Seattle - Parte II
*Daryl's Pov On*
Já havia se passado cerca de uma hora e meia, desde que saímos de Alexandria. E até então, Mandy, não havia dito nada dentro do carro, a não ser onde ficava o lar dos seus pais. Eu, particularmente, não me importava com o silêncio, mas também não gostava que ela ficasse tão quieta. Mal dava para ouvir ela respirar. Sua cabeça estava encostada na porta, e seu olhar fixo na paisagem do lado de fora. Suas pernas estavam em cima do banco do carro, e suas mãos em formato de concha sob o colo. Ela fechará momentaneamente os olhos e respirou fundo afim de se tranquilizar, era nisso que eu acreditava. Meu olhar voltou para a estrada.
Eu também não havia dito uma palavra sequer desde sua chegada a comunidade. Talvez, tenha sido um pouco rude, mas, eu não podia ser tão receptivo quanto os outros. Tenho certeza que, se ela não fosse uma conhecida do Rick, ele não a teria deixado entrar com tanta facilidade. Independente de tudo que ja nos aconteceu, a opinião dele, quanto a entrada de novas pessoas, continuava quase a mesma. Não confiar. Ainda mais ela, que já matou uma pessoa. Mas, o que eu estou pensando? Eu também não seria aceito, por eles. Ao contrário dela, não matei apenas uma pessoa.
Voltei meu olhar para ela, e observei atentamente seu rosto. Ela me lembrava Beth, por isso não consegui dirigir uma palavra sequer a ela. Talvez seja o cabelo loiro, ou o modo como se vestia, ou ate mesmo o jeito de falar, a imposição que colocava na voz, os gestos que fazia. Ela com certeza, era líder daquele pequeno grupo, pois notava-se, claramente, que era muito centrada e determinada. Corajosa até.
Seu cabelo solto pegava mais ou menos, abaixo da cintura, e agora estava preso em um rabo de cavalo alto. Seus lábios estavam franzidos em uma linha reta, estava pensativa, e os olhos moviam-se junto com o movimento do carro. Os olhos eram grandes e curiosos, de um castanho bem escuro. Descobri que eram assim, pois ela estava olhando fixamente para mim.
Desviei rapidamente o olhar, de volta para a estrada.
- Está tudo bem, Daryl? - ela perguntou gentilmente. E isso deixou-me chateado comigo mesmo, pois, ela estava tratando-me bem, mesmo depois de te-la evitado nesse pequeno período de tempo desde que ela chegou.
Eu devia dizer algo, mas não o fiz. Apenas concordei com a cabeça e pisei no acelerador para irmos mais rápido.
- Eu estou começando a acreditar que você é mudo. - ela disse em um tom brincalhão. Nada respondi, apenas olhei em sua direção e revirei os olhos. Ela bufou e voltou a posição anterior. Mas, não por muito tempo - Uma hora você terá de falar, nem que eu tenha que arrancar isso de você. - disse seriamente Quando percebi que seu rosto havia virado por completo em direção a janela, um pequeno sorriso formou em meus lábios.
De cinco em cinco minutos, ela fazia questão de perguntar algo. "De onde era?", "O que fazia antes daqui?", "Como conheceu Rick?", "Já comeu panquecas com calda de morango?", "Quantos anos tem?"... e assim por diante. E percebi o quão enganado eu estava, com plena certeza, eu preferia o silêncio ensurdecedor do que essa falação sem fim.
Ela parou de falar quando entramos na rua onde ficava a casa que procurávamos e apontou para uma com um número '13' na porta. Tomei aquilo como um mau sinal. Estava tudo tranquilo demais do lado de fora, já que eles não moravam em Seattle, mas próximo. O que era sorte também para nós, já que Seattle costumava ser muito movimentada, imagina quantas coisas há lá. Estacionei o carro de frente a casa e descemos juntos, sem fazer barulho.
Mandy fechou a porta do carro com calma, passou a mão pelo cabelo e ajeitou a roupa. Caminhou ate onde estava e olhou para mim, na esperança de encontrar encorajamento. Paramos de frente a porta de entrada, e a ouvi soltar um longo e pesado suspiro.
- Eu gostaria de fazer isso, sabe? Eu mesma. Não precisa fazer nada com eles, Daryl, só se eu estiver em perigo. - ela falou e eu concordei. Girei a maçaneta da porta e esta estava trancada. Quando ia jogar meu corpo na porta para abri-la, Mandy tocou meu braço delicadamente me parando, e puxou um cordão do pescoço. O pingente era uma chave prateada. Colocou-a no tranco e ouvimos um "click".
Peguei uma lanterna e fiz com a cabeça para que ela entrasse. Quando passamos pela porta, fechei-a e juntos, sem nos afastar muito, começamos a procurar. Observei a casa com atenção e estava decorada com muitos porta retratos, com fotos da família. Ver tudo aquilo, não devia ser nada fácil, pois, nunca teríamos aquilo novamente. As fotos serviriam apenas de lembrança. Uma lembrança dolorida.
