14 | Caminho
CAPÍTULO QUATORZE
"Mas aí, houve Novembro."
"Perder-se também é caminho." Essa frase impregnou-se em minha mente depois que ouvi na aula de literatura. Eu acredito nela. Ou acho que sim. Bem, não sei.
Mas, se o caminho é um processo e perder-se é o mais doloroso de todos, acho que ainda não passei por ele. Não com toda a minha alma e só Deus sabe como eu queria perder-me para me recuperar logo, mas como eu poderia fazer isso?
Como eu poderia reencontrar o meu caminho se a pessoa que eu mais amo no mundo inteiro — minha irmã — também está perdida? Como eu posso ser egoísta ao ponto de fazer isso com Charlie? De lhe dar mais despesas, noites sem dormir; preocupação...
Então, se o caminho era mesmo algum tipo de processo depois de algum tipo de perda, eu diria que ainda estou estagnada no lugar, que eu parei no tempo.
Perder alguém sempre é uma luta, independentemente se você a perdeu para a morte ou para o mundo. E eu estou tentando agarrar meus conceitos, estou tentando acreditar em ciclos como eu acreditava, estou tentando sofrer em silêncio e sorrir o mais abertamente o possível.
Mas eu não consigo sempre.
É como se tivessem aberto um espaço enorme no meu peito e o deixasse vazio, as bordas de fogo queimando o que restou dele.
Eu perdi alguém nesses três meses que se passaram e não estou falando somente de Jasper Hale. Ele assinou sua sentença assim que saiu pela minha janela, que decidiu não acreditar em nós; em mim.
E, porra, dói. Não estou aqui para pagar de fodona superada que não sente nada. Eu sinto. Sinto muito mais do que gostaria, às vezes. Sinto a falta dele na mesma proporção em que sinto raiva; talvez sinta mais raiva.
Sobre a situação de perda dele, estou na fase do ódio e não quero sair disso.
Mas ele não foi o único que eu perdi naquele dia e nem de perto o que mais doeu.
Isabella Swan estava irreconhecível. Diferente de mim, ela não teve espaço de tempo para pensar se iria pelo caminho ou se pararia para não machucar ninguém. Ela atropelou qualquer estação e foi direto para a depressão, os pesadelos, os pensamentos que a machucam mais do que qualquer um.
Ela tinha encontrado sim o seu caminho, mas ele pode ser diferente dependendo de como você o vê. Eu o vejo como uma forma de superar e viver a minha vida, sei que a partir do momento em que eu começar a caminhar, estarei pronta para largar de toda a dor.
Mas Bels... não sei se ela ao menos para pra pensar sobre, mas tenho quase certeza que ela parou no momento de se perder e nunca mais se encontrou dentro de seu próprio coração.
Quando Setembro foi embora, levando qualquer resquício dos Cullen, alguma parte dela também se foi.
Na verdade, tenho fortes convicções de que essa parte foi deixada na floresta onde Edward a abandonou no frio, sozinha e desolada.
Ainda lembro do desespero de Charlie, do meu desespero por pensar que ela poderia ter ido embora com eles ou pior. Mas então, nos braços de Sam Uley, Isabella apareceu; voltou.
Mas não era mais a minha irmã.
Meu estado de ódio aumentou. Ela não conseguia odiar Edward, não conseguia odiar Alice que não a respondeu pelos três meses que se passaram, mas eu... eu não tinha nada além de raiva estagnada no meu peito e sair distribuindo por aí foi algo libertador.
O mês de Setembro passou, entregando-nos um Outubro bonito, com menos frio.
Charlie ficou feliz de ter encontrado a sua filha, mas sabia tanto quanto eu que Bella não era mais a mesma. Isso foi comprovado pelas palavras que ela parou de falar, pelas refeições que ela ignorava, pelo brilho apagado em seu olhar; pelos pesadelos.
Os malditos pesadelos que a assombravam todas as noites.
Charlie se acostumou a dormir no sofá e eu... bem, estou indo. Dois meses depois, esse indo se tornou bem... fundo.
Os dias de Outubro foi feios; ela não conseguia dormir e quando não ficava perambulando por todo o seu quarto de forma ansiosa, tínhamos que nos preocupar se ela não havia simplesmente sumido mais uma vez.
