VIGÉSIMO SEXTO CAPÍTULO

Oi, oi! Voltei com mais um capítulo fresquinho, só pra vocês ;p

Sei que o mundo está numa situação muito caótica — mais que o “normal” —, mas muitas pessoas me dizem ler minha fanfic e tê-la como forma de escape aos acontecimentos externos que podem lhes fazer mal. Por isso, decidi continuar a postar os capítulos e proporcionar um refúgio àqueles que, assim como eu, só esperam que as coisas se acertem logo e que tudo fique bem.

#BlackLivesMatter #TheShowMustBePaused

     Na manhã seguinte, eu acordei com os toques leves dos dedos de Meryl em meu braço. Desde o dia anterior, quando eu retornara à mansão Styles, nenhum outro funcionário além de Ethan tinha me visto; por isso, após me espreguiçar, sorri para a beta amigável que me deu um abraço muito necessário e bem-vindo. Era ótimo vê-la mais uma vez.

      Harry não estava no quarto, tendo acordado algumas horas mais cedo que eu para resolver algumas coisas de seu trabalho. Ele continuava no escritório conversando com Liam, segundo o que Meryl contou-me enquanto ela ajudava-me a vestir algumas roupas mais leves, mas não soube dizer sobre o que poderia ser a reunião e tampouco quanto tempo estavam lá dentro. De toda forma, eu poderia aproveitar aquilo para rever todos e tomar um bom café da manhã.

      Liam, Niall e Zayn já tinham voltado para o apartamento deles, porque por mais que eles quisessem permanecer na mansão, a mobilidade até seus empregos era realmente complicada. Além do mais, Niall não tinha tantas liberdades como eu sobre o chip rastreador, então eles não tiveram muita escolha. Ainda assim, prometeram fazer visitas constantes. Inclusive, Zayn passaria a ir todos os dias para fazer as sessões de fisioterapia tanto em Harry quanto em mim, ao invés de trabalhar somente três dias na semana.

      — Onde estão Sally e Ethan? — indaguei enquanto ajudava Meryl a cortar alguns morangos para um vitaminado.

      — Ethan foi até a cidade para comprar ferramentas novas, pelo jeito a nossa casa está com goteiras e as infiltrações começaram pelo telhado, acima do forro — explicou.

      — Ele é bem agitado, não é? Ethan tem o quê? Uns oitenta anos?

      — Oitenta e um — a beta riu ao despejar alguns flocos de aveia no liquidificador. — Ele é ativo, sim. Harry já tentou convencê-lo de deixar esse tipo de serviço para alguém contratado, mas ele se recusa. Diz que as coisas não ficariam tão boas se não fosse ele fazendo.

      — Realmente, Ethan tem um dom para isso — concordei ao lembrar-me do telhado do barracão no jardim. Estava como um novo. — Você não me contou de Sally.

      Meryl ligou o liquidificador no modo silencioso depois de adicionar mais algumas frutas e um pouco de leite, se virando para mim, então.

      — Ela seguiu o conselho de ir trabalhar no centro, perto de Ashley. Pelo visto, os médicos ainda estão tentando curá-la, porém as coisas andam difíceis.

      Suspendi as sobrancelhas, esperando que o melhor acontecesse. Sally realmente gostava da ômega e muito provavelmente era o melhor a se fazer, uma vez que o tempo de ida e volta da campina até os demais bairros londrinos era maçante. Era uma pena não saberem o que estava acontecendo com Ashley.

      Por fim, acabamos de preparar o café da manhã seguindo a dieta passada pelos médicos e fui chamar Harry e Liam para se juntarem a nós. Conversamos sobre coisas aleatórias, minhas perguntas sobre o assunto da reunião nunca sendo realmente respondidas. Estranhei aquilo, claro, mas resolvi deixar para lá; era algo relacionado ao trabalho deles e tudo bem se fosse algo confidencial ou coisa assim.