Subimos juntos para o andar de cima a procura das pessoas que ali moravam. Abri a porta de alguns quartos e não havia ninguém ali. Mandy estava parada na entrada de um cômodo, com a faca de Rick na mão. Quando me aproximei, ela fechou a porta rapidamente.
- É o quarto deles. Está vazio. - disse e descemos as escadas, de volta para o andar debaixo.
Ouvimos um barulho vindo da cozinha, e fiz sinal para que parassemos. Mandy ficou tres passos atras de mim. De início vimos apenas uma sombra, e logo depois o corpo.
- Mamãe? - ela disse como em um sussurro. O Walker vinha em nossa direção, e preparei a besta para atirar nela, mas Mandy passou na minha frente e cravou a faca na cabeça do monstro. - Me perdoa! - ela disse chorando e caindo junto com o corpo.
Tive de desviar o olhar, por dois motivos, ela precisava de privacidade e segundo por ser algo muito forte. Posso não demonstrar muito meus sentimentos, mas eu os sinto. Ela soluçou algumas vezes, e secou os olhos com a manga da blusa. Retirou a faca do crânio da mãe, e passou a mão pelo peito da senhora. Seu cenho franziu e me aproximei um pouco para ver melhor.
- Alguém atirou nela, bem aqui. - ela apontou para o buraco no coração - Tenho certeza que foi meu pai. - ela se pôs de pé - Minha mãe era muito católica, e sempre dizia para ele não atirar na cabeça de ninguém. Algo sobre ir para o inferno e nao sei mais o que. Nunca entendi ao certo.
Restava apenas a porta que dava para a garagem. Estava trancada, e Mandy não possuía a chave desta, então tive de chuta-la, ate abrir. Iluminei o local com a lanterna, e vi o corpo de um homem encostado na parede, com uma arma a seu lado e a cabeça baixa. Fechei os olhos e me afastei para que ela pudesse ver. Correu em direção ao morto, e chorou desesperadamente. Ele havia atirado na mulher e depois cometido suicídio. Algo que já passou pela cabeça de todos nós, desde que tudo começou.
Mandy estava abraçada com o corpo já em decomposição do pai, e balançava para frente e para trás, enquanto chorava muito. Eu não podia deixa-la ali, sendo assim, me aproximei e toquei em seu ombro. Ela me olhou assustada, mas não me afastou. Demorou um pouco para conseguir se levantar, mas o fez. Saímos da garagem e nos sentamos no sofá da sala principal.
Ela apoiou os cotovelos nos joelhos e a cabeça nas mãos, e ficou com a cabeça baixa. Seu corpo tremia devido aos soluços. Eu nao podia me manter calado naquele momento.
- Gostaria de leva-los para Alexandria e enterra-los lá? - perguntei
Ela apenas concordou.
- Posso subir e procurar alguns lençóis para cobri-los? - perguntei já de pé. Ela levantou a cabeça e com os olhos fechados respirou fundo.
- Antes disso, poderia ir a garagem e pegar algumas caixas? Sei que eles têm comida guardada aqui e gostaria de levar algumas coisas que sei que serão úteis lá.
- Claro. - a deixei sozinha e pouco tempo depois voltei com algumas caixas. Ela agradeceu e subi a procura de lençóis.
- Podemos usar o carro que está na garagem, ele é maior e caberá mais coisas. - ouvi ela dizendo do andar de baixo. Na garagem havia uma caminhonete nova.
Cobri o corpo da mãe, enquanto Mandy enchia as caixas com muitas comidas. E levei o corpo ate a carroceria do carro. Fiz o mesmo com o seu pai, com todo o cuidado que eu poderia ter. Quando terminei voltei para ajuda-la.
- Há armas guardadas no quartinho debaixo da escada. Vou subir e pegar algumas roupas.
Ela disse se afastando, carregando três caixas. Abri a porta do "quarto" que ficava debaixo da escada, e me veio a mente um filme que o filho do fornecedor da droga que o Merle comprava, assistia. Consistia em um garotinho que morava com os tios, mas seu quarto era ali, naquele pequenino cômodo. Nunca assisti tudo, apenas essa parte. Recolhi as armas e as munições que estavam ali, o pai dela deve ter se prevenido antes do pior. Coloquei-as no carro e subi para ajuda-la.
Quando a encontrei, ela estava de costas para a porta, observando algo que estava em suas mãos. Alguns fios de cabelo teimavam em se desprender do prendedor que ela porá ali. Bati levemente na porta e ela se virou, assustada.
- Desculpa. - falei sem graça
- Tudo bem. - ela respondeu e vi o que estava em suas mãos, era uma correntinha de ouro, com o pingente de algum santo católico. Ela me pegou olhando e comentou - Dei de presente a ela em seu aniversário de 40 anos. Juntei todas as minhas economias e comprei quando fomos a Atlanta, dois anos antes. Quando entreguei o saquinho com o colar, ela sorriu, pois não esperava nada, já que naquele momento estávamos sem dinheiro. Ficou maravilhada ao ver que o colar que vimos juntas e que ela tanto gostará, seria dela. Nunca esquecerei desse dia, pois nunca a vi tão feliz.
