04. sem coração
Espero que gostem do capítulo! boa
leitura a todos♡︎
#🕶️
Jimin estava deitado de bruços no sofá, uma das pernas sobre o assento e a outra despreocupadamente jogada no chão, junto de seu braço esquerdo. Na televisão, uma de suas séries favoritas reprisava enquanto o garoto lutava contra suas pálpebras, tentando mantê-las abertas. Foi então que em um susto, ouviu a porta da sala sendo aberta de uma forma nada delicada. Se levanta rapidamente, tentando assimilar a imagem que via a sua frente: um JungKook completamente ensopado, com as roupas molhadas, o cabelo pingando e uma cara de pouquíssimos amigos. Em suas mãos, haviam três sacolas, uma de cada lado, que mais pareciam bolsas cheias de água.
— O que aconteceu com você? — Ele pergunta, se ajeitando sobre o sofá.
— O que você acha? — O maior responde, ácido.
Só então Jimin se da conta, olha para a janela e vê, do lado de fora da casa, uma verdadeira tempestade. O vento balança brutalmente os galhos das árvores, relâmpagos cortam o céu a todo momento e os pingos de chuva mais parecem pedras, de tão pesados.
— Bem que avisaram que iria ter uma chuva daquelas hoje. — Ele pensa alto.
— Quem avisou?
Jimin se assusta levemente ao ouvir a voz alta e grossa soar atrás de si.
— No jornal. Você não viu?
— Ah, claro que vi! - Responde cinicamente. — Obviamente eu iria sair pra ir na porra do mercado mesmo sabendo que iria cair o mundo, não é mesmo?
— Você sabe que não precisa ser mal educado com as pessoas o tempo todo, não é?
JungKook pensa em responder afim de provar que poderia ser pior do que aquilo, mas opta por somente fechar a cara e dar meia volta, subindo as escadas. Ao entrar em seu quarto, fecha a porta com o pé, fazendo as paredes tremeram, tentando se livrar de ao menos um por cento de toda sua raiva.
No andar de baixo da casa, Jimin ainda se mantinha parado, um tanto quanto assustado com a reação do garoto e com sua própria resposta atravessada. Porém, estava ficando cada vez mais fácil usar de sua ousadia como auto defesa. Jimin havia decidido que não aceitaria mais nenhum tipo de maldade vinda de quem quer que fosse e faria o máximo que pudesse para exigir o respeito que acreditava merecer.
Aproveitando que estava acordado, levantou-se e caminhou até a bancada da cozinha aonde as sacolas haviam sido postas e deu uma olhada nas compras. Finalmente se acostumou com a idéia, pensou ele. Três semanas se passaram desde que o garoto chegara a pequena cidade e se instalara na casa com seu guarda costas. Jeon não era fácil. Grosseiro e indomável, demorou a se adaptar ao fato de que por um bom tempo, ficaria totalmente a disposição do escritor. Tinha feito um juramento e teria que obedecê-lo, gostasse ou não.
Uma por uma, tirou as compras das sacolas e as guardou em seus devidos lugares. Jimin se deixou sorrir levemente quando percebeu que no meio das compras, em um sacola diferente, havia um pacote de carne de soja. JungKook havia enfim lembrado que o mesmo não consumia quase nenhum tipo de produto animal e fez um certo agrado. Jimin sabia que esse agrado viria regado de comentários grosseiros e cínicos, mas não se importava, afinal, JungKook havia lembrado e comprou algo diferente e difícil de ser encontrado, ao menos na pequena cidade.
— O brutamontes não é tão bruto assim... — Cochichou para si mesmo ainda com o leve traço de felicidade em seu rosto.
— Deu pra falar sozinho agora? — A voz rude e rouca surge no cômodo e o garoto da um leve salto.
Estava começando a se acostumar com sua mania de sempre aparecer de repente.
— Sim, estou. — Ele rebate, virando-se para ele. Sua voz some por alguns instantes quando a vê somente de calça de moletom cinza e sem camisa. A barriga definida de fora e os braços torneados e musculosos lhe roubaram a atenção e sentiu um leve frio na boca do estômago. — Tenho que falar sozinho, já que não tenho ninguém com quem possa conversar aqui. — Recupera-se de seu estado hipnótico e volta a confronta-lo.
— Você pode conversar com os policiais que estão ali fora.
— Meia palavra que eu troque com eles e logo acharão que quero algo a mais.
— E você não quer? — Ele responde, implacável, com aquele olhar maléfico e o tom cínico de sempre.
— O que você está insinuando? — O garota da um passo a frente, encarando firmemente os olhos de jabuticaba.