      De toda forma, depois de comermos subi até o quarto de Harry para fazer minha higiene matinal, além de colocar as roupas para a fisioterapia. Eu estava passando mais tempo no quarto do alfa do que no meu, mesmo sem saber exatamente o que éramos, e por isso minhas coisas estavam indo para lá gradualmente. Roupas, escova de dentes, xampus e tudo mais que ele achava necessário. Eu não iria reclamar porque, a bem da verdade, era ótimo sentir-me acolhido nos braços dele.

      Saí de lá após estar pronto e fiquei esperando Zayn chegar, o que não demorou muito. Nós resolvemos começar a sessão sem Harry, uma vez que meus exercícios eram diferentes dos dele e a reunião parecia estar abordando algo realmente indispensável. Eram movimentos leves, mas que ainda exigiam certo esforço de meus músculos.

      — Ótimo, Louis. Levante mais a coxa até que sinta ela queimar, mantenha o elástico esticado — Zayn instruiu ao meu lado, analisando meus movimentos.

      Eu sabia que ele era um exímio profissional porque todos os dias seu trabalho ficava exposto a mim, porém estar ali era bem diferente. Não era algo fajuto e simples, era preciso entender as situações dos pacientes assim como seus limites corporais, isso tudo sendo feito com maestria pelo alfa.

      Zayn era especialmente mais cuidadoso comigo, mas eu tinha certeza que aquilo se devia apenas à minha gravidez. Eu sabia que o moreno jamais me rebaixaria apenas por eu ser um ômega, porque ele me respeitava demais. Fazia-me ser grato pela amizade que tínhamos.

      Acabamos a sessão sem dificuldades, meu ego sendo inflado pelos elogios sobre minhas habilidades de alongamento e principalmente comigo sentindo-me revigorado após aquela uma hora e meia. Zayn estava limpando os equipamentos quando a porta se abriu, revelando o corpo de Harry sob roupas de ginástica, vindo até mim para selar nossos lábios rapidamente.

      — Por que se atrasou hoje, garanhão? — Zayn indagou em tom de brincadeira, me fazendo soltar um risinho.

      — Era apenas uma coisa com Liam — o de olhos verdes limitou-se a responder.

      Despedi-me de ambos para ir tomar banho e aprontar os quartos; Harry poderia ficar bravo comigo, porém eu me recusava a ficar parado, sendo que finalmente tinha saído do hospital. A desculpa dele para tentar me manter na cama era que eu estava grávido e, logo, precisava de repouso.

      Obviamente, mandei ele à merda.

      Eu não deixaria de fazer as coisas apenas porque estava carregando quatro coisinhas em meu ventre. Não no começo, pelo menos. Eu sabia que, em algum momento, meu corpo não aguentaria minha barriga, e ainda assim eu achava aquilo uma grande baboseira. De toda forma, tínhamos um horário marcado com uma obstetra recomendada pelo Doutor Zuri.

      Ansiedade era o sentimento certo para descrever o meu estado, entretanto não era uma expectativa boa. Ainda era cedo demais para eu me familiarizar com a ideia de estar prenhe, quem diria gostar daquilo. Eu esperava que as consultas com a psicóloga me ajudassem a mudar aquela mentalidade.













      O Hospital Saint Mary’s estava vazio naquela tarde, então dava facilmente para ouvir o eco que meus pés produziam ao baterem repetidamente no piso de porcelanato recém-encerado. Eu não sabia que horas eram, mas não fazia nem dez minutos desde nossa chegada e eu queria ir embora logo. Harry estava na recepção ajustando algumas coisas da minha consulta enquanto eu terminava de comer um pedaço generoso de brownie com nozes e bebia um chocolate quente com menta.

      Uma enfermeira bonita e simpática tinha coletado alguns miligramas de sangue para os exames prévios à consulta antes de eu comer, e o fato de eu ter ficado mais de quatro horas de jejum deixou-me aborrecido. A enfermeira, aparentemente sendo conhecida de Harry, já que ele requisitou especialmente por ela, chamava-se Hailee alguma coisa, segundo seu crachá. O alfa voltou um pouco depois de eu terminar meu bolinho e bebida.

