18 | Pé na estrada

CAPÍTULO DEZOITO
"Por   que  eu  olharia  para  qualquer  uma  tendo  você ao  meu  lado,  Billie?"

    O sentimento que essa madrugada insiste em colar em mim é a culpa.

Bels não curtiu a ideia de eu deixá-la por fora dos meus planos para viajar até Mystic Falls. Ela não entendeu, claro, que era para a sua proteção e ficou tentando jogar argumentos horríveis para cima de mim. Teve uma hora que eu não sabia se ria ou continuava com a minha pose  séria.

Felizmente, meu autocontrole prevaleceu e dei um ponto final na minha decisão.

Ela virou as costas e bateu a porta com força.

Meus ombros caíram com um peso desconhecido, mas ainda assim deixei-me suspirar. Eu sabia que ela não diria nada a Charlie. Iria além. Principalmente agora, que parece que nossa relação se define a uma corda bamba.

Meu plano era simples.

Fugiria agora pela madrugada por minha janela e deixaria uma mensagem para Charlie dizendo que passaria a noite na reserva. Eu nunca fiz isso, mas sempre volto meio tarde quando passo o dia por lá, então não é algo surpreendente.

Jacob, que esta absurdamente envergonhado por não ter me presenteado com nada — enquanto quase se ajoelhava e balançava o rabinho para a minha irmã —, concordou em enviar uma mensagem para Charlie pelo celular do seu pai, o Sr. Black, confirmando que eu estava lá e que estava tudo bem.

Se tudo ocorre ótimo, eu voltaria... daqui uns dias.

A viagem seria longa, principalmente porque éramos adolescentes sem nenhum fundo de garantia para investir em passagens aéreas. Quase não tínhamos para investir em um carro.

Tudo o que eu estava torcendo no momento em que peguei minha mochila para começar a arrumar minhas coisas era que Paul conseguisse arranjar um carro.

Sam dificilmente deixaria que usássemos o seu.

Ele certamente odiou a ideia de Paul ir comigo para outro Estado, mas Paul Lahote é bem insistente e mais ainda pavio curto. Havia uma conversa entre seus olhos que não fora reconhecida por mim, mas que fez o Alfa recuar e assentir, dizendo que não compactuaria com nada em meu plano.

Mas Paul me garantiu que arranjaria um carro.

Eu confiei nele, mas até agora não há notícias.

O jantar com Charlie e Bella foi estranho.
O mais velho pareceu sentir a tensão que estava pairando entre nós duas e notei quando uma lição de moral começou a se criar em seus lábios.

Mas eu rapidamente fugi.

Bella estava com raiva.
Não queria que nada atiçasse seu instinto de vingança contra mim. Então praticamente engoli minha comida — fazendo uma nota mental de levar dinheiro para comer e se hospedar — e subi novamente, dizendo apenas que eu iria dormir.

Se tudo viesse a dar errado, então... Demoraria um bocado para voltar e a escola ligaria e meu pai daria um jeito de contatar-se com o senhor Black.

Ou seja, nada podia dar errado.

Encarei minha mochila vazia em cima da cama e suspirei, dando-me por vencida e começando a arrumar.

Odeio arrumar malas. É um saco.

Comecei a cantarolar enquanto separava as roupas que eu mais usaria. Nada demais. Apenas cinco peças, sem contar com as íntimas. Então o perfume, a pasta de dente, o desodorante.

Ah... O que estou esquecendo?

Abro a mochila, pronta para colocar minhas coisas dentro quando paro ao ver o único conteúdo dentro. Meu coração erra as batidas. Meu cérebro parece rodar dentro do próprio eixo.

Com as mãos trêmulas, afundo-as dentro da mochila e toco naquele papel. A ansiedade devora meus pensamentos quando eu puxo minha mão, com aquele papel descartado na lata de lixo do quarto de Jasper Hale.

Mordisco meus lábios com dúvida se deveria abrir ou não. Chego até a olhar de um lado para o outro no meu próprio quarto, mas não há ninguém perto par ver-me cometendo aquele deslize.

Não, não um deslize.
Um deslize seria ir até a casa dele, o que eu já fiz também. Ah... Sim, certo, um deslize já foi cometido. Mas isso aqui não é outro.

Encaro o papel.

Ele parecia ter sido amassado, jogado no lixo, pegado novamente, desamassado, dobrado e jogado no lixo. O que quer que estivesse escrito ali, Jasper não parecia ter sentimentos bons em relação à isso. E é como se eu pudesse senti-lo enquanto segurava aquela fina folha de papel.