— Depende... — JungKook também se aproxima, olhando vigorosamente o rosto delicado. — O que você entendeu?
Os dois travam uma batalha no olhar. Nessas três semanas, Jimin entendeu que se continuasse a abaixar a cabeça, o agente não daria trégua e o trataria como bem entendesse.
— Me surpreende o quanto você consegue ser tão desprezível.
Ele cospe as palavras com uma fúria sem igual e praticamente flutua sobre as escadas indo em direção ao seu quarto. Bate a porta com tanta força que sente medo dela se quebrar ao meio. Senta em sua cama e respira fundo algumas vezes, estava cansado de chorar, principalmente pela grosseria e falta de educação de seu companheiro. Prometeu a si mesmo, desde a ultima vez, que não se deixaria mais levar pelos comentários daquele grosseiro.
A alguns dias atrás, JungKook havia recebido uma chamada em seu celular, do outro lado da linha seu chefe lhe contava tudo sobre o andamento do caso e a busca incessante pelo assassino de Park Minho, que ainda não havia sido encontrado. O agente voltou a reclamar e esbravejar que ainda não acreditava que trocara suas férias tão desejadas para "ficar de guarda de um pirralho desobediente". Mal sabia ele, que o pirralha a quem se referia estava ao lado de fora do quarto, com um prato de sanduíche na mão e um copo de suco na outra, ouvindo absolutamente todas as palavras grosseiras que soltava ao telefone.
Jimin então deixou a comida na porta de sua ímpia e foi em direção ao seu quarto. Se debruçou sobre a cama, abraçando o travesseiro e deixou que as lágrimas rolassem por seu rosto delicado. Sentia-se mal. Péssimo. Sozinho. Esquecido.
Sentia falta de sua família. De seu pai amoroso, que sempre teve palavras acalentadoras para com o garoto. Sentiu falta de sua mãe, que mesmo irredutível, a amava mais que a si mesmo. Sentia falta de seu amigo Hoseok, com quem sempre poderia contar nos momentos de angústia e felicidade, sua confidente e fiel companheiro. E principalmente, sentia falta de seu primo, Minho. Rapaz doce, de alma e coração puro que sempre lhe ajudou e desejava somente o melhor. Um amor de menino. Era seu melhor amigo. Era... Palavra essa que fazia doer o coração do pequeno sonhador, pois sabia que agora, seu primo habita somente o passado. Já não existia mais em plano terrestre. O garoto se ressentia. Queria ao menos poder ter ido ao enterro de seu fiel companheiro. Queira ter dito um adeus decente. Queria ter lhe agradecida mais, lhe amado mais, queria poder ter tido mais tempo.
Ao fechar os olhos, lembrava da visão de seu primo sendo executado a sangue frio. Ouvia o som ensurdecedor dos disparos silenciosos lhe atingindo o corpo, o som do baque quando o mesmo encontrou o chão. Lembrava do cheiro do sangue de seu primo se espalhando sobre a madeira do quarto. Sangue do seu sangue. Lembrava de olhar nos olhos do menino prodígio que tinha tanto pela frente, e ver a vida se esvaindo deles como fumaça se misturando ao vento. Lembrava de tudo, também, como poderia esquecer? Uma cena tão horrível e dolorosa, nunca poderia ser apagada de sua memória. E agora sabia, aquele que cometeu o crime, aquele a quem ele nunca iria esquecer o rosto, estava a solta no mundo provavelmente a procura do garoto para terminar o serviço que começou, enquanto seu primo já não existia mais e ele estava presa à sua carrasca em uma cidade minúscula, quase no fim do mundo, sem seus amigos e família, sem sua escrita, sem sua felicidade. Se irritava ao lembrar que JungKook achava que somente ele se irritava e sofria por estar ali. E então, quando se deu conta de que isso não era culpa sua, parou de chorar, secou suas lágrimas, sacou seu diário e a caneta e começou a escrever. Letras fluíam tão leve de seu coração até o braço, passando pelas pontas dos dedos e formando palavras na ponta da caneta, que marcava o papel enquanto esbravejava.
" Sem coração ..."
" Grosseria Ambulante.."
" Rude, bruto, cruel..."
" Eu o odeio! O odeio mais d que um dia poderia imaginar"
" O odeio mais do que o próprio ódio."
Quando terminou de escrever, notou que três páginas inteiras continham seu desabafo. Fechou o pequeno caderno, passou o minúsculo cadeado que lhe acompanhava e o guardou na mesa de cabeceira. Respirou fundo cinco vezes com os olhos fechados. Limpou sua mente por um estante e então, decidiu.
— Hoje é a última vez que você pisa em mim.
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