao encarar Jasper. Ele me olhou, segurando a porta da biblioteca para que eu passasse. Tudo não poderia ter ficado ainda mais confuso quando eu virei para me despedir do Locker e ele simplesmente não estava mais ali; como se não quisesse dar de cara com Jasper.

Passei por Jasper que me conduziu até o seu Jeep branco, abrindo a porta para mim e depois correndo para começar a dirigir pelas ruas.

— O que você está fazendo aqui? — não tardei com as perguntas, visivelmente confusa. — Não, espera! Minha irmã, eu disse à ela que...

— Edward já pegou ela — Jasper me respondeu, sua voz obscura e rouca, dando mais força para o seu sotaque.

Meus olhos recuaram para as suas mãos apertadas em volta do volante e eu só percebi isso porque o objeto rangeu nas mãos de Jasper. Parecendo ter percebido também, ele afrouxou o aperto, mas seus ombros continuaram largos.

— O que houve, Jasper? — soltei sem pensar. — Onde está minha irmã? — quando o encaro novamente, seus ombros já não estavam tão tensos quanto antes e ele sorria sem mostrar os dentes, mas bem amplamente. — Que? Que foi?

— Você me chamou pelo nome — revelou Jasper, torcendo os lábios para não sorrir com os dentes. Ao perceber o que ele tinha notado, ele inspira forte. — Edward encontrou sua irmã em um beco. Ela estava sendo encurralada por uns homens e...

— O quê? — me exalto, virando todo o meu corpo para ele. — Droga! Onde ela está? Ela está bem? Eu vou matar aqueles projetos de espermatozoides.

— Ela está bem, não se preocupe quanto à isso — ele não voltou a transparecer aquele sorriso, o que deixou aquele momento ainda mais tenso.

Tentei focar-me apenas no meu alívio por Bels estar bem. Droga, eu venho para essa cidade para protege-la e acabo deixando ela sozinha para ouvir um maluco, o que leva com que a deixe sozinha com Edward — o vampiro topetudo que eu estava tentando evitar que chegue perto dela, sabe?

— Por que está tão nervoso então? — a pergunta é genuína, mas ele não parece disposto a responder, então eu parto para outra. Estou cheia delas! — Seu irmão está sozinho com a minha? Aliás, ele estava seguindo ela? — arregalei os olhos, meus ombros se tensionando. — Você estava me seguindo?

— Não! — ele responde ofendido, mas percebe a exaltação e relaxa no banco. Ficamos em silêncio até ele estacionar em frente ao restaurante que eu tinha marcado com as meninas.

Agradeço quando ele abre a porta para mim mais uma vez e estende sua mão para me ajudar a descer. Quando nossas peles se tocam, parece que ele só percebe naquele momento o que rolou e me olha pela primeira vez no dia.

Suas sobrancelhas deixam de ficar tão juntas, seus ombros — mais uma vez — deixam de se tensionar e ele respira, mesmo eu sabendo que ele não precisava.

Seus olhos ainda estão nos meus assim como sua mão ainda segura a minha. Sua mão é gélida, como eu imaginava. Parecia que eu estava segurando um
cubo de gelo, mas... diante aos seus olhos flamejantes, isto não parecia tão importante assim.

Naquele dia, ele confessa algo bem baixinho, comigo ainda presa entre a porta aberta e ele,
carros passando ao nosso lado, mas apenas o barulho do meu coração estranho nos meus ouvidos.

Aposto que nos seus também.

— Se algo acontecesse com você, Billie... — Jasper parece se contorcer e repreender a si próprio com o pensamento. — Se estivesse com Bella e Edward não tivesse chegado, eu...

Ele encara nossas mãos e parece pensar melhor nas palavras. Em minha frente, está novamente Jasper Hale, o calmo garoto da aula de história, muito bom em exatas.

— Edward gosta de sua irmã e ele tende a exagerar um pouco... — o assunto é mudado tão brutalmente que eu me assusto, ele parece pensar que é por sua mão na minha, pois Jasper se afasta. — Eu não estava te seguindo, senhorita — esbanjou seu sorriso de lado. — Mas quando eu soube o que iria acontecer, vim imediatamente.