      — A médica se chama Gigi Hadid, e é conhecida de Zayn. Nos chamará daqui alguns minutos — ele explicou sorrindo.

      — Certo — tentei retribuir seu gesto, mas tudo que consegui dar foi uma careta desconfortável. Sob sua sobrancelha arqueada em questionamento, suspirei. — Apenas não sei bem o que pensar. Estou nervoso.

      Em resposta, sua mão grande e cheia de anéis repousou sobre a minha de maneira gentil. Harry estava bastante cansado ultimamente, então não contestei sua falta de palavras. Eu também não queria conversar muito. A bem da verdade, estávamos distanciados depois de tudo ter acontecido — não era ruim, só curtíamos mais nossa companhia em silêncio do que antes.

      Era difícil deixá-lo me tocar mais abertamente, e mesmo que tivessem se passado várias semanas desde meu sequestro, as lembranças ainda pareciam frescas demais para mim. Contudo, o alfa entendia perfeitamente, e eram raros os dias em que ele fazia algo que me deixava desconfortável. Só acontecera três vezes, enquanto eu ainda estava internado, e mesmo assim Harry se redimiu de formas fofas e respeitosas.

      Esperamos por cerca de cinco minutos até que a médica aparecesse no corredor para nos chamar. Ela era um alfa muito bonita e simpática, o que me tranquilizou consideravelmente. Caminhamos até sua sala, toda branca e com uma maca ao lado de um aparelho de ultrassom. Engoli em seco antes de desviar o olhar, desejando não passar por aquilo tão cedo. Seria demais para mim.

      Sentamo-nos nas cadeiras em frente à mesa de Gigi enquanto ela analisava alguns papéis.

      — Muito bem, Louis e Harry, é um prazer conhecê-los. Zayn fala bastante sobre vocês.

      — Só coisas boas, eu espero — Harry disse com um sorriso pequeno nos lábios.

      — Foram as piores, aposto — brinquei. Sorri ao ver ambos os alfas rindo daquilo.

      — Vocês são ótimos — Gigi balançou a cabeça enquanto guardava os papéis numa gaveta. — Bom, fico feliz por me escolherem para acompanhar sua gravidez. Não tive muito apreço por casos de lobisomens comuns, sempre preferindo o voluntariado nas periferias Impuras, então podem confiar que farei meu trabalho da forma correta.

      Minha aura finalmente pôde se desprender de maneira relaxada, uma vez que eu fui com a cara de Gigi. Ela tinha um linguajar sério e aplicado, mas não era algo intimidador, tampouco suas mãos cruzadas sobre a madeira branca da mesa tiravam o brilho de sua personalidade afável.

      — Fico aliviado com isso — sorri. — É a primeira vez que isso acontece comigo, então não entendo nada sobre.

      — Sua mãe nunca ensinou-lhe as medidas preventivas ou coisas assim? — Ela parecia verdadeiramente surpresa.

      — Não cresci com meus pais — respondi, preferindo não entrar em detalhes.

      — Sinto muito — Gigi anuiu. — Bom, posso lhes explicar mais sobre como a gestação Impura funciona enquanto fazemos o ultrassom, OK?

      Um frio passou por minha coluna ao descobrir que eu teria que fazer aquele exame, porém assenti. Ela nos conduziu até a maca onde eu deveria me deitar e pegou alguns equipamentos base, como um par de luvas magnéticas e um pote de gel. Gigi foi rápida ao ligar o monitor. Enquanto tudo isso se passava, Harry permaneceu ao meu lado, segurando meus dedos entre os seus.

      — Preciso que levante sua blusa até seu peito, por favor — fiz o que foi pedido, então ela abriu a tampinha do gel. — É um pouco gelado, sim? Não se assuste.