Como se eu pudesse vê-lo escrevendo aquilo — pois era sim a letra dele.

Era uma folha média, amarela escura, como se fosse de um caderno muito velho. Todas as linhas estavam escritas, mas estavam rabiscadas com marca texto preto, aqueles que policiais usam para ocultar informações extra-oficial. Eu quase me derreti.

Mas então meus olhos capturaram a primeira frase e, depois, a última.

Únicas frases que não tinham sido escondidas. Ocultas dos meus olhos.

A primeira frase era curta e tinha uma mancha do comarca texto no começo, como se Jasper tivesse pensado em cobri-la e desistido.

Li ela pela primeira vez.
Depois pela segunda.

— Livro Dourado — li em voz alta pela terceira vez, para ver se dava algum sentido.

Mas falhei miseravelmente e tive vontade de colocar de volta na mochila. Então a última frase chegou até os meus olhos. Sem qualquer mancha de tinta preta para atrapalhar a minha leitura e muito mais clara que a primeira frase.

Incapaz de ler em voz alta, eu apenas ecoei em minha mente, mas meu estômago reagiu de qualquer forma e meu peito avançou para baixo. Para fundo. Para um vazio interior gigantesco.

Amassei o papel, joguei-o para longe de mim. Ele bateu na porta e quicou até o chão, mas as palavras ainda soavam com a voz dele em minha cabeça.

E tudo parecia enjoativo, sem nenhuma explicação.

Por um momento, pensei que vomitaria. Mas então meu celular apitou em cima da cama e voei para ele, como se fosse algo que pudesse me salvar do irrefutável destino de afundar-me sempre que provo um gostinho de um passado que jamais voltará — por mim.

Mas quando leio o nome de Paul na tela de meu telefone, tudo parece ser abafado.

Não pela notícia, apesar de me trazer um enorme alívio saber que ele, de fato, conseguirá um carro, mas por ser ele. Assim como eu podia ouvir a voz de Jasper falando aquela frase para mim, eu conseguia ouvir a voz de Paul me acalmando.

Lobinho do pau-oco
Eu disse que ia conseguir!
1 foto

Eu sorri, sem ao menos perceber e, enquanto digitava uma resposta, coloquei tudo para dentro da minha mochila, pois não demoraria muito para chegar de madrugada e meu plano, nada conceitual e seguro, chegasse.

Eu
Nunca duvidei!
Tá... talvez um pouco.

Lobinho do pau-oco
Estou muito animado para viajar com você, Lily.

Eu
Sei que está.
Busque-me às 01h. Mas não pare em frente a minha casa. Lembre-se: meu pai é policial.

Paul riu, mas ele pareceu dizer sério que seguiria as minhas regras. Só percebi que eu ainda estava com aquele sorriso no rosto quando a porta do meu quarto foi levemente aberta.

Em um reflexo, jogo a mochila para o chão e jogo algumas mechas do meu cabelo para trás, sorrindo forçado para o meu pai.

Ele abre os braços, em uma pergunta silenciosa. Eu finjo que não sei do que ele está falando e lhe dou as costas, apenas para esconder ainda mais a mochila. Charlie entra no quarto e acaba chutando o papel que joguei com raiva. Com a caligrafia de Jasper.

Talvez a única coisa que provava que ele algum dia existirá.

— O que houve? Achei que vocês tinham se resolvido.

— Nos resolvemos — afirmei, mas ele ergueu as sobrancelhas em dúvida. — Bella está meio instável, papai. E, sendo sincera, também me sinto assim. Somos duas mulheres que passam a vida inteira juntas, será que é tão estranho brigarmos?

Quando termino, puxo um grande fôlego, sentindo tudo dentro de mim tremendo para soltar mais. Mas eu seguro. Agarro tudo aquilo que podia machucar ele, que estava meio surpreso com a minha reação.

Eu o olho com receio.

Charlie pisca e no momento seguinte, seus ombros caem. Ele avança mais.

— Sinto muito, filha.

— Tudo bem — sorrio.

— Passei muito tempo longe de vocês duas. Sinto-me inexperiente para lidar com seus problemas e reconheço que posso exigir um pouco demais de você. Mas é porque confio em você. É a mais responsável. Sempre foi.

