2 | Inocência
CAPÍTULO DOIS
"Meu lance com o sobrenatural começa há muito antes daqui."
Já ouviu falar sobre aquele filósofo que prega sobre a inocência? Ele fala algo como que uma vez que você a perde, recuperar não é uma opção. Eu geralmente não concordo com estes caras, muitas drogas no organismo e tal, mas essa citação está envolta da verdade.
A inocência é como um brinquedo que depois de quebrado, nunca mais voltará a ser como antes, não importa o quanto você conserte, sempre terá uma falha, sempre será defeituoso.
Meu lance com o sobrenatural começa há muito antes daqui e seja uma grande de uma burrada do destino — ou não — foi tudo por causa de Bels. Mais uma vez.
Há dois anos atrás, quando ela inventou mais uma de suas viagens para que Renée pudesse se esconder de sua depressão, ela escolheu uma cidade calma e pacata da Virgínia; Mystic Falls. Quero dizer, não foi do nada, tínhamos parentes lá, primos de segundo grau.
Não ficamos muito lá, quase um ano; 11 meses. Este tempo foi o suficiente para que eu fosse atropelada por coisas estranhas e colocada rente a parede, com o objetivo de proteger Bels.
Eu não a culpo, ela não tem culpa por ser tão atrativa para o mundo sobrenatural e, certamente, não podia ser julgada por levar a gente pra uma cidade que estava atolada no sobrenatural.
Tínhamos uma prima chamada Miranda Sommers, que era casada com um cara bem pintoso que era médico, Grayson Gilbert. Miranda é prima de minha mãe, fazendo assim ser nossa tia-prima e seus dois filhos, nossos primos de terceiro grau.
Eles concordaram em nos habituar dentro de sua casa, dando um quarto para que Bel e eu dividíssemos, uma escola para que estudássemos e... segredos para guardarmos.
Era para ser férias normais, mas um cara chamado Kurt decidiu entrar na jogada; me colocar na jogada.
Começou um dia normal. Estávamos na cidade já ia fazer um mês e Elena finalmente iria nos apresentar suas duas melhores amigas, em uma festa de pijama em que o alvo seria inteiramente o cabelo que Jeremy Gilbert, um garotinho de 15 anos que estava deixando crescer.
O encontro ia acontecer na casa dos Gilbert, já que Miranda e o marido iam passar o final de semana em uma cabana. Como crianças-adolescentes, é claro que precisávamos extrapolar nas Leis, então fomos comprar umas coisinhas no mercado.
O mercado não era muito longe da residência dos Gilbert e eu precisava mesmo de um banho, então deixei que as outras fossem primeiro e prometi que as acompanharia depois; grande erro.
Fui interceptada por esse cara, mais velho, barba pra fazer, bem alto e postura intimidante.
Primeiro, achei que ele queria informações sobre a cidade, depois, comecei a sentir medo pois parecia que ele ia me sequestrar há qualquer momento e correr na rua como uma maluca sem ter certeza disso não era uma opção.
Mais tarde, descobri que seria a melhor opção para mim naquele momento, uma garota que tinha acabado de sair das fraldas, com seus dezesseis anos incompletos.
— Sou Kurt — ele me disse e eu me lembro até hoje como prendi minha respiração no peito, medo corroendo minhas veias. Abri a boca pra me apresentar com um nome falso, mas ele falou primeiro: — Billie Swan, eu sei.
Foi quando eu tive certeza que eu teria que começar a correr para bem longe daquele cara, mas antes que eu desse um passo se quer, ele já estava dando-me as costas e olhando-me sobre seus ombros.
— Acompanhe-me — ele disse.
— Eu não vou à lugar nenhum com você! — bati o pé no chão e quando ele se virou para me encarar, eu recuei um passo. Kurt começou a se aproximar. — Se tocar em mim, eu juro que grito!
— Billie... Sua irmã está em perigo — ele jogou assim, do nada para mim. — Elena também. E Caroline, Bonnie, Jeremy, todos que você conhece.