      Dizer que seria “um pouco gelado” era pura modéstia, porque todos os meus pelos arrepiaram-se ao que aquele líquido viscoso encostou em minha pele. Harry soltou uma risada nasalada, provavelmente porque nossa ligação o fez sentir meu desconforto, então eu apenas dei-lhe um cutucão birrento.

      Gigi digitou algo nas palmas das luvas para acioná-las e conectá-las ao monitor fino, antes de vagar suas mãos alguns centímetros acima de minha barriga. Aquelas luvas produziam uma luz azul sobre minha derme, decodificando coisas abstrusas; senti minha pele aquecida de leve. A obstetra continuou com aquilo até parar numa área específica, colocando as mãos sobre meu estômago, e sorriu para a tela que mostrava formas escuras em 3D.

      — Está vendo aqui? — Apontou para um amontoado de três bolinhas pequenas. — São as cabecinhas de seus bebês. Está faltando um, que provavelmente está atrás dos irmãos. Com licença.

     De modo delicado, ainda que firme, Gigi pressionou com um pouco mais de força o lado de meu abdômen, mas os machucados que ainda restavam ali não reclamaram de dor, e as ondulações foram mostradas no monitor. A médica não tirava seus olhos azuis da tela, então assentiu para algo lá.

      — Aqui — apontou para uma bolinha que surgiu entre as outras. — É menor, mas ainda assim parece saudável. Talvez tenhamos que ficar de olho neste mais para frente. Querem ouvir os coraçõezinhos deles?

      Voltei-me para ela com espanto. Já dá para fazer isso?, indaguei mentalmente. Eu quero isso agora? Ouvir os batimentos cardíacos deles me soa tão… Rápido. Engoli em seco antes de buscar os olhos de Harry, que pareciam ter feito o mesmo já que me encontraram de prontidão.

      O que você quiser, amor, foi sua resposta. Mordisquei o lábio inferior, acabando por concordar com a cabeça. Meu coração estava gelado apesar do sorriso caloroso de Gigi para nós, e parecia piorar conforme ela apertava algumas funções num teclado holograma em seu colo. Entretanto, um barulho alto ressoou no consultório, me fazendo sobressaltar.

      Eram os corações de todos eles batendo, em um uníssono quase perfeito. Rápidos e sem falhas, trabalhavam duro para manter aqueles projetos de filhotes vivos dentro de mim. Foi impossível não derramar lágrimas ao ouvir aqueles sons. Harry também estava como eu, porque um soluço acabou escapando-lhe à boca.

      — Todos estão bem saudáveis, com batidas fortes. Vou isolá-las para podermos ouvir um de cada vez.

      Foi surreal poder ouvir meus futuros filhos. Gigi foi passando cada um até que chegasse no feto menor, que tinha batidas um pouco irregulares, mas persistentes. Segundo a obstetra, aquilo não era um problema sério, mas que o recomendado seria mantermo-nos atentos a qualquer dor que eu sentisse no ventre. Depois de ouvirmos todos os quatro, a alfa limpou minha barriga e guardou os equipamentos.

      Ela e Harry ajudaram-me a chegar até uma poltrona grande de couro branco, onde ela fez alguns exames em meus olhos e boca. Voltamos às cadeiras de sua mesa depois.

      — Agora que sabemos sobre seus bebês, preciso falar sobre a gravidez Impura — a médica disse com suavidade. — Geralmente, lobisomens comuns têm o tempo de gestação igual aos humanos de antigamente, durando nove meses e com o ganho de peso equivalente. Entretanto, Impuros tendem à natureza animal de seus lobos, o que faz com que o tempo de gestação seja notavelmente reduzido.

      — Quanto tempo? — Harry indagou.

      — Louis pode ficar prenhe por, no máximo, de três a quatro meses.

      — Três a quatro meses?! — Exclamei. — Isso é pouquíssimo tempo!