Aquilo atingiu-me de prontidão, principalmente porque eu estava orquestrando fugir de casa escondido e mentir para ele durante dias sobre onde eu fui.

Ou o porquê fui.

— Como está se sentindo? — Charlie perguntou, de repente parecendo perceber que não me perguntava isso já um longo tempo.

E eu queria tanto sentar-me na cama e ser sincera. Dizer que eu estava melhor do que antes, mas que ainda sentia os ecos de um coração partido por diversos motivos. Mas eu não podia fazer isso com ele.

Se caso, algo viesse a dar errado e, para ele, eu sumisse, não podia fazer ele pensar que eu fui atentar contra a minha vida.

Ele precisa entender que estou bem.

— Estou bem, pai. Eu juro. E Bels também! — Charlie parece confiar mais quando eu chamo ela pelo apelido. — É só essa coisa de ciclos que se colidem quando duas garotas ficam juntas por muito...

— Ah, certo. — As bochechas dele esquentam e ele coça a garganta, sem jeito. — Err... — Faço um biquinho, tentando evitar o sorriso. — Beleza. Precisa de, hm, um remédio?

— Remédio?

— Não, claro que não. Uh... Chocolate! — Meus lábios sentem dificuldade para segurar o sorriso, então eu arregalo levemente meus olhos quando Bells aparece atrás dele. — Chocolate, isso.

Charlie saiu desnorteado do quarto e parece ficar ainda mais envergonhado quando debate-se com Bella, que acaba com a mesma expressão que a minha.

Quando ouvimos os passos pesados do Xerife descendo as escadas e, logo, batendo a porta, caímos em uma risada gostosa. A risada dela era mais fechada, enquanto a minha era aberta e espontânea.

— Da última vez que eu vi um homem tão desconfortável assim foi quando pedimos para Phill comprar nosso absorvente — disse eu, acalmando-me.

Bella concordou e me encarou com o resquício do que sobrou da risada, um sorriso.

Aos poucos, conforme o ar confortável ia instalando-se ao nosso redor, o sorriso diminuiu de nossas faces, mas não desapareceu, nem mesmo quando ela entrou no quarto e perguntou:

— Como pretende ir sozinha?

— Bels... — resmungo, tombando a cabeça.

— É sério! Não quer que eu vá, tudo bem. Mas ao menos diga-me que não vai sozinha.

— Não vou sozinha — disse, dando de ombros. Isabella estreitou os olhos. — Paul Lahote vai me acompanhar.

— O lobo que explodiu em cima de mim?

— Você deu um tapa nele! — Defendi. — Ele é bom, beleza? Vai me ajudar.

— E eu não iria?

— Com seu jeito desengonçado? — Retruquei, debochadamente. Bella revirou os olhos e jogou uma almofada da minha cabeça em mim. — Fique e me ajude daqui. — Encarei-a com a minha melhor cara de pidona. — Por favor.

Ela derreteu-se e eu sabia que já tinha vencido.

— Tá... Mas me prometa que tomara cuidado.

Levantei minhas mãos em rendição, concordando imediatamente, escondendo as dúvidas do meu rosto.

— E mande um "oi" para Lena e deixe claro que foi você — ela aponta o dedo pro meu rosto — que não me deixou ir.

— Certo, Bella. Agora você está parecendo a mamãe quando viemos para cá.

Ela riu um pouquinho e assentiu, pensativa.

— Ei — pego sua mão, chamando sua atenção. — Não deixe-se cair no meu curto tempo fora, ok? Lembre-se: você é uma garota extraordinária e Jacob não é seu passatempo.

Seus ombros caem quando ouve o nome do lobo e eu sorrio com empatia.

A relação dos dois está meio estranho.
Mais verdadeira, por conta do segredo que fora desvendado, mas completamente estranha. Principalmente porque Bels estava tentando não jogar o lobo no seu vulcão de sentimentos guardados.

Ela estava tentando não voltar a ser o que era, eu conseguia ver.

— Estou orgulhosa de você, Bels.

Bella apenas sorriu.

(...) Forks

O relógio marcava o horário que Paul prometera que estaria ali, bem na esquina, esperando-me sair escondida de casa para começar uma viagem com mais de dez horas.

Por sorte, Charlie se empenhou nas compras de guloseimas, então pegando todas as três bolsas e mais alguns trocados que guardada escondido embaixo da sola da janela lascada, eu retirei meus sapatos e, de meio, engatilhei pela casa.