Ele não tinha como ter certeza, era uma afirmação muito perigosa e ousada, eu não confiei nele. Simplesmente deixei ele falando sozinho naquela rua escura e voltei para a residência dos Gilbert.
As garotas demoraram para chegar, mas quando chegaram, eu quase voei em cima de Bella para ver se ela estava bem; estava.
Meses se passaram e eu não tive mais nenhuma notícia daquele homem e quando eu fazia qualquer menção sobre ele na cidade, ninguém sabia dizer quem era ele, então esqueci e concordei comigo mesma que foi um delírio.
Até a merda do acidente acontecer quando completou sete meses da nossa estadia em Mystic Falls.
Elena decidiu que seria uma boa sair pra a fogueira naquele dia e tentou arrastar Bels e eu. Mas eu tinha brigado por algum motivo idiota com a garota e quando ela decidiu que ia — para me provocar —, eu fui do contra e fiquei em casa.
Mais tarde, Elena ligou para que seus pais fossem buscar as duas. Eu já estava dormindo, mas fui acordada pelos soluços de Jeremy na porta do meu quarto, dizendo que tinha policiais e bombeiros em frente à sua casa.
Como a "única" adulta por ali, eu coloquei uma roupa decente e desci para receber a pior notícia da minha vida: eles tinham sofrido um acidente de carro.
Dois haviam sobrevivido, dois estavam mortos. Eu nem tinha pensado no tal de Kurt até falarem-me sobre como foi que elas sobreviveram.
O carro caiu da ponte, não tinha como elas terem sobrevivido, assim como Miranda e Grayson não sobreviveram.
Bels comentou sobre sentir alguém lhe puxando para cima, pensou que foi um anjo; demônio.
Kurt apareceu logo depois, enquanto eu estava indo falar com o namorado de Elena, Matt — sobre o acidente. Ele trabalhava no Mystic Grill, então quando eu entrei naquele bar, a primeira coisa que eu notei além do fedor de bebida, foi o homem olhando para o copo de vidro no balcão, um boné tampando seus cabelos.
Ele me olhou, sorriu triste e disse enquanto balançava o copo de álcool nas mãos:
— Eu avisei — bebeu o líquido e eu puxei o ar com força.
Naquele momento, em que eu aceitei a sua verdade, fui despachada para este mundo e eu era tudo o que separava Bels e Elena desse mundo também.
Por isso, voltamos para nossa mãe, em Phoenix, 4 meses depois do acidente — 4 meses que serviram para me forjar.
Me forjar para este momento:
— Eu acho que Edward Cullen me odeia — resmunga Bels quando me encontra no estacionamento. Meus olhos voam para a família que havia acabado de chegar no estabelecimento e ia até seus respectivos carros. — Ele reagiu como se eu fosse uma merda ao seu lado que estava defecando.
— Bels.
— E ainda eu o encontrei tentando trocar seus horários — ela não parou e jogou sua mochila na caçamba da caminhonete. — Meu Deus, que vergonha, e se eu estou fedendo?
— Bels — interrompo de uma vez, sabendo que ela ficaria ainda mais envergonhada se soubesse que eles estão ouvindo tudo. — Podemos ir pra casa?
Seu cenho passou de raiva para preocupação e ela analisou todo o meu corpo antes de assentir e dar partida na sua lataria.
— Você está bem? — ela me perguntou no meio do caminho, desviando rapidamente a sua atenção para mim. — Vi como ficou no refeitório, parecia estar com muita raiva. E depois... ficou encarando os Cullen meio estranho.
— Quer mesmo falar sobre encaradas estranhas?! — ironizei, empurrando o meu mal estar e confusão para longe do meu peito. — Você e Edward Cullen estavam se comendo com os olhos!
Ela esbugalha suas íris e fixa seus olhos na pista, a bochecha querendo queimar.
— Ele me odeia.
— Ele não te odeia — reviro os olhos. Ele quer te chupar, é diferente. Optei por não compartilhar essa informação, mas isso só fez com que Bels me encarasse com os olhos estreitados. — Quero dizer, eu que não sei. Mas ele não parece o tipo de pessoa que odeia qualquer um, né?
