16 | Cura
CAPÍTULO DEZESSEIS
"Bella e Billie estavam de volta."
— Má ideia. Muita má ideia. A pior das ideias! — terminei de dar minha sincera opinião, com um curto chute no chão.
— Não há perigo algum — Paul refutou-me pela milésima vez, revirando os olhos. — Não seja covarde.
— Covarde?! — repeti desgostosa. É o cúmulo! — Sabe o que é instinto de sobrevivência, Lahote? Pois bem, se ele for acionado, você me soltará imediatamente.
— Asneira!
— Jar — choraminguei na direção do meu amigo. — Tem como fazer entrar na cabeça do seu amigo que eu não quero morrer pulando de um penhasco? É uma morte ridícula!
Paul faz um barulho de desdém com a boca e sai da ponta do penhasco pra parar bem em minha frente. Tive que levantar um pouco o pescoço, meus olhos passando por toda a sua pele exposta até chegar em suas íris.
— Antes do "instinto de sobrevivência" — fez aspas com o dedo — acionar para mim, ele acionará pra você. Acredite em mim quando digo que eu não vou te soltar.
O silêncio recaiu entre a gente. Paul parece ter percebido o que falou só depois, os outros estavam abismados com suas palavras e eu ainda estava tentando processar o significado.
Que merda, Paul!
— Lily, aquela não é sua irmã? — Embry, o tão fofo Embry que acabou de se transformar, retirou a tensão do momento enquanto apontava para o outro lado do penhasco.
Ao me virar, pude confirmar que era mesmo Bella junto com Jacob, encostados em sua lataria avermelhada enquanto olhava em nossa direção.
Eu não sabia bem se ela sabia que eu andava com eles, mas se não sabia e ligava para isso, eu escutaria pra caralho quando chegasse em casa.
Sei bem qual é a fama desses garotos. Ninguém acha naturalmente possível que eles tenham ganhado tanto músculos em um curto período de tempo, principalmente Embry que era um magricela cabeludo há um tempo atrás e agora estava bem em forma e com os cabelos curtos.
Todos só podiam pensar em uma coisa: drogas.
Com um estreitar de olhos, percebi que Bella estava prestes a avançar em nossa direção. Não queria ter que lidar com ela naquele momento e nem queria ter aquele momento perto dos garotos.
Virei-me para Paul que pareceu entender bem a mensagem ao me dar as costas e colocar os braços para trás.
Pulei de leve em suas costas, com medo de pesar muito. Mas ele não pareceu fazer tanto esforço assim quando agarrou minhas panturrilhas e me impulsionou para cima, agarrando agora minhas coxas.
Sua mão aperta a minha carne coberta pela calça legging e suas costas esquentam meu peitoral.
Ele dá alguns passos para a direção da beirada do penhasco e sei que não escondo muito bem a minha aversão à altura quando aperto meus braços ao redor do seu pescoço.
Seu corpo da uma leve tremida com o contato inesperado e forte.
Ele vira a cabeça para me encarar, nossos rostos tão perto que se fizermos apenas um movimento simples nossos narizes seriam capazes de se colar. Seus olhos prendem os meus e ele parece se perder por um tempo antes de perguntar:
— Está pronta?
Minhas íris se arregalaram levemente por medo e neguei com a cabeça. Ele riu de mim e me segurou com mais força, murmurando que eu estava pronta sim.
Então ele recuou para trás pra pegar impulso e meu estômago começou a borbulhar de medo. Minhas pernas já estavam completamente cruzadas no seu estômago, meus braços em seu pescoço. Não sei dizer se ele iria me soltar, mas eu com certeza não soltaria ele.
Porra, que ideia foi essa?
— Paul — choraminguei quando ele flexionou os joelhos. — Não faça nenhuma manobra louca, por favor.
— Relaxa, gata.
Então ele começou a correr e depois, com apenas um pulo, estávamos nos dois testando a lei da gravidade da Terra.
Nossos corpos caíram, o vento frio nos abraçando enquanto eu escondia meu rosto no pescoço de Paul e ele realmente não me soltava.
Nunca gostei muito de praia, acho que já comentei e acho uma inutilidade ter praia em uma cidade tão fria quanto essa, mas eu tenho que admitir a adrenalina que explodiu em meu corpo quando esse entrou em contato com a água fria.
Uma onda bateu em nossos corpos bem na hora e meus braços soltou o pescoço de Paul e ele relaxou suas mãos na minha coxa. Achei que seria aquele momento em que ele me largaria e eu afundaria, pois, apesar de não ter comentado por vergonha, eu não sabia nadar.
Se ele me soltasse, provavelmente me debateria até estar no fundo do mar, fazendo companhia pra alguns peixes.