— Você soube o que iria acontecer antes de acontecer? — repeti a sua falha. Sabia que tinha algo a ver com o que ele é, mas não tinha certeza. — Como?

— Lil? — a voz de Bels o livrou de responder essa.

— Bel! — dei uma corridinha até ela, segurando seus braços. — Você está bem? Eles te machucaram? — meus olhos tomaram o foco de Edward se aproximando. — Obrigada, Edward — ele acenou e eu apontei pro seu rosto. — Ainda iremos falar sobre essa coisa de seguir minha irmã.

— Billie!

— O quê?! Ele é o típico stalker, Bels! — cruzei os braços e estreitei meus olhos para Edward. — Qual é o próximo passo? Vê-la dormindo?

Minha irmã se encolhe ao seu lado com vergonha e Edward consegue prender uma risada discreta que eu, sinceramente, não entendi. Ele que não se ligue não.

— Quer uma carona pra casa, senhorita? — Jasper perguntou atrás de mim, um tom mais suave e divertido, deixando seu sotaque menos sombrio. — Acho que sua irmã tem tantas perguntas quanto você para o meu irmão.

Mordo meus lábios para não rir e acabar com a minha pose de zangada. Edward parece estar levando muito a sério!

— Vem... vamos dar um tempo pro stalker do meu irmão — Jasper me leva até o Jeep e eu deixo um último olhar na direção dos dois que já estavam entrando no Porsche de Edward.

Refazendo todo o caminho do princípio, logo vemos a placa de Forks. A presença de Jasper era boa, apesar dos apesares.

Jasper Hale era controlado demais e nem sei onde começar a dar exemplos sobre isso. Em relação a sua raiva de mais cedo, ele parecia super estar no controle, quase como se ele quisesse sentir aquela raiva.

Como se... a qualquer momento ele pudesse parar de senti-la, mas não podia. Até me ver.

Observo de canto de olhos ele dirigindo pela estrada, seus dedos tamborilando pelo volante que uma hora antes estava quase sendo esmagado. Sua expressão estava leve e eu sabia que ele sabia que eu estava o observando, mas não fez menção de virar para confirmar.

Ainda bem, porque aqui entre nós, a partir do momento em que meus olhos caíram sobre suas mãos no volante, eu comecei a seca-lo.

Jasper não era do tipo forte como seu irmão, Emmett. Ele era mais magro, mas com certeza tinha alguns músculos consideráveis embaixo daquelas camisetas.

As covinhas que furavam sua bochecha apenas lhe dava mais o ar de encantador. Mas fiquei curiosa sobre como era o seu sorriso, com todos os dentes. Fiz uma nota mental de fazer com que ele risse algum dia.

Espera... merda, o que eu estou pensando? Volto a olhar pra frente na mesma hora em que vejo ele parando em frente à delegacia, atrás de Edward.

Charlie ainda está aqui, pedi para que Edward parasse — Bels me explica quando nos reencontramos.

Seus olhos decaem sobre o livro que seguro agarrado ao meu peito, mas ela não diz nada, pois logo vemos a figura do Dr. Cullen se aproximando da gente,
dos seus filhos.

Carlisle Cullen, o médico e patriarca da família Cullen. Seus cabelos loiros são penteado pra trás, sua pele tão pálida quanto a de qualquer outro de sua família e seus olhos dourados apenas complementam os últimos detalhes para ele parecer absurdamente com Jasper, Rosalie e Micah.

— Waylon Forge foi encontrado num banco perto da casa dele — Carlisle explica quando Edward pede satisfação. Jasper para ao meu lado, nada tão tranquilo quanto parecia antes. — Acabei de examinar o corpo.

— Ele morreu? — minha irmã perguntou, afetada ao lembrar que Waylon era um grande amigo de nosso pai e tinha falado com a gente na nossa primeira semana aqui. Algo a ver com papai noel. — Como?

— Ataque de um animal.

Seu olhar para Edward e Jasper foi o suficiente para a minha ficha cair. Ataque de animal? Pela o que? Segunda vez no mês? Podia ser uma epidemia, podia sim ser um urso, mas... convenhamos, não era.

Bella, Billie, é melhor entrarem — Carlisle divagou, claramente querendo retirar a gente da equação. — Waylon era amigo do seu pai.