Bels ainda conversava algumas coisas comigo nessa época. Apenas sobre os Cullen. Eu queria apenas esquecer, sem caminhos, sem me perder, apenas... deixar de lembrar.
Ter uma irmã que ficava em seu ouvido todos dias do mês, perguntando sobre o que você quer deixar para trás, não ajuda muito.
Em Novembro, ela parou de falar e começou a dormir; não sei dizer se isso foi pior. Foi quando os pesadelos, que a faziam acordar toda noite gritando, rastejou até ela.
Charlie era o único que corria até o quarto de Bels no começo, eu admito. Encolhida em minha própria cama, eu tentava abafar os seus sons que acionavam sentimentos demais no meu coração.
Mas papai começou a se atrasar para o trabalho, comer apenas quando chegava dele, mal dormia. Lembro a primeira vez que sai do meu quarto enquanto Bella esperneava.
Charlie estava na porta do quarto de minha irmã, sua cabeça baixa, seus olhos piscando duros enquanto seus ombros caiam. Eu toquei neles e pedi para que deixasse comigo daquela vez. Agradeci por ele não refutar.
Foi a primeira vez que ele dormiu uma noite inteira. Entrei no quarto de Bels, lhe ajudei com o processo de se acalmar e ela simplesmente agarrou o meu corpo, chorando impulsivamente.
Seus abraços sempre foram... confortáveis para mim, uma ideia de lar. Mas naquele momento, era como se seus braços esmagassem minha cintura, me prendesse em um poço fundo. Suas lágrimas queimavam minha pele de uma forma insuportável.
Ela dormiu naquela noite e quis mais; assim como Charlie. Então isso voltou a se repetir e, Deus, era um inferno.
Não deixei de amar minha irmã de um dia pra noite, não entenda-me errado. Eu faria de tudo... estou fazendo de tudo para ajudá-la nisso. Mas sabe o que é estar quase caindo e ter que dar a única corda de emergência para outra pessoa que também estava do mesmo jeito? Talvez pior.
Eu não culpava a dor de Bella e nem a achava dramática, não era drama, era o amor tóxico que ela criou por Edward, que eu não consegui visualizar por estar ocupada demais com os meus próprios sentimentos.
Não importava o quanto Bella amasse Edward Cullen ou Edward Cullen amasse minha irmã, amor demais é veneno.
E Bella, uma mera mortal, está se sufocando com o seu próprio veneno, sem antídotos.
Estar com Bels era desgastante porque eu já me esforçava muito por dia. Tentava não mostrar à Charlie que eu também estava mal com a partida dos Cullen, que eu estava quase reprovando na escola sendo o meu último ano, que eu tinha uma outra vida das 03h da manhã às 05h.
Que, eu querendo admitir ou não, uma parte do meu coração estava sim partido. Eu não sei se eu amava Jasper e vendo o exemplo de Bella, espero que não.
Mas... ele se enraizou dentro de mim nos nossos curtos momentos, com seus olhares intensos, suas covinhas, sua atenção... seu toque.
Talvez eu não tenha o amado tanto quanto eu poderia, mas Jasper morava em alguma parte do meu coração e quando ele foi embora... iniciou as rachaduras.
Estar com Bella... abraçá-la e cuidar de sua dor, era como se eu estivesse comigo mesma e ao mesmo tempo... não. Era como ter uma visão de como seria se eu tentasse me curar. Se eu tirasse um tempo para caminhar.
Era por isso que eu me sentia presa.
Toda vez que Bella me abraçava, ela espremia meus sentimentos com os seus. E eu estava tão, mas tão cansada disso. Às vezes, quando eu apenas chorava, eu nem sabia mais o motivo.
E isso me preocupa, pois, se eu não sei o meu problema, como vou resolvê-lo?
— Bel? — chamei-a de forma calma, assustada com a probabilidade dela me virar as costas.
Seus olhos, apagados e sem vida, ergueram levemente para encarar os meus. Tudo ficava muito pior ao percebemos que tínhamos o mesmo rosto. Retirando seus cabelos e olhos, era como se eu tivesse encarando o meu interior.
A parte apagada que eu não deixo tomar conta, sabe?
Pergunto-me se ela sente o mesmo sobre mim. Se quando seus olhos brilham pelas lágrimas, ela pensa a mesma coisa. Ela sofre do mesmo jeito.