      — Eu sei — Gigi sorriu em compaixão. — Porém, seus filhotes têm o desenvolvimento mais rápido, além de precisarem de menos cuidados em relação aos comuns.

      — Nós damos conta, amor — Harry disse enquanto acariciava meu ombro.

      — Você sentirá menos enjoos, e ainda assim poderá controlá-los com a alimentação certa, como na dieta que passei. Sangramentos anais serão comuns no final do terceiro mês, porém não são nocivos, tampouco dolorosos. De novo: caso sinta alguma dor, entre em contato imediato conosco. 

      — Certo — balancei a cabeça, absorvendo tudo aquilo. — Algo mais, doutora?

      — Além das recomendações básicas de não fumar e nem beber algo com teor alcoólico acima de 5%, acho que é só. Ah! O último diferencial será na hora do parto, mas podemos tratar disso quando a hora chegar. A menos que queira falar disso agora.

      — Não, eu passo — ri nervosamente. — Acredito que meu cérebro não aguente muito mais que isto por hoje.

      — Eu entendo — Gigi balançou a cabeça. — Bom, então vou marcar uma nova consulta para daqui a alguns dias, e nos vemos lá, Louis!

      Após nos despedirmos da médica, Harry e eu decidimos caminhar um pouco num parque que ficava a algumas quadras do hospital. O dia estava relativamente morno, com o sol surgindo alaranjado por entre as nuvens espessas manchadas pelos feixes de luz. Acabamos por sentar num banco de cimento que contornava um grande canteiro com várias árvores e arbustos.

      — Como está essa cabecinha? — Ele quis saber, apoiando sua cabeleira castanha em meu ombro.

      — Perturbada — admiti. — Mas, ao mesmo tempo, fico fascinado com a ideia de estar gerando quatro seres vivos dentro de mim. É assustador.

      — Eu acredito que sim.

      Ficamos em silêncio durante alguns minutos. Ironicamente, algumas crianças passavam correndo em nossa frente, sendo acompanhadas pelos pais logo atrás. Era fofo vê-las aproveitando aquela idade gostosa e, de súbito, a ideia de segurar uma daquelas em meus braços dali alguns meses pareceu-me mais acalentadora do que aterrorizante. Olhei para minha mão encoberta pela de Harry, notando seus anéis.

      — Liam e eu estávamos conversando sobre você, essa manhã — disse o alfa, cortando minha linha de raciocínio. Franzi o cenho.

      — Sobre mim?

      — Sim — ele endireitou a coluna para me encarar. — Enquanto Tom fazia algumas investigações sobre você, surgiu um documento alegando a mísera possibilidade de sua família não ter sido morta, Louis.

      Tive a certeza de que meu coração tinha parado dentro de meu peito, ao mesmo passo que minha respiração ficou engatada. A primeira coisa que pensei era que Harry estava apenas zoando com a minha cara, mas sua expressão séria e avaliativa me dizia o contrário. Por causa disso, meus olhos se arregalaram lentamente enquanto eu soltava um suspiro longo e entrecortado.

      Isso é impossível, naquela noite todos eles foram…

      — Não é impossível, apesar de parecer — Harry falou, fazendo-me perceber que tinha transmitido aquele pensamento para ele.

      As lágrimas vieram instantaneamente aos meus olhos, assim como meu coração voltou à vida com muita força e rapidez. Acabei por desatar um choro violento. Meu alfa não hesitou em me abraçar para liberar feromônios calmante, porém demorei algum tempo considerável para pelo menos parar de tremer e soluçar. Eu não conseguia captar um pensamento coeso dentro de minha mente que trabalhava a milhão.

      — C-como? — Soltei num momento de pausa.

      — O documento que Tom encontrou dizia algo sobre Doncaster e realocação, então pensamentos em algumas possibilidades — a voz de Harry soou calma e lenta, me dando tempo para assimilar as coisas enquanto seus dedos passavam por meus fios de cabelo. — Preciso saber se temos sua permissão para investigar isso mais a fundo, querido.