Mais calma do que nunca estive antes, desci as escadas que rangiam com o peso do meu corpo.

Por sorte, o sono de Charlie tem sido profundo demais por conta das noites mal dormida com Bels. Então, eu duvidava que ele acordaria, mesmo depois que passei pela porta e voltei a fecha-lá.

Ou quando, finalmente corri até a esquina e entrei no carro que Paul estava, o braço apoiado na janela inteiramente aberta.

Quando entrei no banco do passageiro, ofegante e com um sorriso querendo estrear o meu rosto, ele se virou para mim, a sobrancelhas arqueadas em escárnio.

— Primeira vez fugindo de casa, linda? — Ele perguntou, debochadamente, ligando aquele carro cinza com um sorriso estonteante.

Linda.

Paul já a chamará de vários adjetivos.
Quase todos pareciam ser genéricos. Como se fosse parte de sua língua falar aquilo. Não um apelido, mas uma maneira de dizer. De se expressar.

Mas aquele parecia diferente.

Fez com que as minhas bochechas queimassem tanto que tive que abaixar o rosto para disfarçar e depois coçar a garganta para passar aquela sensação mortal dentro de meu estômago.

Eu não queria aquilo.

Doía.

Mas eu ainda sorria.

— Para ir para outro estado? — Retruquei, rápida. — Sim. E você já?

Lahote, já com o carro ligado pronto para dar a partida, deixou a cabeça cair para o encosto e encarou meus olhos.

— Fugi de muitos lugares. Mas nunca do Estado. — Então ele acusou-me: — Voce é má terrível companhia.

Rio amargamente e vejo ele dando a partida para fora de Forks. Era oficial, agora. Estávamos mesmo fazendo aquilo. Encaro minha casa pelo retrovisor e torço internamente para que nada dê errado.

— Onde conseguiu o carro? — Perguntei, um tempo depois que ele já estava dirigindo. Já estávamos na estrada para sair da cidade. — Algum dos meninos...

— Meu pai.

O sorriso na face do lobo apagou-se ao dar a resposta.

Ah.

Paul não falava sobre essas coisas. Não comigo, pelo menos. Mas eu já percebi que era algo que estava enraizado demais. Sempre que comentávamos sobre passar na casa dele depois do meu período de aula para irmos até a casa de Sam, ou quando os meninos brincavam sobre agarrar as bebidas que Paul tinha na casa deles.

Era como se o garoto tivesse um botão e sempre que mencionasse algo que se relacionava com o progenitor dele, algo apertasse e ele simplesmente fechava a cara.

Apesar da curiosidade, nunca tive coragem para perguntar. Para ir a fundo.

Ele me diria, se quisesse, não é?

A placa da cidade ficou para trás um minuto depois e eu me encosto no banco, abraçando a minha mochila e deitando minha cabeça ali, vendo a paisagem passar por nós em um vulto rápido demais.

O silêncio era um inimigo para nós dois.

Paul sempre fazia algo que o quebrava, que me fazia rir, que nos fazia conversar e discutir. Com ele, nunca era zero. Sempre era cem.

— Podemos trocar de lugar, quando quiser — ofereci, pois o céu já estava clareando e ele continuava dirigindo no mesmo ritmo, apesar de piscar duro uma hora ou outra.

— Estou bem, Lily. — Ele olhou para mim rápido. — Pode dormir.

— Não estou com sono — ele acenou. — Mas você está. Deixe-me dirigir um pouco.

Ele negou mais uma vez e quando eu ia argumentar contra, ele simplesmente agarrou um punhado de salgadinhos do pacote que tínhamos aberto uma hora atrás e enfiou em minha boca aberta.

Eu o encarei estupefata pela ousadia e bati em seu braço esticado para segurar o volante.

Paul riu quando me encarou tentando mastigar aquele um monte de isopor salgado e eu evitei de não xingá-lo para que ele não se descontrolasse e batesse o carro.

— Lobo mal — murmurei depois e ele caiu na gargalhada.

Eu não me aguentei e juntei-me com ele, sabendo que, no fundo, ele jamais se descontrolaria por algo estúpido que eu falasse. Era raro ver Paul Lahote calmo e tranquilo, mas era como ele estava agora.

Quando o sol nasceu, tomamos a decisão de entrar em uma das cidadezinhas para comer algo que iria nos nutrir pelo resto do dia e, talvez, apenas talvez, descansar um pouco, se tivéssemos sorte.