Ela estava sentada no sofá, seus joelhos voltamos para o seu peito, suas mãos envolta dos tornozelos. Eu estava sentada no chão, a mesinha do centro da sala lotada de papéis ao meu lado, o lápis balançando em meus dedos.
Respiro fundo, decidindo tentar acabar com aquilo pela primeira vez desde os dois meses.
— Você vai voltar?
— Estou aqui, Billie.
Ela não estava. Seus olhos se desviando dos meus diziam o suficiente. Minhas íris queimaram tanto que eu tive que tomar um tempo para respirar e limpar a visão embaçada.
E se eu chorasse? Ela se tiraria daquela posição para me abraçar? E se eu desabasse? Ela correria por mim? Ela faria isso por mim? Ela deixaria de se abraçar para fazer isso por mim?
E se sim?
— Preciso de você — minha garganta fecha, minha voz ficando muito mais fina do que eu queria, deixando ela assustada ao encarar-me de olhos esbugalhados. — Sei que está sofrendo e eu sinto muito por isso. Quero te ajudar e juro que nunca vou desistir. Mas... — ela acompanha minhas lágrimas descendo — me ajude também, por favor.
Aquela foi a primeira vez que eu desabei para alguém depois de tudo. Foi a primeira vez que eu deixei o sentimento me possuir de verdade, fazendo outros sentirem também.
Foi a primeira vez que eu pedi a sua ajuda desde os dois meses e a primeira vez em toda a nossa vida que Isabella Swan, minha irma gêmea mais velha, me virou as costas.
Bem, ela não virou as costas. Charlie chegou e ela correu para o seu quarto. Sozinha, limpei minhas lágrimas enquanto sentia mais uma parte do meu coração se partindo.
Charlie chegou na sala vestido de forma formal para o trabalho, uma sacola de comida pendurada em sua mão. Ele indicou ela para mim e sorriu.
Eu sorrio de volta e engulo o choro.
Desde aquele dia, Bella parou de pedir minha ajuda e não abria a porta para ninguém além de Charlie. Não deixava ser acudida por ninguém que não fosse Charlie.
Não chegava mais perto de mim.
E, se eu achava que ficar ao seu lado, abafando a minha dor para proteger a sua, era difícil, era porque eu ainda não tinha batido de frente com a solidão. Com o desamparo.
O abandono frio e cruel da pessoa que eu mais amava.
Jasper podia ter me abandonado e acredite, a forma como ele fez me deixou muito brava, mas... Quem quebrou meu coração foi Bella.
Dezembro chegou rápido, o frio acompanhou todos nós, dentro ou fora dessa casa. Charlie já tinha percebido o clima bosta entre Bels e eu, ele estava bem no limite entre nós duas, mas não sabia que sua filhinha mais nova também sofria, então ele só tinha braços para Bella e questionamentos para mim.
Eu não o culpava de jeito nenhum. Sabia que se eu pedisse ajuda, como pedi à Bella, sua reação seria muito mais diferente.
Ele me acudiria sem pensar duas vezes, mas novamente, ser um fardo não estava em minha programação de vida.
Mas eu não só perdi nisso tudo. Talvez tenha perdido mais, mas também ganhei algo. Algo especial que me retirava daqueles problemas por algumas horas.
— Jared, deixe Lily pegar o dela primeiro — repreendeu Emily enquanto batia na mão do garoto que já estava estendida para pegar um bolinho da bandeja que Emily estendia para mim. — Aqui, querida.
— Isso é injusto — Jared reclamou enquanto me via comendo. — Por que sempre ela? — cruzou os braços, com birra.
— Porque eu sou a mais bonita — dei de ombros, erguendo o queixo teatralmente enquanto forçava um falso ar de arrogância. — E solto menos pelos.
Uma gargalhada explodiu atrás de mim e eu encarei ele orgulhosa. Seus olhos, mais suaves em minha direção, piscou levemente.
— Wow, ela tem garra! — Jared apontou impressionado, a outra mão indo para o peito com sua falsa ofensa. — Desculpe se estou surpresa é que tem uma garota idêntica a você que parece uma morta-viva.