      Engoli o bolo que se formou em minha garganta, ainda sentindo as lágrimas grossas esquentarem de forma ardida meus olhos e bochechas, e afastei-me um pouco do alfa para tomar um pouco de ar. Encarei o carrinho de sorvete um pouco longe de nós, pensando sobre como as coisas estavam acontecendo rápido demais para mim.

      Primeiro o sequestro, então a gravidez e, agora, eu acabava de descobrir que aquilo que eu acreditei ser verdade durante 28 anos da minha vida poderia simplesmente ser uma farsa. Era um balde de água fria sendo jogado sobre minha cabeça, e aquele choque parecia perdurar por algum tempo. Entretanto, o que eu realmente precisava decidir era sobre dar início à investigação que poderia trazer de volta minha família.

      Desviei meus orbes para os de Harry, notando sua preocupação iminente. O que aconteceria se minha mãe e minhas irmãs realmente estivessem vivas? Voltariam para mim? Teriam orgulho de mim? Mordisquei os lábios, segurando o choro que queria sair do peito. Por fim, assenti para o alfa.

      — Nós vamos fazer o possível para descobrir sobre elas, OK? — Harry sorriu pequeno para mim, estendendo a mão em seguida. A segurei. — Vamos tomar sorvete, que tal? Uma última besteira antes de entrarmos de vez na dieta dos bebês.

      Soltei um riso fraco pelo nariz, aceitando. De mãos dadas e ainda com os feromônios do cacheado me encobrindo para trazer calma, andamos devagar até o carrinho que anteriormente eu avistara. Um senhor bastante solícito era dono e nos serviu com uma generosa quantidade de bolas de sorvete e calda de frutas vermelhas.

      Harry sugeriu que andássemos mais um pouco, quiçá para que eu me distraísse mais efetivamente de tudo que estava acontecendo. A todo momento, ele ficava mexendo em alguma coisa dentro de seu bolso, dizendo que seu celular estava no modo silencioso e que queria sentir caso Liam o ligasse. Esqueci aquilo quando um esquilinho veio até nós, e eu dei um pedacinho da casquinha do sorvete para ele.

      — Harry.

      — Sim?

      — O que nós somos? — Indaguei ao dar mais uma lasca da massa doce para o esquilo.

      — Como assim? — Sua aura vibrou em curiosidade enquanto ele tentava agilmente pegar os filetes de sorvete derretido escorrendo.

      — Que tipo de relacionamento nós temos? — Esclareci. — Somos namorados, noivos, amigos com benefícios... O quê?

      O esquilo acabou indo embora, então direcionei efetivamente meu olhar para Harry. Ele tinha suas sobrancelhas franzidas enquanto pegava o sorvete com a colherzinha de metal para levar a sobremesa para sua boca. Engoli a saliva que acumulou em minhas bochechas, não muito nervoso, apenas com ansiedade para ouvir a resposta de Harry.

      — Acho que dá para nos declarar como noivos? — Seu tom foi de questionamento, mas de certa forma ouvi uma certeza em sua voz. — Moramos juntos, estamos esperando bebês e acredito que tenhamos passado pelas etapas que a maioria dos namoros têm.

      Encarei seus dentes abocanhando o restante do sorvete, pensando que realmente tínhamos uma relação de noivos.

      — Mas nunca houve pedido nenhum — estranhamente, meu peito gelou irrequieto.

      Harry terminou seu sorvete com calma, deixando-me apreensivo. Eu teria dito algo de errado? Ele limpou as mãos nas calças, passando a palma sobre a boca numa mania que ele tinha sempre após comer, antes de enfiá-la no bolso e tirar algo dali.

      — Não é problema algum. 

      O alfa levantou-se apenas para pôr-se de joelhos à minha frente, fazendo meus braços tremerem. Era uma caixinha de veludo preto, que ele abriu para me revelar um anel de prata em duas camadas, uma sendo adornada, e com uma pedra azul-clara delicada. Na mesma hora, senti meus olhos pinicando.