Bels concorda de imediato e começa a andar até a portaria, mas ela para quando percebe que eu não estou a seguindo.

Meus olhos estão presos neles; nos três únicos vampiros ao meu redor. Mas seus olhos são âmbares, a parte que não queria acreditar que foram eles gritou para a minha mente.

Mas... e se?

Lil? — Bella me chamou, me fazendo perceber que eu estava observando demais. — Você vem?

Carlisle recuou os olhos da minha cara pela primeira e encarou o livro em meu peito. Ele fixou seus olhos nele, antes de encarar Jasper com um olhar vago e pensativo.

— Vou.

(...) Forks High School

    Bels descobriu.

Foi um pouco depois que terminamos aquela conversa com Charlie onde acabou com ele nos entregando um spray de pimenta. Ela se trancou no quarto e quase podia ouvir seus dedos acertando nas teclas do computador.

Ela invadiu meu quarto mais uma vez, mas eu fingi que estava em um sono tão profundo que nem mesmo sua voz dócil conseguiu me retirar. Mas eu tive que acordar em alguma hora e tive que bater de frente com ela.

Mas, sinceramente, o que eu diria? Eu não estaria surpresa, afinal, eu já sabia. Mas o que eu diria?

— Vampiros? — soltei um suspiro enquanto a lataria se remexia embaixo de mim. — Uau.

— Uau?! — ela repetiu, entrando na rua da escola. — Eu falo que Edward e toda a sua família são vampiros e você me diz: "Uau"?

— Você deveria ficar longe dele, Bels — respondi outra coisa, uma que ela gostaria muito menos. — Se for verdade...

— É verdade.

— Sim, então. Está acontecendo ataques de animais por aí. Se for verdade, você não deveria encurralar um vampiro.

— Edward não vai me fazer mal — negou, acreditando em suas próprias palavras. — Ele é... diferente.

— Diferente como?

— Eu ainda não sei — estacionou a caminhonete e recolheu a sua bolsa. Me olhou com um sorriso contido. — Mas quer ver como eu vou descobrir?

Ela não me deu escapatória além de vê-la praticamente correndo pra fora e depois pra a floresta, com o vampiro logo atrás.

Soltei um resmungo enquanto batia a cabeça no vidro devagar. Era isso. Bella estava se envolvendo neste mundo e eu ao menos tinha controle. Quando foi que isso começou a acontecer? Eu não tentei o suficiente, só poder ser isso!

Encarei o lugar por onde eles estavam adentrando a floresta. Eu sabia que Edward não iria machuca-lá. Ele não bebia sangue humano; nenhum de sua família bebia.

Mas ainda assim, ele estava bem no meio desse mundo e Bella estava se apaixonando por ele. Eu odiava me sentir uma telespectadora.

Tentei assistir as primeiras aulas, mas quando o sinal tocou revelando o intervalo, decidi que não estava com saco nenhum de ouvir mais nenhum professor falando. Recolhendo a minha mochila, fugi daquele refeitório e fui direto para a escada de emergência, que dava até o topo do prédio.

Retirando um cigarro do maço e o acendendo, tendo um pouco de dificuldade pelo vento, inspiro e depois solto.

Não comecei com isso porque eu gosto; claramente não é muito agradável a ideia de poder ter câncer algum dia.

Jeremy Gilbert me apresentou isso nos 4 meses depois da morte de seus pais. Ele quis me apresentar outras coisas também, mas o meu limite foi o cigarro. Como eu disse, eu não gostava da ideia de morrer.

Mas eu tinha que admitir que tinha um certo... prazer ao deixar a nicotina preencher seus pulmões e depois soltá-la no ar, remexendo com qualquer clima.

Eu não sou uma viciada. Acho que este é o meu segundo ou terceiro maço desde que eu vi Jeremy — há um ano e pouco.

Mas gosto de dar um trago quando não estou conseguindo pensar com coesão. Parece limpar os meus pensamentos enquanto suja os meus pulmões. Parecia uma troca justa.

Acho que não é muito normal conhecer alguém que pensa muito e ainda tem saúde.

— Achei que você não estava me seguindo — resmunguei depois de soltar a fumaça da minha boca —, Sir Hale.