Então ele desviou do caminho a ser seguido e dirigiu por um longo tempo até achar uma lanchonete que estava descrito que era uma pousada.

Eu tentei não olhá-lo com tantas esperanças de deitar em uma cama com a barriga cheia, mas quando chegamos na recepção, ele já pediu por dois quartos e pelo cardápio do lugar.

Busquei não demonstrar a minha felicidade, mas eu estava praticamente saltitando quando seguimos para mesa, a recepcionista que parecia um pouco mais velha que nós dois dizendo que pegaríamos as chaves quando subíssemos.

Sentamos em uma mesa no fundo, já com o cardápio que Paul agarrou da bancada em mãos.

Eu pedi por um suco natural, um sanduíche de carne e fritas. Paul optará escolherá por escolher praticamente o cardápio inteiro, resumindo bem. Mas eu não podia culpá-lo. Ele estava há seis horas na estrada, alimentando o seu lobo de porcarias que mal nutriam.

Quando nossos pedidos foram atendidos, Paul curvou-se começou a comer. Eu estava na minha segunda mordida quando ele acabou com a metade das coisas que ele pediu. Era engraçado, mas não dá forma como as pessoas poderiam rir se vissem.

É uma sensação boa ver que ele estava comendo.

E atento-me, então, que era a primeira vez que eu estava sentada em uma lanchonete com um homem que me acompanhava no alimento.

Bloqueei a memória do meu primeiro encontro com Jasper quando Paul ergueu os olhos para me olhar. Era como se ele fosse um para-raios, que funcionava para parar os meus pensamentos profundos.

Olhar para Paul Lahote estava se tornando uma eternidade de pensamentos engolidos e sentimentos fluindo.

— Desculpa, eu devo estar parecendo um animal — ele pediu, ficando sem jeito diante ao meu olhar que ele interpretou, erroneamente, com julgamento pela forma um tanto desesperada que ele estava comendo.

— Não está não, lobinho. — Nego com a cabeça e abaixo os olhos para o meu sanduíche, xingando-me.

Paul disfarça um sorriso coçando a garganta.

— E então? — É o que ele pergunta, a única coisa. Isso me faz voltar a olhá-lo. — Não vai me dizer o motivo dessa viagem?

— Não sei se consigo.

Ele estreitou os olhos.

— Estamos em perigo?

— Não — respondi rápido, mas a verdade era outra. Eu não sabia ao certo.

— Você parece duvidar de si mesma — ele observou, apontando um dedo para o meu rosto. Eu avanço, fingindo que iria mordê-lo. — É sério, Billie. — Meu nome em sua voz rouca e baixa era estonteante. — Se estiver levando-nos para algo perigoso, eu dou meia-volta.

Um sorriso traiçoeiro alcança meus lábios.

— Com medo do desconhecido, Lahote?

Ele termina de comer seu último lanche e não me responde. Penso que a resposta pode assusta-lo, mas no momento em que eu pego ele abrindo a boca para responder e depois pensando melhor, fechando-a, começo a pensar que seu medo é por mim.

Assim que ele termina de beber seu refrigerante e, depois, uma garrafa de água inteira, levantamos e seguimos para pagar a conta.

Paul agarra um cartão em seu bolso antes mesmo que eu pudesse pensar em puxar algumas notas do meu bolso.

Depois o sigo até a recepcionista para pegarmos nossa chave. Mas a mulher quando nós vê abre um sorriso que faz a gente trocar um olhar imediatamente, pois ela não pareceu tão simpática assim antes.

— Como foram seu café? — Ela questionou, o sorriso iluminando os olhos que só agora fui perceber serem azul marinho.

— Ótimo. Pode nos entregar as chaves?

Paul mal a olhou quando girou o cartão em sua mão, pronto para pagar por uma noite.

A recepcionista até que era agradável de se olhar. Com aquele balcão de madeira escura na frente não dava para distinguir ao certo, mas ela parecia alta e sua pele era tão perfeitamente lisa e levemente bronzeada que eu mesma me peguei admirando-a.

Paul Lahote tinha uma fama que escapava até mesmo da reserva. A quantidade de garotas que estiveram em sua cama eram incontáveis. Ele caçava mulheres, diversões e corpos para se fundirem. Era o típico garanhão que, com aquela beleza selvagem e aqueles músculos, conseguia qualquer uma.

Ainda assim, ele parecia completamente alheio àquela mulher em sua frente, sorrindo para ele.