      — Harry… Meu Deus, o que é isso? — Arfei, sentindo uma fraqueza súbita.

     — Peço que me escute — ele riu, mas sua aura estava dura de nervosismo. — Eu sei o quão merda foi lidar comigo no começo, porém lembro-me de você contar sobre ter começado a amar-me mais fácil do que esperava, e comigo não foi diferente. Eu fiquei tão aterrorizado quando notei que poderia ter alguém por quem me apaixonar, que acabei sendo um babaca de primeira mão com você. Espero que me perdoe por isso.

      — Eu já perdoei, seu bobo — ri entre as lágrimas. Harry segurou minha mão e beijou meu dedo anelar.

      — Obrigado por não ter desistido de mim, Louis. Você me mostrou como ser mais humano, e acredito que nunca vou conseguir agradecer o bastante por isso. Posso oferecer meu amor para o resto de nossas vidas, então, responda-me... 

      Minhas bochechas estavam num tom quase escarlate, e agradeci pelas pessoas não prestarem atenção em nós. Eu sentia-me quente ao mesmo tempo que meus braços estavam frios e trêmulos.

      — Louis William Tomlinson, aceita se casar comigo?

      A respiração engatou no meio do caminho, o que causou-me um engasgo e algumas tosses secas. Foi uma péssima reação, Harry levantou-se e veio a se preocupar com meus pulmões, mas o afastei dizendo que estava tudo bem, na medida do possível. Consegui acalmar-me para fitá-lo, com um turbilhão de emoções passando por minha mente.

      Os lábios cor de cereja de meu alfa estavam comprimidos numa linha fina, assim como suas sobrancelhas formavam um vinco.

      — Eu… — Botei o punho fechado em frente à boa para pigarrear antes de sorrir pequeno para aquelas esmeraldas tão familiares. — Sinto muito, Hazz, mas acho que não posso aceitar isso agora.

      Doeu em meu âmago ver sua expressão cair, sua tristeza e insegurança sendo completamente visíveis em suas feições e em sua aura. Fui rápido em ir para seu colo para enfiar meu rosto em seu pescoço, lambendo sua glândula aromática num ato para acalentá-lo. Suas mãos fortes seguraram-me pela cintura, trazendo um suspiro brando para fora de meu corpo.

      — Não entenda mal, por favor — pedi. — Eu adoraria casar-me com você, ainda mais agora, que construiremos uma família juntos, é só que... Estão acontecendo tantas coisas de uma só vez, e seria um sonho se realizando ter um anel em meu dedo, porém não quero que seja uma coisa corrida ou muito turbulenta. Quero fazer tudo da maneira certa, sabe?

      Fiquei aliviado ao notar sua aura relaxando, conforme seus braços tornavam-se mais acostumados a sustentarem meu peso. Observei a caixinha de veludo aparecendo no bolso de sua calça e engoli em seco.

      — Eu entendo, sweetcheeks — ele disse ao retribuir minhas lambidas. — Esperarei o tempo que for para poder te chamar de Louis Tomlinson-Styles.

      Sorri grandiosamente, sentindo como se um sol interno florescesse em meu peito para aquecer meus órgãos. Aqueles eram tempos complicados não apenas para mim, mas para todas as pessoas que tinham acompanhado aquele processo de perto, portanto, eu sentia como se estivesse em débito com todos. Queria sentir-me em paz para conseguir seguir em frente a uma nova fase da minha vida.

      Felizmente, ao lado de Harry, aquilo parecia ser fácil e possível.

O anel que o Hazz escolheu pro pedido:

Espero que tenham gostado do capítulo, então, por favor: VOTEM ★ e COMENTEM 💬 para eu saber, sim?

Críticas construtivas sempre são muito bem-vindas, e me ajudam a evoluir como escritora.


Beijos, até o próximo capítulo e eu amo vocês

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top