Eu não sabia o que dizer, então apenas concordei com a cabeça.
- Posso levar estas? - apontei para as caixas que estavam sobre a cama.
- Sim. Só terminarei de pegar algumas roupas e podemos ir. - ela disse. Peguei as caixas e quando ia saindo, ouvi ela me chamar. - Sabe se a TV funciona em Alexandria?
- Funciona sim. Mas não ha na para assistir la.
- Agora tem. - ela me mostrou uma caixa cheia de fitas VHS e alguns DVDS. - Vou procurar o aparelho dos dois.
Cerca de uma hora depois, havíamos recolhido tudo que acreditávamos ser necessário. Mandy pegará algumas fotos e encontrará no fundo do armário da mãe, uma câmera daquelas antigas que a foto saía na hora.
- Quer dirigir? - perguntei a ela
- Eu acho que não - ela sorriu - Se importa? - ela perguntou e neguei com a cabeça.
- Fique aqui, vou ver se a muitos deles lá fora.
No máximo uns 10, mas passaríamos tranquilamente. Abri a porta da garagem, manualmente e acelerei para fora dali. Ela agora estava mais calada ainda, e parecia um pouco mais tranquila, também. O colar estava em seu pescoço, e ela segurava uma foto em suas mãos.
- Quem são? - perguntei curioso, admito.
Ela olhou para a fotografia e sorriu.
- Tiramos essa foto no dia que Carl nasceu. Olha - ela me mostrou - aqui está Rick, Lori, meus pais, Ed, Carl e eu.
Na foto, Lori estava sentada em uma cama, segurando Carl, Rick estava ao lado dela junto com os pais de Mandy, e Ed e ela, estavam sentados um de cada lado da cama onde Lori estava e ambos colocaram a mão no bebê.
- Eu tinha sete anos quando Carl nasceu, e Ed quatro. - ela falou olhando mais uma vez para a foto e sorrindo de lado.
Quando estávamos na estrada uma família de patinhos atravessou na frente do carro, e se não fosse por ela, acredito que tinha amassado todos eles. Parei o carro, devido ao susto e esperamos eles atravessarem. Achei aquilo meio bobo, pois poderíamos ser atacados a qualquer momento, mas a vi observando tudo atentamente e não me importei. Estiquei o braço ate o porta luvas, pois sempre havia cd's ali. E um estava dentro de uma case. Nele estava escrito "Mandy song's". Entreguei o cd a ela e seu rosto se iluminou com um grande sorriso.
- Meu Deus! Dei isso de presente ao meu pai, quando estava no terceiro ano da faculdade. Costumávamos nos reunir uma vez ao mês, e ele me pedia para cantar, enquanto meu irmao tocava. Ed eu nos juntamos, e gravamos este cd, com as músicas favoritas do papai, só que comigo na voz e meu irmao no violão.
Tomei o cd da sua mão e ela brigou comigo.
- Não faça isso - ela disse cobrindo o rosto.
Coloquei o cd no som do carro, e ela apertou o botão de mudar a música três vezes. Olhei para ela a procura de uma resposta.
- Essa é minha favorita, e era a dele também.
A música começou, sua voz com o violão soavam tranquilas. Ela meneava a cabeça de um lado para o outro, como se não acreditasse naquilo. Ela cantava bem, melhor até que... Bom, a outra.
- Eu lamento, Mandy. Pelo que aconteceu hoje. - falei quando nos aproximavamos do portão de Alexandria.
- Em partes, eu também. - Ela respondeu com os olhos cheios de lágrima.
Descemos do carro, e Rick veio ter conosco. Se aproximou de Mandy, e ela negou com a cabeça, entregando a foto para ele. Rick a abraçou com toda a força, e os dois estavam chorando. Quando se afastaram, ela olhou para mim e sussurrou um "obrigada". Seu irmão veio em nossa direção e ela passou por ele, sem dar qualquer atenção.
- Mandy, por favor. Não seja assim. - ele gritou quando ela estava se afastando. Mandy parou de andar e se virou.
- Assim, Ed? - ela gritava e chorava - Você me deixou fazer algo sozinha. Algo que devia importar para você também, mas parece que eu estava enganada. Me deixou acabar com o sofrimento deles sozinha. Você percebe o quão mau isso é? Eu esperava que alguém da minha família, aliás, do que sobrou dela, alguém qur eu sempre protegi e de quem eu sempre cuidei, estivesse ao meu lado. Mas eu me enganei. Quem estava ali por mim, para me amparar quando eu tive de fazer o que era necessário, foi um completo desconhecido, que se mostrou muito melhor do que alguém tão próximo. - ela se aproximou dele e bateu em seu peito entregando algo - Fica com o relógio do papai. Talvez seja uma boa lembrança para você, pois na sua mente de merda só há boas lembranças. Queria ver se seguradora as pontas como eu seguro, se visse tudo que vi e tivesse feito um terço do que fiz.
Antes de ir, seu olhar cruzou com o meu e ela virou-se e saiu correndo para sua nova casa.
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