A curta menção a Bella faz minha expressão cair um pouco. Eu ainda não tinha superado nossa — literalmente — última interação. Eu não sabia que duas irmãs podiam parar de se falar vivendo na mesma casa até os dias atuais.
Paul saiu de onde estava e puxou o corpo de Jared para fora da cadeira, talvez percebendo que o assunto me deixou menos receptiva as próximas interações.
— Parece que as coisas entre vocês melhoraram — observou Emily, de uma forma sugestiva que eu escolhi ignorar enquanto dava de ombros e encarava os garotos brincando de empurrões lá fora.
Mas Emily estava mesmo certa. As coisas entre Paul e eu melhorou bastante em compensação a última vez.
Desde que eu descobri... bem, que ela acham que eu descobri sobre eles serem lobos em meu aniversário e que Sam encontrou minha irmã na floresta, fui convidada para vir pra cá.
Emily se tornou uma amiga e tanto. A gente ria juntas, se divertia da cara dos garotos e assistíamos filmes nas sextas, mas eu ainda não me sentia bem em jogar minhas merdas em suas costas.
Minha amizade com os outros foi tomando um curto rumo. Sam era o mais reservado dos três, destruindo aquela carranca de "eu sou o Alfa" apenas quando Emily se aproximava dele.
Era bonito o que eles tinham. Parecia... bom.
Apesar das broncas dele quando Jared e eu nos juntávamos para fazer alguma gracinha com ele, Sam era um bom homem.
Jared, como eu deixei a imaginar, virou muito meu amigo. Ele era uma presença leve e muito bem-vinda quando eu queria me distanciar dos problemas da minha vida. Jared era engraçado e pessoas engraçadas, como Micah e Emmett, estava faltando em minha vida.
E, então, havia Paul... Com toda certeza, por algum motivo, o mais difícil entre eles.
No primeiro mês, em Outubro, ele ainda me jogava olhares furtivos quando eu vinha para cá. Nunca mais se descontrolou como antes, mas acho que é porque simplesmente tentávamos ignorar a presença um do outro.
Mas aí, houve Novembro.
Foi quando Emily inventou alguma pintura no quarto de hóspedes e precisava de ajuda porque era alérgica a tinta molhada. Era a semana de Jared na escola e Sam estava na ronda o dia inteiro.
O quarto ficou para Paul e eu. Ele pareceu não gostar, como sempre quando me via por ali, mas ele não reclamou em nenhum momento. Também não falou por um longo momento daquele trabalho em conjunto.
Estava começando a achar que sua voz ouvida por mim uma vez ou outra, era delírio e que, na verdade,
ele era mudo.
Mas então, quando eu estava prestes a mergulhar o pincel na tinta mais uma vez, eu ouvi bem baixinho:
— Desculpe.
Quis dizer "o quê?", mas eu sabia que ele não
voltaria a repetir. Então apenas consertei minha postura, voltei a pintar o espaço ao seu lado e esperei pela continuação.
Felizmente, ela chegou.
— Pensei que você era alguma sanguessuga quando vi a marca em seu pulso. Não achei que... — ainda estou tentando digerir tantas palavras dele para mim. — Tenho alguns problemas com raiva — ele adicionou, a contra gosto, quase que rosnando.
Sem conseguir me controlar, soltei um riso. Até tentei prendê-lo enquanto mordia o meu lábio inferior, mas o som já havia saído e Paul Lahote parecia ter virado um fantasma pela velocidade que ele voltou a sua cabeça para mim.
Eu meio que tinha explicado sobre o lance de James quando Sam quis saber sobre a mordida. Paul, em especial, correu para a floresta e não tentei segui-lo dessa vez.
Seus olhos me olharam sem medo, como ele costumava encarar-me depois do seu descontrole. Algo brilhou neles e fiquei com medo de ser raiva, pois comecei a tentar consertar a situação:
— Você não tentou ouvir o meu coração batendo, por acaso? — apontei para o meu peito, mas ele ainda me encarava como se pudesse ver o meu sorriso de minutos atrás. — Ou talvez, sei lá, meu sangue?
Com relutância, ele voltou os olhos para a parede, pensando sobre o que eu disse e parecendo se envergonhar quando percebeu que ele poderia mesmo ter pensado em conferir essas coisas antes de explodir.
— Mas tudo bem — dei de ombros, pincelando a minha parte da parede —, sempre quis que um cara explodisse por mim.