Desconversei e fiquei satisfeita ao perceber que isso pregou em sua mente, acho que até demais.
Descobri mais tarde que minhas palavras não serviriam pra ficar impregnadas muito em sua mente, tendo em vista que a semana se passou e o tal de Edward Cullen sumiu.
Isso só serviu para alimentar a curiosidade de Bels, pois era bem estranho que ele faltasse uma semana inteira depois que mostrou se sentir incomodado com a sua presença.
Era sexta-feira e eu estava saindo da minha aula de Artes para ir na de História, que inclusive, estou um pouco atrasada por deixar-me passar no banheiro para me aliviar.
Agora, como punição, teria que bater na porta, interromper a aula que já estava começando e receber o ódio gratuito da professora por fazer isso.
— Você deve ser Billie Swan — a mulher de cabelos presos em um rabo de cavalo forte me analisa de queixo em pé. — Sente-se com o Sr. Hale. Sr. Hale, levante a mão.
Uma mão larga e pálida foi erguida no ar e forcei meus dentes quando percebi de quem era, ainda assim, não querendo testar de jeito nenhum a paciência da professora na minha primeira semana de aula, aceitei a ordem e me deixei escorregar no lugar vazio ao lado do jovem.
Retirei meu caderno da mochila e comecei a fazer alguns rabiscos enquanto a professora começava a falar sobre alguma coisa que eu não prestava atenção.
Eu não sou nenhuma desenhista, mas quando o tédio me invade, consigo fazer ótimos olhos que se remete a alguma arte abstrata.
— Olá — sua voz dançou com a melodia do vento até chegar nos meus ouvidos, me fazendo se arrepiar com a profundidade do seu sotaque sulista. — Me chamo Jasper Hale.
Ainda de cabeça baixa e lápis encostado na folha, ergui meus olhos para encara-lo.
A primeira coisa que chamou a minha atenção foi os seus cachos bagunçados, até mais do que o outro vampiro — o tal de Micah. Jasper tinha mechas que começavam a repicar o final de suas orelhas e os cachos brilhavam no dourado.
Depois, seus lábios finos e avermelhados, que estavam erguidos levemente para cima, deixando a vista sua covinha do lado direito. Só aquela imagem faria qualquer um perder o fôlego, inclusive à mim, uma humana que é atraída para ele.
Mas então, há os seus olhos. E eles estão brilhando em ouro derretido tão claro que eu tenho que me lembrar que isso só é possível por causa de sua... condição.
— Sou Billie — me apresento, ignorando a sua cara que tinha mudado de última hora. — Muito prazer, Sr. Hale.
Então aconteceu a coisa mais estranha comigo desde que eu cheguei aqui. Jasper simplesmente passou de um estado catatônico, onde ele parecia uma rocha sem conseguir se mexer, para um confuso onde ele recolhia suas coisas e simplesmente saia da sala de aula sem falar nada.
Esperei pelo sinal, mas ele estava longe de ser tocado, o que quer dizer que Jasper Hale fugiu de mim.
As horas se passaram e, finalmente, as aulas acabaram, deixando-nos sozinhas com o possível final de semana que estava a nossa espera. Não que fôssemos de verdade fazer algo a mais do que assistir filmes, mas já era melhor do que vir pra escola.
— O que vai fazer nesses dias, docinho? — revirei os olhos ao sentir o braço passar pelos meus ombros.
Como nos outros dias, me infernizando, era Tyler, o garoto de porte físico bem definido, pele escura, o principal atleta desta escola e... o babaca que zoou o carro de minha irmã no primeiro dia de aula.
Retirei seu braço do meu ombro e me coloquei ao lado de Bels que ria de mim com Angela, Jessica e Mike.
— Fazer algo bem longe de você, azedinho — resmunguei de propósito, cuspindo o nome e o fazendo rir, murmurando no final que gostou.
Não era pra ele gostar.
— Bel, vamos? — decidi chamar quando percebi seu olhar intenso na direção dos Cullen que estavam entrando no estacionamento.