Ela estendeu o preço dos dois quartos para Paul, que agarrou na mão, mal notando a forma como ela o tocou sutilmente. Mas Paul hesitou. Não pelo toque, percebo ao pegar o olhar focado dele no papel com o preço.

O lobo evitou olhar para mim quando pegou sua carteira, praticamente vazia.

E algo salpicou em minha mente quando peguei a recepcionista inclinando para mostrar o decote dos seus seios, como o seu busto era alto. Eu não busquei pensar muito, apenas coloquei a mão no ombro de Paul e sorri para a recepcionista, que enfim, olhou-me.

— Acho que não precisamos de dois quartos. — Paul arqueou as sobrancelhas e literalmente sorriu quando percebeu o que estava rolando ali. — Um quarto só é o suficiente.

A recepcionista escreveu algo no computador e estendeu o novo preço.

O preço pareceu mais confortável quando ele estendeu o cartão e pagou. Eu peguei as chaves e subi pela escadaria atrás da porta 08, enquanto Paul ia pegar nossas coisas no carro para estacioná-lo na garagem do prédio.

O quarto era literalmente um quarto, pequeno e nada aconchegante.

Nem mesmo a cama parecia agradável, mas eu não poderia reclamar. Era o que tínhamos para aproveitar antes de cairmos na estrada novamente e, dessa próxima vez, não pararíamos até chegar ao nosso destino.

Passei direto pela cama, tentando não pensar agora que tinha apenas uma para nós dois e abri a porta do banheiro. Tinha uma pia, um espelho meio manchado em cima e o box do banho.

Sim, eu aceitaria um banho.

A porta do quarto se abriu e virei-me, deparando com Paul na porta me olhando com um brilho selvagem no olhar.

Quase perdi o ar.

— Aquilo na recepção — ele começou, jogando as mochilas na cama e se aproximando. Cruzei os braços, me fazendo de desentendida. — Estava com ciúmes, Lily?

Minha auto defesa me obrigou a soltar um riso.

— Ciúmes? Lógico que não.

— Não? — Ele parecia confiante demais para sequer me dar uma brecha para fazê-lo mudar de ideia. — Então por que estamos aqui? Em um só quarto. Com uma só cama.

Inspirei o ar e olhei para os seus pés que continuavam a se aproximar. Era como se ele estivesse se aproximando de uma resposta presa em minha língua, que jamais sairia.

— Pela praticidade. — Ignorei sua face. — Olha, se eu estraguei algum plano seu de tentar alguma coisa com aquela recepcionista, eu sinto muito. — Eu estava mentindo. Não sentia. — Posso sair por um momento depois de tirar um sono e você pode fazer... — Paul levantou as sobrancelhas. — O que quiser. Com ela.

— Não quero fazer nada com ela.

— E por que não? — Descruzei os braços, tentando deixar a minha face o mais tranquila possível. — Ela é bonita.

— De fato, é — o desgraçado concordou e deu mais um passo pra minha direção.

Ele estava mais perto e isso era perigoso, pois eu estava com vontade de soca-lo.

— Então?

Ele suspirou ou aquilo foi um riso? Então se aproximou para terminar com a distância ao estarmos um palmo um do outro. Levantei meu rosto para conseguir olhá-lo nos olhos e ele abaixou seu queixo.

— Por que eu olharia para qualquer uma tendo você ao meu lado, Billie? — Ele me questionou, seus olhos comendo os meus. Meu estômago se revirou e tive que me esforçar para não desviar. — Você é tudo o que eu...

Assim que ele toca em minha bochecha com sua mão, eu desvio. Foi um gesto inconsciência desviar ao gritar de dor pela minha mão esquerda, que latejava de tanta dor.

O clima, que parecia estar sendo amenizado, simplesmente explodiu quando eu soltei um grito e comecei a chorar. Paul me perguntou o que estava acontecendo, mas eu não conseguia fazer nada além de trincar meus dentes enquanto meu braço queimava, como se estivesse pegando fogo.

Levantei as mangas da minha camiseta e arregalei os olhos com horror ao ver algo embaixo da minha pele borbulhando, como se fosse o próprio sangue.

Corri até o banheiro, ligando o chuveiro no máximo e colocando meu braço lá embaixo.

Em um segundo, Paul ja estava em meu encalço, mais confuso do que eu.