— Não brinca com isso — murmurou birrento, sua pose de mal voltando.
— Ah, vai, é engraçado.
— Não, não é.
— É sim!
Ele revirou os olhos, mas, naquele dia, eu juro que vi o canto de seus lábios erguendo.
A partir daí, algo legal começou a crescer. Uma convivência boa, sem olhares furtivos e ignorância, o que todos agradeceram; ficaram muito feliz também, mas como as outras vezes, ignorei.
No final de Novembro, peguei Paul em sua forma de lobo guardando a minha janela. Ele quis correr, acho que até se levantou para isso, mas quando eu pulei a janela habilidosamente até o seu eu lobo, ele ficou parado.
Não questionei o que ele estava fazendo ali, já que eu jamais conseguiria saber o que ele estava querendo dizer, mas isso não me impediu de zoa-lo.
Naquela noite agradável, escondemos-nos atrás de minha casa e ficamos conversando. Quero dizer, eu fiquei. Ele até deixou eu tocar em seus pelos. Acho que estava ganhando a confiança de Paul Lahote e sua amizade também.
Em Dezembro, agora, soube o quão bom era ter Paul Lahote como um amigo.
— Você está fazendo errado! — julguei, vendo a forma como ele batia a massa.
— E tem jeito certo de fazer isso? — Paul perguntou enquanto seu dedo apontava para a vasilha.
— Normalmente não, mas você está fazendo desenhos com a massa — apontei para o fio fino por cima da massa que ele havia feito pela massa que caia da colher. — Mexe no sentido horário.
Peguei a faca para cortar a barra de chocolate, mas antes que realizasse a ação, percebi que Paul ficou ainda mais paralisado. Encarei ele que estava olhando para a massa com os olhos estreitados, a colher presa na mão.
Achei fofo ele tentando lembrar qual era o sentido horário, mas não quis rir para não o envergonhar. Em vez disso, peguei a colher da sua mão e mexi como em um exemplo.
Na vez dele, ele fez pelo sentido certo, mas estava forçando muito a ponta da colher no fundo do vaso.
Toquei em sua mão delicadamente, sua pele queimando a minha. Paul pareceu prender a respiração quando eu fechei minha mão em cima da sua e mexi do jeito certo.
Olhei para ele com um sorriso gentil.
— Entendeu?
Mas então, meus olhos chegaram aos seus e levei um susto tão grande pelas suas íris escuras brilhando em minha direção que minha mão escorregou pela faca e eu me cortei.
— Merda — ofeguei, vendo o corte no meio da minha mão começar a sair sangue.
Paul largou o serviço ao meu lado, recolhendo meu pulso e abrindo a torneira, colocando minha mão com tudo. Trinquei meus dentes pela ardência que corroeu as minhas veias.
— O corte não foi profundo — Paul analisa minha mão.
Observo confusa a forma como ele me guia até o sofá da sala e começa a se mover para pegar algum pouco de álcool e algum tipo de curativo. Ele cola uma gaze em cima do corte e alisa o resto da minha mão com o seu polegar.
— Acho que vai aguentar. Quer ir pro hospital? Temos curandeiros na reserva, mas o carro de Sam está aí. Eu posso...-
— Paul — interrompo ele, negando livremente com a cabeça. — Ta tudo bem. Só foi um corte.
— Poderia ter sido sério — ele me repreende pelo jeito que eu faço pouco caso. Mas eu já estou acostumada a cortar a palma da mão pela maneira que eu seguro as adagas. — Alguma veia importante podia ter estourado ou sei lá... Eu ainda acho melhor a gente ir ver.
— Não seja besta. Venha, temos que fazer esses bolinhos antes que Emily chegue do mercado.
O aniversário de Emily era daqui uma semana, mas eu não poderia vir aqui porque eu teria prova, então convenci Paul a me ajudar a preparar uma surpresa para a mulher.
Sam, feliz com a possibilidade de sua mulher ficar feliz, aceitou ficar na ronda à tarde.
O dia se passou calmo. No final, conseguimos assar os bolinhos e ficaram até que bons, mas nada comparado ao de Emily. Entretanto, ela ficou feliz com a surpresa e até se emocionou um pouco, citando que sempre quis ter uma família desse jeito e que ficava muito feliz com todos nós.