Bels assentiu e se despediu da galera. Dei a volta na lataria de Bels para entrar, mas meus olhos acabaram piscando na direção de Jasper Hale.
Parado entre os carros de seus irmãos, ele já me olhava e mesmo de longe, senti aquele peso que apenas seus olhos tinham sob mim, como se me apertassem em meu mundo; como se me enxergasse.
O contato acabou quando Emmett o puxou por trás, pelos ombros e murmurou algo com um sorriso caindo de seus lábios.
Afastei isso de mim e entrei na caminhonete, deixando que Bella desse partida.
(...) Casa dos Swan
— Renée tá chateada com você — Bels invade o meu quarto no sábado de tardezinha. — Ela ficou te esperando ontem para a ligação da semana, lembra?
— Eu acabei adormecendo — revelei, encolhendo meus ombros.
Bels assentiu e terminou de entrar no meu quarto, analisando as coisas ao redor. Ela se sentou na cama, enquanto eu estava sentada em frente a mesinha de estudos, com a droga do meu dever de biologia.
— Precisa de ajuda aí? — Bel zombou e eu mostrei a língua pra ela. — Recebeu alguma ligação de Lena?
Meus olhos se abaixaram com a verdade.
"Lena" era o apelido carinhoso de Elena Gilbert, nossa prima de terceiro grau que havia perdido seus pais em um acidente de carro há mais ou menos... um ano e meio? É.
Depois que saímos da cidade, nos falávamos praticamente todos os dias. Dá última vez que eu chequei, Jeremy estava namorando com uma viciada e Elena estava vivendo um amor épico com um tal de Stefan Salvatore.
Mas isso foi há muito tempo. Elena liga às vezes para dizer: "Oi, estou viva, tchau!". Bella se sente culpada por termos deixado Elena sozinha bem quando os pais morreram e ela nunca entendeu bem o meu desespero para tirá-la daquela cidade, o que aumentava a sua culpa.
Eu não podia deixar que Bels se envolvesse nessas coisas e me sinto muito egoísta em saber que fui capaz de abandonar Elena, a garota que nos tratou super bem desde que pisamos em sua casa, mas eu aposto que ela está bem.
— Você recebeu?
— Não desde o mês passado — negou Bels, mordendo os lábios. — Eu estou preocupada, ela começou a me falar sobre algumas coisas estranhas.
— Que coisas estranhas? — estreitei meus olhos, inclinada a ouvir o que viria a seguir.
— Deixa pra lá — ela desistiu após observar mais um pouco as minhas íris. — Papai quer saber se...
— Bels — ela se impediu de continuar a realizar sua saída do meu quarto. Larguei o meu lápis encima dos cadernos e me levantei. — Desembucha.
—Algo sobre lendas e-e... não sei, pareceu estranho — ela gaguejou enquanto arrumava seus fios bagunçados de forma desleixada. — E disse que vai ter que sumir por um tempo também, mas que não éramos pra ficar preocupadas e nem pra ir atrás dela.
— Ela te disse isso?
Bels acenou em concordância e eu tentei não passar nenhuma preocupação para ela. Tentei soar confiante ao dizer que poderia ser algo da escola ou do namorado que ela arranjou há pouco tempo, Bel pareceu bem cética, mas não discutiu.
O final de semana passou exatamente como esperávamos que passaria, rápido e enroladas em mantos enquanto assistíamos algum filme que chamasse a nossa atenção.
Charlie teve que trabalhar no sábado, mas no domingo, ele nos levou para a lanchonete que costumávamos comer quando éramos crianças. O lanche que eles vendiam lá é muito, muito bom.
— Aí, Bel, que tal treinarmos para o meu casamento? — eu pergunto pra minha irmã na manhã de segunda-feira, vendo-a me encarar com um 'quê nas sobrancelhas. — D...
— Ah! — sua cara adquire reconhecimento e a ousada está rindo da minha cara enquanto pega seu casaco no prego da porta. — Este casamento é com o D1 ou D2?
— Eu briguei com o D1, estou pronta para as minha noite de núpcias com o D2 — respondi com um tom falso de devoção e paixão.