Encaro-o de leve por cima do meu ombro, vendo-o terminando de subir no terraço e se aproximando com as mãos no bolso da jaqueta.

Jasper não parecia com saco para alguma brincadeira. Ele e o resto de sua família ficou furtando olhares em minha direção, como se esperasse uma reação catastrófica à qualquer momento.

Eles sabem que Bels descobriu e estão querendo saber se eu descobri e, caso sim, o que eu estou fazendo que não estou os encarando como uma maluca.

Toda vez que eu encarei qualquer um dos Cullen, eles estavam olhando em minha direção, parecendo bem ansiosos.

Acho que os decepcionei quando não fiz nada além de ir matar aula.

— Posso me sentar com você, senhorita? — ele me perguntou, em pé há dois passos atrás de mim. Dei de ombros e apoiei minhas mãos embaixo de mim, bem na ponta do prédio. — Não sabia que você fumava.

— Te incomoda? — indiquei o cigarro entre meus dedos e o encarei com a cabeça baixa.

Observei o exato momento em que o ar passou por Jasper, balançando seus cachos que caiam alguns sobre a sua testa e olho e outros que eram mais obedientes e ficavam presos entre a orelha.

Não esperei ele me responder e dei uma última tragada antes de apagar o cigarro nas pedrinhas ao meu lado. Soltei o ar a favor do vento, que levou para longe.

Depois encarei o caminho que Bels e Edward havia seguido para a floresta, imaginando como estava indo aquela conversa.

— Você sabe — Jasper afirmou, sem me encarar. Não tive coragem de olhar pro seu rosto por saber exatamente do que ele estava falando. — Por que não veio nos questionar?

Ri com sinceridade, mas depois dei uma tossida. Cruzei meus braços quando senti eles se arrepiarem pelo frio, principalmente o direito.

— Bels foi pedir satisfação pro seu irmão porque ela está apaixonada por ele. Eu não estou com esse problema, não precisa me explicar nada.

Seu movimento de cabeça para me encarar é tão rápido que eu reajo no instinto ao devolver o olhar. Suas íris escureceram um pouco quando ele estreita seus globos oculares para me analisar melhor.

Eu não estava tentando ser arrogante com ele, principalmente porque Jasper Hale se mostrou ser alguém muito gentil. Mas eu estava meio frustrada e não podia explodir com Bels; e nem deveria com Jasper.

— Você sabia — ele sussurrou pra si mesmo, abaixando o olhar pra analisar algo. Meu coração disparou e parecendo ouvir, seus olhos se levantaram. — Sempre soube. Como?

Jasper, não sei do que você está falando — neguei,
claramente mentindo, me dando impulso para se levantar e ir embora.

Em um piscar de olhos, Jasper estava em minha frente. Sei que foi um teste e, quando eu não tive uma sequer reação sobre a sua velocidade anormal, meu resultado já estava estampado em sua cara.

— Por favor, me diga como — ele pede, sua voz não passando de um sussurro, seus olhos ainda me analisando por inteira. — Você é...

— Sou humana — corto os seus pensamentos. — Eu... — respiro fundo, mordiscando meus lábios. — Acabei descobrindo por acaso. Não foi nada demais. Soube assim que bati meus olhos em vocês.

— E ainda assim, deixou que nos aproximássemos — ele divagou, com um 'quê de esperança. — Por quê?

— Vocês não se alimentam de sangue humano...? — indaguei, mas teve um tom a mais de interrogação.

Meu peito se aliviou tudo o que tinha que se aliviar quando Jasper negou com a cabeça.

— Somos... vegetarianos — manejou com a cabeça ao encontrar a palavra que mais se encaixaria. — Só se alimentamos de sangue de animal. Sobrevivemos bem com essa vida. Sou o mais novo da família.

Acenei em confirmação, buscando mostrá-lo que estava seguindo sua linha de raciocínio.

Jasper ficou parado após dizer isso, suas mãos encaixadas no bolso de sua calça jeans, uma mecha solta caindo entre seus olhos. Ele parecia fazer um esforço extra para não se mexer, quase como se qualquer movimentação sua fosse atrapalhar a minha linha de raciocínio.