Eu me emocionei um pouco também; principalmente com a parte da família.
Mas com a noite chegando, eu tive que voltar para a minha casa. Charlie ainda não havia chegado, então apenas me despedi de Paul que me trouxe com o carro de Sam e entrei em casa. Nem percebi se Bella estava na sala ou não, apenas subi as escadas direto para tomar um banho.
Retirei o curativo que já estava totalmente sujo de sangue e inicio meu banho. O sangue da minha mão escorre pelo piso. Não havia sido mesmo profundo, mas com certeza cortou alguma veia bem forte no quesito sangue.
Enrolei-me na toalha e cantarolei alguma música que ouvi no rádio mais cedo enquanto adentrava o meu quarto.
Parei de supetão ao reconhecer a figura de Bella. Seus cabelos estavam lavados, ela vestia uma calça de veludo e uma blusa de frio grossa. Seu olhar foi para o meu assim que eu entrei, mas eu desviei antes que pudesse ver algo além de suas olheiras.
Ignorei sua presença de forma rápida e fui pegar uma muda de roupas para me trocar. Ainda de toalha, coloquei minha calcinha e depois me descobri para colocar o restante da roupa.
Envergonhada, Bella desviou os olhos e virou de costas. Acho que isso a deu coragem de falar.
— Charlie quer me devolver para Jacksonville — sua voz saiu afetada, eu quase podia ver o fio fino de suas cordas vocais tremerem.
— Ele comentou comigo — desdenhei, retirando meu cabelo de debaixo da blusa e os secando com a mesma toalha de antes.
— E... vo-você concorda?
— Eu concordo.
Sentei-me na cadeira de rodinhas em frente a minha mesa de estudos. Deixei minha mão cair sobre o livro que habitava ali. O qual eu recebi daquele estranho de Port Angeles, Locker Ateara.
Eu ainda não havia conseguido abrir; já havia desistido de pensar sobre ele.
— O que quer, Bella?
Ela deu um passo para se virar para mim, uma de suas mãos segurando o seu antebraço, brincando com suas mangas largas.
— Prometi à ele que vou sair com o pessoal esse final de semana. Ao shopping com Jessica.
Arqueei as sobrancelhas em compreensão e acenei, soltando um "hmm" com a boca.
— Quero que você vá junto comigo — ela soltou de uma vez.
— Não.
— Espera. Olhe, não me recuse assim — abaixou a cabeça, sua voz muito mais baixa do que a minha. — Quero tentar de verdade supera-lós, Lil. Por que não ajudamos uma a outra?
Continuei encarando sua cara cínica como se não pudesse acreditar no que estou ouvindo; eu não acredito.
— "Ajudar uma a outra"? E como vai ser isso? — inclinei-me para frente, uma postura auto defensiva, minhas mãos ainda em cima do livro. — Chego perto de você pra você se curar? Se aliviar chorando no meu ombro? Quer que eu prepare uma comidinha pra você, Bel?
— N-Não, Lil. E-eu...-
— Um mês, Isabella! Faz um mês que eu pedi sua ajuda e você me virou as costas — me acalmei quando minhas unhas se forçaram no corte recente. — Eu não vou a merda de shopping nenhum.
Ela continuou gaguejando por um tempo, mas desistiu quando eu lhe dei as costas. Eu ouvi a porta batendo e abri minhas mãos aos poucos.
O sangue jorrou e um pingo tocou na capa do livro antes que eu pudesse trazer a mão para mim.
— Merd...-
Eu nunca terminei. Não quando uma luz dourada subiu pelo livro, tão forte que me fez recuar enquanto eu protegia meus olhos. Que porra foi isso?
O livro estava aceso no mais dourado brilhante, o brilho refletia da capa do livro.
Ele parou de brilhar aos poucos, mas a diferença foi perceptível imediatamente. Em vez do verde musgo que manchava a capa, agora um verde esmeralda pintava a capa, bem junto ao dourado que começou a brilhar, os desenhos de galhos e folhas sendo marcados alinhadamente.
E, não podemos esquecer do que fez meu sangue ferver e meu estômago se embrulhar de excitação:
O livro estava aberto.
Ler esse capítulo com Matilda de Harry Styles é muito mais doloroso.
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