Mas então, senti sua mão deslizar para se entrelaçar nas minhas e meu corpo ser puxado para cima, afim de colidir com o seu peitoral. Assustada com a sensação de poder estar solta no mar a qualquer momento, me agarrei ao peito de Paul quando ressurgi.
— E então? — perguntou ele, sua respiração ofegante igualando-se a minha enquanto ele trabalhava com seus dedos para retirar os fios grudados do meu rosto.
— Foi... incrível! — admiti sem muita precisão, encarando-o sem nenhuma dificuldade. — Como soube que eu não sabia nadar?
A pergunta dançou entre meus lábios, tendo em vista que ele ainda não havia me soltado. Não achei que Paul pudesse ser tão observador.
— Não sabia — ele contradiz meus pensamentos, um leve dar de ombros. Encarei minhas mãos tocando aquele local, mesmo com a água fria, sua pele permanece indecentemente quente. — Eu disse que não soltaria você e eu não soltei.
Sorri para ele abertamente e ele repetiu o gesto. Deixei-me admirar por um tempo. Já vi ele gargalhando um monte de vezes, mas nunca o vi abrindo um sorriso como aquele, limpo e que machucava suas bochechas.
Meus olhos desceram para os seus detalhes pela primeira vez. Ele era... bonito.
Sua beleza não era delicada com traços pequenos que podia lhe trazer clareza; era selvagem, onde seus olhos escuros reinavam na face bronzeada, sua maçã do rosto marcada normalmente, nada tão exagerado. Suas sobrancelhas eram bem desenhadas, de uma forma que apenas maximizava sua personalidade dura e raivosa.
Seu nariz puxadinho para baixo era um detalhe raro. Paul não era um modelo, com olhos claros, aparência delicada e nariz em pé. Muitos nem o considerariam o mais bonito.
Mas ele era, inegavelmente, bem esbelto.
Seus lábios finos tomaram a minha atenção. Se antes eles estava esticados em um sorriso confiante, agora eu os via se voltando aos poucos. Ergui meus olhos para Paul que fechava sua expressão enquanto suas íris queimavam o meu rosto.
Percebi tarde demais da forma que eu estava o analisando, como se... Merda.
— Lily? — ele sussurrou, suas mãos se soltando das minhas pra cruzar em minha lombar. — Eu preciso te dizer que...
Algo explodiu em uma jorrada de ar ao nosso lado e Paul tentou me proteger de forma instintiva enquanto virava suas costas para a cena. Sam havia pulado bem ao nosso lado.
Depois de se auto mutilar por estar mandando aquele seu tipo de olhar raivoso para o seu Alfa, Paul voltou pra mim.
Mas eu fugi.
Bem, da maneira como eu pude fugir naquele momento, pedindo para que ele me levasse a superfície, que eu iria aproveitar a chance de carona com Bella.
Se Paul percebeu que eu estava fugindo dele, decidiu ficar quieto na sua e não disse nada à mim.
(...) Casa dos Swan
Algumas semanas se passaram desde o penhasco. Enquanto eu estava tentando evitar Paul, Jacob estava evitando minha irmã. Por motivos bem diferentes, claro.
Algo acionou os genes lunares de Jacob e a transformação começou a transparecer depois de algumas semanas.
Tudo começou com Bella chegando em casa depois da noite de cinema que foi ter com os seus amigos, reclamando que Jacob estava muito quente e que tinha ficado muito estressado de uma hora para outra.
Sabia que aquilo era sinais da transformação porque Embry passou pelo mesmo há um mês atrás. Então, liguei para Sam que me agradeceu pelo aviso e decidiu terminar a ligação com:
— Olha... Não sei o que aconteceu entre Paul e você, mas tenho certeza que ele quer resolver. Espero que queira também. Emily sente sua falta.
E então, desligou e me deixou de sentindo mais culpada do que antes.
Meu plano não era ignorar Paul para sempre, principalmente depois da figura de amizade que ele se tornou para mim. Mas eu precisava levar todos os sentimentos que estavam em risco à tona.
Eu não era besta, sabia bem o que estava rolando. Eu não sabia o motivo ou se tinha um porquê, mas sabia a forma como Sam nos encarava com esperança, como Jared zoava o amigo sempre que o pegava me encarando ou como Emily havia inventado de pintar dois cômodos no último mês e coincidentemente, ninguém além de Paul e eu podíamos fazer esse projeto.
Tentei sim me fazer de boba, mas eu percebia cada investida. Como eu disse, não sei o porquê, mas teve um ponto que eu comecei a achar que era coisa da minha cabeça.
Até o dia da praia com Paul. A forma como estávamos agarrados um ao outro dentro do mar, como ele me olhava e o que ele poderia ter pensado em dizer.
Mas admito, aqui pra vocês, que suas ações não foi o que mais me assustou. Foram as minhas.