Ele parecia esperançoso em encontrar o meu interesse.

— Sobre o poder que seu irmão comentou com a minha... — murmurei, pois uma parte minha se remoía em decepciona-lo e eu realmente estava curiosa sobre. Adicionei minhas mãos no bolso de trás da minha calça. — Ler mentes?

— É — soltou um riso rouco, abaixando a cabeça e depois me olhando com aquele seu sorriso de canto que já virou a sua marca registrada. — A gente poderia sair para que eu te explicasse isso — minha expressão caiu e eu comecei a ficar com medo de estar imaginando coisas.

Quero dizer, era só pra explicar, certo? Não é como se Edward fosse focar em deixar Bels a par de tudo,
não com aquela paixão que ferve entre eles.

Além do mais, eu preciso mesmo saber. Aprendi sobre os vampiros frios, mas tenho mais experiência com os quentes, aqueles que ainda tem corações batendo e cores de olhos iguais quando eram humanos.

Jasper é... interessante e eu quero saber mais; a espécie.

— Você quer?

— Ah... — entreabri meus lábios e juntei minhas sobrancelhas enquanto olhava para bem longe. O sinal soou abaixo de nós. — Por questão de logística, para onde iríamos?

Eu não queria dar na cara que a palavra "encontro" estava brilhando na minha mente. Não que necessariamente precisasse ser, mas Jasper sorrindo deste jeito para mim é muito difícil pensar, tá legal?

— Onde se sentir confortável — Jasper me respondeu e me senti ainda mais idiota por estar surtando enquanto ele parece estar normal. A brisa bate e com ela, uma calma inexplicável. — Onde você se sente confortável, senhorita?

— Algum lugar com comida — decido, por fim, sabendo que o clima melhorará muito se os dois estiver com a boca ocupada por alguns minutos. — Conheço um restaurante. Tudo bem por você?

Jasper abriu a boca para responder, mas pareceu pensar um pouco antes de falar algo. Já estava começando a mordiscar minhas unhas quando ele disse que iria me buscar em casa.

Ele me ajudou a descer as escadas e depois nos separamos pelo corredor.

E eu jamais admitiria a satisfação dentro do meu peito por pensar que o veria novamente naquele dia.

(...) Casa dos Swan

— Bel? Você já está em casa? — questionei ao adentrar a nossa casa. Ouvi ela gritar "aqui" lá de cima. — Você me deixou na escola! Com o seu carro que eu não sei dirigir!

Quando entro em seu quarto, Bels estava deitada na cama encarando o teto com um sorriso enorme no rosto. Ao me ver, ela quase pula da cama para vir me puxar para contar como foi.

— Foi incrível — ela me contou e eu ainda estava brava com o lance dela ter me esquecido na escola. — Ele me explicou algumas coisas. Eles não estão envolvidos com esses ataques.

— Sim, eu sei.

Bels assentiu e me estudou.

— Como chegou aqui? — ela foi ver a sua janela e pareceu se aliviar ao ver a sua lataria estacionada na frente de casa.

— Tyler me trouxe, ele veio dirigindo — dei de ombros, agradecendo internamente pelas investidas do garoto ter acabado. — Sim, mas...-

— Ah, claro, continuando — Bels continuou a dar os mínimos dos detalhes. Eu só queria saber onde Charlie estava. — Edward, ele... — ela pegou em minha mão para dar ênfase, mas se afastou em um pulo. — Lil... sua mão está muito gelada!

Encarei minha mão direita, sentindo-a se arrepiar. Ela estava assim o dia inteiro.

Pedi um tempo à Bels para ir ao banheiro e tomar um banho. Quando entrei no cômodo e suspirei de alívio por ser um lugar quente e confortável, retirei minha blusa de mangas cumpridas e algo em meu braço chamou a minha atenção.

Ele realmente estava gelado — diferente do esquerdo que estava em sua temperatura normal —, mas não só estava gelado, como...

Ele foi a primeira parte do meu corpo que eu coloquei debaixo da água morna. Observei o gelo se desenformar e derreter da minha pele, virando apenas gotículas de água como as outras.

Meu coração pesou com o desconhecido, mas é normal que seu braço crie uma textura de gelo sob a sua pele quando está muito frio... certo?

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