Bella ainda ria da minha cara enquanto passávamos pela porta de casa e descíamos os degraus.
Puxei sua mão em minha direção e era pra ser um passo de dança, mas a garota tropeçou nos próprios pés e depois, nos meus pés. Ela conseguiu se equilibrar antes de cair, mas ainda não desistindo de treinar para o meu "casamento", rodei ela e a garota simplesmente não largou a minha mão enquanto escorregava no gelo.
Isso rendeu susto em Charlie que estava dentro de sua viatura de policia e um belo hematoma em meu quadril, pois Bels acabou me puxando junto para o seu carma idiota.
Ou será o meu?
— Isso que dá sonhar acordada com um personagem fictício — ela grunhi, tentando se levantar do gelo.
— Aí, mais respeito por Daryl Dixon!
— Bel&Bil? — Charlie vem para nos acudir. — Vocês estão bem?
Ele ergue Bels primeiro e depois a garota me ajuda a se levantar com um olhar raivoso/vergonhoso/"eu vou te matar, Lil".
— Gelo não é nada bom para os descoordenados e isso tende a piorar quando Billie Swan é sua irmã — ela indaga enquanto segue até a sua lataria vermelha.
— Isso foi uma ofensa, lesma? — Bel enrugou o nariz pelo apelido. — Porque se foi, tenho um namorado muito bom com arco e flecha.
— Namorado?
— Relaxe, pai, isso aí é a dr dela — Bella pisa em mim e em meus sonhos. — Daryl Dixon não existe — continuamos com a nossa discussão enquanto caminhávamos até a sua lataria.
— Sim, mas Norman Reedus existe — pontuei com orgulho, erguendo meu queixo. — Tenho planos pra gente.
— Ele não te conhece.
— Ele vai — soei confiante e ela arqueou as sobrancelhas. — Quando eu montar acampamento na casa dele e ele me adotar.
— Como filha, só se for — bateu na mesma tecla. Só porque ele é um pouquinho mais velho. Idade é só um número!
— Tá bom... — murmurou Charlie interrompendo a briga que poderia durar horas. Já durou, na verdade. — Coloquei pneus novos na picape, então não se preocupem com o deslizamento da pista.
— Eu não garanto nada — ergo minha mão direita e aponto o dedo indicador pra Bels. — Ela é uma péssima motorista. Aí! — reclamo dramaticamente quando ela cotovela a minha barriga.
— Vou chegar tarde hoje — Charlie continua, negando com a cabeça percebendo que não tinha como lidar com a gente. — Tenho que ir ao condado de Mason. Um vigia Grisham Mill foi atacado por algum animal.
Depois de uma vaga lembrança de que não estamos mais na tão tranquila Phoenix, cada um segue seu caminho. Papai um pouco mais avantajado com sua viatura de policia que impõe respeito.
Quando chegamos na escola, além de sermos recebidas pelo ar gélido e pesado que ocorre por ter muitos jovens hormonais no mesmo lugar, também fomos recebidos pela tropinha de idiotas que compõe o nosso grupo.
Tyler foi o primeiro que me chamou atenção. Na verdade, ele gritou pela minha atenção.
Como tínhamos aula de Artes toda segunda-feira juntos, ele não me deixava em paz, principalmente agora que tinha o conhecimento de tal coisa — e que eu era solteira.
— Eu estava pensando — então, ele começou e eu revirei os olhos. — O baile está chegando...
— Falta alguns meses — pontuei, decidida a retirar sua confiança.
— Sim, deixe-me falar, Billie — faço uma careta pela forma que ele soou. — Acompanhe-me até o baile.
— Ah... não? — viramos o corredor juntos.
— Por favor?!
— Qual foi a aposta? — sorri ao ver que eu estava certa quando ele arregalou os olhos e fingiu disfarçar enquanto assobiava levemente. — Não estou brava, Tyler. Não sinto nada por você, então se essa foi a aposta...
— Faz uma semana! — ele refuta indignado enquanto entrávamos na sala de aula. O professor não tinha chegado. — Você não tem como saber se sente algo por mim.