A forma como meus olhos analisaram seus detalhes tão lentamente, como eu percebi que seus músculos ressaltavam a cada toque meu, como seus olhos encaravam os meus. Como o seu toque esquentava bem a minha pele.
Como eu gostava de tudo isso.
E o gostar não era o problema. Tá, talvez fosse a metade do problema, mas não é a metade que enroscou em minha mente e me fez evitá-lo por esses dias.
Mas... eu não estou curada. Sempre soube disso, nunca foi uma surpresa. Posso não saber o tamanho dos meus sentimentos por Jasper Hale, mas independentemente, eu não estou curada de sua partida.
Não estou curada da partida de nenhum dos vampiros e isso, lá no começo, onde só me doía, tudo bem. Mas eu não podia puxar outras pessoas comigo. Não podia colocar Paul no meio desse furacão e deixá-lo para se guiar sozinho.
Não podia colocar os seus sentimentos diante aos meus sentimentos e me fazer se curar. Eu não podia me permitir curar-me por Paul.
Eu deveria me curar. Sozinha. Apenas por mim. Porque se não fizesse, me tornaria aquilo que estou criticando por todos esses meses; Isabella Swan.
Não quero que Paul se torne um Jacob. Não quero que seus sentimentos por mim sejam de adoração severa. Não quero alguém dependendo da minha cura para ser feliz.
Mas eu sabia, desde o dia em que Paul bateu em minha porta, vestido para se apresentar ao meu pai e com seus olhos suplicantes para eu falar com ele, que estava na hora de me curar.
Não por ele ou para ele, independentemente do que isso se torne no futuro, preciso me curar porque adiar isso só é o processo de juntar neve.
— Gosto de você, Billie — Paul admitiu assim que eu pisei os pés para fora e a porta se fechou atrás de mim. — E não quero mais esconder isso.
— Paul...
— Mas também não estou disposto a deixar os meus sentimentos serem o motivo do nosso afastamento. Não pode me evitar assim.
— Tem razão — acenei. — Eu só precisava retirar um tempo para pensar.
Paul concordou com a cabeça e conectou suas mãos no bolso da frente da bermuda que usava. Me encarou com suas sobrancelhas em pé e inclinou seu corpo mais pra frente.
— E então? — perguntou, não aguentando o mistério. — Pensou?
— Pensei e... Paul — deixei um suspiro soltar do meu peito. — Posso admitir algo pra você? Algo que eu não falei para mais ninguém?
Seus olhos se esbugalharam por um momento e assentiu. Reprimi uma risada ao compará-lo a uma criança sedenta. Então, encarei o céu escuro e passei por ele, andando até a rua.
Quando me virei para Paul, ele estava me encarando no mesmo lugar. Indiquei com a cabeça para ele se aproximar e após fazê-lo com certa... hesitação por não saber o que esperar, começamos a caminhar pelas ruas.
Até eu não ver mais a minha casa. Até não ver casa nenhuma.
Paul respeitou o meu tempo, apesar de eu ver a forma como ele estava ansioso repuxando alguns fios de sua blusa, passando a mão no seu cabelo e coçando o canto de seus lábios.
Então, decidindo terminar com a tortura do garoto, eu parei no meio da rua deserta. Ele parou quase no mesmo segundo, se colocando à minha frente.
Engoli em seco, sabendo o que eu queria dizer mas recuando por não saber como.
— Algo está... doendo dentro de mim, Paul — sussurrei, agradecendo aos céus por ele ter uma audição bem aguçada. — Dói tanto que eu... — gaguejo, sentindo meus olhos queimarem. Olho para o céu acima das nossas cabeças e respiro fundo. — Que eu nem consigo respirar às vezes.
Ele puxou minha atenção quando colocou o peso do seu corpo em sua perna esquerda. Paul franziu as sobrancelhas enquanto me encarava e, de alguma forma, eu sabia que não era de confusão. Era como se... doesse nele.
— D-Dentro de você? — ele soou ileso, seus olhos me analisando cuidadosamente. — O que está doendo, Lily? Me diga para que eu possa...-
— Meu coração — o interrompi antes que ele pensasse que era algo... físico.
— Oh.
— Ele está estilhaçado, Paul. E tudo bem, sabe? — encolhi os ombros um pouco, torcendo os lábios. — Eu sei disso. Eu reconheço isso. Vou me curar, vou juntar os pedaços e... vai parar de doer. Mas eu não posso entregar esses pedaços pra você. É egoísmo. Consegue entender?
Seus olhos abaixam para o chão, como se algo nele fosse muito mais interessante.
— Acho que sim.
— Não posso sentir algo por você porque há algo quebrado aqui — indiquei levemente o meu peito, o lado que o coração fica. — E você não merece viver dentro dessa confusão.