— Vou explicar — afirmei, ofegante, a água meramente gelada me dando um pouco de alívio. — Mas você pode... — inspirei — pegar gelo?


(...) Hospedaria Country Music

Paul não demorou nem quinze minutos para voltar. Onde quer que eu tenha conseguido aquele pacote de gelo e aquela bacia, ele fora rápido. Sua respiração não dava qualquer dica para mim.

Ele preparou a bacia com água e gelo em silêncio e quando terminou, arrumou ela no chão, colocando cobertores e travesseiros ao lado dela para que eu me deitasse.

Desliguei o chuveiro, então, e me acomodei no ninho que ele preparou para mim, suspirando alto quando o alívio da queimação do meu braço mergulhou naquela bacia de gelo, que esfumaçou com o contato com a minha pele.

Fiquei um bom tempo ali, com os olhos fechados, respirando fundo e com meu braço mergulhado. Quando o incômodo ficou de segundo plano e minha respiração acalmou, abri os olhos.

As íris negras de Paul Lahote me estudavam mais do que nunca, o vão entre suas sobrancelhas praticamente descrevendo sua preocupação.

— Está tudo bem — tentei acalmar ele.

— Seu braço estava prestes a pegar fogo — ele me retrucou. — Isso é a definição de que não está tudo bem. — Abaixei os olhos e ele respirou fundo. Seus músculos tremeram quando ele soltou o ar. — Você me chamou dizendo que confia em mim.

— E eu confio.

— Então me diga neste momento o que está acontecendo. Se não eu vou te jogar por cima do meu ombro e te arrastar pra Forks.

Era literalmente uma ameaça e seu tom que beirava mais ao seu lobo do que ao seu lado humano não deixou rastros para que eu duvidasse.

— Começou logo depois de eu chegar em Forks.

Eu continuei, então. Disse como uma camada de gelo se formou em minha pele do braço direito e, depois, como o braço esquerdo pareceu fumaçar no dia do meu aniversário e depois borbulhar, mas deixei de fora que eu estava com Kurt, um caçador.

Expliquei sobre o livro também.
Como alguém da Tribo Quileute me deu quando fui até Port Angeles acompanhar minha irmã. Como o livro tinha a marca de sua tribo, aquela que ele tatuara em seu bíceps e como o livro não se abriu até a menção do meu sangue, que foi quando eu cortei-me fazendo o bolo para Emily.

Era isso que eu queria procurar sobre.

— Sei que parece loucura...

— Parece muito mais do que uma simples loucura.

— Mas meu braço só congelou depois que eu peguei o livro. Tem que haver alguma conexão. — Mas eu não podia convence-ló de algo que só apenas eu e meu interior entendia. — Vou compreender se quiser voltar.

— Não vou voltar — ele nega rapidamente e então encara o meu braço direito. Sua vontade de olhar era clara.

Ergui o braço, permitindo que seu toque arrastasse a manga da minha blusa para cima.

Fechei os olhos quando sua pele quente entrou em contato com a minha pele, que apesar de não ter um trinco de gelo, parecia que estava abaixo de qualquer temperatura normal.

— Vamos descobrir o que está acontecendo com você, sim? — Ele me tranquilizou, abaixado ao meu lado. — Eu prometo.

Olhei em seus olhos.

— E eu confio em você, Paul.

Ergui meu braço que estava na bacia de gelo e ele arrastou uma toalha para secar meu braço. Assim que sua pele entrou em contato com a minha do braço que não mais borbulhava, ele recolheu a mão, balançando-a no ar enquanto resmungava de dor.

— Está queimando feito um inferno, Billie!

E meu peito borbulhou de preocupação quando eu notei que quem dizia aquilo era um lobo, cuja temperatura era mais alta que de qualquer um.

O encarei assustada.

O que diabos estava acontecendo comigo?


E saiu a notícia, que o MUNDO não acreditou...

Espero que estejam gostando e que não tenham desistido! Eu disse que voltaria a postar. Demorou? Com certeza. Mas eu voltei!!!!

O capítulo não foi corrigido, então é bastante possível que tenha erros ortográficos. Eu não tenho muito tempo para corrigir, então resolvi postar logo e depois, quando eu tiver tempo, voltar e corrigir.

Agora, POR FAVOR, me ajudem com comentários e estrelinhas. Sei que vocês só podem curtir uma vez, mas os comentários são ilimitados. Ajudem-me ai para que eu veja que vocês estão gostando DE VERDADE e eu continue.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top