— Eu sinto raiva — sorri com todos os dentes e tentei desviar do seu corpo.
Tyler pareceu revirar os olhos e se colocou na minha frente, segurando meus braços por poucos minutos antes de soltar e encarar meus olhos.
— Seus olhos são as coisas mais linda que eu já vi — ele pareceu admitir, hipnotizado.
— A resposta ainda é não — respondi mais frustrada do que antes, empurrando seu corpo de leve para me dar espaço e sentar em uma dos bancos com telas em branco livres.
Eu não curtia muito Artes. Quero dizer, é melhor do que biologia, mas eu não era uma artista e ficava muito envergonhada quando tinha que comparar o meu desenho com o do garoto nota 10, chamado Leonardo.
— Recebendo convites tão antecipadamente deste jeito, Swan? — encarei o homem ao meu lado e ele sorriu com todos os dentes para mim. — Olá, eu sou o Micah Hale e você deve ser a deusa do amor ou algo assim.
Acabei soltando um riso incontrolável e aceitei o seu aperto de mão, tendo um leve sobressalto ao sentir sua pele gélida. Vampiros brilhou em minha mente, em neon.
— Sou Billie — me apresentei, apesar de saber que ele já sabia. — E foi convite. No singular.
— Perdoe ele — uma nova voz diz e Alice apareceu atrás do namorado com um sorriso dócil. Eu tento repetir, mas tenho quase certeza que vou rasgar minhas bochechas. — Ele tende a se animar muito.
— Isso porque você não conheceu meu irmão Emmett — Micah contradiz quando eu aceno na direção de Alice com compreensão. — Ele é um saco de animação.
— Parece legal.
Os dois se olham após a minha fala e sorriem um pro outro, parecendo compartilhar um segredo só deles. Quando percebo que ainda estou encarando, desvio rapidamente e o professor entra na sala.
Quando as aulas passam, eu corro pelo corredor para conseguir encontrar Bels e irmos pro refeitório logo. Assim que rompo pelo corredor que sei que é o armário dela, me impressiono ao ver Edward a deixou com uma... cebola dourada?
Como ele estava indo embora, comecei a me aproximar dela. Antes que ele passasse de vez por mim, seus olhos chegam até o meu.
— Aquele era Edward Cullen? — questionei, já sabendo a resposta. — O que ele queria?
— Nada demais.
— Nada demais? — forcei, pois eu queria muito saber o motivo. Um vampiro se afastar de você com cara de dor, beleza, é o seu sangue. Mas esse mesmo vampiro voltar a se aproximar depois? Eu quero saber o porquê. — Conte-me.
— Ele foi... gentil comigo — Bels começou, colocando sua cebola e seus livros no armário, para então começarmos a caminhar pro refeitório. — Me perguntou sobre o clima.
— O... O clima? — debochei, sem me conter. Passamos pela porta do refeitório. — Francamente Bels, eu já desistia — ela me olha confusa. — O cara não tem lábia. Você quem vai ter que tomar a iniciativa. Não vai dar certo.
— Ah? Do q-que você está falando? — ela pestanejou nervosa ao meu lado, gesticulando com as mãos e balbuciando algumas coisas antes de finalmente sair algo coerente: — Não estou afim de Edward Cullen.
— Não? — repeti com um sorriso contido nos lábios. — Isso é bom, Bels — apertei seus ombros e ela torceu o nariz pra mim, algo que ela sempre fazia quando queria saber o que se passava em minha mente. — Zero lábia, Bel. Sem lábia, sem lábios.
Como eu pensei, minha analogia a fez corar e correr do assunto antes que pudesse ter mais dúvidas. Eu não queria mesmo ter que explicar que o verdadeiro problema era que ele era um sugador de sangue e que parecia muito atraído pelo seu, em específico.
Essa teoria eu tirei do olhar que ele fica lançando a Bels. Parece que ele vai a devorar a qualquer momento, por Deus!
Infelizmente, o intervalo não dura pra sempre e eu sou obrigada a voltar com os meus deveres de uma adolescente.