— Alguém... — sua voz falhou e ele coçou a garganta. Seus olhos turbulentos vieram aos meus. — Alguém fez isso com você?
Entreabri meus lábios para lhe responder, mas um pensamento me fez parar no mesmo momento. Eu não podia contar pra ele. Não agora. Paul não deveria ser o primeiro a ouvir isso.
Não que eu não confie nele. Acho que confiei nele mais do que qualquer um dentre todos esses meses. Mas se vou me curar mesmo, se vou caminhar mesmo, então começarei da maneira certa.
— Podemos falar mais depois? Preciso fazer algo antes de te responder.
Ele parecia pronto para refutar-me, mas se controlou e concordou, indicando a estrada que havíamos seguido até aqui, dizendo pelo silêncio que iria me acompanhar.
Quando chegamos em frente a minha casa, despedi dele sem drama e lhe dei minha palavra de que iríamos falar depois.
Então, praticamente invadi a minha própria casa, assustando Charlie que havia pulado do sofá pelo susto.
— Billie? Acontecendo algo? — quis saber depois de ver-me eletrizada. — Foi aquele garoto? Olha, eu...
— Não foi ele não — neguei com a cabeça e indiquei a escada, falando entrelinhas que estava na hora de conversar com a minha irmã.
Charlie pareceu feliz com a ideia e me encorajou com um sorriso. Então subi as escadas correndo e parei na frente do quarto de Bella. A porta estava fechada. Eu teria que bater.
Ergui a minha mão fechada em um punho, mas desisti quando o respingo de adrenalina saiu do meu corpo. O que eu falaria pra ela? Não... eu sabia o que falar.
Mas e se ela me virasse as costas novamente? E se ela não quisesse ouvir? Eu estar disposta a falar, mas não quer dizer que ela esteja disposta a ouvir. Mas ela é minha irmã, ela se preocupa comigo.
Ela também era minha irmã há dois meses.
Balancei minhas mãos no ar, indo até a porta do banheiro que era na frente do quarto de Bella e depois voltando para o local de partida. Eu deveria...-
— Lil?
Em meio ao meu estresse, a porta do meu quarto havia sido aberta e Bella que saia de la, partiu seus passos quando me percebeu ali. Intercalei meu olhar entre o seu corpo e o cômodo atrás dela. O que ela estava fazendo ali?
— Eu vou dormir.
— Não, espera — Bella me parou quando eu estava prestes a passar do seu lado. Sua mão escorregou do meu pulso até a ponta dos meus dedos. Seus olhos conectaram aos meus e acho que foi o suficiente para acionar alguma substância emocional do meu corpo. — Você não está bem, né?
Meus olhos embrulhou tanto nas lágrimas que eu não consegui distinguir sua estrutura e até tentei respondê-la, mas gaguejei e acabei apenas negando com a cabeça enquanto deixava que minha irmã mais velha me acudisse em seus braços esticados.
Bella recuou nossos corpos até o meu quarto e nos deitou em minha cama. Ela se sentou na cama e me deixou colocar a cabeça em seu colo, onde ela ficou alisando meu cabelo com as mãos.
Era assim que ela fazia para me consolar quando eu havia ido mal em alguma prova.
— Eu sinto a falta dele, Bel — admiti chorosa, as lágrimas queimando a minha pele do rosto enquanto tudo o que eu queria fazer era gritar e gritar. — E-Eu...
— Eu sei — ela sussurrou, sabendo mesmo. — Eu sei, irmã.
Neguei com a cabeça, engasgando com um curto soluço.
— Ele era meu amigo, Bels. Jasper... Micah, todos eles. Eram nossos amigos. Como puderam...
— Eu também não sei.
Ficamos quietas, ela me afagando até que eu parasse de chorar. Nunca me senti fraca chorando, apesar de tudo, acredito mesmo que isso limpa o nosso peito. Acho que para caminhar, eu precisava me deixar sentir.
Me deixar sentir com quem eu deveria ter feito desde o inicio.
— Acho que meu coração está partido, irmã — confidenciei no silêncio, meus olhos apertados para não ver nenhuma sombra de sua face. — Acho que Jasper partiu meu coração.
Então, ela começou a chorar também. Levantei do seu colo e abracei Bella; ela me abraçou.
E depois de tanto tempo, seu abraço se remeteu a conforto mais uma vez. Ficamos ali até não sei que horas. Chorando pelos nossos corações partidos naquele momento, decretando pelo silêncio, pois não precisávamos de nenhuma conversa, que assim que a última lágrima caísse, iríamos garantir que fosse a última mesmo.
Jasper pode ter partido o meu coração e Edward o de Bella. Mas iríamos no reconstruir e seriam prova-vampiros estupidamente bonitos.
Era isso.
Bella e Billie estavam de volta.
Iríamos no curar.
Se preparem, próxima parada:
Mystic Falls.
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