Comecei a ficar tão ansiosa nas aulas que eu literalmente contava os minutos, sempre olhando no meu relógio e marcando quanto tempo faltava no meu caderno, fazendo alguns desenhos ao redor. Até que o último sinal bateu.
Fui com tanta cede ao pote — ou seja, a saída — que esbarrei em alguns outros jovens que estavam com tanta pressa quanto eu.
— Billie? — ouço assim que coloco os olhos em minha irmã. Eu impeço meus passos de correr até ela pra irmos embora e encaro Mike.
— Oi, Mike. Precisa de alguma coisa?
— Eu tava pensando... — o garoto loiro coça a nuca com dificuldade para se expressar. — Eu queria muito ir ao baile com sua irmã.
— Entendi... — acenei com a cabeça enquanto murmurava lentamente. — Então fale pra ela, Bella está bem...
Virei para indicar minha irmã do outro lado do estacionamento mas meus olhos — assim como os meus ouvidos — focaram no carro que estava descontrolado e ia em sua direção.
— Não, não, não!
Larguei minha mochila no chão e empurrei Mike da minha frente para poder chegar mais depressa até Bella. Ela estava há uns 30 metros de mim e eu não sou nenhum ser sobrenatural; eu não iria conseguir chegar a tempo, mas minha mente não digeriu isso e simplesmente continuou a enviar comandos para que eu corresse.
A buzina aciona assim que eu estou há menos de 12 metros — 12 metros! —, mas sou impedida quando sinto uma presença chegar sobrenaturalmente atrás de mim e agarrar minha cintura, me puxando para longe daquele acidente.
Eu me debati naqueles braços firmes e frios, mas não consegui nem dar um passo a mais. Vi o momento em que Bella se vira e prevê seu futuro. Seus olhos lançam contra o estacionamento, mas antes que chegasse em mim, o carro a acerta.
— Não! — grito, dando uma cotovelada na pessoa que estava me segurando. Ele não seja mexe um só centímetro. — Bella! Por favor...
— Ela está bem, senhorita — sussurrou no pé do meu ouvido, seu braço direito ficando um pouco mais folgado em minha cintura. Ele estava me segurando no lugar com apenas um braço! — Edward a ajudou. Ei... Billie.
Aos poucos eu aprendi a respirar fundo e quando ele percebeu que eu não era mais um perigo para a minha própria vida, ele definitivamente me soltou, recuando um passo e eu me virei para vê-lo.
Jasper Hale estava em minha frente, antes com o peitoral colado nas minhas costas e a mão firmada em volta do meu estômago.
— Sua irmã está bem — Jasper voltou a dizer e eu senti um alívio tão grande passar pelo meu corpo que meus joelhos quase falharam.
— Alguém liga pra ambulância! — ouço atrás de mim e volto a realidade de que minha irmã estava entre àqueles carros.
Jasper segura o meu pulso quando eu me viro para correr até Bella. Diferente da última vez, eu o encaro com raiva por me impedir; de novo.
— Me solta, eu preciso ir até ela — minha voz não saiu muito firme, mas era sim o que eu queria.
— Você não vai pode entrar na ambulância com ela, senhorita — ele me explica, sua mão ainda enroscada em meu pulso como a brisa segura os pássaros para voar. — Deixe-me dar uma carona até o hospital.
Conectei nossas íris enfim e, dessa vez, Jasper não fugiu e nem ameaçou recuar mais.
Ele simplesmente desenroscou seu toque do meu e me deixou ir até a minha irmã, ter certeza de que ela ia entrar bem na ambulância com Tyler — o que estava dirigindo a van.
Jasper estava certo em dizer que eu não poderia entrar; além de já ter Tyler, Bels e os paramédicos, eu era de menor.
Quando me virei, buscando formas de como ligar e dirigir aquela lataria de Bels, lá estava ele; Jasper Hale me esperava em frente ao seu carro, encarando-me sem nenhum resquício de sentimentos.
Até ele sorrir e abrir a porta pra mim.
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